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Paulo Gonçalves avança para a recandidatura à liderança do CAB

Seg, 22/06/2020 - 18:09


O Clube Académico de Bragança (CAB) vai a votos no próximo dia 15 de Julho. Paulo Gonçalves, presidente do clube desde 2014, vai recandidatar-se e confessou ao Nordeste que a pandemia da Covid-19 também trouxe dificuldades ao CAB.

 

- Há seis anos que lidera o Clube Académico de Bragança. Porque decidiu avançar para a recandidatura?

Não fazia sentido neste momento difícil para todos em geral e para o clube em particular não me recandidatar.

Nós trasmontanos, sefarditas e marranos- Manuel Lopes, um judeu do tempo da inquisição - 6

Voltemos atrás, ao filho primogénito de Luís Lopes Penha, nascido em Mogadouro, cerca de 1629 e ali batizado com o nome de António Lopes Pereira. Sabemos que repartiu a mocidade negociando, entre Mogadouro e Castela. Em data que não conseguimos averiguar, foi casar em Torre de Moncorvo, com Maria Rodrigues, filha de João Rodrigues e Manuela Dias. O casal morou algum tempo em Moncorvo, mudando-se depois para o Mogadouro onde, por 1680, faleceu Maria Rodrigues, deixando 4 filhos: Luís Lopes Penha, de 10 anos, João Lopes Ventura, de 7, Salvador, de 4 Lopes e Manuel Lopes, o protagonista deste trabalho, recém-nascido. Aliás, presumimos que a mãe faleceu na sequência deste parto. Da vivência de António Lopes com seus filhos, temos o relato feito pelo filho mais velho, o Luís, na inquisição de Valhadolid em 10.2.1702: - Disse que, sendo de 10 anos e vivendo com seus pais António Lopes Pereira e Maria Rodrigues, já defuntos, no Mogadouro, e tendo morrido a dita sua mãe, havia coisa de um mês, disse a ele confitente seu pai e a seu irmão João Lopes Ventura, que no dito tempo seria de 7 anos, estando os três sozinhos, num aposento de sua casa aonde seu pai dormia, disse o dito seu pai, que havia ele confitente e seu irmão de sacar a alma de sua mãe das penas do purgatório e levá-la para o céu. E que a isto respondeu ele declarante e seu irmão que faziam o que pudessem, ainda que fosse necessário perder a vida. Ao que seu pai respondeu que para consegui-lo não necessitavam senão de estar sem comer nem beber pelo tempo de 24 horas, rezando algumas vezes padre-nosso, sem dizer ao fim Jesus. E convencendo- -os aos dois a fazê-lo, como seu pai dizia, naquele mesmo dia, seu pai e eles, do poente ao sol, comeram uma potage de garbanços e um pouco de peixe, dizendo seu pai que era para fazer a primeira ceia do jejum que haviam de fazer com ele pela alma de sua mãe e que até à noite seguinte, à mesma hora, não haviam de comer nem beber. E assim o fizeram ambos, rezando pela manhã e pela tarde um rosário de padre-nossos sem dizer Jesus ao final e sem estar presente seu pai. (1) Assim explicou Luís como foi introduzido por seu pai na prática da lei de Moisés, contando em seguida outras práticas e cerimónias judaicas e ditando várias orações que seu pai e sua avó materna lhe haviam ensinado. (2) Sim, para o Mogadouro se mudou também a sogra de António Lopes, chamada Manuela Dias, talvez depois da morte da filha, para cuidar dos netos. E à responsabilidade desta avó ficaram as 4 crianças, quando o pai morreu, por 1686. Por pouco tempo, já que a avó tratou logo de os encaminhar para junto de outros familiares que melhor pudessem educá- -los e introduzi-los na vida ativa. Assim: Luís Lopes Penha foi enviado para Benavente, Castela, para casa do tio paterno João Dias Pereira que, na região de Salamanca, trazia arrendada a venda do tabaco, com muitos familiares empregados em diversos estancos. Breve o Luís ficaria encarregado de um deles. (3) João Lopes Ventura foi enviado para Bragança, para casa da sua parente Inácia Maria Pereira, casada com Manuel Rodrigues, o Clérigo, de alcunha, onde aprendeu a arte de tecelão de sedas e de quem haveremos de falar mais adiante. Da infância de Salvador Lopes Penha, não temos qualquer informação. Sabemos tão só que, em 1702, quando contava uns 24 anos, se encontrava servindo o exército de Castela como soldado de cavalaria, conforme informação de sua “tia” Guiomar Lopes. Manuel Lopes, o mais novo, foi levado para Lebução, para casa de sua tia paterna Isabel Cardosa, como se verá. Porém, antes de prosseguirmos, acompanhando a infância de Manuel Lopes em Lebução, fiquemos em Torre de Moncorvo, procurando as suas raízes. E a primeira constatação é que na sua terra natal não conseguimos identificar qualquer parente seu. Tal como a sua avó materna, que era natural de Moncorvo e se passou para Mogadouro, deve dizer-se que todos os parentes que o Manuel encontrou ao longo da vida, originários de Torre de Moncorvo, andavam em outras terras portuguesas ou no estrangeiro. A Torre era uma terra completamente limpa da heresia judaica. É que, entre 1640 e 1670, a inquisição levara a efeito uma verdadeira operação de limpeza da etnia hebreia. Recuemos então àqueles anos de 1640, quando o promotor do tribunal do santo ofício de Coimbra solicitava as primeiras prisões, argumentando deste modo perante os inquisidores: - Ilustríssimos Senhores (…) A Torre é terra nova em que importa ao serviço de Deus entrar a Inquisição, que fez muito fruto entrando também por testemunhos de cerimónias em Quintela e Sambade. (4) Foi o início de uma alterosa vaga que, nos anos seguintes, arrastou para as celas da inquisição mais de 7 dezenas de cristãos-novos Moncorvenses, com todas as consequências, ao nível da economia, da sociedade e da cultura, ainda mais, tratando-se do sector mais dinâmico da sua população. E a operação de limpeza foi conduzida com tal eficiência que, uma dúzia de anos depois da primeira investida, em 1652, o comissário local da inquisição, que liderou o processo, Pedro Saraiva de Vasconcelos, (5) escrevia para os inquisidores de Coimbra: - Os cristãos-novos desta vila se fugiram todos para Castela e só ficaram três casas, que também farão o mesmo; porém, dizem que alguns estão escondidos em Vila Flor, que é a sua cidade de refúgio, com intenção de passarem a Castela. (6) Certamente que alguns ficariam em Vila Flor, o tempo suficiente para se desfazerem de alguns bens que não podiam levar e cobrar alguns dinheiros que tinham em mãos alheias. Mais ainda ficaram por Mogadouro, mas todos acabaram por se internar por Castela ou rumar ao Porto e Lisboa onde eram menos conhecidos e poderiam apanhar uma barco para uma terra onde pudessem livremente afirmar a sua religião. Facto é que, depois desta vaga não houve mais prisões em Torre de Moncorvo, nem manifestações públicas de judaísmo.

Sustentabilidade, moda consciente e eco friendly

A moda é uma expressão do estilo pessoal e a demonstração da individualidade, criatividade e do senso estético de um individuo. Ao usar uma marca, não se compra apenas a beleza da peça, está igualmente a concordar-se com todo o seu processo produtivo e a “incorporar” o valor moral da marca. Assim, em algumas situações, os consumidores têm o poder de apoiar ou punir marcas pelas suas atitudes sociais e ambientais, comprando ou não comprando em determinada loja. O número de consumidores “ecofriendly” tem aumentado nos últimos anos, associado á enorme preocupação global para a sustentabilidade do planeta. Muitos preveem que esta preocupação sobre sustentabilidade e moda consciente, intensificada com a actual pandemia do COVID19, que alertou a humanidade para valores mais humanos e amigos do ambiente, aumente significativamente a consciência dos consumidores, que irão exigir responsabilidades e atitudes sustentáveis ás empresas e marcas de moda, no sentido de investirem no paradigma do desenvolvimento sustentável. Uma marca de roupa pode, por exemplo, aumentar a vida útil de uma peça de roupa através do acabamento, pode usar tecidos que causem menor impacto ambiental, verificar a procedência das matérias-primas, assegurar condições dignas de trabalho, realizar o “upcycling”, etc. Diante destas preocupações, surgiram correntes adeptas do consumo consciente, como o movimento de “moda ética”, “slow fashion”, “eco moda”, “zero-waste fashion” e “eco chic”. Moda ética leva em consideração o impacto da dimensão sócio cultural e ambiental inserida na concepção de um produto. O movimento questiona a exploração de trabalho de funcionários de confecções, que muitas vezes são submetidos a condições análogas ao trabalho escravo : “ Quem fez as minhas roupas? Em que condições? A eco moda pretende que se reduza o consumo de recursos e o uso de tecidos de fibras orgânicas e métodos de produção que minimizem a contaminação de rios e mares, evitando ao máximo produtos químicos altamente poluentes. Algumas alternativas são o algodão orgânico, e fibras de ananás, de bambu, de cânhamo e outras. O eco produto é projectado de acordo com um balanço energético e material, quantifica as perdas e possíveis desperdícios, além de pensar em refrear a geração de resíduos sólidos. O conceito “slow fashion” contraria a produção de roupas massivas e de baixa qualidade, propondo um consumo mais lento e roupas com maior vida útil. O movimento questiona o conceito e a velocidade da moda, e visa um design intemporal com qualidade que proporcione uma durabilidade á peça. Resumidamente defende: - A qualidade das roupas em detrimento á quantidade de peças; - Mudança de consciência do consumidor para que se questione sobre a necessidade de consumir mais e mais, pensando no ciclo de vida de cada peça e na sua durabilidade; - A sustentabilidade em todas as etapas do processo de produção e uso consciente de recursos; - Remuneração justa e garantia de condições dignas e éticas de trabalho; - Incentivo a negócios locais Não podemos mais pensar isoladamente nas nossas roupas, sem tomarmos consciência de tudo o que está detrás da sua fabricação. É, pois, imprescindível que cada consumidor reconheça que faz parte dessa cadeia, em que as questões ambientais se cruzam com as questões sociais. É impossível ignorar nos dias de hoje que comprar uma roupa é também um “acto político”

Vendavais: Os vândalos racistas

Há alguns séculos atrás, mais concretamente no século V, a Norte da Europa foi invadida por vários povos bárbaros que destruíram o grandioso Império Romano do Ocidente. Várias investidas dos diferentes povos germânicos, acabaram com um domínio de muitos séculos, quer na Europa, quer mesmo no norte de África, circundando o Mediterrâneo, a que os romanos chamavam Mare Nostrum. Entre os vários povos bárbaros, vinham Vândalos, Suevos, Visigodos, Saxões, Francos e tantos outros que não vale a pena referir. Por cá se estabeleceram, criaram raízes e ficaram a governar criando reinos que se transformaram em países e em nações prósperas, mas diferenciadas, quer na civilização, quer na cultura intrínseca de cada um. Talvez por um acaso qualquer ou porque não conseguiram resistir ao avanço de quem vinha atrás ou determinação do destino, os Vândalos tiveram de atravessar o Mediterrâneo e refugiar-se no Norte de África, abandonando a Península onde pensavam permanecer. Nada mais havia a não ser o Atlântico desconhecido e o Mediterrâneo insondável. Por cá não ficaram. Mas deixaram um rasto de destruição tão grande que ainda hoje nos referimos a quem tem igual comportament, como autênticos Vândalos. No caminho da afirmação das nações, cada uma agiu a seu modo, teve os líderes que de alguma forma surgiram e se afirmaram, teve os governos que escolheu, ou não, mas mantiveram as suas identidades culturais, a sua força, o seu querer e idolatraram mesmo alguns dos seus heróis, eternizando-os em estátuas artísticas e significativas, que um qualquer artista sublimou. Nesse percurso, cada nação soube adaptar-se às vicissitudes que enfrentou, soube conviver com os seus vizinhos, a bem ou esgrimindo razões e direitos, tentou ser melhor, e conseguiram moldar a sua identidade e a própria mentalidade. No fundo, criaram as páginas da História Universal que nada nem ninguém conseguem apagar. Todos eram iguais? Não. Todos eram diferentes? Claro que sim. Raças, credos, mentalidades, civilizações, tudo era diferente e será sempre diferente. Ninguém pode alterar isso. E não é força de um determinismo etéreo. É a realidade. O modo como encarar as diferenças é que pode ser desigual e é. A História tem imensas páginas, mas a História é só uma. Ao longo dessas páginas estão pessoas boas e pessoas más, pessoas compreensivas e menos compreensivas, pessoas rudes e menos rudes, tiranos e ditadores, exterminadores, assassinos e alguns Nobel da paz. Lado a lado nas páginas da História, não se tocam, não se ofendem, não se destroem. Tiveram o seu tempo, ocuparam o seu espaço, com a anuência de uns e a oposição de outros, mas agiram de acordo com a consciência de quem tem de fazer algo para resolver situações que se lhes depararam. Uns receberam aplausos, outros apupos, outros fugiram para não serem punidos pelos raivosos. Hoje, em quase todos os locais, cidades e vilas, países deste planeta, existem monumentos, estátuas de pessoas relevantes que, de uma qualquer forma mereceram distinção, ainda que alguns vindouros, achem que houve desmerecimento. Estão no seu direito. A discordância é uma valência do discurso. Mas não confundamos discurso e discordância com destruição de ícones, ainda que relativizados. Como simples historiador e professor, não posso admitir que se destrua os representantes da História, como sei que não é possível destruir a História. Ela é indestrutível e os seus homens, bons ou maus, ícones ou simplesmente meros representantes de um ato isolado, igualmente são indestrutíveis e rasgados das páginas a que pertencem. Não sou racista, não sou xenófobo, não sou assassino e muito menos terrorista, mas sou contra os que são destruidores de um património histórico, usando os mesmos métodos que os Vândalos que destruíram tudo à sua passagem, na tentativa de dominar um território que não era deles. A destruição não apaga a memória nem a História. E não pode ser em nome de um epíteto racista, que se pode ter semelhante atitude. O Padre António Vieira usou a palavra para pregar, para convencer, para evangelizar e agora criticam a sua atitude apelidando-o de racista. Um ícone da língua portuguesa? Um nome alto e digno da Cultura nacional? Ele como tantos outros pelo mundo fora, viveram o seu tempo. Alguém apagou Estaline da História? Apagaram Hitler? Apagaram Lenine? Apagaram Nero? Não. Uns bem, outros muito mal, mas não será por isso que serão apagados da memória dos povos e das páginas da História Universal. Simplesmente porque existiram e agiram.