Adriano Valadar

PUB.

O murmúrio dos Nossos

As flores que depositámos, piedosamente, sobre as pedras tumbais dos que nos precederam, no carreirão dos vivos, não vão certamente passar o Inverno que começa a mostrar-se de forma séria. Nós sabíamo-lo quando as levámos, que não teriam mais sorte do que um contrato de curta duração concluído à pressa, já adivinhávamos que os raminhos orgulhosos dos crisântemos com generosas flores brilhantes cairiam rapidamente sob o efeito da lei da gravidade húmida e que as pontas das flores se endureceriam para as fazer cair antes da nossa próxima visita.

É sem dúvida uma bonita tradição a que vê afluir, todos os anos, com data fixa, montões de flores ao nosso mercado, às nossas floristas de passagem, para serem depositadas nos cemitérios das nossas aldeias e cidades. Uma tradição que não cede apesar do triunfo do hedonismo e da erupção suposta da pós-modernidade e da revolução dos meios de comunicação. Os vivos ainda têm um coração que recorda. Este hábito, nada o desencoraja, nem o trava, exceto as distâncias que a vida moderna, cruel, colocou entre nós os vivos e os nossos mortos.

Mas esta distância só tem explicação pelo silêncio de uns e dos outros. Não ousamos suficientemente falar aos defuntos e, além disso, não sabemos escutar os seus murmúrios. O que os mortos sussurram ao ouvido dos vivos. Não é preciso ser medium para o ouvir. Basta, por exemplo, que nas alas dum cemitério se preste o ouvido, com humildade, calando os ruídos, o alvoroço das nossas atividades e dos nossos pensamentos, o ronronar das nossas preocupações. Falemos com os que partiram, pelo menos uma vez por ano. Digamos-lhes mais uma vez que os amávamos mais do que conseguíamos por vezes dizer-lho. Em compensação, eles saberão perfeitamente falar-nos com a doçura dos seus pensamentos de após-vida.

Que nos ensinam estas dezenas de milhares de defuntos que jazem em baixo do cascalho onde lamuriam os nossos prudentes passos? Por vezes ouve-se isto: “ Parai com essa agitação, acalmai-vos … Ouvi as lições das nossas vidas amputadas de uma parte dos nossos projetos e das nossas ambições. Também nós tínhamos apostado no futuro risonho e rentável, nós também acreditávamos na virtude do dinheiro, nas facilidades do poder, e depois, um triste dia, catrapum, foi necessário desistir e deixar o palco em que parecíamos acreditar no papel que representávamos. Perdemos tudo nesse dia porque, como é sabido, os lençóis não têm bolsos. Nem para as carteiras nem para os revólveres. A não ser para a nudez lisa das roupas de aparato onde foram endomingados os nossos corpos enfraquecidos para nos tornar apresentáveis perante o túmulo”. 

E continuam: “ Ouvi o silêncio que é o nosso. A nossa imensa multidão não faz nenhum barulho. Nunca nos alinhamos em cortejos vingadores. Não há manifestações entre nós, nas alamedas sombrias dos subterrâneos que ocupamos, apertados uns contra os outros, como uma grande fraternidade post-mortem. Somos por fim iguais perante o destino, frente ao tempo, e tudo isso para a eternidade; pensai, quanta paciência e abnegação para chegar a esta sabedoria final dos enterrados, dos desaparecidos, nós os vossos queridos desaparecidos.“ Inspirai-vos, nossos queridos vivos, nas lições desta constatação simples que ilustramos através do nosso recolhimento e através do que, sentimo-lo bem, vós mesmos observais diante das nossas campas floridas.

E concluem: «Obrigado por estas flores que cobrem as nossas tristes lápides onde fizestes gravar as nossas identidades. Como vós, nós adivinhamos que o vento, o gelo, a chuva, a CO, acabarão por apagar mesmo estes traços das nossas identidades terrestres e dos dois milésimos que resumem o todo das nossas vidas. A este perverso trabalho do tempo, devemos antes de mais aceitá-lo, porque todos já o compreendemos enquanto vivos, quando nós mesmos vínhamos visitar os nossos antepassados nos velhos cemitérios meio negligenciados das nossas aldeias. Interrogávamo-nos sobre as pedras abandonadas, sobre as datas não compatíveis, sobre as datas já invisíveis… Tende piedade, ó vivos, pensai em nós antes de vos juntardes a nós, sede vigilantes sobre o estado das nossas últimas moradas que também serão as vossas e, pensai sobretudo em viver cada dia na dignidade e no sério que manifestais quando fazeis esta visita anual e da qual vos agradecemos”.

Ler para viver

Estas três palavras são de um autor francês, Flaubert, que escreveu entre outros Madame Bovary – romance delicioso – e este título bem podia ser escolhido para um club de leitura onde cada um pudesse dizer o seu amor por esta atividade tão importante. Ou para, neste período de férias para muitos, responder à letra aqueles que dizem: Ah! Leria muito mais se tivesse tempo. 
Porquê que se coloca a questão: efetivamente, porquê que é preciso ler? Para nos divertirmos? Para nos distrairmos? Para nos formarmos? Sim, tudo isso ao mesmo tempo, além disso são essas mesmas as palavras de Flaubert: lede para viver, cito: “edificai à alma uma atmosfera intelectual que seja composta da emanação de todos os grandes espíritos. Estudai, a fundo, Shakespeare e Goethe. Lede traduções dos autores gregos e romanos, Homero, Petrónio, Plauto, Apuleio, etc… quado alguma algo vos aborrece, não desistais e insisti. Rapidamente compreendereis, e ganhareis uma grande satisfação. Trata-se de trabalho, faço-me entender?”
Esta carta encontra-se no segundo volume da sua correspondência, com a data de 6 de junho de 1857. Como toda a correspondência de Flaubert, é extraordinária do princípio ao fim. Além do mais, as cartas de Flaubert estão cheias de conselhos, não somente exortações à leitura, mas conselhos mesmo de leitura. Quer se dirija aos jovens escritores: “lede os clássicos. Vós lestes muitos livros modernos e vê-se o reflexo na vossa obra”, carta de 1879. Ou que isso se aplique a si-mesmo: “É preciso adquirir o hábito de ler todos os dias (como um breviário) algo de bom. Isso vai-se impregnando com o tempo. Eu atulhei-me excessivamente de La Bruyère, de Voltaire (os contos) e de Montaigne».  
O conselho de ler «para viver» dirige-se a uma mulher cujo nome sobreviveu graças à sua correspondência com Flaubert, e vai prolongar-se durante 19 anos, a Menina Leroyer de Chantepie. É uma senhora com cerca de cinquenta anos então, que vive em Angers. Não é casada, consagra a sua fortuna a ajudar os mais necessitados, como se dizia na época, é católica mas muitas vezes invadida pela dúvida. E frequenta em Angers os meios republicanos.
Sobretudo, sofre da estreiteza e privações da sua vida e da vida da província. Escreve nos jornais, publica um ou dois romances, vai ver o oceano e alguns espectáculos de ópera. Mas a sua vida surge cheia de tédio. “Se a menina fosse um homem, escreve-lhe Flaubert, dir-lhe-ia: embarque, dê a volta ao mundo!” Mas como não é possível, então “dê a volta ao mundo no seu quarto, leia!” mas leia calmamente, pausadamente, leia e releia, por exemplo Montaigne. “Ele acalmá-la-á”. “Leia-o de uma ponta à outra, e quando terminar, recomece a leitura”. Ler, na realidade é reler.
E então abrir-se-á para si aquilo que “a menina nem imagina: a Terra”. E Flaubert escreve Terra, com maiúscula.
Com efeito, nem podemos imaginar aquilo que se abre para nós quando abrimos um livro. Algo em nós, tão vasto como o universo.

Uma nota que representa … a vida

Que grande infelicidade constatar que certos professores e direcções de escolas secundárias permitam a certos alunos passar de ano tentando que por vezes as notas subam alguns pontos. Imaginem, fazer com que um aluno passe com 60%, enquanto na realidade só tinha obtido 58%? A fraude do século, muito longe à frente da dos paraísos fiscais ou da dos arranjos políticos. Por conseguinte, concentremos os nossos esforços neste problema endémico criando uma nova comissão de estudo honrada pelos professores mais experientes e sábios de cada escola.     

 

Srs. Professores, esqueçam as grandes expressões deslavadas “estamos a nivelar por baixo”, “ e a excelência?!”, claro que é importante, até porque com esses alunos é fácil trabalhar. Trata-se doutra realidade, vamos aos factos, sabem o que representam estes 2%? A vida.

A destes jovens adolescentes que, apesar das dificuldades maiores no plano da aprendizagem, perseveram bem ou mal, insistem para não desligar ou abandonar, com falta de apoios apropriados a todos os níveis. E nem todos os professores sabem do que falo. Uma vida que, sem o diploma de 12º ano, ficará condenada às maiores dificuldades; inexistência de possibilidade de emprego ou empregos muito precários e mal remunerados, uma estima de si próprio ou autoconfiança cada vez mais débil ligada ao profundo sentimento de não poder concretizar os seus mais pequenos sonhos, os da infância. Eis o que representam estes 2%, um diploma que possa, aqui ou lá longe, assegurar um certo patamar de decência na sociedade. 

 

Vamos ser justos e empáticos em relação a estes alunos que já sofrem bastante para além do mais lhes mostrarmos que continuamos insensíveis à sua situação. Esses jovens que obtêm 58% têm por vezes dificuldades diversas para não dizer problemas de aprendizagem, concentração etc. etc. que explicam o seu fraco rendimento. Em vez de os castigar em vez de os fazer reprovar por 2%, deveríamos valorizá-los e agradecer-lhes por ainda estar presentes, ligados aos estudos, habitados pela dor de aprender.

Sair da caverna é um exercício difícil, Srs. Professores! …

 

Conhecem muita gente que continua presa a uma tarefa dolorosa, e que continua mesmo assim a bater-se ano após ano? Felicitemo-los e paremos de adotar unicamente regras contabilísticas, frias e austeras.

 

Estes 2% devem ser abordados de forma quantitativa, e não qualitativa. Não cortemos as asas a estes jovens corajosos e perseverantes – não são todos sei! – com os nossos princípios racionais de adulto que incita unicamente à performance. Estes comités de pais da performance que se lamentam do Nível que “voa baixinho” e que já viram os filhos voar mas se esqueceram rapidamente de que também estes passaram por dificuldades e deixaram para sempre algumas penas na sua ascensão. Aqueles que inculcam aos seus filhos não a importância de ir além das suas forças, da entrega, do sacrifício, mas da importância de ultrapassar os outros seja qual for o método.

A NOSSA CULTURA OCA E VÃ

Na lógica, compreensão e extensão são racionalmente o inverso uma da outra, o que quer dizer, em linguagem corrente, que quanto mais uma categoria é definida de forma precisa, menos chances tem de se alargar a um grande número de casos. Inversamente, quando a sua definição é vaga e geral, esta pode compreender um grande número de finalidades. 

Mario Vargas Llosa não é o primeiro a deplorar no seu ensaio de 2012, A civilização do Espetáculo, que a palavra cultura tenha perdido em compreensão à medida que ganhava em extensão. Se tudo é “cultura” – não somente as produções do pensamento, mas também os mitos e os ritos duma comunidade, os seus hábitos alimentares ou vestimenteiros - então a palavra “cultura” já não significa grande coisa. Remete para as crenças e comportamentos colectivos dum grupo particular. É o uso que impôs a antropologia, numa preocupação louvável para dar a conhecer uma legitimidade aos usos e costumes das sociedades ditas outrora primitivas, que os antropólogos e sociólogos estudavam.   

Em sociologia, Alain Finkielkraut, em A Derrota do pensamento (1987) já tinha mostrado – tema recorrente nos seus programas de France Culture - de que forma esta diluição da cultura estava em parte ligada à comunitarização. A cultura no sentido antigo de “humanidades” ou de património intelectual e artístico, tinha uma vocação universal. Enquanto as “culturas” no sentido antropológico ligam entre eles os membros das comunidades particulares.   

A cultura banalizou-se, escreve Vargas Llosa, vulgarizou-se tornando-se vazia e vã.

Em causa, a sociedade do espectáculo, que substitui a vida autêntica pelo representação e os criadores por bufos. Em causa igualmente, a sociedade de massas (civilização), que recusa toda a cultura herdada como um constrangimento, qualquer hierarquização dos valores e dos saberes, aspira à distracção, convida ao divertimento. As indústrias do divertimento mergulham e afundam-se nesta brecha. Alguns veem nisso uma forma de democratização, tratar-se-ia de fazer aceder o maior número de indivíduos ao maior número de obras, e não de substituir o livro pela imagem e a procura da verdade pela distracção. Mas a grande cultura, acusada de elitista e retrógrada, esconde-se e desaparece.

Tudo isto não é nem verdadeiramente falso, nem muito original. Estas ideias foram agitadas desde o séc. XIX pelas correntes alemãs. Mais perto de nós, o universitário americano Allan Bloom, declinou, com A Alma Desarmada, em 1987, um “ ensaio sobre o declínio da cultura geral” nos campus universitários, que ele atribuía ao crescimento da cultura pop. Muitos ensaios recentes denunciaram a diluição da cultura no “tudo é cultura”.

Mais original, parece ser o papel nefasto que atribui Mario Vargas Llosa à teoria da Desconstrução (J. Derrida) neste desmoronamento cultural. Levando qualquer tentativa de elucidação da realidade a discursos equivalentes e sem objecto.

Presa entre as indústrias do divertimento, por um lado, e os vários sofismas, por outro, a cultura autêntica estaria a passar um mau bocado. Contudo, enquanto os romances de Mario Vargas Llosa encontrarem leitores, a cultura não se portará muito mal…

Isto começa a chatear…

Pobres rebentos! Sofreram tanto, alarmes, falsas alegrias, hipocrisias de um céu traidor. Por diversas vezes quiseram acreditar. Estava ganha a partida, a Primavera chegara, o sol mostrava-se generoso quando saía do seu edredom de nuvens. Cansado! Teve de recuar. Um bocado de neve, numa manhã cinzenta, cobria os montes e trazia uma brisa fria. Um bocadinho mais outro dia. E assim, por diversas vezes este Inverno esquisito provocou os arbustos, as árvores e as flores e castigou a imprudência dos rebentos que tinham saído demasiado cedo do seu esconderijo. Ventos fortes e gelados, certos dias, dobraram e queimaram os seus frágeis ramos. No meio do povo dos rebentos imaginavam que era tempo de sair e depois, pumba, as desilusões desencantaram-nos, em Janeiro, em Fevereiro, em Março…Não, a Primavera retomará mais tarde. Vão para dentro pobres rebentos. Princípio de precaução.

O que é que se passa na mente de um rebento para que, apesar da dureza dos tempos e do rigor do clima, queira, custe que custe, acreditar? Para que persista no ser, no projeto de crescer, de se desenvolver, de reviver? Muitos ter-se-iam desencorajado, voltado para a sua concha, e dizer-se: “inútil, este ano nem vai haver Primavera, nem sequer ponho o nariz à janela.” Contudo, os rebentos não pertencem à raça dos fracos. Estes últimos dias, continuavam a engordar, a colorir-se e a abrir-se, a sair do colarinho. Os rebentos tinham guardado a fé no futuro. A sua crença no facto de que, depois da morte hibernal, a vida devia continuar intacta. No fundo, nunca deixaram de acreditar. Fé ingénua e arriscada? Aposta insensata ? Cegueira recreada por algum ilusionista populista do povo dos rebentos ? Não era a primeira estação dos rebentos? Não, já tinham conhecido invernos rigorosos e rudes e também invernos incrivelmente temperados. E muitos verões sobreaquecidos e com falta de água e muita, muita sede. Ventos maus vindos de todos os lados. Mas nunca nada perturbou a sua esperança, nem o ciclo encorajante da morte e ressurreição. 

À volta da natureza, a actualidade humana ergue as suas muralhas feitas de mil sofrimentos, mil e uma calamidades, desesperos em multidão; polémicas bem acesas à volta doutros paraísos fiscais na Finlândia ou Luxemburgo. Nações desunidas pelas calamidades económicas que as assombram. Críticas e ataques injuriosos aos políticos, populistas e outros. Nações em guerra, tão longe que nem fazemos ideia que existem, mas que vão ensanguentando o nosso mundo através dos seus ódios ameaçadores. Nomes para estes conflitos reavivados, como silveiras à beira dos caminhos: Palestina, Síria, Iraque, Turquia, África… Mas em guerra também contra a Europa. Em guerra contra a mundialização de todos os “outros”, que nos expedem os seus migrantes e os seus produtos a preços mais baixos. Quase em guerra com a Alemanha e os alemães, insuportáveis numa orgulhosa eficácia em todos os domínios. Contra a Inglaterra e a superioridade dos seus galões, bem longe já do sexagésimo aniversário europeu.

O Cristianismo e a sua quaresma talvez devam ser vistos como geniais neste contexto, à imagem do seu pastor. Com efeito, o cristianismo faz um grande bloco com tudo isso. As misérias, as violências, os sofrimentos, os gritos, as lágrimas, os medos. Faz um grande montão e põe-no aos pés da cruz. Essa cruz que não é para os cristãos, o sinal da morte, mas o da etapa seguinte: a ressurreição. Sem ela não há cristianismo que valha. Esperança que se justifique. Sem a ressurreição, só restaria fechar as igrejas todas. Fechar os livros de teologia, da história do cristianismo e mesmo dos evangelhos.

Pura loucura, do ponto de vista humano, esta história da ressurreição. Promessa insensata, bem mais incrível que as promessas dos políticos em campanha. O quê, depois da morte (fatal) voltaremos, nós também? E seríamos felizes? Bem, isso é tomar-nos por crianças ingénuas que acreditam em contos de fadas! Sim, crianças ingénuas! É preciso assumir esse estatuto. Assumir a parte de loucura desta aposta. No fundo, temos de nos tornar como os rebentos, que despontam apesar de tudo. Que sobem em direcção ao céu, na sua força serena, apesar dos alarmes, dos ventos maus, do gelo provocador. Passando a palavra entre eles, na sua linguagem discreta: “ A vida vai renascer, meninos, haverá sempre uma Primavera!” Um pouco mais, ouvi-los-íamos cantarolar. 

SE PENSARMOS … QUASE NOS TORNAMOS VEGETARIANOS

Neste período do ano, rodeados de “ Feiras de sabores” e de pratos bem recheados de carne, esta reflexão poderá até ser inoportuna ou ofensiva para muitos, ou talvez não! O que é certo, é que nos dias que correm por todo o lado circulam imagens insuportáveis de animais maltratados aquando do seu transporte para o destino previsto ou para os matadouros; e aqui assiste-se a práticas tão chocantes como por exemplo a matança de fêmeas prenhas cujo útero é aberto à facada e os fetos deitados fora no meio das vísceras. Exagerado? Não. Legal? Sim pelos vistos!
Acredito que há alguma hipocrisia neste espaço, quado nos são apresentados os animais que são abatidos e, de repente, toda a narrativa é acompanhada de imagens chocantes e nos dizem que é terrível. É efetivamente aterrador, não somente quando é filmado clandestinamente nos matadouros. Há um momento em que o animal tem de morrer claro, tendo sido eletrocutado antes. Mas se a corrente não passar, um homem com uma marra mata o animal pois o problema tem de ser resolvido. Diz-se que é uma monstruosidade o animal ser eletrocutado. O que será melhor? Quem não tem presente a matança do porco?! Bonito de se ver também!
Contudo todas estas imagens servem para nos fazer pensar e isso é o mais importante. Se pensarmos no que se passa no nosso prato, uma posta ou umas costeletazinhas de cordeiro bem suculentas, encontrámo-las excelentes, mas de repente, se pensarmos que fazem parte dum animal que foi morto, aquele cordeirinho, etc, etc, quase nos tornamos vegetarianos. Todos vivemos essas contradições seguramente. O consumo de carne, é melhor não pensar. Se comemos carne é porque não pensamos, se começarmos a pensar a montante do nosso prato, efectivamente encontramos que é inaceitável. Num matadouro stressam-se e matam-se animais.
Que é preciso reduzir o consumo da carne, não consumir nenhuma, talvez ou sem dúvida, não pensamos bem nessas coisas certamente. Trata-se dum facto de civilização, cada vez que penso na carne, penso seriamente que a verdade está do lado dos vegetarianos e de certa forma, mesmo do lado dos veganos. Simplesmente se dissermos que a verdade está do lado dos veganos, então não pode haver animais domesticados, nem gaiolas, nem jardins zoológicos, nem hipismo ou tourada, nem cães, nem peixes… Estou certo que os veganos nos seus excessos são pessoas que pelo menos nos convidam a pensar melhor ou a pensar na boa direcção.  
Por conseguinte, creio também que estas imagens que nos são apresentadas muitas vezes como sendo de militantes, não o são. Quando se fala tanto em “biológico” hoje, parece que somos enganados, não há morte biológica, conseguir-se-ia imaginar um matadouro biológico? Não passa também duma etiqueta politicamente correta pensar que o feijão-verde ou as laranjas que comemos são produtos biológicos, esquecemos que são transportados do Brasil por avião e que o traço carbónico dum produto biológico é muito pior para a ecologia do que um produto que teve alguns tratamentos e que foi produzido numa horta de Moredo ou do Vale da Vilariça.    
Podemos sempre dizer aos veganos que devem é preocupar-se com o sofrimento humano, mas qualquer que seja o militantismo também, não é por não se ocupar duma determinada causa que esta é mais importante do que outra. Por exemplo, os desempregados, sim, mas recebem subsídio, ou as misérias e guerras na Síria ou na Palestina, pois, mas são povos muito fundamentalistas. Não é uma boa forma de raciocinar pretendendo que há misérias que são preferíveis a outras.
Sem que haja respostas unívocas podemos, no entanto, colocar-nos algumas questões ou reflexões: muitas espécies animais foram reduzidas ao estatuto de produtos alimentícios, a um stock de consumíveis, sim. Muitos animais crescem e são transportados em condições abomináveis, claro que sim. Há uma diferença ontológica entre o homem e o animal, evidente. Efetivamente a natureza não é uma democracia, mas a questão pertinente poderia ser: os animais têm um sistema nervoso idêntico ao nosso e podem sofrer? A resposta é claramente afirmativa. Proclamar-se mestre e proprietário da natureza não implica nem sadismo, nem a redução dos seres vivos à condição de máquina de carne.

A neve

Caíram alguns flocos de neve nestes dias, o que nos faz começar a lamentar já a sua grande ausência a cada ano que passa. Toda a nossa região se recorda desses dias com uma grande nostalgia. A manhã em que a cidade acorda em baixo dum imenso manto branco, quase sem acreditar no que vê. E sobretudo no que ouve; nem um barulhinho se sente, nem um ruído de motos, nem carros a apitar, nem a omnipresença dos camiões do lixo que vão engolindo com grande barulho os restos dos nossos excessos. Ninguém passa nos cruzamentos nem nos semáforos…
Ao ponto de nos perguntarmos onde terá passado a humanidade que habita, trabalha e circula todos os dias na cidade. Aquela que todas as manhãs vai povoando automaticamente com todo o tipo de polifonias os espaços urbanos. Dir-se-ia que a cidade se retira para o campo, para refletir. Além disso, torna-se mais bela até nos seus pormenores. Curvas mais apaziguadas cobrindo o “mobiliário urbano”, todas as sujidades que se vão deixando nas varandas com o projeto de as deitar fora. A leveza pacificadora de todo este material que se torna imaculado dando a oportunidade a cada objecto de nos seduzir com as suas formas. Os automóveis tornam-se todos da mesma marca, embrulhados no mesmo manto branco. Faz-nos pensar como numa página branca à espera dum novo texto. Ou num lençol, ou melhor, num sudário que é colocado sobre os homens e as suas obras, para arredondar os ângulos, cobrir os cenários do jogo social das aparências, talvez para colocar uma máscara sobre as coisas que nos envergonham. Aquele branco arminho da neve que vai tão bem com o silêncio, com o recolhimento, com o pensamento naqueles que nos vão deixando neste murmúrio. Vai caindo devagarinho sobre nós. Será a neve um sinal que nos envia a natureza ou quem manda nela a fim de nos despertar da pressa e inconsciência dos outros dias! Despertar-nos-á também da arrogância em que vivemos, nós que pensamos permanecer infinitamente numa bolha sem ter contas a dar ao criador? Na verdade, penso que a neve não cai por acaso do céu. E não é por acaso também que cai imaculada e se torna salgada e escura mal nos metemos com ela.
Bem entendido, tudo isto são pedacinhos efémeros de vida, de representações, de meditações, vem rapidamente a preocupação de a pisar, o “Cláp! Cláp!” dos pés com medo de escorregar a cada passo. A insatisfação do povo não tarda a instalar-se nas conversas: “O que é que fazem a Câmara e a Proteção civil para não tomar medidas e limpar esta neve?!” Porém, os gritos das crianças (especialistas da neve, aptos espontaneamente a saborear os seus encantos e raridade), os pequenos “trenós” improvisados pelos estudantes e alguns pais, dão sempre uma luz nova à cidade. A neve restaura os direitos das crianças e dos adultos na cidade. Uma cidade que se torna momentaneamente pura, um esboço de página branca que nos deve solicitar todos os dias. Um parêntese espantoso na rutina. Não muito prático, contudo magnífico. Vem mais uma vez, por favor.

 

VOTOS

Deve haver forma de saber os milhões de mensagens enviadas nestes dias, mensagens de votos de Boas Festas por SMS, ou seja através dos telemóveis. Tornou-se um costume muito simpático ainda que a originalidade das mensagens em questão não esteja estabelecida. Boas Festas e um Próspero/Feliz Ano Novo. E que mais? A cogitação destes dois desejos pode abrir outros horizontes ou evita o cansaço para imaginar outra coisa mais concreta, mais desejável? Nos comércios, antes de comprar um pão ou um jornal, nestes dias é preciso preceder o pedido de um “Boas Festas!”, “Bom Ano!” automático. Na Internet os correspondentes dirigem ao conjunto dos “amigos de facebook”, flores, chalés suiços, paisagens glaciares, rostos de crianças felizes, acompanhados da mesma declaração. Como se cada amigo próximo ou das relações mais afastadas tivesse direito a votos da mesma intensidade.
A originalidade não é a qualidade principal desta troca de mensagens. Não é certamente motivo suficiente para renunciar a esta crença mágica (ou afetada) que consiste em acreditar que as nossas palavras possam ter um efeito sobre os acontecimentos futuros. Sabemos todos pertinentemente que os nossos desejos não exercem qualquer influência sobre as pessoas e as coisas. Que importa! São salutares estes sorrisos, estas palavras simpáticas, estes beijos sem fim, estes abraços anuais. Passamos tanto tempo, geralmente, a dizer mal uns dos outros, a maldizer os poderosos, a tentar esmagar os medíocres com o nosso desprezo, a invejar uns e a desassossegar os outros, que só faria bem acreditar, alguns dias por ano, que tudo será melhor a partir de agora.
Os votos de Bom Ano emitidos, porquê limitá-los aos mais próximos? Aos íntimos, aos conhecidos. Há muito a dizer no domínio do desejável. O campo para espalhar flores de inteligência e retórica que fazem o charme constantemente renovado de Bom Ano é imenso.
Este ano os objetivos não faltariam. Não seriam demasiados todos os dias do ano de 2017 para recitar a litania de objetivos de melhoria da vida neste nosso planeta. Por onde começar, uma vez tratado o nosso círculo mais próximo e imediato? Pela austeridade musculada que nos impuseram, que seja afastada à mesma velocidade que se fundiu sobre nós há já uns anos atrás. Façamos votos para que o capitalismo seja “reinventado”, como parece ser prometido todos os dias. Desejemos que os paraísos fiscais sejam banidos do mapa do mundo. Desejemos que os potentados da finança, os ditadores dos mercados tenham um olhar mais atento para a humanidade que sofre e lhes dê dignidade. Desejemos que os europeus, tanto os dirigentes como os povos, se tornem mais europeus e que não renunciem à bela aventura comum. Desejemos que o turco Erdogan cesse de colocar o seu país no caminho do autoritarismo, virando costas às liberdades que pareciam querer levar este país a aproximar-se da Europa. Que o jovem da “malga na cabeça” suposto dirigir a Coreia do Norte pare de se tomar pelo deus vivo no país do comunismo congelado. Que seja afastado, da maneira que for possível, o sinistro e sanguinário Assad que massacra o seu povo de forma tão cruel. Que o seu colaborador e cúmplice Vladimir Poutine seja derrotado e destronado. Aos árabes de todas as nacionalidades que saiam do Inverno do Islamismo fanático e sanguinário, onde já se conheceram pedacinhos de primavera. Que a Síria, o Iraque e o Irão reencontrem as virtudes dos grandes impérios que foram. Desejemos aos chineses, trabalhadores incansáveis, para se implicarem por fim nos caminhos da liberdade, desembaraçados da carapaça de um comunismo de fachada. Ao presidente americano de retomar o Sonho que moveu o anterior presidente no princípio do seu mandato. Desejemos ao nosso António Guterres – o anterior, Ban Ki-moon, parece também ter recebido dinheiro líquido - a coragem e a sabedoria para liderar tamanho projeto para que os dirigentes deste mundo o ouçam e se possam mover por sendas mais morais.
Seria já enorme, poder atingir estes objectivos. Mas há outros. No domínio das mudanças climáticas; desejemos que se passe da retórica à ação. Que as guerras em África, sempre atribuídas aos “conflitos étnicos” que escondem outras tensões, outras fontes de injustiça parem de desencorajar os amigos deste continente e destes povos. Que Angola e Moçambique encontrem a calma. Enfim, o que desejamos ver neste grande saco de desejos? A Paz e a felicidade universal? A prosperidade geral? A justiça espalhada por todo o lado? As desigualdades por fim vencidas? Evidentemente que tudo isto não poderá ser feito num só dia, nem em trezentos e sessenta e cinco. Há muito que procuramos estes ideais. Estamos vacinados contra estas ilusões e contra as pretensas soluções. Mas haverá alguma razão para deixar de acreditar no homem, na humanidade e na sua vontade de se aperfeiçoar? Se pensarmos que nada muda, porque nunca nada se alterou, para quê preocuparmo-nos com o futuro, e tentar construi-lo? Muito disso só existe nas nossas cabecinhas. Ou esperamos, petrificados, que aconteça o que tem que acontecer, ou arregaçamos as mangas e pesamos sobre os acontecimentos. Sabendo que depende de todos nós a cor do futuro, na soleira dum novo ano a dimensão da empreitada não nos deve desencorajar, podemos com ela. Atesta pelo contrário da necessidade que o mundo tem de nós, das nossas revoltas, das nossas fidelidades, dos nossos valores positivos, da nossa resistência ao medo.
Os votos? Mais necessários do que nunca.

Natal (re)decomposto

Da mesma forma que se fala hoje DAS família e não DA família, poder-se-á falar DOS Natais e não DO Natal. Há evidentemente uma correlação entre a composição das famílias e a decomposição do Natal. 
Para os filhos, as vantagens em termos de qualidade das prendas são evidentes: avós e pais, juntos ou separados, querendo todos passar o Natal com eles, é a reunião da família e a distribuição das prendas que se sobrepõe à data: alterada pelos que vão de viagem, no dia 24 à noite e 25 ao meio-dia não bastam para esgotar as configurações familiares. Porque se o Natal se festeja em família, as famílias – dever-se-ia falar de clãs ou tribos – misturam-se pouco. Vejamos um casal com filhos. Primeiro Natal em casa dos pais da Senhora, o segundo Natal em casa dos pais do Senhor. Este casal tendo irmãos e irmãs, o quebra-cabeças começa logo quando se trata de encontrar a data da irmandade que tem as mesmas obrigações que o casal para poder reunir-se. 
Se os pais estiverem separados, aquele que não tem a guarda na noite de consoada sentirá umas palpitações no peito apesar de ter previsto outra festa porque lhe parece incompreensível não festejar o Natal com o papa ou a mama: é preferível cortar o Natal e a criança em dois a ter de passar as festas juntos. Quanto a reunir todos os filhos duma família que vivem em guarda alternada, isso releva duma sincronização, duma plasticidade e duma diplomacia fora do comum. Aquele que inventar a aplicação que possa dar a fórmula mágica, a receita adequada e a prenda apropriada fará seguramente fortuna. 
Há um rito de passagem de que se fala pouco: é quando os pais convidam os avós para passar o Natal em casa. Momento crucial na vida de um adulto – e nem sempre coincidente dos dois lados – em que o indivíduo se torna furtiva e discretamente o pai dos seus pais. As duas famílias encontrar-se-ão finalmente reunidas? Nem sempre, o que fará ainda muitos mais Natais para organizar. Será mais fácil para os avós? Nem sempre quando têm vários filhos que querem todos convidá-los. Ir a casa de quem, sem que a preferência seja demasiado visível ou manifesta? Os juízes entregues aos assuntos familiares ainda não instauraram a guarda alternada dos avós em caso de conflito.
Estes constrangimentos de Natal cuja lista está longe de ser exaustiva dir-nos-ão algo sobre as famílias dos nossos dias? A criança continua a ser o centro do Natal para o melhor e para o pior o que implica raptá-la para as Festas de fim de ano. Sem filhos, pode ser triste, mas há menos problemas se tivermos em conta a excelente frequentação dos espectáculos no dia 24 de Dezembro. Os filhos dir-nos-ão mais tarde quais as recordações que guardam dos Natais divididos em função das tensões ou incompatibilidades familiares das quais são as principais apostas aparentes. Todos temos recordações da infância de Natal, mais raramente das prendas que recebemos. E todos os anos, encontrámo-nos confrontados com o dilema de reproduzir o que conhecemos e vivemos sabendo que tudo mudou ou simplesmente para nos demarcar estando consciente do peso das tradições, das famílias e… dos FILHOS! 

A mendicidade

Face à mendicidade, cada um de nós é regularmente solicitado, sente-se incomodado ou não, dá uma resposta refletida ou impulsiva, sem ser fácil nomear o que fazemos ou não. 
Alguém tem uma receita ou doutrina quando cruza um mendigo na rua? Coloco-me esta questão sempre embaraçosa e frequente quando passo à sua frente aqui ou ali, cada vez com mais frequência.
Observo os que passam e têm mais ou menos o mesmo comportamento que eu. O que fazer? Frente aos comércios, restaurantes, lugares turísticos, igrejas, nos semáforos cruzam-se homens e mulheres acompanhados de crianças, de animais, sentados ou em pé, por vezes algo afetados mentalmente. Cada um com a sua forma diferente de abordar os transeuntes.
O que se pode fazer ? Antigamente o mendigo tinha sempre um défice cognitivo qualquer e era alvo de brincadeira ou troça, contudo parecia-nos um ser alegre. Agora aparecem-nos cada vez em maior número, sobretudo nos grandes meios urbanos, é porque a precariedade aumenta ou será uma simples impressão por se encontrarem em lugares de passagem? Sem quaisquer restrições, a mendicidade só se torna delito se for desenvolvida de forma agressiva e sob ameaça dum animal perigoso, o que não se revela ser frequente.
Cada um de nós é portanto regularmente solicitado, encontra-se incomodado ou não, dá uma resposta refletida ou impulsiva, sem que seja fácil nomear o que fazemos ou não como já referi. Não existe, em meu conhecimento, nenhum estudo ou inquérito sobre os que dão, talvez haja algum estudo de terreno do Instituto de Filantropia sem projeção ou interesse para o grande público. 
Tentei fazer a minha pequena pesquisa e inquérito pessoais perto das pessoas que conheço aqui e nos centros urbanos maiores. 
Na rua, o seu ponto comum é não dar nunca dinheiro às crianças a fim de não encorajar a sua exploração. Assim, cada um pratica-o à sua maneira anteriormente refletido em função do humor do dia. Um não dá nunca na rua sem se encontrar num determinado estado de espírito. Muito generoso além do mais, acha que é um dever dar, sente-se outro por ser responsável pelo que deu. Outros escolhem dar sempre às senhoras, ou ao contrário, nunca dar às senhoras ou sempre e exclusivamente aos músicos. À saída da igreja ou da pastelaria ao lado, os fiéis sentem a obrigação de fazer uma boa ação.
Não conheço ninguém, apesar de isso existir, que agrida um mendigo pelas suas observações despropositadas, mal- intencionadas ou agressivas, mas a indiferença ou o facto de passar ao lado evitando o olhar ou negando a existência da pessoa podem constituir uma forma de agressão. Esta indiferença é uma máscara de cada um de nós, pois é raro que a presença dum mendigo não suscite qualquer reacção- seja ela negativa – seja ela positiva.   
São mais os sentimentos do que a razão que determinam o ato de dar ou não dar. Estes têm a ver com a relação que se prende com o olhar, com os gestos, com as palavras. Uma vez que o medo ou a desconfiança se encontram ultrapassados, quando o diálogo acontece, é por vezes um bairro inteiro que adota um mendigo, um arrumador, assegurando-lhe uma forma de sobrevivência, levando-lhe comida ou roupas quentes mais do que dinheiro. Afeto também: um deles a quem desapareceu o cão ou o gato vê-se ser-lhe oferecido outro em pouco tempo. As crianças gostam de dar apesar de terem que ultrapassar o seu medo ou não compreendem que não se lhes dê nada. Estamos longe do altruísmo eficaz.
Li em qualquer lado que é preferível salvar dez vidas lá no fim do mundo a salvar a dum próximo. Porém, fazer o bem à distância não impede que nos sintamos mal perante a miséria dos mais próximos que não têm nada a ver com os nossos estados de alma. Espero que ao ler estas linhas, não continuem a ver os mendigos da mesma forma.