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Vendavais - A manifestação das vontades

As vontades são sempre de quem as tem e nunca de quem as quer resolver. É o que aconteceu com a manifestação dos professores neste fim-de-semana em Lisboa.

O Terreiro do Paço quase encheu com cerca de oitenta mil professores de todo o país que se juntaram para exigir ao governo o cumprimento do que está legislado. É uma luta de vontades. A que têm os professores e a que tem o governo. Uns querem, outros nem por isso. É só uma questão economicista, o que não é de somenos convenhamos. Mas isso não justifica a atitude de irreverência com que o governo se apresenta nas supostas negociações, onde nada se negoceia.

Muitos meses depois do início destas negociações entre o governo e a plataforma sindical, tudo permanece na mesma, o que equivale a dizer que nem o governo adiantou qualquer solução, nem a plataforma conseguiu algum acordo de princípio. Simplesmente nada.

Por mais vontade que a plataforma sindical tenha e por mais professores que consiga juntar e apresentar em manifestação, não consegue demover a vontade do governo que é só uma: não dar nenhum tempo de recuperação aos professores. As desculpas são sempre as mesmas e todos as conhecemos. Não adianta.

O Presidente da República perante a teimosia do governo, resolveu desatar o nó antes que fosse tarde e promulgar o decreto que recupera quase três anos dos quase dez perdidos. Nem todos ficaram contentes. Sindicatos e professores. Esta janela aberta por Marcelo, poderia ser uma lufada de ar para que as negociações adiantassem soluções num espaço de tempo aceitável, mas o governo nem isso quer aceitar. Não adianta qualquer possibilidade de resolução do problema. Vontade férrea de quem não tem soluções nem quer resolver coisa alguma.

A ex-secretária do PS Ana Benavente já avisou que o governo vai ter de pagar a fatura por esta falha enorme. Se nos lembrarmos bem, há onze anos, a greve dos professores desgastou o governo de Sócrates e contribuiu para o seu descalabro. O curioso de tudo isto é que passado tanto tempo ainda não se resolveu a questão dos professores. Como é possível?

As greves são armas de dois gumes. Cortam ou agradam em ambos os lados. Para o governo, podem ter interpretações variadas sendo uma delas, talvez agradável, que é o facto de poupar dinheiro já que não paga aos professores em greve os dias em que estas se realizam, com exceção dos fins-de-semana, claro. A outra, menos agradável, é que elas fazem mossa no governo e na opinião pública e pode ter um peso enorme em ano de eleição, como este. Que professor vai votar no governo que o está a prejudicar? Para os professores, as greves são um trunfo para mostrar o seu desagrado para com o governo, mas se este não paga os dias de greve, os professores saem sempre prejudicados. Fazer greve às avaliações, às aulas ou aos exames, não adianta. Perdem dinheiro e não conseguem nada. E não conseguem nada porque o governo pode decretar serviços mínimos e lá estão os professores obrigados a cumprir o que o governo pede. O que adiantam? Quase nada. O que fica é mera opinião pública e esta ferida de coerência já que muitos dos encarregados de educação não dão razão aos professores. Mas a questão é mais profunda do que isso. Eles não dão razão aos professores porque não podem ficar com os filhos em casa e não sabem o que fazer com eles. É que se estiverem na escola, estão arrumados e despreocupam-se durante o dia todo. Alguém trata deles! Quem? Os professores, claro. Vontades diferentes, mas relevantes. Presos por ter cão e presos por não ter.

Uma proposta da plataforma sindical apresentada no Terreiro do Paço para que o governo ouça bem, foi de greve ao arranque do ano letivo. É um momento crucial e pode ter um impacto enorme já que as eleições estão à porta e Costa vai ter de pensar muito bem se quer correr riscos desnecessários. Se conceder aos professores alguma recuperação de tempo de serviço e agendar a recuperação restante ao longo de mais dois ou três anos, ele ganha as eleições facilmente. Se não houver nenhum acordo, o risco é muito maior. Por um se ganha e por um se perde.

Outra proposta é greve geral a 23 de março. Será que vale a pena? Em tempo de Páscoa, as sensibilidades são outras e bem diferentes. Férias à porta e descanso à espreita, não são grandes motivações para quem agora acabou de se manifestar na capital sem aparente resultado. Mas água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Pode ser que o desgaste que sofreu Sócrates atinja agora Costa.

Pois perante tantas vontades antagónicas, não será fácil resolver o problema dos professores, mas mais do que isto é difícil resolver a questão da Educação em Portugal e isso é trabalho do governo, mas não de qualquer um. Terá de ser um governo com os pés assentes na terra e que saiba o que é ensinar para o futuro, com bases sustentáveis, com saber formado e adquirido, que permita aos jovens de hoje serem verdadeiros homens de amanhã. Não enganemos ninguém.

Nós trasmontanos, sefarditas e marranos - Jejum da Rainha Ester – Festa do Purim

Contam as escrituras que, com a tomada de Jerusalém pelo rei da Babilónia, muitos judeus foram para a Pérsia onde uma judia chamada Ester conseguiu casar com o rei e obter regalias para o seu povo, naturalmente. Isso despertou a inveja de muitos persas e o ódio do primeiro-ministro, Aman, que planeou a morte dos judeus. E tirou sortes para escolher o dia em que seriam sacrificados. Calhou em 13 do mês de Adar. Mardoqueu, líder dos judeus e tio de Ester, seria o primeiro a morrer. A rainha Ester, contudo, levou o rei a mudar de ideias. Assim aconteceu e quem foi sacrificado foi Aman e os seus partidários, que morreram às mãos dos judeus, ascendendo Mardoqueu ao poder. Seguiram-se dias de festa entre os judeus, naturalmente, a Festa da Rainha Ester.

Claro que, antes, a rainha Ester recorreu ao Deus de Israel para obter as graças do rei persa e pediu ao povo que jejuasse com a mesma intenção. Nasceu assim o Jejum do Purim, palavra hebraica que significa “sortes”. Mas vejam-se as próprias palavras, tiradas da Bíblia:

— Assim foi o dia 13 do mês de Adar e no dia 14 descansaram, transformando-o em dia de festa. Os judeus de Susa reuniram-se nos dias 13 e 14 e no dia 15 descansaram, transformando-o em dia de festa. É por isso que os judeus do campo, que vivem nas aldeias, fazem do dia 14 do mês de Adar um dia de alegria, banquetes e festa, e trocam presentes. Para os judeus das grandes cidades o dia festivo é o dia 15 do mês de Adar, quando mandam presentes aos seus vizinhos.(1)

Não coincidindo o calendário judaico com o gregoriano, resta dizer que a data do Purim varia entre fevereiro e março, calhando este ano nos dias 20 a 22 de Março.

Vejamos agora como os cripto-judeus de Trás-os-Montes celebravam a festa da rainha Ester e o jejum do Purim. Antes de mais, refira-se que a palavra Purim raramente aparece no seu vocabulário, geralmente referindo o jejum da rainha Ester. Uma das exceções aparece no processo de Gabriel Serrão, de Vinhais, acusado por Diogo Mendes, de Miranda do Douro de ser ele o mestre e ensinar aos cristãos-novos de Vinhais as festas judaicas, a começar pela “festa do Purim e o jejum da rainha Ester”.(2)

Depois do jejum do dia grande (Kipur) o da rainha Ester será o mais referido, em todas as comunidades de Trás-os-Montes. Veja-se, por exemplo, o processo de Branca Henriques do Vale, cristã-nova de Chacim:

— Disse que em fevereiro haviam de jejuar o jejum da rainha Ester, que será de três dias e três noites, vestindo na primeira camisa lavada e estando em todos eles sem comer nem beber senão na última noite e que haviam de rezar a oração do padre-nosso sem dizer Jesus ao final e ofereciam os ditos jejuns ao Deus do Céu.(3)

De modo idêntico se expressava Afonso Manuel, mercador de Vinhais que “jejuava o jejum da rainha Ester e era de espaço de três dias e quando queriam pedir alguma coisa a nosso senhor jejuava três dias com suas noites sem comer senão na derradeira noite”.(4) Ainda em Vinhais, Beatriz Álvares, foi denunciada por dizer “que vinham aí os três dias de jejum da rainha Ester, os quais se haviam de jejuar todos três”.(5)

Podíamos multiplicar as citações em processos de Bragança ou Moncorvo, Miranda ou Vila Flor… provando que todos eles tinham ideia concreta do jejum da rainha Ester que caía por altura do carnaval (fevereiro-março) e se prolongava por três dias.

Embora falando em “festa do purim” ou da rainha Ester, não encontramos nos mesmos processos qualquer descrição festiva. Certamente porque, à semelhança dos judeus exilados e sob o domínio de Amon, eles se sentiam também vivendo no exílio, sujeitos ao domínio tirano da inquisição. Não tinham, pois, qualquer motivo para festejar. Ou fá-lo-iam em segredo, sem dar nas vistas, pelo que o caso não é referido nos processos?

Caso extremamente significativo aconteceu em Miranda do Douro, ao entardecer do dia 25.9.1640, primeiro dia de uma novena que os cristãos faziam na sé catedral em honra de N.ª Sr.ª do Rosário, cuja festa celebravam no primeiro domingo de outubro. Ao fim da novena, chefiados por dois padres, um grupo numeroso foi em arruada à Rua da Costanilha, à porta de Francisco Henriques e Ana Rodrigues, com pretexto de que a sua filha Ângela se vestira de Rainha Ester, engalanada com cordões, argolas e pulseiras de ouro, em manifestação clara do orgulho judeu. Tocando bombos e matracas, os arruaceiros gritavam:

— Viva a Senhora do Rosário e Morra a Rainha Ester!(6)

No rito sefardita o primeiro dia do Purim é de jejum. No segundo dia é obrigatória a leitura da “Meguilah”, que é o Livro de Ester. Ao terceiro dia trocam-se presentes e mandam-se ofertas a casa dos mais pobres. Nesse dia come-se e bebe-se com fartura e expressa-se toda a alegria. É o dia da festa, por excelência.(7)

E em Trás-os-Montes como a festa da Rainha Ester seria festejada pelos judeus e marranos?

Não temos informações concretas e precisas. No entanto, algumas descrições apontam nesse sentido. Por exemplo, em Carção, onde o padre Francisco Fernandes, “muito da fação dos cristãos-novos” foi denunciado por usar paramentos religiosos em festas pagãs. Terá sido na festa da Rainha Ester, que vem antes da Páscoa? Veja-se a denúncia:

— (…) Ter algumas vezes ataviado os filhos em festas com ornatos da igreja como são cortinas, capas e asperges, cortinas de sacrário, véus de ombros e dos cálices; e tanto assim que querendo certo clérigo dizer missa em domingo de páscoa da Ressurreição, não achou véu para cobrir o cálice, senão um de cor preta, porque os de branco e vermelho os tinham os filhos dos cristãos-novos (…) De contrário, em festas profanas esgotou a igreja dos ornatos melhores que nela se achavam, tanto assim que um sobrecéu da Senhora do Rosário, que era o melhor que havia na igreja, andou servindo de cobertura de um carro, puxando a ele uma égua pelas ruas do lugar de Santulhão; e das cortinas dos altares se fizeram calções ou saias para vestir alguns cristãos-novos de soldados à turquesa…(8)

Outros processos sugerem que, na festa da Rainha Ester, os marranos de Trás-os-Montes usavam celebrar com máscaras e fazer “jogos de burraço” e “pandorcadas”.

Seria o caso de Quintela de Lampaças onde, no último quartel do século de 500 se criou a “confraria do burraço” cujos rendimentos eram utilizados em “comezainas, bebedeiras e jogos de burraço”, em atos e celebrações promovidas para ridicularizar a ordem social cristã da aldeia, fazendo barulho pelas ruas, com brados de denúncias de situações mais ou menos parvas e de papalvos.(9)

Sobre as “pandorcadas”, diremos que, apesar das proibições e castigos impostos por vários bispos da diocese de Miranda do Douro, elas sobreviveram até ao limiar do século XX, nomeadamente em Vilarinho dos Galegos onde se fazia a “pandorcada” em honra de “S. Membrum”. A propósito, escreveu o Dr. Casimiro Moraes Machado:

— A função era absolutamente profana e brejeira, constando de intermináveis bailados e copiosas libações. Dançava-se ao ar livre, em volta do povoado e em redor da igreja, ao som do pandeiro, em ensurdecedora algazarra. Para que tudo fosse ao contrário e tudo se amesquinhasse, as mulheres cavalgavam os homens. É tradição que uma mulher gastou sete pares de chinelos de liga numa única dessas tropelias. Das muitas quadras habitualmente cantadas no decorrer da ronda, pude colher duas que arquivo:

 

Senhor S. Jerónimo

Que estais no altar,

Livrai que a peste

Nos venha ao lugar.

 

Senhor S. Miguel,

Louvado ele seja;

Que saiu borboleta,

Da nossa igreja.(10)

 

Notas:

1 - Livro de Ester, 9:17-19.

2 - Inq. Coimbra, pº 6791, de Gabriel Serrão.

3 - Idem, pº 7105, de Branca Henriques do Vale.

4 - Idem, pº 7512, de Afonso Manuel.

5 - Idem, pº 7517, de Beatriz Álvares.

6 - ANDRADE e GUIMARÃES – Judeus em Trás-os-Montes a Rua da Costanilha, pp. 151-153, Âncora Editora, Lisboa, 2015.

7 - HA-LAPID, n.º 17, de fevereiro – março de 1929: — Costuma-se fazer um banquete onde se deve comer e beber mais que ordinariamente e estar alegremente. É obrigação mandar às famílias amigas dádivas e presentes de comidas.

8 - Inq. Coimbra, pº 8016, de Domingos Rodrigues Galo, documentos anexos. Ver: ANDRADE e GUIMARÃES – Carção Capital do Marranismo, p. 172, Associação Cultural dos Almocreves de Carção, Associação CARAmigo, Junta de Freguesia de Carção­ e Câmara Municipal de Vimioso, 2008.

9 - MEA, Elvira Cunha de Azevedo – A Inquisição de Coimbra no século XVI, a Instituição, os Homens e a Sociedade, pp. 464-465, Fundação Eng.º António José de Almeida.

10 - MACHADO, Casimiro Henriques de Moraes – Mogadouro um olhar sobre o passado, p. 137, Mogadouro, 1998.

Evasões

Seria escusado listar aqui os benefícios de viver em comunidade, mas é capaz de ser útil mencionar os custos: em grupo acabamos sempre por amordaçar os nossos impulsos e desejos mais queridos, isto é, por abdicar de uma boa parte de nós próprios, o que, pensando bem, não deixa de ser um preço alto. Outro inconveniente gémeo deste, e igualmente sério, é que as relações entre as pessoas tendem a adquirir um caráter simulado, de onde a autenticidade anda tantas vezes afastada.

Mas no atual estado das coisas tem que ser. Deus nos acudisse se cada um desse em comunicar àqueles com quem se relaciona, mesmo os mais próximos, tudo o que realmente pensa deles. A vida social tal como a conhecemos simplesmente não existiria, pois ela depende muito da cautela que resulta em exteriorizar apenas uma fração daquilo nos vai dentro. Enquanto caridosamente douramos a pílula da realidade que propomos aos outros, o uso contido da palavra permite que as relações prossigam, o que dificilmente aconteceria se assim não fosse: se num grupo de amigos em cavaco ameno cada elemento imaginasse o que os outros já afirmaram sobre si, não havia sequer possibilidade de se terem reunido.

No dia a dia, com a exceção evidente das crianças, dos humoristas e dos tontos que, esses sim, têm o privilégio de não usar filtros sem que daí lhes advenham consequências de maior, toda a gente puxa a rédea ao que exprime em cada circunstância, refreando as ousadias potencialmente corrosivas de uma liberdade de expressão levada à letra.  Uma cena de que muitos certamente se recordarão, sintomática dessas cautelas, passou-se com a única mulher que até hoje ocupou a presidência do parlamento. Penso que a certa altura quis entrar pelo melindroso tema da falta de sintonia entre a ação política e os desejos da população, o clássico divórcio entre uns e outros. Então a pobre senhora, entalada entre piscar o olho à sua classe de adoção, que lhe garantia o sustento, e a obrigação de não trair a da origem, que até a tinha elegido, foi-se deixando enredar em patéticos ziguezagues de linguagem. A coisa estava mesmo preta até que finalmente, depois de visível sofrimento, em desespero de causa, lá desaguou numa solução de compromisso de que resultou a produção de dois neologismos com os quais a nossa língua se viu de um momento para o outro soberbamente enriquecida: “inconseguir” e “inconseguimento”.

Indigesto, mas vá lá uma pessoa dizer o que pensa… Para os mais desbocados, que os há em cada canto (e em cujo número, pelos vistos, também estou metido), os poderes engendraram maneira de exercer um papel censório instituindo hábitos de linguagem adequados, neutros, “corretos”, um superego na língua das pessoas para que não se estiquem na conversa. A arrelia é que, a adicionar a esse açaime, nós já quase asfixiamos com uma cópia de constrangimentos, preceitos, normas, deveres, interditos, regulamentos, tudo coisas que limitam severamente a liberdade de cada um ser o que é.

É certo que tais cuidados se restringem ao uso público e que em privado, ao abrigo da cautelosa polidez, enquanto não for inventado um qualquer “machado que nos corte a raiz do pensamento”, cada um continua a ser ele próprio na sua consciência. Acontece que nesse lugar impalpável também esvoaçam continuamente a impotência e a revolta, o medo e a raiva, a agressividade e a frustração, assim como outros intensos sentimentos potencialmente destrutivos. Eles até se podem mascarar, sublimar, envolver em papeis de embrulho coloridos rematados com laços de fantasia, porém não deixam de ser uma realidade poderosa que é imperioso despejar de alguma forma para limitar o uso do victan, prevenir a insanidade, evitar que se rebente.

Daí a necessidade de válvulas de segurança, individuais e coletivas, que permitam extravasar essas incontornáveis tensões que nos habitam. Canais de escape que incluem, bem entendido, a linguagem na sua função emotiva por intermédio do insulto rancoroso, da má-língua ácida ou do palavrão libertador. Mas também imensas outras coisas, que podem ir do calmo e recolhido yoga, que por acaso pratico, à catarse libertina veiculada pelos carnavais ou à prodigiosa neurose do clubismo futebolístico, que por acaso não pratico.

A prima Vera e a Primavera

Aquilo que quero lembrar volta sempre quantas vezes distorcido, fantasiado, mas volta. A prima Vera não seria prima, porém naquela aldeia onde todas as mulheres são tias e todos os homens são tios, para isso é só dobrar a casa dos trinta anos. Era assim, corrige-me a memória. A memória tem razão seja pela velocidade do tempo, seja por via da desmemória trepidante do que hoje é, amanhã não sabemos, depois entra-se no alçapão do obscuro onde pululam sítios ou lugares de memória. Terá futuro a memória?

Neste mês seco de Março, no dia 21, no decurso do obrigatório calcorrear peripatético por via da recuperação de deteriorado corpo em virtude de apagão num hospital dito de referência, a memória recuperou a imagem da Vera de olhos verdes, fulgência ofídica dos olhos, cabelos louros, corpo estirado pontuado por dois pómulos em crescimento, protegendo-se da chuva puxada a vento utilizando uma saca de serapilheira colocada na cabeça à maneira das capuchas. A Páscoa está a escassos dias, em férias e empertigado quanto galinho muito barulho para nada, protegido da borrasca, atirei à Vera patetices às quais respondeu lançando-me serpentino olhar de desdém abandonando o precário abrigo do cabanal. E, desandou. Aqueles olhos vergastaram-me porque a formiga nem aspirações a catarro tinha.

Nunca mais vi a Vera filha de um senhor chamado Jaime, apelidado de Cobro dado o seu afã em abrir buracos na terra, pai de muitos filhos, desvaneceu-se a família julgo na terra do nascimento da mãe, Quintela. Vi por duas vezes a genial construção do bailado de Igor Stravinsky, todos os anos ouço a peça, sempre associo a bera altiva às elevações dos bailarinos.

A memória lança à minha frente relatos de vida apertada de uns e outros, ninguém detinha capitais de modo a uma pessoa ter direito à nomeação de milionária, possuir mil contos, atira-me relatos de vida suspirada e sustentada através do estimável porco, os ovos e frangos, alguma caça, couves, feijões e batatas, pouco azeite, unto ou banha a contento, a paisagem primaveril, exuberante nos verdes, violetas e amarelos perfumados, faziam esquecer as inacessibilidades exibidas, faladas e comentadas por gente de posses e caixeiros-viajantes portadores de amostras e novidades,

Agora, como se fosse um nababo antigo ouço e vejo a Sagração da Primavera, dou-me ao luxo de cotejar gravações, de ir em busca de verdes comestíveis ditos da sazão, verduras de todas as origens e nações. Agora, enquanto a pulsão populista não gangrena a nossas relações seria fundamental pensarmos na possibilidade da sua expansão, uma possibilidade se ficarmos possuídos desse mal, na possibilidade de uma elite cada vez mais restrita ter o usufruto da generalidade das obras culturais das diversas civilizações, na (in) justa medida de o grosso das populações ficarem consoladas na mediocridade da grande farra do burlesco, da imitação, da pantomina mimética.

Vamos ter eleições europeias, vamos ter as exibições ridículas do costume, ainda há semanas li a facúndia do coordenador da Aliança dos ressabiados, até Maio temos de suportar as lamúrias e farroncas do costume, infelizmente, não vamos sentir vontade em eleger deputados bem-mandados, recheados de retórica ressonante até esvair o eco. E, nós por cá todos bem. Se os fundos não falharem!

Os marajás apesar de toda a propaganda paga lautamente estão apreensivos, os sinais de fogo multiplicam-se, os de fumo estão a penetrar nas nossas casas via televisões, algo tem de mudar a fim de tudo como antes. Este princípio deveras estimado desde o Senhor de Lampedusa (agora a braços com as migrações), pode ser colocado em causa devido ao cansaço dos eleitores elevando-se a taxa de abstenção conjuntamente com a pulverização do voto. O tempo quente da Primavera traz o diabo no ventre? Esperemos que não, os nossos filhos e netos não podem pagar duramente os erros dos pais filhos da prosperidade criada no pós segunda guerra mundial. Nós não soubemos criar o futuro, daí a razão de defender a pujança da memória, ela castiga sem pau nem pedra, castiga todos os dias quantas vezes no decurso do chamado sono da manhã.

Roupa de trabalho: o que vestir de acordo com o grau de formalidade da empresa

Saber escolher bem a roupa para trabalhar é de grande relevância, pois é muito importante estar vestida adequadamente ao ambiente de trabalho e cuidar da imagem profissional.

Todos temos um estilo pessoal, contudo o ambiente corporativo tem as suas próprias regras e o seu modo de vestir tem de estar compatível com essas regras.

– Invista em peças intemporais, indispensáveis no guarda roupa. São peças que não saiem de moda e pode investir em peças de maior qualidade para que durem mais. Camisas brancas, saia lápis, calças de alfaiataria e blazer em cores neutras (preto, cinzento, azul marinho, camel, bordeaux) que combinam bem com muitas outras peças.

– Vista-se de acordo com a sua função:

Se trabalha directamente com o público, o look deve ser bastante formal, uma vez que está a representar a empresa. Se o seu trabalho não exige tanta formalidade, pode usar peças mais casuais, mas deve haver sempre bom senso para não correr o risco de que a sua imagem não seja muito profissional e, assim, não transmita credibilidade ao seu cliente.

– Seja tão formal quanto a sua empresa:

Se a sua empresa é muito formal as melhores escolhas são modelos clássicos e elegantes em cores neutras lisos ou em risca, de corte estruturado. Sapatos fechados, de preferência com salto médio e cores neutras. Carteiras estruturadas de couro e cores neutras. Acessórios clássicos e discretos.

Se a sua empresa é formal o ambiente é menos rígido, São admitidos “tailleurs” em tons médios ou escuros em tecidos lisos, risca de giz ou tecidos com texturas discretas de corte estruturado. O corte pode ser um pouco mais moderno, com alguns detalhes de moda. As camisas podem ser “menos sérias” e são permitidos estampados sóbrios. Sapatos fechados de preferência de salto. Acessórios discretos.

Se trabalha numa empresa semi formal tem de ter em conta o seu cargo e a área em que trabalha. Contudo já é permitido acrescentar um pouco de criatividade á imagem. Pode usar jeans (de lavagem escura) conjugados com uma camisa ou um blazer. Se usar umas calças de alfaiataria pode conjugar com uma camisa estampada ou mais colorida. Os conjuntos podem ser em tecidos menos estruturados, os cortes mais modernos e leves. As carteiras podem ser de materiais flexíveis e em cores variadas e os sapatos ainda devem ser fechados mas podem ser sem salto, “mocassins” ou sabrinas. Os acessórios podem ser mais vistosos dando um toque de cor ao visual.

Em empresas, cargos e áreas mais casuais é permitida uma maior influência da moda e um pouco de criatividade. Mas é necessário nunca deixar de ter uma imagem profissional para não parecer “desleixado”. Os acessórios podem ser maiores e mais coloridos. As carteiras e os sapatos podem ser mais do seu estilo pessoal.

O que deve em qualquer tipo de formalidade e ambiente evitar:

Roupas muito justas e transparentes. Decotes pronunciados e saias demasiado curtas são itens não adequados para uma imagem profissional. São também de evitar acessórios muito chamativos, maquilhagem exagerada e unhas de cores muito fortes.

Independentemente da sua carreira e do grau de formalidad da sua empresa, quando se veste para o trabalho é importante um certo nível de refinamento para uma imagem profissional.