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As vantagens de ser feriado em Lisboa

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Ter, 13/06/2017 - 12:43


Ao contrário de Passos Coelho, que se armou em morigerador da balda, logrando a conjugação de protestos dos velhos republicanos e do povo piedoso, valeria a pena fazer as contas para verificar se o país não ganharia com feriados acrescentados ao calendário, principalmente se tivessem efeitos na área de influência de Lisboa.

Este ano o calendário acentuou a tendência para que o país possa sentir algum alívio, já que de 10 a 16 de Junho a capital poderá estar autenticamente fechada para férias, tendo em conta festas, bebedeiras e ressacas, para além da natural condição molengona que o celebrado sol alfacinha justifica.

Poderá perguntar-se porquê o supradito alívio. Naturalmente, poupa-se muito em ares condicionados, gasóleo e fuel para autocarros e barcos, electricidade para comboios suburbanos e metro em franca expansão, tendo em conta que nos feriados tudo isso costuma funcionar a meio gás.

Outra vantagem, que se pôde notar logo no Domingo, dia seguinte ao feriado do 10 de Junho e de preparação para a maratona das sardinhas pela velha capital, foi a edição de noticiários da estação televisiva SIC, que deu espaço generoso à região transmontana, com duas peças sobre o distrito de Bragança, no jornal da tarde, uma delas potenciada nessa mesma noite e, depois, à hora do almoço de segunda-feira.

Certamente pesou no alinhamento a qualidade de trabalho jornalístico do correspondente regional que, ao longo de anos, tem prestigiado a informação que por aqui se faz. Mas, não restarão dúvidas de que o peso das questões regionais nas edições também terá resultado do tempo de pontes para a farra de mais de meia Lisboa, políticos e jornalistas incluídos.

Falou-se de Quintanilha, no concelho de Bragança. Aparentemente é um quase paraíso. À porta das pessoas vai o pão, o peixe, a carne, o insecticida, o médico e a farmácia. Que mais poderiam querer…mas foram dizendo que não há transportes, que vir a Bragança é caro e que se vão governando com as visitas dos ambulantes e com o que as hortas produzem.

É então que o sobressalto se instala. No distrito há centenas de povoações onde os habitantes, vergados pela idade, nem sonham com a quase edénica Quintanilha, porque os médicos ficam a dezenas de quilómetros, o merceeiro, o peixeiro, o talhante e o padeiro já desistiram e só restam autocarros fretados ao Domingo pelas grandes superfícies, para excursões até ao arroz, à massa, ao leite, ao azeite e ao frango de aviário.

A TDT (Televisão Digital Terrestre) tem muito grão, os telemóveis ficam sem rede e os carros de praça estão quase em extinção. Era mesmo útil que houvesse mais feriados na capital, para que não se tomassem decisões contra as gentes do interior e, pelo contrário, houvesse espaço para falar da via dolorosa que por aqui se vai subindo até ao calvário, sem ressurreição prometida.