“Isso da bolsa é um casino.” É uma das frases mais ouvidas sempre que o tema investimento surge numa conversa de café ou num debate público. A ideia está profundamente enraizada, sobretudo entre os aforradores mais conservadores, que associam o mercado de capitais à especulação e ao risco desmedido.
Não ajuda o facto de, nas últimas décadas, a imagem mais visível ser a dos gráficos a oscilar, das manchetes sobre perdas em bolsa e das histórias de quem enriqueceu ou perdeu tudo num instante. Até um antigo candidato a primeiro-ministro chegou a repetir esta ideia ao comentar a eventual alteração das regras de gestão dos fundos da Segurança Social.
Mas será mesmo assim?
O que distingue o mercado do jogo
A bolsa só se assemelha a um casino quando é usada como tal. No casino, o resultado depende exclusivamente da sorte. As regras são feitas para garantir que, no fim, a casa ganha sempre. Na bolsa (mercado de capitais), o “jogo” é diferente. Quando alguém compra uma ação, está a adquirir uma pequena parte de uma empresa real: uma fábrica, uma tecnológica, um banco, uma marca que produz e vende no mundo real.
O valor dessa empresa não sobe ou desce por acaso. Evolui de acordo com o seu desempenho, com a qualidade da gestão, com os lucros que gera e com o contexto económico em que opera. Investir em bolsa não é jogar à sorte. É participar, de forma indireta, na criação de valor de uma economia.
Onde nasce a confusão
A confusão surge porque muitos tratam o mercado como um jogo de apostas. Compram e vendem ações ao sabor das emoções, dos rumores e das “dicas” que circulam nas redes sociais. Noutros casos, seguem recomendações pouco informadas, como aconteceu em tempos nas décadas de 1990 e 2000, quando era comum ouvir conselhos apressados ao balcão do banco.
Esse comportamento especulativo é o que transforma a bolsa num pseudo-casino. O verdadeiro investidor faz o oposto: estuda, diversifica e investe com horizonte de longo prazo. Para a maioria dos aforradores, essa diversificação é mais sensata quando feita através de fundos passivos, como os ETF, ou fundos ativos amplos que replicam o mercado, reduzindo o impacto de empresas isoladas e eliminando decisões impulsivas.
O risco que se pode controlar
Investir implica risco, mas é um risco diferente do casino. No mercado, o investidor pode aumentar as probabilidades de sucesso através da diversificação, da paciência e da seleção de empresas com lucros sólidos e balanços saudáveis. A história demonstra que quem manteve uma carteira diversificada de ações ao longo de décadas obteve retornos muito superiores aos dos depósitos bancários, mesmo atravessando crises e recessões.
O risco invisível de não investir
O que muitos consideram a “segurança” de deixar o dinheiro parado na conta ou aplicado em certificados de aforro é, na verdade, um risco silencioso. A inflação corrói o poder de compra ano após ano. É uma perda lenta, mas inevitável. Quem não investe corre o risco de empobrecer devagar.
Investir com prudência é aceitar algum risco no presente para preservar e aumentar o valor no futuro. O segredo não está em eliminar o risco, mas em compreendê-lo e geri-lo.
Um espelho do comportamento humano
A bolsa não é um casino. É um espelho do comportamento humano. Quem entra nela à procura de emoção, encontrará volatilidade. Quem entra com método, paciência e disciplina, encontrará crescimento. A diferença está na atitude, não no mercado.
Duas ideias para guardar
Termino com duas ideias de dois dos maiores investidores de todos os tempos sobre os mercados, Benjamin Graham resumiu-o assim: “No curto prazo, o mercado é uma máquina de votar; no longo prazo, é uma balança.” E Warren Buffett acrescentou: “A bolsa é a transferência de recursos dos impacientes para os pacientes.”
Hugo Condessa


