class="html not-front not-logged-in one-sidebar sidebar-second page-frontpage">

            

Parabéns à câmara de Moncorvo

A partir de dezembro, a Câmara de Moncorvo vai atribuir um vale no valor de cinco euros a cada munícipe que acumule cinquenta euros de compras no comércio local. Até ao máximo de mil euros de compras por família, dez por cento das suas compras, no concelho, são devolvidos pela autarquia moncorvense para serem, obviamente, gastos no comércio tradicional ou nos produtores concelhios. Cem euros não é muito dinheiro, nos tempos de crise que vivemos e, pior que isso, na época sombria que se avizinha. Não chega para compensar a falta de faturação no comércio, a escassez de vendas de quem não tem outra fonte de rendimento para além das vendas dos produtos cultivados ao longo de um ano inteiro. Não substitui a lacuna salarial de quem viu os rendimentos mensais diminuídos e, pior que isso, quem ficou desempregado ou viu desaparecer o contrato de prestação de serviços. Mas é melhor que nada. É dar um contributo no bom sentido e, ao mesmo tempo que se aplicam corretamente os recursos comuns, convocar e envolver todos os munícipes numa tarefa que, por muito grande, penosa e difícil, será sempre menor, menos dolorosa e menos custosa se levada em cooperação. O montante de recursos disponibilizado pela Câmara vai ser multiplicado porque não se tratando de um subsídio, implica uma atividade económica muito superior ao valor reservado no orçamento municipal. Seria ideal usar a totalidade do montante que esta operação permite que numa conta rápida coloca ligeiramente abaixo dos quatrocentos mil euros. Se o dispêndio camarário for de trezentos mil euros pode-se considerar que a operação será um sucesso. Apesar disso, não duvido que o Executivo Camarário (Presidente e vereadores) gostaria de ter um valor superior que colocasse a fasquia mais acima, quer no montante máximo, quer, seguramente, na percentagem de comparticipação. Mas ninguém ignora que as verbas municipais são escassas e estão longe de assegurarem a satisfação das carências diárias, urgentes e prementes. Tenho a certeza que o Executivo gostaria de poder dispor de uma verba superior e que este desejo é, antes de mais ninguém, incorporado pelo Presidente da Câmara. De tal forma que nem me passa pela cabeça que, por sua própria iniciativa, numa época destas fosse estragar este quadro atirando cento e cinquenta mil euros para fora do concelho para organizar e levar a efeito a sua defesa num processo que já asseverou, garantiu e jurou ter sido levado a cabo, na posse de todos os pareceres, na estrita observância da Lei e com a aprovação dos respetivos órgãos municipais. A contratualização com o escritório de advogados lisboeta, AAMM, apesar de ter sido feita, segundo o texto contratual, para aconselhamento jurídico indefinido, há de ter por objeto um assunto complexo, delicado e, sobretudo, tão grave que não haveria em Moncorvo, nem na região, ninguém capaz de o levar a bom porto. É absolutamente impensável que se possa, nestas circunstâncias, esbanjar tal verba para se opor à questão da deslocação do busto do escritor Campos Monteiro

A novel aliança- Rui Rio – André Ventura.

Nem Rui Rio é santo nem André Ventura é diabo, ou vice- -versa. A aliança que acabam de protagonizar e que viabilizou um governo do PSD na Região Autónoma dos Açores, também não é santa e muito menos diabólica. É democrática, tão-só. Teve o topete, isso sim, de pôr termo ao consulado que governou os Açores durante 24 anos à luz de uma prática ideológica sui generis - o nepotismo socialista, prevalecente em toda a República. Destacados militantes do PSD e do CDS associaram-se a altos dignatários do PS para vituperar essa excêntrica aliança com palavras injuriosas, impróprias de gente civilizada. De que fizeram eco afamados analistas e comentadores políticos, todos afinados pelo mesmo diapasão e obedecendo à mesma batuta. Pesporrência intelectual de uns tantos, condicionados pelo status quo, que receiam que tal aliança se estenda a um futuro governo da República, o que não é de todo improvável. Argumentaram, imagine-se, que com a citada aliança falia nos Açores a mesmíssima democracia que sobreviveu, embora muito mal maltratada, à “geringonça” continental que incorporou adeptos confessos dos mais cruéis regimes totalitários da actualidade. Tudo aponta, de facto, para que o partido de André Ventura venha a crescer muito mais, ainda que, felizmente, não tanto que alcance a maioria absoluta que o habilitaria a impor à Nação, por si só, leis controversas como a pena de morte ou a castração química de pedófilos (há, por certo, outros métodos para castigar os violadores e reparar as vítimas), que requereriam, para lá do mais, o inevitável juízo constitucional. Normas que muito menos poderiam ser impostas sub- -repticiamente, como o actual Governo, em conluio com o BE, vem fazendo com a Ideologia de Género nas escolas. Assustador, para muitos, isso sim, é perceberem que o Chega, chamam-lhe o que quiserem, é o partido que no presente melhor lê, interpreta e cativa o sentir profundo do povo anónimo, não racista, não xenófobo e muito menos fascista, que anda justamente revoltado por ser constantemente desrespeitado, enganado e espoliado. Chega que poderá crescer o suficiente para se constituir no parceiro inevitável do PSD, (a seu tempo se verá), cumprindo a Rui Rio e a André Ventura a patriótica missão de resgatar a dignidade da Democracia, concertando reformas políticas e sociais que a “geringonça” postergou, designadamente: - A revisão da Constituição e leis correlativas moralizando e democratizando o Regime; - A reforma do Estado, reduzindo luxos e inutilidades e tornando-o menos oneroso e mais eficiente; - A reforma do Sistema de Justiça conferindo-lhe maior independência, credibilidade e eficácia no combate à corrupção; - A igualdade de direitos e deveres independentemente da raça, credo, status social ou filiação partidária; - O combate bem sucedido à pobreza, à dependência e ao vício; - A distinção entre refugiados, imigrantes e potenciais terroristas, salvaguardando os Direitos do Homem e a Segurança Nacional. Trata-se, em última análise, de reparar malformações do Regime que desacreditam a Democracia, que estão na base da falência do Estado e da efervescente revolta popular. Assim sendo lícito é perguntar: a quem mete medo, afinal, a aliança Rui Rio-André Ventura?! Uma coisa é certa: democracia não é capa e amparo de vigaristas e traidores

Mais coisa, menos coisa....

Agora já tudo são águas passadas, mas não se pode dizer que a minha entrada para a profissão tenha tido algo de honroso ou edificante, bem pelo contrário. Dada a grande afluência de alunos a partir do início da década de setenta, a escola viu-se de um dia para o outro a braços com a falta de professores qualificados. De modo que não se esteve com meias medidas e recorreu-se a malta que saía do secundário para remediar, procurando com ovos de péssima qualidade confecionar omeletas que não poderiam ser melhores. No fundo, apenas um pouco mais do culto das aparências que pelo tempo fora tem feito parte do nosso fado. Foi nessa leva inconsciente e inepta que eu marchei, em fevereiro de setenta e cinco, para dar educação física, embora pudesse nas calmas ter sido ciências, desenho, latim ou coisa que o valha. Não saí impune daquele salto para o escuro. A minha autoimagem ficou muito danificada com a experiência. Durante anos fui assaltado por pesadelos medonhos nos quais me via diante de alunos a quem não tinha nada para ensinar, em aulas onde era incapaz de dominar a desordem ameaçadora que rapidamente tomava conta de tudo. Mesmo que as condições tivessem depois mudado radicalmente, como mudaram, nunca cheguei a vencer de todo a insegurança, assim como um sentido teimoso de ineficácia e fracasso. Fiquei quarenta e três anos mais por apatia que outra coisa, sentindo bem a pertinência das palavras de mário de sá- -carneiro: “ganhar o pão do seu dia/com o suor do seu rosto.../— mas não há maior desgosto/nem há maior vilania!”. E foi, quase sempre, pouco menos que penoso. Aqueles tempos iniciais também eram sui generis por outras razões. As ideias que começavam a tomar conta de tudo (e com as quais eu alinhava abertamente, diga-se) incutiam às pessoas que a sociedade era composta de dominadores e dominados, opressores e oprimidos. Que era preciso derrubar o poder e a autoridade dos primeiros, pois neste mundo também tudo se move em função do conflito violento. Lutar de alguma maneira era urgente e estava na ordem do dia. É certo que na escola não havia patrões nem operários, mas sendo o sítio ideal para incutir nas jovens mentes as novas modas de pensar e levá-las a dar uns toques de luta de classes, num piscar de olhos ela já estava a ser acusada de reproduzir as desigualdades sociais, o aluno já era filho do povo explorado e o professor membro da burguesia exploradora. Foi por isso naturalíssima aquela tragicomédia em que a rapaziada chamou a si, em barulhentas érregêás animadas de devoção vanguardista, a liberdade de sanear os seus mestres mais broncos ou mais colados ao caduco estado novo. Com o excesso de genica e pouca tola que os dezassete anos costumam dar. Quando tudo recomeçou, começou logo a dar para o torto. Bem entendido, depois disso muita água correu sob as pontes. De então para cá, em teoria, a escola pública sempre tem declarado perseguir objetivos bastante elevados, tais como o desenvolvimento pessoal, os valores, o conhecimento científico, etc. Porém a ideologia instalou- -se nela desde então (e não apenas agora na disciplina de cidadania) como a ferrugem em chapa velha, algo que não poderá ser revertido antes de passarem muitas outras décadas e q.b. de sofrimento. Exemplos de crenças que por lá andam à solta, entre outras: aprender é algo a que se pode obrigar alguém; todos têm capacidades para aprender; o sucesso é um direito adquirido à partida, obrigando-se a escola apenas a confirmá-lo; atribuir aos alunos classificações que pouco fazem por merecer é beneficiá-los; os miúdos podem avaliar-se a si próprios; a escola é um lugar de confronto entre quem ensina e quem aprende; a escola precisa de dobrar a espinha perante pais ignorantes, desonestos e mal-educados. Que é feito do profe nesta ambiência tóxica?... Mesmo que o queira não se pode dar ao luxo de se mostrar um profissional científica e pedagogicamente habilitado, competente, sério. Com problemas em assumir que os filhos do povo não são todos inteligentes ou interessados, que não consegue ensinar por causa da indisciplina endémica, que participa num faz-de-conta pegado ao ter que apresentar resultados positivos que não tem, muito mais provável é que se deixe ir arrastando como uma figura entalada, complexada, acabrunhada. Afinal meteram-lhe na cabeça que a toda a culpa é dele.

Cronicando- Vozes silenciosas

Quando se viveu o primeiro confinamento e se assistia à romantização da pandemia de onde sobressaiu a frase “Andrà tutto bene”, tive a preocupação de não embarcar nessa onda e, já em março, referi que o covid não iria passar tão depressa e que “o maior teste vai ser à capacidade de resiliência de cada um, dado ser garantido que esta crise não vai desaparecer de um momento para o outro.” Não foram dotes divinatórios que estiveram por detrás da afirmação mas o facto de olhar para o que é a história da humanidade e estabelecer linhas de análise verificando que, desta pandemia para as anteriores, a única variável diferente é a confiança que em março se tinha na ciência. Passados nove meses, nem as previsões mais otimistas apontam para uma vacina de imediato. Juntando a isto o facto de um dos investigadores da Pfizer ter vindo a terreiro dizer que a vida poderá regressar ao normal no inverno de 2021, não restam dúvidas de que nem tudo vai ficar bem, nem o que virá depois será como dantes. Sendo este um problema mundial, esperava-se que os organismos internacionais fossem capazes de implementar programas que respondessem aos desafios e criassem almofadas de conforto. Porém, em nenhuma das áreas se constatou que tal acontecesse e, por algum motivo, já não se ouve falar da “bazuca” que chegaria de Bruxelas porque, se chegar, será na próxima primavera e não será entre hinos de alegria. Em concreto, hoje, tem-se apenas a incerteza dos tempos e, de novo, as agências de rating a afirmar que Portugal é um dos países que mais irá sofrer com a destruição económica. A Moody’s aponta como razões principais as reservas das empresas, as alternativas ao financiamento e os horizontes mais curtos em termos de investimento. Estes factores não são novos, como também não é novidade de que persiste na sociedade portuguesa uma incapacidade em reestruturar, flexibilizar e diversificar. Nem sempre os empresários e os sistemas são responsáveis por este quadro, mas quem tem a obrigação de planear, prever e implementar medidas que capacitem as sociedades para fazer frente às crises não está ilibado de culpa. Infelizmente, tal não acontece por falta de massa crítica, mas antes porque as estruturas que nos governam e os decisores (não só os políticos) manifestam uma exacerbada tendência para o estaticismo o que, em tempos de crise, é por demais evidente e nefasto, pois são colocadas a nu fragilidades que passam despercebidas em épocas de crescimento. No último fórum do Banco Central Europeu, o diretor do departamento de assuntos orçamentais do Fundo Monetário Internacional, Vítor Gaspar, fez saber que as projeções apontam para que a maioria dos países veja a sua situação económica e financeira agravar-se, tornando mais evidente as ameaças para as economias e o emprego. Porém, não deixará de ser irónico, que seja um ex-ministro, que aplicou o ajustamento da troika entre 2011 e 2014, a aconselhar os governos a não retirarem os apoios orçamentais antes de tempo. Todos os que não têm voz revêem-se nesta recomendação e, por este país, há muitos que já sentem as consequências desta crise. Com efeito, este é o tempo de unir esforços; mas também será o tempo da responsabilidade social e, nesta linha de pensamento, não bastará reivindicar medidas de apoio para determinados sectores, mas é a hora dos próprios sectores se assumirem como líderes para o bem comum. A unidade nacional deve manifestar-se nestes momentos e, se se quer ter um futuro menos negro, impõe-se que, no presente, todos lucrem um pouco menos para depois se ganhar um pouco mais. Em contexto de emergência pública, não faz sentido que bens essenciais continuem a manter preços que começam a ser insuportáveis e se ofereçam moratórias que, longe de resolver o aperto financeiro das famílias, vai simplesmente agravá-lo. Neste capítulo, e enquanto os grandes grupos económicos continuam a perseguir o lucro, começam a emergir bons exemplos de pequenas e médias empresas que, em contexto local, vão dando resposta a necessidades primárias de cidadãos comuns que engrossam a fila dos carenciados. Espera-se que outras entidades adiram a este movimento e, em vez de criticar o estilo comunicacional do governo, como se isso fosse determinante, que cada indivíduo introduza na sua vida as mudanças necessárias que, embora não tragam a cura, pelo menos não espalhem a doença.

Não me ocorrera, então.

A festa fez-se. Com ordem, com calma e na escrupulosa observância das exigências que as autoridades sanitárias impuseram. Uma organização cuidada, aliada ao sentido cívico dos participantes permitiram que a festa o fosse e fosse, posteriormente, elogiada por muitos insuspeitos. Mas não teve paz. Invejada por todos que não conseguem uma réplica, foi agora invocada a pandemia para bloquear a sua realização. Já lhe tinham pegado com a ASAE, com as finanças, com as putativas ajudas das Câmaras comunistas, do “imperialismo soviético” e agora surgem as questões de saúde como razão quanto baste para o seu impedimento. Claro que a razão é outra e é incontornável. Ninguém em Portugal consegue fazer uma festa idêntica porque ninguém conta com o trabalho voluntário de milhares de simpatizantes. E isso dói. Daí vermos, desde o “investigador social” até à sopeira do Seixal, brandir o fantasma da pandemia como último reduto para a não realização. E com esta base argumentativa foram muitas as iniciativas: desde as centenas de artigos de opinião, abaixos-assinados, petições, tentativa de forçar a Assembleia da República a discutir o tema, automóveis em marcha lenta, encerramento do comércio, ameaça de abandono da zona enquanto durasse a festa, tudo foram razões para mostrar que os comunistas não deviam exibir o seu “coxo” no Seixal. Era ganhar na secretaria. E no entanto nem uma palavra sobre Fátima ou os desportos motorizados no Algarve. Bom. A festa correu bastante bem e isso não me surpreendeu. Os comunistas são rigorosos na organização e têm ascendente sobre aquele público. Já fiquei surpreendido por ter corrido mal em Fátima. Tem de ter havido ou desleixo ou inépcia da organização. Porque aquele público de fieis e peregrinos são receptivos às solicitações, recomendações ou exigências que a organização fizer porque a organização tem ascendente sobre eles. Deveria ter corrido bem. No Algarve, não. A organização não tem qualquer ascendente sobre o público, não há qualquer laço de afectividade entre eles logo o público tem pouco respeito pelas directrizes da organização. Tinha tudo para correr mal. Falo deste assunto com algum à vontade porque não tendo sido contra a festa achei que a não deviam ter feito por solidariedade com aqueles que a não puderam ter. Não me ocorrera, então, que a realização da festa pudesse ter uma leitura pedagógica da própria pandemia, leitura essa que não pode ser explicada “à priori” mas sim pelas consequências. Partindo do principio que não se vence uma pandemia, excepto com vacina, porque por mais confinamentos que haja, que moderam a propagação (achata a curva, como diz o outro), o desconfinamento é fatal. É desta fatalidade que o Governo é acusado em uníssono e porventura com razão. Talvez tivesse sido tudo mal feito. Se calhar não devia ter havido confinamento total como se calhar não devia ter havido aquele desconfinamento. Se calhar! Mas o que é um facto é que todos aceitàmos o confinamento como uma inevitabilidade assim como todos ficàmos contentes e aliviados com o desconfinamento. Mais. Se repararmos, vemos que toda a Europa fez basicamente como nós, afinando só a dureza das medidas pela agressividade com que a pandemia se apresentava. Hoje é fácil criticar as medidas tomadas, apontar erros, falar de omissões. Mas quem é que na altura contestou os procedimentos e alertou para o erro? Ninguém. (só temos treinadores de bancada a começar pelos comentadores profissionais) Ora, como não podemos estar sempre em confinamento porque aí o País passava a ser um “pandemónio”, então temos de aprender a viver com a pandemia. Se a não podemos vencer aliamo-nos a ela. É aí que a realização da festa do Avante pode contribuir para dar pistas de como se deve encarar a pandemia. Todos os sectores a funcionar, da restauração à cultura passando pela música ou as feiras. Tudo com limitações, constrangimentos, é certo, mas a funcionar. E é assim que tem de ser em sociedade como, aliás, está a ser o pensamento dominante.(repare-se na tentativa desesperada de manter as aulas presenciais em funcionamento). É, pois, na gestão desse ponto de equilíbrio entre o não confinamento e o evitar o colapso do sistema de saúde que está a grande dificuldade. E este equilíbrio faz-se um pouco a sentimento, “ad hoc”, de “navegação à vista” porque planificação de uma coisa desconhecida só em conversa de comentador. Hoje toda a gente se rebela contra as limitações à mobilidade, as reduções da actividade e tudo quanto restrinja os direitos cívicos. Atente-se na revolta dos homens da restauração quando se viram confrontados com a limitação da sua actividade aos fins de semana nos concelhos onde há maior incidência viral. Possivelmente, até, a Srª cozinheira do Seixal, que encabeçou a luta pelo encerramento das actividades económicas no Seixal enquanto durasse a festa do Avante, estará hoje a liderar uma luta contra o encerramento do seu restaurante sábado e domingo depois das 13 h, alegando ter todas as garantias sanitárias para poder servir qualquer um.(excepto, possivelmente, comunistas com peçonha) Passe a ironia, que pode muito bem ser verdadeira, o que é um facto é que aqueles que mais sofreram com o 1º confinamento não vêm com bom grado este 2º castigo uma vez que do 1º não se viram grandes ganhos e dão como perdido esse esforço. Entendo a frustração e a desilusão que lhe vai na alma. Mais do mesmo nunca rimou muito com pedagogia. E alguma pedagogia faltou. Somos bombardeados com números de infectados, de mortos, de recuperados, de lares, de hospitais em ruptura e numa tal profusão que se abeira do massacre e claro com o consequente fenómeno de rejeição. Já nem queremos ouvir falar. Jogou-se na pedagogia do medo ao invés de apostar na pedagogia da sedução. (ninguém veja isto como uma critica ao Governo ou seja lá a quem for. Aliás neste particular subscrevo inteiramente as palavras de Rui Rio quando se negou a fazer críticas ao Governo sobre o tema pandemia dizendo que de pandemia ninguém sabia nada e que era fácil e covarde falar no fim.) Mas a pedagogia da sedução seria uma acção que envolveria todos, os que já estão institucionalmente afectados mais partidos políticos, sindicatos, organizações da sociedade civil, comentadores políticos, autarcas, no sentido de criar uma dinâmica tendente a criar em nós o polícia de nós próprios. Acho que foi esse o ensaio do PCP no Avante. Porque com esse estado de espirito mais máscara, mais desinfectante, mais distanciamento, mais medo e com muito sentido cívico acho que podemos viver com a pandemia. Até porque “quando um homem enfrenta o impossível, o impossível recua”. P.S. Ainda não acabou a saga contra o PCP. Nem acabará. Agora é por causa do Congresso que se realizará em Loures. Claro que depois da “performance” dos comunistas na festa do Avante, os detractores ficaram sem margem de manobra para usar os argumentos sanitários como razão para o impedimento do Congresso. Agora falam de ética, de bom senso, de privilégio, de favor do Governo para a aprovação do orçamento (como se não fosse um direito constitucional) e outras bacoradas. Houve um comentador que sugeriu, até, que o Primeiro-Ministro devia pedir a Jerónimo de Sousa para adiar o Congresso. Mas, onde é que isto se viu!!!!? Já não sei o que é o bom senso. Por sua vez o Sr. Presidente da Republica fez um ataque ao PCP usando um artifício. (fez como o Pêra ao Padre Miguel) Não atacou o PCP mas elogiou a Igreja pela sua contenção na realização de eventos. Fez mal o Sr Presidente pois não foi grande exemplo. Quando o 13 de Agosto foi celebrado em Fátima foi o que se viu. Pastor não controlou o Rebanho. Por sua vez as críticas dos deputados foram confrangedoras. Se se vissem ao espelho verificariam que todos os dias eles fazem um Congresso com230 participantes com uma logística que não é nem de longe nem de perto como a do PCP. Espero que não aduzam como complemento argumentativo o facto do seu elevado absentismo permitir um muito maior distanciamento.

“Judeus” em Bragança: anos de 1700: Quadros Sociais- Ascensão social de António Mendes Madureira

A lista enviada pelo comissário Bartolomeu Cruz contava 18 nomes de homens que poderiam ser familiares da inquisição: 12 moradores em Bragança e 6 em aldeias do termo. Vejamos os nomes e alguma identificação: Bento de Varge – Não sendo homem da nobreza, foi o primeiro administrador de um morgadio instituído por dois tios paternos, que eram padres, com cabeça na capela da Sª da Penha de França, na aldeia de Rabal, em 1696. Para além disso, era “capitão de uma tropa de ordenanças” na cidade. (1) António Malheiro da Cunha – Igualmente capitão de ordenanças em Bragança. Dele falaremos em próxima ocasião. Brás de Sousa – Pintor, era filho do padre Alexandre de Sousa Capitão e sua mulher Mariana Ferreira, ambos de Bragança. (2) Francisco Correia - Escrivão do fisco, já falámos dele, no primeiro artigo desta série. António Gomes – Sapateiro. Pedro Sanches – Ferrador. Filipe Correia – Morador em Bragança. Bento de Morais Castro – Licenciado, cavaleiro-fidalgo, por alvará de 1690. Foi-lhe concedido o hábito de Cristo. No entanto, ele terá renunciado a honras e mordomias, fazendo-se frade no convento de S. Francisco, para onde entrou, tomando o nome de frei Eusébio de Castro e ali faleceu. (3) Manuel d´Antas – Morador em Bragança. Francisco Gomes – Morador em Bragança. Francisco Pires – Ferrador. António Mendes Madureira – Sapateiro. Gaspar Buíça de Morais – Natural e morador no Outeiro, em cuja igreja está uma lápide de granito com os dizeres:- Sepultura de Gaspar Morais Buíça para si e seus descendentes. (4) Manuel de Morais Buíça – Também do Outeiro, certamente da família do anterior, filho de Domingos Pires de Morais. António Pinto de Salselas. António Mendes – Capitão de ordenanças, morador em Samil, termo de Bragança. Sebastião Sobrinho – Alferes de ordenanças, morador na Mofreita. António Ferreira – Capitão de ordenanças da mesma companhia de Mofreita. Como de vê, nenhum pertencia à classe da nobreza tradicional de Bragança. Bento de Morais Castro era fidalgo-cavaleiro, sim, mas de fresca data. E era também o único licenciado da lista, que incluía 5 militares, (5) 2 sapateiros, 2 ferradores, 1 pintor e 1 escrivão do fisco. Isto reforça a ideia de que havia em Bragança e na região muita falta de familiares para prender e levar os prisioneiros a Coimbra e que era necessário recrutar familiares “de segunda condição”, como dizia o comissário. Tanto quanto mostram as informações fornecidas pelos ANTT, apenas um deles conseguiu então ser aprovado e ascender ao cargo de familiar do santo ofício: o sapateiro António Mendes de Madureira. Outro, o capitão António Malheiro da Cunha só mais tarde o conseguiu, ocupando já o posto de sargento-mor em Chaves. Vamos então olhar para o processo de candidatura de António Mendes Madureira a familiar. (6) Gonçalo Mendes se chamou seu pai. Era natural e morador em Ancede, Baião, “assistente em casa de Manuel Campelo da Cunha”. Assistente é forma suave de dizer: “criado de servir”. E seria um criado muito especial e para todo o serviço já que, a pedido do patrão, ele até matou um homem. E então, para não ser preso e julgado, fugiu para Bragança. Era o tempo da Guerra da Restauração e Bragança uma cidade completamente militarizada. Assim, foi fácil a Gonçalo alistar-se como soldado, na companhia do capitão António Figueiredo Sarmento. Na mesma companhia, militava também o soldado Domingos Pires, que tinha uma filha chamada Maria Pires Asifontes. Tudo gente pobre e humilde. A mulher de Domingos era lavadeira e a filha “vivia de fazer meias”. E foi com esta que Gonçalo Mendes veio a casar, em 5.2.1674. Para o casamento, Asifontes ia grávida e logo depois lhe nasceu um filho, que foi batizado com o nome de António Mendes de Madureira, sendo padrinho o capitão António Figueiredo Sarmento. António Mendes Madureira tinha 32 anos quando se candidatou ao cargo de familiar do santo ofício, em Fevereiro de 1707, “inculcado” pelo comissário Bartolomeu. E estava casado, há dois anos, com Joana Maria, filha de outro soldado da companhia do capitão Figueiredo Sarmento. Passaram dois anos e… de Coimbra, não vinha resposta. Madureira resolveu então “meter uma cunha” a um José da Silveira, que era compadre do notário da inquisição, o licenciado, padre Manuel Soares de Carvalho, escrevendo-lhe uma carta. A missiva apenas interessa por mostrar que a letra e escrita gramatical do Madureira era rudimentar e patenteia o quanto ele se humilhava para conseguir o favor. Veja-se: - Meu senhor José da Silveira que V. Mercê por sua boa saúde sabereis estimar, da minha pode V. Mercê dispor o que for de mais seu gosto, em muitas ocasiões ao que não faltarei como devo. Meu senhor confiando em Deus me parece que o senhor seu compadre o licenciado Manuel Soares de Carvalho estava com melhora e que lhe peço a V. Mercê me faça favor de lhe encomendar as minhas diligências que não esqueçam pelo amor de Deus (…) E pondo-me V. Mercê aos pés do senhor meirinho da santa casa, que lhe não escrevo, por não lhe saber o nome e V. mercê me faça este favor de me aplicar este negócio… Não sabemos se a carta surtiu efeito. Caso é que foi anexada ao processo de habilitação e logo depois foram dadas ordens ao comissário da inquisição de Fontelas, concelho de S. Marta de Penaguião para investigar em Ancede as origens e limpeza de sangue de António Madureira; ao comissário António Gomes do Vale, abade de Mofreita, Vinhais, para investigar na região as raízes cristãs das Asifontes e ao comissário António Pais Teixeira, natural e morador em Pinhel, para averiguar da limpeza de sangue dos avós maternos de Joana Maria, naturais e moradores em Pena Verde, concelho de Aguiar da Beira. Não vamos seguir os interrogatórios das testemunhas, uma dezena em cada uma das seguintes localidades, onde viveram os ascendentes de Madureira e da mulher: Ancede, Nozedo, Mofreita, Bragança, Parada e Pena Verde. Também não sabemos que dinheiro pagaria o candidato, ou alguém por ele, que era pobre, pagaria por estas diligências. Apenas como exemplo, veja-se a fatura do comissário Gomes do Vale: Ao comissário – 7 200 réis; ao escrivão – 4 811 réis; das notificações – 600 réis. Total – 12 611. (7) Vejamos as inquirições, começando por Ancede onde, as testemunhas confirmaram a identidade da família, informando que o avô paterno era serrador e faleceu vindo de uma serragem. Todos atestaram o assassínio e fuga do pai para Bragança. Em Nozedo/Vinhais, provou- -se que o avô materno era jornaleiro e foi solteiro para Bragança onde se fez soldado. Para além disso, ganhou a alcunha de “asiouco” quando casou. Sobre Maria Asifontes, provou-se que era “moça de servir” antes de casar e depois fazia serviço de “lavadeira”. Da naturalidade, nada se apurou, desconfiando nós que trouxe o sobrenome agarrado às origens: Asifontes uma localidade espanhola. Quanto à filha, Maria Pires Asifontes, mãe do pretendente “vivia de fazer meias”. Igualmente pobres e humildes eram os familiares de Joana Maria, mulher de António Mendes Madureira. A avó paterna era “lavadeira” e havia fama de andar amancebada com um cristão-novo, antes de casar, dele tendo um filho. O mais “elevado” dos seus familiares seria o avô materno, com a profissão de carpinteiro, na aldeia de Parada. Como se vê, exigindo o Regimento um “viver à lei da nobreza”, nada, na ascendência de António Mendes de Madureira, favorecia a sua nomeação para familiar. Exigia também o Regimento que os familiares fossem “abonados de bens”. Neste caso, verifica- -se que apenas tinha uma pequena casa, que valeria 30 mil réis, uma ninharia! Importava, finalmente, a posição social do pretendente. Também aqui, nada de favorável: a profissão de António Madureira era a de sapateiro. Mas, se tudo apontava para uma recusada, a verdade é que António Mendes Madureira foi admitido como familiar do santo ofício. Vejamos o argumento usado pelos inquisidores, na apreciação final: - Não lhe prejudica ser de poucos cabedais e de segunda condição, por ser inculcado pelo comissário para servir ao santo ofício. (8) E menos prejudicava o facto de ser filho de um assassino. Para o santo ofício era bem pior ter um quarto ou quinto avô, com ¼ ou 1/8 de judeu, do que ser filho de um assassino! Com a carta de familiar, António Madureira rapidamente ascendeu na escala social de Bragança, logo sendo nomeado tesoureiro do fisco real nesta cidade, confiando-se-lhe quantias inimagináveis, de contos de réis, para quem, pouco antes, não tinha mais uma miserável casa de 30 mil réis. Mas disso trataremos em próxima oportunidade, em trabalho que estamos ultimando, baseado no “Livro de Receita dos Depositários Gonçalo Pires, Miguel Rodrigues e António Mendes Madureira – Agentes em Bragança”. E também passou a “viver à lei da nobreza” e em nobreza viveram e casaram os seus descendentes. Seria o caso da filha, D. Francisca Doroteia de Madureira, mãe de Manuel António Madureira Cirne, abade de Carrazedo, licenciado em cânones, protonotário apostólico vigário capitular da diocese de Bragança, a quem foi concedido brasão de armas em 29.5.1782, registado no Cartório da Nobreza, livro 3º fl. 54. (9) Voltando à habilitação de Madureira, diremos que nela ficaram registadas as certidões de nascimento e casamento do habilitando e seus ascendentes. Exceto dos que nasceram ou casaram em Nozedo “porquanto os livros que havia na igreja do dito lugar se queimaram na entrada que o inimigo fez no dito lugar e o queimou no tempo das guerras passadas”, conforme certificou o comissário Vale.

À espera do futuro

Seg, 23/11/2020 - 20:20


Precisamos todos de coragem, cabeça fria, paciência, compreensão relativamente aos outros e capacidade de adaptação a estes tempos povoados de dúvidas, inconsistências, angústias, miséria que sempre marcou a condição humana, apesar dos presumidos que vão fingindo alegrias infindas, que culminam e