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Estes são os espelhos da Nação

Há espelhos de todas as formas e feitios que dão imagens distorcidas da realidade. Quase sempre espelham a soberba e a vaidade de quem deles se serve como é o caso da bruxa má da história da Branca de Neve. O Governo português reflecte-se monstruosamente nos espelhos parabólicos que ele próprio fabrica e que deformam profundamente a Democracia. Tome-se o exemplo do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) agora debaixo de fogo por causa da tortura e morte de um infeliz cidadão ucraniano. Imagem trágica, aviltante, repugnante é, de facto, a que o SEF espelha de um Governo que deixa torturar e matar imigrantes qualificados e pacíficos, portadores de cultura afim à do povo português e sinistramente privilegia falsos refugiados e potenciais terroristas manifestos inimigos dos usos e costumes nacionais. Não fora a vítima um caucasiano e o tratamento dado pelas instâncias governamentais intervenientes teria sido, por certo, mais célere e …simpático. Havemos de concluir que discriminação, xenofobia e racismo existem sim, no Governo mas não no povo português, como alguns pretendem fazer crer. Governo que está igualmente espelhado na TAP, verdadeiro sorvedouro do erário público a juntar a tantos outros que parecem apostados em levar Portugal a nova banca rota. TAP que reflecte a incompetência e a vaidade das bruxas más do Regime que pretendem justificar tão grave fracasso com o conceito, ultrapassado, de que se trata de uma companhia aérea de bandeira, que os próprios embandeiraram em desgraça, note-se. A verdade, porém, é que a missão nacional da TAP terminou com o derradeiro e dramático episódio do fim do Império: a ponte aérea que, in extremis, resgatou centenas de milhares de portugueses das ex-colónias. Para lá de que os portugueses, optam, naturalmente, por viajar na companhia que melhores condições de preço, conforto e segurança lhes oferece e ninguém os poderá acusar de falta de patriotismo por isso. A TAP, que a “geringonça” criminosamente renacionalizou, tem sido, isso sim, um luxo vicioso do Regime, de que os partidos no poder sistematicamente se serviram para, entre outras coisas, empregar principescamente milhares de apaniguados. E que dizer da Justiça, o espelho líquido pantanoso em que se reflectem os crimes maiores do Regime? Melhor será nem falar. Ainda assim o espelho parabólico que mais desfigurou a imagem da Democracia foi a “geringonça” que acabou por se partir, embora haja quem se esforce por juntar os cacos. Geringonça que se saldou num fracasso monumental dado que nada criou, construiu ou reformou e ainda mais afundou o país. Com a penúria do erário público o mor desafio da governação será repartir, com justiça utilidade e humanidade, o pouco dinheiro que há. Todavia, o PCP e o BE concorrem na distribuição demagógica de recursos financeiros que o Estado não têm, mais agravando a desgraça, enquanto o Governo insiste em esbanjar e mal repartir o pouco que resta. Tudo isto com a bênção seráfica do Presidente da República, como é óbvio. Espelhos em que se espelham o Regime e o Governo, não a Nação! Urge mudar de políticos, de políticas e reformar o Regime para salvar Portugal! O que só os portugueses poderão fazer com o bom uso do seu voto. A Constituição não é uma vaca sagrada! A todos os leitores desejo um Santo e Feliz Natal.

O tremedouro

Pedro Nuno Santos celebrizou-se, enquanto jovem deputado por ter colocado as pernas dos banqueiros alemães a tremer sob a ameaça de não pagarmos a nossa dívida externa. Hoje prepara-se para ir a Bruxelas pedir autorização para injetar milhares de milhões de euros na TAP que serão pagos, com juros, até ao último cêntimo. Fá-lo porque não existe alternativa para o salvamento de uma empresa que esteve a um passo de deixar de ser nossa. Evitou-se, com grande custo, há cinco anos, revertendo a privatização. Não na totalidade mas apenas na medida de se poder mandar nela embora, na verdade, nem assim foi possível suster os elevados prémios de gestão em ano de grandes prejuízos. Que acabaram por exigir largos investimentos públicos se bem que o Ministro veio logo avisar, com a voz de fazer tremer os nórdicos ricos, que pagar implica mandar. Muito embora não se tivesse percebido bem porque é que, na prática, nem é bem assim, porque quem vai pagar a conta é o Zé Povinho, que ali manda zero, a maioria nem de avião anda. Mas, para consolidar o mando do senhor Ministro e dos eleitos do senhor Ministro e do senhor Primeiro Ministro tratou de, por um lado, entregar cinquenta e cinco milhões a quem verdadeiramente mandava e, por conta, disponibilizou mais uns milhares de milhões porque o mando em gaveta vazia é fraco e pouco apetecível. Não chegou. É preciso mais. É preciso salvar os postos de trabalho, assegurar a companhia de bandeira (esta característica deve ser muito importante e valiosa pois anda toda a gente a falar nisso e custa muito dinheiro!), de outra forma arriscamo-nos a perdê-la. E qual o risco de perdermos a companhia? 1. Se ela for privatizada o dinheiro que gera sairá do país, em vez de ficar cá. Mas se ela gera prejuízos... será mau exportá-los? 2. Há milhares de empresas portuguesas que fornecem a TAP que se ela for privatizada deixarão de a fornecer. Porquê? Porque servem mal? Porque não são competitivas? Se fosse exatamente assim, quando passou metade do capital para mãos privadas... perto de metade dessas empresas teria deixado o negócio... e não foi isso que aconteceu. 3. Se a TAP fosse tomada por outra companhia, perder-se-iam muitos postos de trabalho... A sério? E assim, não? 4. Porque o “HUB” é importantíssimo para a soberania nacional e não podemos dar-nos ao luxo de o perdermos. O luxo de o manter, mesmo à custa de milhares de milhões de euros, é aceitável? E, em boa verdade, o que é o HUB? Não hão de ser os aviões que esses, com bandeira ou sem bandeira, tanto estão cá como noutro lugar do mundo. Também não hão de ser os pilotos nem os assistentes de bordo, pelas mesmas razões. O pessoal de terra, não julgo que o seja pois o “handling” pertence à Ana e essa já é francesa. Aí é que está... O HUB depende mais da Ana (propriedade da Vinci e que dá lucro!) do que da TAP (portuguesa e que dá prejuízo). Mas se o HUB é tão importante e sendo, como não pode deixar de ser, um misto de operações no ar e em terra, então quando se reverteu a nacionalização da TAP deveria ter sido feito o mesmo com a Ana... O Ministro Pedro Nuno Santos, já veio explicar que a austeridade do anterior governo era, ao contrário desta, inaceitável. Qualquer perda de regalias, diminuição de salário ou mesmo a perda de emprego, nas empresas, como resultado das medidas do Governo, para superar a crise nacional era, foi e ainda será, injusta e prepotente. Coisa bem diversa é a diminuição de regalias, corte salarial e despedimentos, decretados numa empresa onde o Governo manda e não tem outra saída para tentar sair da crise em que caiu. Quem quer que seja que venha a perder o emprego, ficar sem regalias ou receber menos ao fim do mês saberá muito bem ver as enormes diferenças entre estes dois cenários. Ficará confortado por saber que o HUB fica cá (ninguém vai levar o Aeroporto Humberto Delgado!) e a TAP continua nossa (...enquanto pagarmos o prejuízo!)

Natal e alhos (sem bugalhos)

Bons dias, meus caros. Que estas palavras vos encontrem bem de saúde e devidamente abrigados do frio. Para ásperas gargantas tocadas por cortantes dias e geladas noites recomenda-se um chá bem adubado com cenoura, cebola e alguns dentes de alho. Uma espécie de micro- -caldo servido em chávena temperado apenas com uma ou duas colheradas de bom mel caseiro. Receita muitas vezes provada (de má cara e um tanto ou quanto à força) e comprovada por este escriba, e um dos inúmeros aproveitamentos das propriedades do alho. Aqui perto de mim há um restaurante particularmente frequentado pela classe operária, nomeadamente por trabalhadores da construção civil. São quem realmente faz a China. Não são os ideólogos nem mandantes, nem as classes médias e altas que quanto mais sobem mais se fazem depender das bases para as servirem e para lhes tornarem os dias mais fáceis e à medida das suas vontades. Quem faz a China que se vê hoje são todos os trabalhadores migrantes que deixam os seus para trás e estacionam numa obra o tempo que for necessário até que fique pronta e cujos direitos numa outra província mudam tanto ou mais como se tivessem emigrado para outro país, os que a todo o segundo levam e trazem comida e encomendas de motoreta ou carripana, os senhores e senhoras cantoneiros, electricistas, canalizadores, amas e mulheres-a-dias de todos os incansáveis dias da semana. De todos estes, e de muitos outros, destaco os homens da construção, enrugados e tisnados do sol e do pó que ao fim do dia se dão uma lambidela de água e se juntam em magotes, sentados em cima dos próprios capacetes das obras a fazer de banco, de cigarro ao canto da boca, a atacar algum caldo de hortaliça ou alguma talhada de melancia, trocando dois dedos de conversa ou simplesmente vendo passar os minutos que o sol leva a cair e o céu a descolorar- -se. Fonte de diárias e peculiares exposições fotográficas, mesmo aqui ao lado, para quem seja versado nas artes fotográficas. E agora, atenção que lá vai alho. O alho vai no tal restaurante em que cada mesa está apetrechada para quem goste – além dos frascos do tradicional e local jindungo e do molho de soja – com uma pequena malga cheia de dentes de alho soltos e por descascar. Dos dentes de alho à mesa da classe operária de hoje podemos viajar até à primeira greve da história feita por trabalhadores das pirâmides egípcias precisamente por lhes ter sido retirado o alho da alimentação diária em ano de má gestão das colheitas. Fazendo um esforço por evitar cair na tentação da Wikipédia e efectuando um périplo por sites com alguma fidedignidade, fui dar a um livro chamado “Alimentos com História” onde se pode ler que os egípcios acreditavam que o alho tinha até poderes sobrenaturais ou mágicos e que aquando da abertura do túmulo de Toutankhamon foram encontrados feixes de alho entre os tesouros destinados à transcendente viagem. Na Antiga Grécia atribuíam-lhe semelhante devoção, Homero serviu- -se de alho para que Ulisses se defendesse de pragas e encantamentos, os atletas usavam-no bastante no decorrer dos Jogos Olímpicos. Com o Império Romano o consumo de alho prosperou e era considerado, segundo o poeta Virgílio, “essencial para manter as forças dos soldados e dos homens que trabalham no campo.” Dos tempos das pestes negras do medievo persistem semelhantes mitos ou lendas, por exemplo em França e Inglaterra, de que famílias se terão salvo devido a confinamentos com abundante provisão de alhos. Ainda agora nesta pandemia também houve quem destacasse (e descascasse) os seus atributos preventivos. Toda uma história de íntima e constante relação entre um vegetal e a humanidade numa dicotomia trabalhadores-dentes de alho que continua actual e vigorosa. Alguma coisa há-de ter esta planta para ter andado sempre à mão de semear. E para tal, dizem os antigos que a melhor altura é o advento, algures por esta época do ano: “No Natal semeia o teu alhal”. Para os que já trataram da sementeira, que a colheita se avizinhe boa, para quem colhe do supermercado que não lhe falte alho para fazer companhia ao polvo e ao bacalhau que não se querem solitários na travessa. Atravessemos o que falta deste ano que não está para tradições e tenhamos esperança que o próximo não venha tão alheado. Aqui não há Natal, que é um dia tão útil como os outros, embora por esta altura se assinale também uma das maiores festividades da cultura chinesa na qual as pessoas se juntam para celebrar a chegada do Inverno. Traduzindo o nome é mesmo “Festival do Solstício de Inverno” em que os membros da família se reúnem e ao longo da noite vão fazendo e comendo uma espécie de raviolis com diferentes recheios e com o alho como ingrediente de destaque. Nós humanos chateamo-nos por causas das nossas diferenças, das identidades, das religiões, das politiquices, mas o que nos conduz é a verdadeira natureza. A nossa natureza, a natureza que nos doma, que nos apequena e iguala, contra a qual pouco podemos e da qual absolutamente dependemos. As fases da lua, o sol, da água, as plantas que nos acompanham, as limitações do nosso ser. A Natureza que nos ensina, com a qual aprendemos e sobre a qual transmitimos intergeracionais conhecimentos. Por entre esta original humanidade que nos une e que vive connosco embora por vezes não a consigamos ver de tão ocupados e distraídos que andamos, um grande e intercontintental abraço de amizade e consideração. Que o espírito natalício inspire o que há de melhor na natureza de cada um e de todos nós. Feliz Natal onde e como quer que te encontres. Não te esqueças de que continuamos juntos. Saúde!

Pelo orgulho de gostar de música duvidosa

Quando as redes sociais começaram a ser uma constante nas nossas vidas, era muito comum partilharmos músicas. Agora, já é mais raro. E acho uma pena, porque as músicas de que gostamos dizem muito de nós. Mentira, não acho nada disso. Acho apenas que a música é uma arte que não se explica muito bem. Nem a música em si, nem o efeito que tem em nós. Já vos aconteceu estar a trautear uma música e pensar: “Porquê? Odeio-a, mas não me sai da cabeça”. Uma relação amor-ódio que não temos como evitar. É o mesmo sentimento de querer amar uma pessoa para sempre, mas, ao mesmo tempo, jurar nunca mais na vida lhe falar. Tenho imensas dessas na minha playlist. Neste momento em que escrevo estou a ouvir uma música que queria odiar. Só que tudo o que sinto por ela é um carinho indecente, que não consigo explicar. “Burbujas de amor”, do Juan Luis Guerra. Uma letra que foi escrita, claramente, depois de uma noite regada a álcool e produtos estupefacientes. Já a altas horas da madrugada, naqueles momentos de reflexão de “e se...” com os amigos, em que se acha que se vai descobrir a cura para o cancro e a fórmula para fabricar comida em cápsulas, um olha para o aquário ao fundo da sala e declara: “Meu, queria ser um peixe, para fazer bolhinhas de amor”. E aplaudiram todos os presentes. É, apesar da sonoridade de balada romântica, a letra faz tanto sentido como barrarem-se com mel e irem procurar um urso-pardo para Montesinho. Se, numa fase inicial, pensámos que o cantor está com os problemas cardíacos normais de alguém apaixonado, com sentimentos contraditórios - “Tengo un corazón/ Mutilado de esperanza y de razón” -, rapidamente caímos num non sense delicioso, para o qual somos mais ou menos avisados nos versos anteriores. Algo do género: “Ok, malta, estou mesmo apaixonado e isto vai ficar esquisito”. Chegando o refrão, Juan Luis Guerra atira, sem pudor, que quer ser um peixe...para tocar com o nariz dele no aquário do objecto da sua paixão e fazer, obviamente, bolhas de amor. Há grande possibilidade de, na verdade, esta música ter uma carga sexual muito forte. E aí, esta coisa de ser um peixe, das “burbujas de amor” e passar a noite “mojado en ti” passam a ser um piropo seriamente candidato ao posto de mais insólito do século. Daqueles que se fica na dúvida se tem algo de elogio ou se é só um insulto. Mas Juan Luis Guerra não quer fazer só “burbujas de amor”. Também quer decorar com corais a cintura da pessoa amada. E, mais tarde, troca-os por malaguetas, o malandro. Dos corais, ainda vá. Mas não sei onde um peixe (sim, ele ainda é um peixe) de aquário iria encontrar malaguetas. Nem outro qualquer. Ainda assim, de tão bizarro chega a ser romântico. Bom, agora é provável que daqui a uns dias acorde antes a cantar “Taras e Manias”, do Marco Paulo, à qual também não consigo ficar indiferente. A letra é mais fácil de entender, tirando a parte de tratar a moça por “você”. É sensualão? Tudo isto para vos dizer que a música é, de facto, uma arte. Podemos sentir-nos, por vezes, envergonhados pelo tipo de arte que nos desperta interesse. Mas, é uma arte que nos faz sentir felizes. E não me importo mesmo nada de ser feliz a cantar “você não tem um pingo de vergoooonha...”, agarrada ao cabo de uma vassoura, num mega- -concerto privado, com coreografia a condizer. Em público, vou continuar a fingir que não sei a letra toda de cor.

“Judeus” em Bragança: anos de 1700: Quadros Sociais- Mariana de Castro entre Agrochão e Bragança

Agrochão é uma freguesia do concelho de Vinhais, situada no limite sul do concelho, confinante com o de Mirandela. Nesta freguesia, no século de 600, havia 2 importantes famílias da gente da nação, ligadas entre si: a dos Almeida- -Castro e a dos Pimentel-Albuquerque. De modo algo simplista, pois que a gente da nação agarrava-se sempre ao que podia, atrevemo-nos a dizer que os primeiros eram, sobretudo, empresários agrícolas e mercadores e que, entre os segundos, ganhavam destaque os “ourives do ouro e da prata”. Só na família direta de Fernando Fonseca Chaves, um membro desta família cujo processo os autores estudaram e se preparam para publicar, contava- -se uma dúzia destes profissionais. (1) Obviamente que numa pequena aldeia como Agrochão não podiam sobreviver tantos ourives e que a generalidade deles nasceu já em Bragança, espalhando-se pelo país. E também os filhos e netos de um lavrador, por mais abastado que fosse, não ficariam numa pequena aldeia, limitados ao amanho da terra. A gente da nação dedicava-se a uma agricultura virada para o comércio mais do que uma agricultura de subsistência. O apelo da cidade, Bragança, era mais forte, pois havia ali empregos públicos e profissões mais atraentes e rentáveis, ligadas ao fabrico das sedas, nomeadamente. Situemo-nos em Agrochão, no mês de Junho de 1662, quando ali chegou o braço da inquisição e arrastou para as cadeias de Coimbra João Vaz Castro, a sua mulher, Pascoela de Santiago e os seus filhos António Almeida Castro e Manuel de Santiago. Vamos, antes de mais, apresentar esta gente. João Vaz Castro, (2) nascera na vizinha aldeia de Quintela, mas há mais de 30 anos que morava em Agrochão onde fora casar com Mariana da Paz, da família Albuquerque E foi deste casamento que nasceram António Almeida Castro, atrás citado, e Pascoal de Castro que, aos 20 anos, era alferes do corpo de auxiliares (milícias) do município e que depois se foi para Castela. Falecendo Mariana, João Vaz Castro, casou de novo, por 1645, com Pascoela de Santiago, nascida em Bragança, no seio de uma família muito ilustrada, de tabeliães / notários que, há 3 gerações, andava acertando contas com o santo ofício e que nem ela nem os seus descendentes acabariam por saldar, como se um trágico destino os guiasse. (3) João e Pascoela tiveram vários filhos e filhas, o mais velho dos quais se chamava Manuel de Santiago, (4) que contava 16 anos quando o levaram preso. Segundo confessou, foi doutrinado no judaísmo, em Bragança, em casa de sua parenta, Catarina Laines, onde vivera quando para ali foi enviado a frequentar a escola (dos jesuítas, certamente). Manuel de Santiago terá casado com Catarina Nunes e estes seriam os pais de Francisco de Almeida, que foi meirinho do assento e por 1730 se foi para Génova, segundo informações de sua tia, Mariana de Almeida, relaxada em 1708. (5) Voltemos atrás, a António Almeida Castro, filho de João Vaz Castro e Mariana da Paz, o qual nasceu em Agrochão, por 1632. (6) Quando o prenderam era já viúvo de Isabel Pereira, filha de Manuel Dias de Castro e sua mulher, Luísa Laines. Vivia em Agrochão e dizia-se lavrador. Depois, casou segunda vez, com Mariana de Almeida que, entre outros, lhe deu um filho, batizado com o nome de João de Castro, que viveu em Bragança, dedicando-se ao fabrico de sedas e exercendo também o cargo de meirinho do assento, ou seja: por ele passava o controlo do pão que era fornecido às tropas acantonadas em Trás-os-Montes e onde, em algum tempo, o assentista foi o primo de sua mulher, Fernando da Fonseca Chaves, atrás citado. Preso em Coimbra, António Almeida Castro confessou que efetivamente andara errado na lei de Moisés e que fora doutrinado “em casa de sua avó, Leonor Albuquerque, que era viúva de Francisco Serrão, e com Mariana da Paz, meia cristã-nova, mãe dele, defunta”. Tal como o pai e o avô, o meirinho do assento, João de Castro, foi preso pela inquisição de Coimbra, em Junho de 1711. Nessa altura era já casado com Josefa Henriques, oriunda de uma família de ourives e prateiros, como referimos. (7) Vamos olhar. Manuel de Santiago Pimentel se chamou o pai de Josefa e Isabel de Faro a mãe. Ambos se apresentaram em Bragança, em Março de 1661, perante o inquisidor Manuel Pimentel de Sousa, confessando culpas de judaísmo. Autuadas as suas confissões, ficaram os processos em aberto. 9 anos depois, foram chamados a Coimbra para serem sentenciados, no auto-da-fé de 26.4.1670. (8) Estamos então em Bragança, em 5 de Novembro de 1714, em casa de João de Castro, meirinho do assento e Josefa Henriques, sua mulher, ambos reconciliados pela inquisição de Coimbra, no auto- -da-fé de 6.8.1713, aquele condenado em sequestro de bens, cárcere e hábito perpétuo. Desta vez, o governador militar da cidade, em nome da inquisição, apresentou-se ali para levar presa a filha mais velha de João e Josefa, chamada Mariana de Santiago, de 22 anos. No mês seguinte haveriam de levar também preso o filho Manuel de Santiago e, 2 anos depois, seria a filha Filipa Henriques que iria voluntariamente apresentar-se em Coimbra. (9) Feita prisioneira, enquanto se organizava a leva para Coimbra, Mariana Santiago foi depositada em casa de Bento da Cunha, guarda da alfândega de Bragança. Durante os dois dias que ali esteve, Mariana foi visitada por seu pai, sua mãe e vários outros cristãos-novos que haviam estagiado nas cadeias da inquisição, naturalmente combinando com ela as pessoas que deveria denunciar, o comportamento e atitudes que devia adotar na prisão e a estratégia de defesa no decurso do processo.

Resistir é o que nos resta

Ter, 22/12/2020 - 01:34


Começou o Inverno, depois de longos meses de desgraças que nos secaram a confiança e nos deixaram de frente com a crueza da vida efémera, contingente, desamparada, apesar da ciência, da técnica, da economia sofisticada, da política que promete paraísos, do amor que nos tapa as misérias.