Ter, 07/10/2008 - 10:19
Após a sua descoberta, em 1964, o diplomata dinamarquês Carl Harpsöe encetou a primeira campanha de escavações, durante a qual foi identificado um espólio com cerca de 5 500 espécimes. Nos anos que se seguiram, contudo, o espaço arqueológico foi vandalizado e destruído, sobretudo nos anos 80, por pessoas ligadas à Arqueologia e Geologia ou simples “curiosos”. “Na década de 80, e de 2005 até há bem pouco tempo, vinham pessoas à procura de objectos que destruíam este património”, explicou Maria Judite Lopes, responsável por mostrar a Lorga de Dine e o Núcleo Interpretativo de Dine.
Segundo esta habitante, além de pedras e estalactites cortadas e arrancadas, foi perdido o rasto a um grande número de achados arqueológicos. “Durante muito tempo, foram feitas escavações clandestinas, durante as quais foram levadas peças que poderão ter desaparecido para sempre”, lamenta a responsável.
Objectos de valor histórico e arqueológico incalculável foram roubados por “caçadores de tesouros”, que também contribuíram para a destruição da própria lorga, dada a violência com que foram efectuadas algumas escavações. “As intervenções eram muito profundas e arruinaram algumas peças naturais únicas e lindíssimas”, acrescentou Maria Judite Lopes. Foi em resultado de uma dessas acções, que foi descoberta uma terceira grande sala na gruta, que integra, também, um desconhecido número de galerias.
A “guia” chegou a alertar entidades e as autoridades de segurança, mas “nunca ninguém ligava”, lamenta.
Recorde-se que a Lorga de Dine é uma cavidade natural de origem cársica e tem uma beleza inigualável devido às estalactites, estalagmites, colunatas calcárias e “desenhos”, bem como relevos naturais impressos nas paredes da gruta. Localizado a sul de Dine, na encosta do outeiro “Castro”, este espaço foi ocupado no final do Neolíticos e início da Idade do Ferro. Ou seja, entre o 4º e o 1º Milénio Antes de Cristo (A.C.). Assim, a Lorga de Dine funcionou como habitação, armazém de cereais e, também como cemitério, dada a quantidade de ossos humanos e de animais ali encontrados.
Fornos de Cal são outro cartão de visita de Dine
Ao fazer o percurso desde o Núcleo Interpretativo de Dine até à Lorga, os turistas podem conhecer os antigos fornos de cal, cuja actividade trouxe, até à década de 60, um sem-número de comerciantes e compradores de cal. “Os fornos eram uma tradição de Dine, que era das poucas aldeias da região que o produziam em tanta quantidade”, explicou Maria Judite Lopes.
Segundo a responsável, a cal fabricada na aldeia era vendida e utilizada para a construção e também para a pintura de edifícios. “Durante oito a dez dias os fornos ardiam para obterem a cal, que depois era transportada em carros de bois até à Estrada Nacional entre Bragança e Vinhais, onde eram mudados para camionetas”, recordou. Só a partir de1957 é que os acessos até aos fornos de cal foram arranjados, de modo a permitirem a passagem de carrinhas para carregarem aquele produto. “Era um negócio que trazia muita gente e movimento à aldeia”, sublinhou Maria Judite Lopes.
Devido ao elevado património histórico e arqueológico, bem como à sua integração no Parque Natural de Montesinho, Dine é um dos locais preferidos dos turistas nacionais e estrangeiros. “Todos os dias passam imensas pessoas pela aldeia, que querem conhecer a Lorga, os Fornos de Cal, a igreja ou a própria localidade”, explicou o presidente da Junta de Freguesia de Fresulfe, Manuel Afonso. Assim sendo, a autarquia tem apostado nesta área, através da criação de equipamentos de turismo rural e da requalificação da aldeia. “Verifica-se um aumento no número de turistas e visitantes que trazem movimento e riqueza à freguesia, pelo que tentamos preservar o património”, adiantou o responsável.