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Margarida Rebelo Pinto em entrevista

Ter, 20/03/2007 - 10:28


Margarida Rebelo Pinto é uma escritora de afectos que adora desvendar os segredos das relações humanas. Nascida em Lisboa, em 1965, Margarida Rebelo Pinto revelou desde cedo uma enorme paixão pela escrita. Formada em Línguas e Literaturas Modernas, escreveu seis romances, quatro livros de crónicas e uma biografia. É a autora que mais vende em Portugal, tendo já a sua obra traduzida em vários países do Mundo. Acusada por muitos críticos de ser um produto sub-literário e de ter um estilo "pimba", a ver-dade é que Margarida Rebelo Pinto é um fenómeno de vendas, com mais de 1 milhão de exemplares vendidos em Portugal. Durante este mês, a escritora lança ainda com a sua própria voz um audio-livro do seu “Diário da Tua Ausência”.

Jornal NORDESTE (JN) – Tem, ou já teve, alguma relação com o Nordeste Transmontano?
Margarida Rebelo Pinto (MRP) – Infelizmente é a zona de Portugal que conheço pior. A minha família é oriunda do Alentejo e do Ribatejo, por isso não conheço o Norte nem o Nordeste tão bem como o Ribatejo ou o Alentejo. Mas tenho belíssi-mas imagens na minha imaginação, dadas pela prosa do Miguel Torga. Foi um dos escritores portugueses que mais marcou a minha adolescência.

JN – Qual a sua opinião sobre o povo Transmontano?
MRP – Conheço-o mal, mas as poucas pessoas que conheço são generosas, since-ras, simples e muito verdadeiras. Gostam de receber e de ajudar sempre os outros. São reservados, mas possuem um coração de ouro.

JN – Aceita o rótulo de rainha da literatura light ou uma escritora Pop, bem ao estilo de uma Madonna?
MRP – Não aceito, nem deixo de aceitar. Gosto mais do conceito Pop, que tem mais a ver comigo. É verdade que a Madonna é uma referência, e das boas.

JN – Como reage às críticas de João Pedro George, na sequência do livro Couves & Alforrecas, Os Segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto?
MRP – Não reajo, pois não o considero um crítico literário. Nem sequer é formado
em Letras.

“Sempre fui um radar, uma esponja, traduzo para fora tudo o que observo e interiorizo. Mas também partilho ideias e dúvidas só minhas, que nascem de dentro para fora”
JN – Concorda que o grande sonho de um escritor será o de nunca encon-trar o leitor ideal, pois, segundo Vergílio Ferreira, “a sua obra morreria aí”?
MRP – Pelo contrário! Saber que os meus leitores me entendem e me aceitam como sou é a maior dádiva que posso ter enquanto escritora. Todos os leitores são ideais. E os leitores mais críticos são muito importantes. Correspondo-me com vá-rios leitores e as opiniões que me têm passado ao longo dos anos têm sido funda-mentais para a evolução da minha obra. Confio no bom senso dos meus leitores e gosto de saber que eles confiam em mim.

JN – A sua escrita é o resultado de uma análise social? Ou as questões vêm de dentro para fora?
MRP – As duas coisas. Sempre fui um radar, uma esponja, traduzo para fora tudo o que observo e interiorizo. Mas também partilho ideias e dúvidas só minhas, que nascem de dentro para fora. Combino os dois processos de uma forma tão natural que nem distingo.

JN – Sofre quando escreve ou escreve porque sofre?
MRP – Escrevo porque sofro. Nunca sofri a escrever, é sempre um prazer. Quando sofro mais é quando não escrevo. O pior mesmo é não escrever.

JN – O amor é uma realidade incontornável?
MRP – É. E é ainda o princípio de tudo. Não há nada mais importante. O dinheiro, e o sucesso são confortáveis, mas não chegam para aquecer o coração. O amor tem uma magia muito própria e nada me faz mais feliz do que dar amor às pessoas que me são mais queridas. Tenho muita sorte; possuo amigos excepcionais, uma famí-lia fabulosa, um filho adorável… não me falta nada.

JN – É escritora que mais vende em Portugal – sei que é a resposta está nos leitores –, mas porque será que agarra os leitores com tanta facilida-de?
MRP – Porque há empatia e identificação. É como se eu estivesse a falar da vida das próprias pessoas que lêem, do que elas sentem, dos problemas delas. As pes-soas sentem os livros, é um processo emocional.

JN – Em muitos dos seus livros, o grande fio condutor é o erotismo nu e cru, do quotidiano português? Como descreve o erotismo nos seus livros?
MRP – Não vejo o erotismo como um fio condutor, nem pensar. A análise da reali-dade de forma crua é que representa esse fio. Olho para a vida de uma forma cada vez mais desassombrada e penso que isso se reflecte na minha escrita.

JN – O que quis dizer quando afirmou que na vida doméstica é uma guei-xa?
MRP – Gosto de tratar bem as pessoas de quem gosto. Gosto de receber bem em casa, de cozinhar, de dar presentes e de mimar as pessoas. É a minha natureza. Claro que essa não é a minha imagem pública, mas o público é público e o privado é privado, e é assim que deve ser.

JN – Porque diz que é “muito mais a Margarida do que a Margarida Rebelo Pinto”?
MRP – O que eu disse foi que gosto mais da Margarida do que da Margarida Rebelo Pinto. É que antes da figura pública, eu já cá andava...

JN – O que é “consumir os homens dentro do prazo de validade”?
MRP – É uma brincadeira, uma provocação, não tem nenhuma ideia por trás. É daqueles disparates que gosto de dizer de vez em quando para agitar as águas.

JN – Fale-nos um pouco do seu trajecto enquanto escritora.
MRP – Agora estou numa fase árida... Ando a pensar mais e a escrever menos... Tive muitos anos em erupção: escrevi seis romances, quatro livros de crónicas e mini-ficções, e ainda uma biografia, isto em apenas nove anos. Foi uma loucura. Sempre quis ser escritora, isso era ponto assente ainda antes da adolescência. Mas agora apetece-me, por vezes, ser outras coisas.

“Os homens são muitas vezes surdos do coração”

JN – Diz que gostaria de ser homem por um dia, para perceber o seu prag-matismo emocional…
MRP – Claro que sim.

JN – O que gostava que as pessoas aprendessem com os seus livros?
MRP – A ouvir o seu próprio coração. Sobretudo os homens. Os homens são muitas vezes surdos do coração.

JN – Como se define como pessoa?
MRP – Exigente com os outros e comigo; boa amiga, boa filha, boa tia, boa irmã e boa mãe. Alegre, mas com variações de humor. Sarcástica, sempre em avaliação de tudo o que me rodeia. Uma eterna sonhadora e uma eterna insatisfeita.

JN – Qual o título que melhor lhe assenta: jornalista, escritora…?
MRP – Escritora, sem qualquer dúvida, embora o de cronista também tenha a ver comigo. Afinal, estou na imprensa há 20 anos...

JN – As personagens são um mero fruto ficcional ou baseadas em pessoas que conhece?
MRP – Há de tudo, gosto de misturar, de brincar ao gato e ao rato com a realidade.

JN – Para escrever é preciso ter um dom ou trabalha-se?
MRP – As duas coisas; é uma facilidade nata e uma dificuldade adquirida. Dá muito trabalho para sair tudo limpo, fluído, escorreito.

JN – Podia falar um pouco sobre o seu último livro, “Vou Contar-te Um Segredo"?
MRP – São histórias, todas muito diferentes, que tocam muitos sentimentos e uni-versos. Algumas são muito pessoais, outras fruto da mais pura imaginação. É uma boa amostra da evolução da minha escrita pelo menos é assim que o vejo. Há uma história especial “We Connect”, que significa muito para mim. É perfeita e eterna.

JN – Planos para 2007?
MRP – Ainda durante este mês vou lançar um audiolivro do “Diário da Tua Ausên-cia”, que foi gravado com a minha própria voz por tratar-se daquele que penso ser o livro mais intimista que alguma vez escrevi. De resto, tenho como plano para 2007 o de ser feliz. E só esse já me vai dar imenso trabalho porque a felicidade é algo que se constrói.