Fogo destrói agricultura de Outeiro

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Ter, 30/08/2005 - 14:42


A tristeza e a revolta tomaram conta da população de Outeiro, depois das chamas destruíram grande parte das produções agrícolas daquela localidade do concelho de Bragança.

A agricultura é a principal fonte de rendimentos das gentes de Outeiro, que agora tentam ganhar forças para reconstruírem aquilo que demorou anos a embelezar a paisagem transmontana.
Aquiles Pires foi o habitante a quem o fogo causou mais prejuízo. “Perdi uma leira de cereal, onde colhia cerca de 30 alqueires de trigo, 110 oliveiras e 27 castanheiros. Este incêndio deu-me um prejuízo de mais de 7 mil euros e levou-me aquilo que demorou anos a construir com o suor do meu rosto”, lamenta o popular.
A indignação toma conta dos homens da lavoura, que trabalharam anos a fio para construírem o seu património e agora vêem, apenas, uma mancha negra à volta da aldeia.

Património destruído

“É triste olharmos para a zona do castelo, que sempre esteve rodeada de castanheiros, e vermos tudo ardido”, realça Maria João, uma habitante que também perdeu o pouco tinha. As oliveiras, as macieiras e a vinha que tinha herdado dos avós ficaram dizimadas pelo incêndio que lavrou na zona de Outeiro. “Aquilo que me ardeu não tinha só valor monetário, mas representava parte da história da minha família. Para mim era uma relíquia”, lamenta esta habitante.
A fúria das chamas tomou conta das árvores centenárias que rodeavam a aldeia, que acabaram por sucumbir minutos depois.
“Tivemos perdas muito grandes ao nível do nosso património. Agora vão ser precisos muitos anos para voltarmos a ter árvores de grande porte e muitas das pessoas já não vão ter oportunidade de voltarem a ver a aldeia como era dantes”, salienta Maria João.

Agricultores aguardam apoios

A população mais idosa, por seu lado, confessa que já não tem forças para reconstruir aquilo que plantaram ao longo de uma vida, pelo que uma parte da agricultura local corre o risco de morrer.
Os apoios financeiros podem ser a única salvação para aqueles que começam a ver os rendimentos do próximo ano seriamente comprometidos. O Governo já anunciou medidas para apoiar os lavradores que perderam o pouco que tinham, mas, na aldeia de Outeiro, a maioria da população desconhece qualquer tipo de apoio.
Segundo o director regional de Agricultura de Trás-os-Montes, Carlos Guerra, os técnicos já se encontram no terreno a fazer o levantamento dos prejuízos, para serem comunicados ao Governo. No entanto, ainda não existem medidas concretas de apoio aos agricultores portugueses e, segundo o responsável, estas só deverão ser criadas depois das consequências dos fogos serem devidamente avaliadas.
Além dos prejuízos, a população de Outeiro teme, ainda, que seja ateado fogo à área de pinhal que circunda as casas de um bairro da aldeia. Alguns populares defendem, por isso, que a florestação não devia ser permitida perto das habitações, que, em caso de incêndio, podem vir a ser destruídas pelas chamas.