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Tudo ao molho e fé em deus

A seleção portuguesa de futebol, uma participante favorita de vencer o Euro 2024, foi eliminada logo ao quarto jogo, pelo que regressou a casa mais cedo do que se esperava, para desgosto dos milhares de adeptos que acompanhavam o seu desempenho fervendo de patriotismo. Tenha-se em conta que a seleção nacional poderia, contudo, não ter passado, sequer, da fase de grupos, pelo que não deixa de ser consolador pensar que apenas lhe faltou vencer três jogos para se sagrar campeã. Estou igualmente convencido, ainda assim, que muitos portugueses a quem o futebol pouco ou nada diz, também não deixaram de sentir pesar por este indisfarçável fracasso, ainda que, como é normal nestes casos, as opiniões se dividam e os méritos e deméritos desta campanha desportiva lusitana, em meu entender, não estejam a ser justamente repartidos pelos intervenientes. Não se poderá dizer, todavia, que tudo se resumiu a uma questão de sorte ou de azar, só porque dois afortunados penalties nos colocaram nos oitavos de final e outros dois, desastrados, nos arredarem dos quartos de final. Mais sensato será admitir que a escolha dos titulares, as substituições e a organização táctica para cada jogo disputado, explicam o fracasso. Fica-se mesmo com a sensação de que, face à visível displicência com que foram encaradas as equipas adversárias iniciais, que terá imperado a velha pecha lusitana do “tudo ao molho e fé em deus”. Ainda que dedicação e talento não tenham faltado aos futebolistas da equipa das quinas como, de resto, ficou sobejamente demonstrado. Foram quatro jogos apenas, portanto, em que uns tantos craques se destacaram e receberam justos aplausos e outros dois ou três, ocasionalmente mal-sucedidos, foram, talvez injustamente, censurados. Mas eu não passo de um mero adepto e espectador, é bom que se saiba. O meu propósito central é outro, partindo de princípio que o futebol é um dos espelhos da Nação. Primeiro gostaria de realçar que, goste-se ou não de futebol, a participação de Portugal nas competições internacionais sempre se traduz em grandes manifestações de patriotismo, ou portuguesismo, como se preferir, pelo que deve ser valorizada, nunca devendo ser abordada por ópticas clubistas ou comerciais. Pesem embora os muitos vícios e injustiças que esta universal modalidade desportiva traz associados e que são por demais conhecidos. Manifestações de patriotismo que são circunstancialmente positivas sobretudo porque quem tem governado Portugal não tem ousado promover e defender outros valores nacionais relevantes, designadamente a Língua Pátria, figuras universais da nossa História de carácter social, artístico ou científico, para não referir outros acontecimentos desportivos, culturais e sociais, com impacto para tanto. Também neste caso concreto da governança nacional, não se tratará apenas de uma questão de sorte ou de azar, porquanto é notória a falta de categoria da generalidade dos governantes, mais dedicados que são aos interesses partidários e pessoais, em detrimento do interesse nacional. Aqui, sim, tem claramente imperado a máxima popular atrás citada: “tudo ao molho e fé em deus”. Ainda bem, portanto, que existem Futebol, Fátima, Fado, o Rock in Rio ou a Festa do Avante. Porque os portugueses, para bem da sua sanidade mental, sempre se podem abstrair do comportamento vergonhoso de certos figurantes políticos, bem como dos incessantes casos de corrupção ou do funcionamento preocupante dos mais relevantes serviços públicos. Ainda que em circunstância alguma se justifique o seu alheamento dos grandes problemas nacionais, actos eleitorais designadamente, e muito menos das gritantes injustiças sociais e desigualdades regionais. Não se trata, portanto, repito, de azar ou sorte, mas de uma questão de fé, de os portugueses acreditarem ou não em Portugal e em quem os governa. Trata-se dos verdadeiros democratas acreditarem, ou não, que as grandes reformas do Regime, acontecerão, mais tarde ou mais cedo, dos apaixonados do futebol acreditarem, ou não, que Portugal poderá ganhar o próximo Campeonato Mundial de Futebol, com Ronaldo ou sem Ronaldo, dos devotos de Fátima, nos quais me incluo, acreditarem, ou não, que só a Virgem Maria nos abre o caminho da paz, ou dos amantes do Fado acreditarem, ou não, que a canção nacional sobreviverá às investidas do Punk e de outras ritmos estrangeiros. Trata-se, noutra vertente, dos comunistas portugueses, e não só, acreditarem ou deixarem de acreditar na restauração da mítica União Soviética por Vladimir Putin, ou das feministas do BE deixarem de acreditar que jamais algum aiatola virá obrigá-las a usar burca. Desesperante será, ainda assim, se o futebol continuar a ser o desígnio nacional determinante e o “tudo ao molho e fé em deus” a doutrina recorrente da política portuguesa.

O MICROBIOMA COMUM (O Cidadão Cientista)

Sob orientação da Maria João Leão, promovido pela GIMM e com o apoio da Câmara Municipal de Oeiras, um grupo de investigadores, liderados por Isabel Gordo, Karina Xavier e Luís Teixeira, apelou aos cidadãos da região de Lisboa para participarem num projeto inovador: identificar, estudar e caracterizar o Microbioma Intestinal Humano em Portugal, começando pelo concelho de Oeiras, alargado às zonas circundantes e, mais tarde, se houver apoios, estendê-lo a todo o país. Para tal e, não podendo levar os cidadãos à bancada do laboratório, pede-se-lhes que sejam eles a executar as primeiras tarefas observando, obviamente, o protocolo científico que permita a validação das amostragens que estarão na base do estudo. É mais um passo no caminho da Ciência Mais Cidadã, continuando a abrir-se à comunidade ultrapassando já a etapa da comunicação e indo mais longe do que as visitas aos locais de investigação, levando o laboratório a casa de cada um. A equipa de investigação vai enviar para casa de cada família aderente tantos kits quantos os componentes do agregado e são estes que farão a recolha do material biológico e genético da sua própria microbiota que lhe será entregue pelo Gabinete de Ciência e Inovação do Município de Oeiras, para fazer, por um lado, a análise da composição microbiológica e, por outro, a sequenciação dos respetivos genes. O objetivo é caracterizar a diversidade microbiológica comum em Portugal (que, segundo declarações da cientista Isabel Gordo, será, seguramente, mais rica que a americana por causa da nossa variedade alimentar típica, em contraposição com a dieta mais restrita e menos natural dos norte-americanos) e, a partir daí, identificar os microrganismos que, perante uma doença, a promovem ou previnem. É possível reconhecer, entre os milhões de bactérias que vivem no nosso intestino, aquelas cuja atividade pode ajudar a criar um ambiente propício ao aparecimento de um cancro e, igualmente, aquelas que o dificultam e combatem. Depois “bastará” diferenciar quais os alimentos ou componentes destes que são apreciados por umas e rejeitados por outras e assim condicionar a dieta alimentar portuguesa para prevenir, mesmo antes de tratar, o aparecimento de várias doenças oncológicas. A própria macrobiota pode ser alterada, enriquecendo-a ou diminuindo-a, de acordo com as conveniências de saúde de cada um mas isso, como alertou a investigadora da GIMM, é já um ato médico que poderá ter lugar, num estágio posterior e levado a cabo pelos profissionais de saúde, depois de concluído este estudo e divulgadas as conclusões, devidamente fundamentadas, cientificamente. Por razões logísticas, este projeto tem de ficar, nesta fase, restringido ao município de Oeiras e, excecionalmente, a alguns dos concelhos vizinhos. Porém, a sua extensão a outras regiões do nosso território será de grande importância, para o projeto em si mas, mais do que isso, para as populações estudadas pelos benefícios que daí poderão, num futuro próximo, recolher. Perante uma pergunta sobre a operacionalidade desta expansão, as responsáveis manifestaram grande abertura condicionando apenas ao apoio logístico local que passará, seguramente, pelo empenho municipal em colaboração com a rede de farmácias concelhias. Estou certo que os autarcas ficarão sensibilizados por esta oportunidade e que não deixarão de aproveitar o ensejo de beneficiarem as populações que pretendem servir. Sempre, mas, porque não admiti-lo, com frontalidade?, sobretudo neste período pré-eleitoral que se abre, dentro de pouco tempo. Sobretudo porque, havendo uma capacidade limitada de análise e estudo, quem primeiro se pronti- ficar, ganhará, necessariamente, vantagem sobre os seus concorrentes.

“Ir trabalhar para o Pavilhão do Conhecimento é um sonho tornado realidade”

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Ter, 09/07/2024 - 15:25


Ivone Fachada, a directora executiva do Centro Ciência Viva de Bragança, foi escolhida para integrar a direcção da Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, com sede em Lisboa. Começou as funções esta segunda-feira.

Obras para construção da nova Escola de Saúde do IPB adjudicadas ainda este ano

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Ter, 09/07/2024 - 15:07


Está já em fase de conclusão a elaboração do projecto da nova Escola de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança. O IPB espera ainda este ano adjudicar as obras.

A Europa a braços com a democracia

Parece que o tempo passa demasiado de- pressa para muitas pessoas e para outras muito devagar. Demasiado lento e sem soluções. Assistimos hoje a uma azáfama europeia inimaginável há algum tempo atrás. As crises que já se viveram na Europa foram demasiado graves e quase todas levaram a alterações drásticas e fora do comum ou pelo menos, do que seria normal. As consequências foram terríveis. Quando a Europa vivia o tempo das democracias liberais, pensava-se que tinha chegado a um patamar democrático de que não se sairia mais e que isso agradaria a todos os que deseja- vam estar em paz. Mas não foi bem assim. A crise que se instalou na Europa nos anos trinta e que se arrastou ao mundo inteiro, veio acabar com as democracias liberais para dar lugar às ditaduras e ao fascismo. Isto teve consequências desastrosas, pois como sabemos, levou o mundo a uma Segunda Guerra Mundial. Como os governos das democracias liberais não resolveram a crise económica e social de então, o povo foi atrás de quem lhe prometia tudo e mais alguma coisa, como melhores salários, emprego para todos e governos fortes e seguros. O que se passou foi surgirem líderes como Mussolini na Itália que guiou o povo até à vitória que lhe valeu ser o governante fascista que se iria aliar a outro que, de igual modo, apareceu na Alemanha e que se afirmou rapidamente como o Führer nazi que guiaria a Alemanha à ideia de construir um Império, o Espaço Vital, onde a raça ariana se afirmaria acima de todas as outras raças. A consequência foi envolver os países europeus e mundiais na Segunda Guerra mergulhando o mundo numa tremenda depressão económica e social embrulhada numa confusão jamais imaginada. Durante cinco longos anos o mundo tremeu. As bombas atómicas fizeram a mortandade e destruição que sabemos. Os povos assustaram-se e os governos acabaram por soçobrar dando lugar, novamente, às democracias desta vez com retoques mais democráticos. Hoje a Europa vive uma crise política, económica e social idêntica. As eleições que estão a acontecer em alguns países onde vigorava a democracia, levam a governos de direita e de extrema direita. Os partidos que os governos e alguns partidos democráticos procuravam afastar, são os que agora ganham as eleições. O susto surgiu rapidamente no meio das populações francesas, italianas, em países nórdicos e até na Alemanha, onde o nazismo quer voltar a vingar. Em Portugal aconteceu o mesmo. A extrema direita está a afirmar-se e a associar-se às direitas europeias. Tudo prometem a todos e têm seguidores. Porquê? Porque como os governos atuais não lhes dão o que pretendem, e eles prometem dar tudo e como quem nada tem, nada tem a perder, procuram a mudança. Fiam-se no voto como arma que agora arremessam, mas que amanhã podem deixar de arremessar. Contudo, pode ser demasiado tarde. A crise não se resolve com promessas loucas nem com partidos antidemocráticos. A seriedade da política não pode deixar-se ludibriar nem chantagear. Desconfiamos da seriedade das pessoas que se deixam guiar pelas ideias fascistas, nazis, racistas e xenófobas. A loucura tem limites. A democracia parece uma miragem. Nos anos trinta esses limites foram ultrapassados e todos caímos numa guerra sem sentido, promovida por loucos com sede de poder que nada resolveram. Mataram milhões de pessoas, destruíram cidades, fábricas, populações, enfim, aquilo que outros construíram para o bem de todos. Todos juraram que não voltaria a acontecer. Hoje a crise que se está a instalar na Europa e no Médio Oriente com as guerras que por cá e por lá se vivem, está a alastrar-se de tal modo que os governos democráticos não tardarão a cair e a dar lugar a governos de extrema direita que vão acabar com a união que existe na Europa e que tanto custou a construir. Foi assim que começou a derrocada das democracias liberais no século passado. Esperemos que não aconteça o mesmo no século XXI, mas o exemplo que vem de França, não é nada animador. A democracia perde força. Exceção feita à Inglaterra. Pior que isto, é que o próprio Parlamento Europeu vive momentos históricos e vê a sua composição alterar-se grandemente, de tal forma que leva à união de partidos para se poder manter a democracia mais íntegra e funcional, não se deixando vergar à força que a extrema direita e a direita não democrática está a ocupar. A Presidente Ursula viu a sua candidatura tremer e procurou apoios onde pôde, para segurar a democracia e a ela mesma. Costa conseguiu os apoios necessários para Presidente do Conselho. Portugal marca pontos. Em França a extrema direita ganha cada vez mais força e tem um pé no governo. A União Republicana que se desenha, poderá não chegar. Será que a França quer mesmo a extre- ma direita no poder? Vai ser difícil parar esta onde extremista. Na Itália a direita conservadora ou quase extrema direita se quisermos, já conseguiu o poder. Perante isto, como não há de tremer esta Europa cada vez mais frágil? A culpa, que ninguém quer ter, terá de ser atribuída a alguém. Vamos esperar que se saiba ter tino suficiente para segurar a débil democracia que ainda existe. Caso contrário, que palavras teremos nós para justificar o injustificável? Não há tempo a perder e deixemo-nos de palavras vãs que o tempo leva e não trás.