O canto do cisne

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Ter, 04/04/2006 - 14:53


De porte garboso, altivo e sereno, de passada segura, alvo e imaculado, assim se passeia o cisne pelas terras que lhe são permitidas pisar. Rara é a sua voz ouvida pelo comum dos mortais ou pelo menos quando nós, os mortais, a queremos ouvir.

Mas o seu canto faz-se ouvir quando, contente e seguro, se afirma perante
os outros que se passeiam a seu lado. E é nesse momento sublime que nós nos orgulhamos de estar presentes para assistir ao canto do cisne.
Tal sentimento contudo, nem sempre é sentido, quando o cisne canta. Também é verdade que nem sempre ele se sente tão importante como em certas situações em que quer afirmar-se. Mas também é verdade que há muitas variedades de cisnes. Também é verdade que alguns são mais patos que cisnes! Pois eu não sei se ele é exactamente um cisne ou se se sente como tal. O seu cantar também não encanta ninguém! E se encanta, bem, devem estar muito escondidos.
É assim que podemos aceitar o nosso premier. De facto, identificá-lo como
cisne é demasiado atentatório para os palmípedes. Nada os assemelha
fisicamente. Já o mesmo não diria, quanto ao garbo seguro com que se
apresenta perante todos, em situações em que a segurança faz parte da sua roupagem, muito embora, longe da alvura do cisne. No entanto, o canto altivo, é frequentemente parecido, sobretudo em momentos em que pretende encantar alguém, o que é um pouco difícil.
Pois, o nosso cisne teve um momento sublime na passada semana. De voz bem timbrada, soltou o seu canto altivo numa partitura simples a que ele próprio apelidou de simplex. Nada teve de simples já que apresentou cerca de trezentas e cinquenta instituições susceptíveis de alterações profundas ou mesmo de corte absoluto. À mistura, apresentou cortes na burocracia portuguesa, cujo objectivo era tendencialmente simplista. Louvável, este aspecto! Na verdade, a burocracia portuguesa é demasiado adversa ao progresso e precisa urgentemente que lhe alterem o aspecto geral. É demasiado incomodativa. Aqui esteve muito bem o nosso premier.
Mas o seu canto de cisne não teve o encanto que ele procurava, nem o impacto que ele esperava. Também, embora aparecesse contente e seguro, não enganou ninguém. A sua afirmação não se fez sentir e o seu canto também não encantou ninguém. Acontece!