class="html not-front not-logged-in one-sidebar sidebar-second page-taxonomy page-taxonomy-term page-taxonomy-term- page-taxonomy-term-94">

            

Henrique Pedro

Diga-me lá em quem devo votar?

Sempre que um acto eleitoral se aproxima, a maior parte dos eleitores não sabe, à partida, em quem votar ou está predisposta a não o fazer. A questão coloca-se com maior acuidade aquando da eleição de uma nova Assembleia da República.
Por isso as forças políticas habilitadas ao acto eleitoral em jogo respondem com encenações vistosas baseadas em cartazes com fotografias cuidadosamente retocadas e chavões ridículos, que pouco ou nada dizem, mas sempre despertam a curiosidade dos transeuntes, como se de um produto de supermercado, detergente ou pasta de dentes, se tratasse.
No próximo dia 1 de Outubro vão ser eleitos novos e reeleitos velhos autarcas em processos eleitorais que continuam a ser, em muitos casos, deturpados pelas forças que detêm o poder.
Tanto assim é que o hábil exercício do poder autárquico conferia claramente aos seus detentores o condão de se fazerem reeleger até se fartarem, razão pela qual a limitação de mandatos veio pôr fim, justamente, à gesta heroica dos chamados autarcas dinossauros. O que ainda não acontece, lamentavelmente, com os deputados vitalícios.
A decisão de votar ou não votar, e em quem, não é linear para a maioria dos eleitores, portanto. Vários amigos meus, confrontados com este dilema, porque não se sentem devidamente informados e pensam, erradamente, que eu o estarei, ou porque nenhum candidato ou partido seja de seu agrado ou lhes inspire confiança, vêm ter comigo para, em privado, me fazerem esta pergunta embaraçosa: Diga-me lá em quem devo votar? Situação que, por certo, não só a mim é colocada.
Apetece-me dizer-lhes que também eu não sei e tenho as mesmas dúvidas, mas resisto à tentação de aconselhar que não votem, que se abstenham, porque entendo que devemos ir às urnas sejam quais forem as circunstâncias. Porque, mesmo se for inconciliável a aversão pelas forças partidárias e candidatos em presença sempre nos é dada a possibilidade de chegar à mesa de voto e escrever no boletim uma mensagem, politicamente correcta, do género “Viva a democracia” ou “ Abaixo a mediocridade”.
Também porque a lei em vigor e a inteligência política instalada olham os abstencionistas como cidadãos de segunda categoria e os tratam como comodistas, marginais, ausentes em parte incerta ou mesmo defuntos, não lhe reconhecendo a justa relevância política.
É por tudo isto que eu partilho a ideia de renomados estudiosos destas questões de representatividade que defendem, face ao peso esmagador da abstenção, que deveriam ser deixadas vagas nas Assembleias as cadeiras correspondentes aos abstencionistas.
De facto, se a abstenção não conta como voto, então, se não há votos não deve haver atribuição de mandatos, pelo que é abusivo os partidos elegerem deputados excluindo os abstencionistas. E o que se diz para a Assembleia da República diz-se para as Assembleias Municipais. Seria, além do mais, uma forma simples e espontânea das Assembleias mais fielmente espelharem o sentir da Nação e de reduzir o número de deputados e os gastos correlativos.
E mais! Entendo que os boletins de voto, da mesma forma que têm quadradinhos para colocar a cruzinha correspondente ao partido preferido, também deveriam ter um, de igual tamanho, com o dizer “ Abstenho-me”. Ou mesmo “Não voto em ninguém”.
Será pedir demais? Será que os portugueses, mesmo não gostando, são obrigados a engolir a caldeirada do regime e a render-se à lei do “come e cala-te”, apanágio da generalidade dos nossos políticos?
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

O partido que falta à Região de Trás-os-Montes e Alto Douro

Trás-os-Montes, e o Alto Douro, têm tido autarcas excelentes. Presidentes de Câmara e de Junta de Freguesia. Poucos. Não tantos quantos os necessários para provocar o progresso definitivo da Região, é certo.
Conheço e reconheço a obra de alguns, que não cito porque não é esse o propósito central desta crónica, porque não quero ser injusto e ainda porque, sendo amigo pessoal de muitos, também não quero dar aso a que digam que me movem motivos pessoais.
Trás-os-Montes e Alto Douro também têm tido muitos políticos famosos, de alto gabarito, embora ser-se famoso não signifique que se é herói. Poderá ser-se simplesmente vilão e ser vilão e famoso não é glória nenhuma.
O problema reside, sobretudo, quanto a mim, no regime político vigente que lançou o país, e em especial as suas regiões interiores, em becos sem saída mas que convém distinguir do sistema democrático teórico que possui virtudes incontestáveis.
Trás-os-Montes e Alto Douro são disso exemplos mais que evidentes porque estão amordaçados pelos partidos que em Lisboa ditam leis e que fazem dos autarcas meros moços de recados. Por isso os seus olivais, soutos, vinhedos, saudosos trigais, hortas, paisagem genuína, ares e rios não ousaram, até hoje, ser devidamente valorizados. Por isso os transmontanos e os alto-durienses continuam a emigrar em procura de melhor vida. 
Veja-se o caso dos rios, ou das águas em geral, sector em que Trás-os-Montes e Alto Douro, felizmente, ainda não vivem o drama de outras regiões. Águas que continuam a correr livremente para o oceano sem que as populações ribeirinhas delas tirem outro proveito que não seja refrescarem-se em meia dúzia de praias improvisadas, ditas fluviais, na época estival.
Por isso a EDP, verdadeiro negócio da china, ousou emparedar o Tua e o Sabor para seu consumo privado, a troco de uns amendoins que atira às populações como a macacos enjaulados: jogos florais a premiar meia dúzia de aldeias, um tímido plano de mobilidade que faz que anda mas não anda e tabuletas alienígenas nas entradas de Mirandela com o sibilino dizer Parque Regional do Vale do Tua. Tudo só para calar os mais contestatários. 
Falta um partido a Trás-os-Montes e Alto Douro, portanto. Livre. Independente. Ambientalista. Regional e regionalista. Que pugne pelos interesses da Região como um todo e acima de tudo e que não sirva aqueles que apenas projectam ganhar dinheiro para levar para fora.
Partido vocacionado para eleger verdadeiros autarcas e deputados transmontanos e alto-durienses e que se não enrede nos ditames políticos e corruptores da Lisboa macrocéfala e centralizadora. Que ouse, entre outras coisas, promover uma política de repovoamento coerente e consequente, privilegiando, naturalmente, os milhares de transmontanos e alto-durienses emigrados.
Só desta forma as universidades, os centros culturais, as bibliotecas, os museus, os teatros, as cooperativas, os jornais, os grupos desportivos e as empresas transmontanas alcançarão o brilhantismo que almejam, libertando-se da caridade de Lisboa e do estigma da emigração.
Exemplo maior deste atávico marasmo provinciano é Mirandela, eterna princesa do Tua, sempre adiada e adormecida à espera do príncipe que tarda, apesar de reunir as melhores condições naturais, designadamente água corrente, centralidade, pujança agrícola e suficientes atractivos turísticos para se transformar numa exemplar metrópole regional, capaz de dar guarida a 50 000 habitantes, que se estima ser o seu óptimo populacional, inseridos nos 500 000 que a Região claramente comporta e de que precisa.
Só por esta via a região de Trás-os-Montes e Alto Douro se poderá converter na terra de eleição com que os transmontanos e alto-duriense sempre sonham e trazem no coração.
 
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

O pai, a mãe e o avozinho das assimetrias regionais

As tão propaladas “assimetrias regionais”, metáfora para a injustiça e a incompetência governativas, distribuem-se por todos os domínios do foro público, apesar da pequena dimensão de Portugal.
A maior de todas, porém, reside em Lisboa, nas sedes do Governo, da Assembleia e da Presidência da República que são o pai, a mãe e o avozinho de todas elas. É lá que se gera o centralismo e a macrocefalia lisboeta e se concretiza a subalternização do poder local pelo poder central que a Lei Fundamental da República não estabelece, mas que os partidos políticos subvertem.
Donde advém, entre outros males, a subserviência das câmaras municipais provincianas ao governo central e das juntas de freguesia às câmaras municipais.
Assimetrias que teimam em persistir e a agravar-se apesar dos muitos milhões de euros que foram destinados a combate-las desde que Portugal aderiu à Comunidade Europeia.
É certo que novas e modernas vias, jardins e rotundas foram rasgadas e as condições de vida medievais banidas, sobretudo no mundo rural, mas Trás-os-Montes, por exemplo, continua a ser uma região socialmente depauperada, em contínuo processo de despovoamento, sem expressão cultural visível e de economia restringida à pouco rentável agricultura subsidiada.
Também as cidades e vilas transmontanas foram dotadas de vistosos centros culturais, museus e bibliotecas, menos frequentados que os campos da bola, mas a cultura regional praticamente se confina a espectáculos de música dita pimba que as Câmaras Municipais oferecem aos seus munícipes, em dias festivos, com o intuito de induzir nos espíritos uma ilusória sensação de dinamismo.
 Acresce que a iliteracia crónica continua a esmagar todas as ideias de modernização e desenvolvimento e apenas serve os mais esconsos propósitos de sujeição social e partidária.
Já a dinamização económica propriamente dita não vai além das feiras de produtos tradicionais, com destaque para os enchidos, que as mesmas Câmaras Municipais promovem e custeiam, e que são claramente insuficientes para sustentar, sequer, uma significativa indústria artesanal. 
Sendo Trás-os-Montes uma região eminentemente agrícola o sector continua a não dispor das necessárias e suficientes plataformas transformadoras e comerciais, dos vitais sistemas integrados de regadio e dramaticamente dependente de meia dúzia de prestimosas cooperativas, insuficientes para alavancarem as suas reais potencialidades.
Como se vê, a questão é iminentemente política e radica-se na asfixia e subalternização das autarquias provincianas pelos partidos cuja ambição maior é a governança nacional. Partidos e governos que tratam as assimetrias regionais como tratam os incêndios florestais: protelar e iludir, até o escândalo ou a tragédia acontecer.
 Agora que novas eleições autárquicas se avizinham já os partidos políticos mais uma vez se preparam para, desprezando o poder local, as reduzir a mero escrutínio intercalar do governo da Nação. Quando não em instrumento das suas guerras intestinas.
É por tudo isto que eu, e julgo que serei secundado por muitos mais eleitores, desde já declaro que não reconheço a nenhum partido o direito de gritar vitória nas autárquicas contando com o meu voto. 
Porque não é a pensar nas políticas partidárias, de esquerda ou de direita, que eu irei votar, mas tendo em conta, isso sim, o progresso da minha terra e os candidatos mais aptos para o promover.
Ao líder partidário que não respeitar este princípio lanço, desde já, o meu olímpico desprezo.
 
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.
 
 
 
Errata: Na minha crónica intitulada O Estado da Nação é crónico e continua crítico, anteriormente publicada, onde se lê Aljubarrota deve ler-se Alcácer Quibir este sim o nome do maior desastre militar da História de Portugal. 

Pela independência de Trás-os-Montes

Um dos maiores males que presentemente afectam Portugal é o despovoamento persistente de vastas regiões do interior, que em muitas áreas rurais assume mesmo a gravidade do ermamento desolador. Fenómeno que não pode, nem deve ser atribuído a causas naturais, e muito menos ser chamado de desertificação, como levianamente se vem fazendo.
Os, transmontanos, por exemplo, procuram empregos melhor remunerados e com trabalhos mais agradáveis longe da sua terra natal porque, apesar da Mãe Natureza que os criou ser pródiga e diversificada, as prevalecentes actividades agrícolas e pecuárias, continuam a ser árduas, desprestigiadas e pouco rentáveis e, por tudo isso, nada atractivas. Acresce que, até hoje, não se conseguiu que o turismo e negócios correlativos alcançassem significativa expressão local e os empregos que o Estado faculta não são solução.
O problema é sobretudo grave porque a economia nacional continua débil e distorcida por culpa das más práticas políticas, ainda que, verdade seja dita, os resistentes, aqueles que teimam em viver nas cidades, vilas e mesmo aldeias do interior, regra geral, vivam melhor que muitos que vegetam encafuados nos bairros sombrios das grandes cidades.
Fiquei literalmente de olhos em bico quando, um destes dias, ouvi dizer a um político responsável, ainda que de segundo plano, da geringonça ou da oposição não importa (nem mesmo me dei ao trabalho de saber se seria transmontano), que Trás-os-Montes só progredirá quando for vendido aos chineses. E mais argumentava ele, com duvidoso sentido de humor, que “já lhes demos (ou deram eles, digo eu) tanta coisa de mão beijada, de maior dimensão até, como a EDP, por exemplo, que bem lhes podíamos vender agora Trás-os-Montes inteiro, por atacado”. É verdade, pensei para comigo, aos vales do Tua, do Sabor e do Rabagão, que já lhes pertencem, transformaram-nos em albufeiras imensas. Aos transmontanos resta agora aprenderem a “surfar” sem ondas.
Pessoalmente, ironia à parte, duvido, portanto, que essa fosse uma solução aceitável ainda que o problema do despovoamento ficasse resolvido com a caterva de chineses que por cá se radicaria, mesmo que não fosse para arar e semear arroz, que seria o mais certo.
Embora tal ideia não seja mais disparatada que as tão propaladas discriminação positiva e descentralização que muitos insuspeitos governantes alardeiam com o palavreado do costume, mas que não passam de boas intenções ou mesmo de presentes envenenados.
Eu tenho outra ideia melhor e mais séria que passa por dar plena expressão ao Poder Local num contexto de regionalização. Libertem Trás-os-Montes. Soltem-no das amarras partidárias. Inibam os partidos políticos de concorrer em eleições locais e de, por essa via, se apossarem das Câmaras Municipais e das Juntas de Freguesia para as converter em coutadas privativas. Acabem com os autarcas delegados políticos dos partidos no poder ou na oposição e com os deputados simbólicos, honorários, vitalícios.
E, claro está, não vendam mais olgas e olivais para a EDP afogar. Deem vida aos rios transmontanos e às suas margens com projectos agrícolas, turísticos, energéticos e culturais convenientemente dimensionados. Façam em Trás-os-Montes os investimentos públicos mais justos e ajustados à Região e não apenas os que melhor servem os interesses do Terreiro do Paço e maiores réditos conferem ao grande capital. E não insistam na loa de discriminar positivamente Trás-os-Montes porque essa é a pior forma de descriminação.
Tornem Trás-os-Montes independente!
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico

O Estado da Nação é crónico e continua crítico

O pensamento político dos nossos doutos governantes, actuais e outros que tais, é muito simples: basta que dois ou três indicadores macroeconómico melhorem para reclamarem victória, increparem os oposicionistas e gritarem aos sete ventos que o país está melhor, mesmo que a situação continue crítica.

É o seu jeito de iludir o povo. Tudo o mais é irrelevante a menos que ganhe foros de escândalo ou de tragédia. É o fado lusitano da alternância do poder e da esperança com música de desgraça.

O Estado português continua atolado numa profunda crise moral e funcional que extravasa o plano financeiro. Senão, vejamos os exemplos mais expressivos.

A subordinação do poder militar ao poder político democraticamente constituído é uma das pedras de toque da democracia. O mesmo se diz do poder económico. Por isso a Constituição da República estabelece estes princípios inequivocamente.

Na práctica, porém, nada disto se cumpre. O poder económico continua a dominar governos e políticas, lesando escandalosamente o erário público, o desenvolvimento coeso do território nacional e as famílias, como bem o demonstram os muitos casos de alta corrupção que a comunicação social a toda a hora noticia.

Já quanto à subordinação do poder militar ao poder político verifica-se o inverso, com sucessivos governos a menosprezar as Forças Armadas e a desdenhar os militares, com o beneplácito servil dos mais altos chefes castrenses, ou estes não sejam escolhidos a dedo com esse propósito, pelo próprio poder político.

Pior situação do que a presente só a vivida na I República, em que soldados pediam esmola à porta de armas, e que haveria de redundar no maior desastre militar da História depois de Aljubarrota, a batalha de La Lys.

Nem mesmo durante o consulado de Oliveira Salazar, a quem se atribuía a “boutade”: “as forças armadas são um mal necessário”, a instituição militar foi tão desprezada e humilhada. Tenha-se em conta que males reconhecidamente necessários, ontem como hoje, são muito raros.

Hoje em dia, porém, quer para a esquerda oportunista e bem comportada que integra a “geringonça”, quer para a direita do ao Deus-dará, as Forças Armadas não passam de uma inutilidade. Esquerda e direita marcham com o passo certo, porém. São a grande ameaça, interna, que paulatinamente tem vindo a destruir Portugal.

 Esquecem-se que não há Estado democrático forte e respeitado sem Forças Armadas credíveis e prestigiadas, e que é criminoso reduzir o Exército a pequenas unidades mercenárias, destinadas a actuar longe do território nacional, a mando sabe-se lá de quem.

Elucidativo é o triste episódio do assalto aos paióis de Tancos, que o Governo procurou resolver com um “remake” da célebre Brigada do Reumático de triste memória, em que o primeiro-ministro e líder da geringonça, se mostrou à Nação rodeado de quatro patéticos generais, para iludir a desmoralização que grassa nas fileiras e a insegurança que afecta o país, como diariamente se constata com a evidente incapacidade da Prevenção Civil para combater calamidades de grande dimensão.

Enquanto Estado independente e livre, se é que ainda existe, Portugal trava a sua derradeira batalha. Que poderá ser breve ou arrastar-se por algumas décadas mais, mas da qual dificilmente sairá vitorioso.

O que resta da soberania nacional, depois que foi alienada a Bruxelas, sem a justa reciprocidade e equidade, aos credores internacionais, ilicitamente, e aos interesses estrangeiros que dominam as empresas de importância estratégica, continua a desagregar-se na emigração qualificada, no despovoamento do interior, no défice demográfico e no enfraquecimento de instituições fundamentais como sejam a Justiça e as Forças Armadas.

Contrariamente às melhores e mais justas expectativas que se abriram com a adesão à CEE e que apontavam aos mais evoluídos países europeus da sua dimensão, Portugal é hoje um Estado falhado, sendo que a culpa não deve ser assacada à democracia em si mesma mas ao Regime político vigente que não acautela, e antes favorece, a manipulação do poder por bandidos e aventureiros

 Andam agora os governantes deslumbrados com o turismo que inopinadamente lhes bateu à porta, e Lisboa já corre o risco de se converter numa espécie de emirato turístico, sem petróleo, ou talvez pior, num Rio de Janeiro com praias de sonho e favelas de pesadelo. E o resto do país num deserto queimado.

O Estado da Nação é crónico e continua crítico.

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Portugal morreu, a minha Pátria, não!

A poesia é, sem dúvida, a forma mais delicada e civilizada de expressar sentimentos de amor, tristeza, raiva e revolta. Também de partilhar ideias, unir vontades e reacender a esperança.

Os portugueses têm tido, nos últimos tempos, demasiados motivos de indignação e descrença produtos do egoísmo, da mentira, da incompetência e da desfaçatez prevalecentes nas elites dirigentes, muito acima do que seria admissível.

A recente tragédia de Pedrógão Grande e o assalto aos paióis do polígono militar de Tancos, são os exemplos mais expressivos da profunda crise moral e de identidade em que o Estado português se encontra atolado, e que extravasa o plano financeiro.

Talvez este poema possa trazer algum alento e conforto ao cidadão comum e demovê-lo de desistir.

 

Portugal morreu,

a minha Pátria, não!

 

Portugal morreu!

 

Jaz morto às mãos da corrupção

e das teias que ela teceu

 

A minha Pátria, essa não!

 

A minha Pátria é o meu povo

a Língua que fala

a História que conta

a Verdade e a Democracia

e toda a sua poesia

 

A minha Pátria não é afronta

terreiro de paço

espaço de intriga e traição

políticos, banqueiros e outros vilões

os coveiros da Nação

 

A minha pátria é Camões

é Gama

Vieira e Pessoa

Santo António de Lisboa

do Quinto Império nostalgia

futuro que o povo reclama

 

É o meu Trás-os-Montes natal

suas lágrimas, suas fontes

meu Santo Graal

 

Portugal morreu

às mãos da corrupção

feito fogo e fumo

terra queimada

Nação emigrada

gente que chora

à procura de novo rumo

 

Portugueses, é agora!

 

(Este poema também poderá ser lido em: http://henriquepedro.blogspot.pt)

O triste sucesso de Pedrógão Grande

Todos os primeiros-ministros da história recente de Portugal já tinham larga experiência política e partidária quando ascenderem a esse cargo fundamental. Salazar à parte, que não é para aqui chamado, e Álvaro Cunhal que, felizmente, nunca ousou sê-lo, muito embora tenha andado lá por perto.
António Costa, o actual titular, é o paradigma, o padrão, o perfil que melhor se encaixa neste modelo, sobretudo agora que estamos em tempo de redes sociais.
E bem se poderá dizer que nasceu na política e para a política. A sua militância partidária é notável e a sua experiência como autarca insuperável, ou não tivesse dirigido o mais importante município do País. Os seus conhecimentos teóricos e prácticos de governação são igualmente de assinalar, já que exerceu, entre outros, o cargo de ministro do interior, precisamente, num governo chefiado pelo controverso José Sócrates.
Confrontado com a realidade trágica de Pedrógão Grande que aconteceu, com o pesar de todos nós, no momento em que a vida lhe corria surpreendentemente bem, com êxitos nas finanças, no futebol e nas cantigas, que partilhava com o seráfico e indefectível seu amigo presidente da república, António Costa disse que tudo funcionara bem, sem falhas, que fora um sucesso, portanto.
O mais certo é o primeiro-ministro ter ficado emocionalmente afectado com tão tristes acontecimentos. Tanto que nem se deu conta de que esse é o argumento do terror, a lógica dos que defendem que quanto maior é a tragédia maior é o sucesso.
Não haverá mesmo razões humanas, claras ou encobertas, para explicar tamanha desgraça, para lá da madrasta Mãe Natureza que sacrifica cruelmente os próprios filhos? Uma distração, um funcionário a menos na cadeia de prevenção, um plantador de eucaliptos que abusivamente os planta até à berma da estrada? Ou será que a culpa, para desgraça maior, deve ser imputada às infelizes vítimas que estavam no lugar errado, no momento menos conveniente?
António Costa, porém, não se ficou por aqui na sua perturbação. Sobre a questão fundamental que é a prevenção, o planeamento e o ordenamento, do território e das florestas rematou que é assunto para a próxima década.
Valha-nos Deus! Então há quantos anos anda António Costa na política? E em que se ocupou todo o tempo em que foi ministro do interior? Será que andou apenas a apagar incêndios?
António Costa é, portanto, justiça lhe seja feita, um primeiro-ministro paradigmático dos inúmeros que Portugal já teve, para desgraça dos portugueses.
Daqui a cinquenta anos, se Portugal ainda existir, haverá certamente um governo ainda a reflectir como pagar a dívida pública nos cinquenta anos seguintes. E talvez seja então mais fácil atacar o problema do planeamento e do ordenamento das florestas e da prevenção dos fogos florestais, quando já não houver mais florestas para arder nem portugueses para socorrer.
Assim se explica, e melhor se compreende, a razão pela qual os eleitores sistematicamente respondem com abstenção em massa: não encontram ninguém credível em quem votar.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

O pior dos populismos

No entendimento comum a palavra “sentimento”, embora possuindo mais ampla significância, é associada sobretudo a estados de tristeza, enquanto a palavra “afecto” é mais voltada para amor e amizade.

Marcelo Rebelo de Sousa é mais político de afecto que de sentimento.

Quando se julgava não haver mais escândalos envolvendo figuras públicas graúdas, o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) acaba de acrescentar mais um à lista que é, pelos vistos, interminável, ao noticiar que António Mexia, presidente executivo da EDP, e outros administradores, estão indiciados por crimes de corrupção no estabelecimento das compensações que esta empresa negociou com o governo de José Sócrates, em 2007.

Estes magnos eventos de corrupção, que apenas são noticiados quando caiem na alçada da Justiça, muitos mais haverá, não merecem o afecto dos portugueses. Bem pelo contrário. Provocam, sim, audíveis sentimentos de revolta, sobretudo porque afectam gravosamente as economias das famílias e das empresas e as contas públicas, como no caso vertente, em que consumidores e contribuintes são visivelmente explorados.

Sentimentos de revolta e tristeza face à vergonhosa situação em que caiu a governança da Nação. Revolta que tem sido, felizmente, pacífica, mas que acaba por se reflectir no elevado índice de abstenção eleitoral e no desprezo generalizado da classe política e dos partidos, justa ou injustamente.

Idêntico sentimento de revolta não é demonstrado, porém, pelo senhor presidente da República, pelo senhor primeiro-ministro e demais machuchos do Regime, no poder ou na oposição, que parecem ignorar estes magnos problemas nacionais como se nada tivessem a ver com eles.

Isto ilustra uma clara subordinação do poder político ao poder económico, contrária à Constituição, para não falar de promiscuidade, ou muitos dos arguidos não tomassem assento, ora nas cadeiras governamentais, ora nas chorudas administrações privadas.

Vai sendo tempo dos nossos políticos perceberem que os portugueses, faz tempo, esperam com impaciência, sobretudo do presidente da República, dentro da dinâmica que o elegeu, mas também do primeiro-ministro e da oposição, discursos e atitudes mais transparentes e reformistas e menos populistas.

O povo não precisa de políticos que explorem as suas alegrias. Precisa de governantes que, com sinceridade, vibrem e comunguem dos seus anseios, sacrifícios e revoltas.

Por isso a reforma das instituições políticas tendente a repor a verdade na representação democrática, o debate ideológico e a moralizar a vida pública, minorando o despesismo do Estado e todos os vícios do regime, designadamente a corrupção, o compadrio e o clientelismo, é cada vez mais instante e crucial.

 Urge, por isso, que os partidos políticos deixem de se assumir como guardas prisionais da democracia, sendo a Assembleia da República a sua prisão.

O populismo de Estado, o populismo do poder, é o pior dos populismos porque abafa as justas reivindicações populares e abre portas a todas as aventuras malignas.

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

O senhor feliz e o senhor contente.

O senhor presidente da República é um homem feliz. O senhor primeiro-ministro um homem contente. A vida corre-lhes bem, segundo consta. Tanto assim é que se divertem a apostar, publicamente, qual deles é mais optimista.

Será porque o Produto Interno Bruto cresceu, ainda que não o necessário e suficiente, no primeiro trimestre do ano corrente, fruto, sobretudo, da procura externa? Ou apenas porque o desemprego e o défice desceram tanto que melhor será passar a falar em pleno emprego e superavit? Ou também porque os mafarricos do BE, do PCP e dos sindicatos se têm revelado muito mais cordatos e menos exigentes do que seria de supor? Ou ainda porque a democracia está mais distorcida do que nunca, com a oposição tonta e frouxa do PSD e do CDS? Ou só porque o beija-mão abençoador do Papa Francisco os livrou do fogo do inferno?

A verdade é que o senhor presidente da República e o senhor primeiro-ministro irradiam felicidade. Poderá ser apenas encenação, obra de analistas e comentadores sabichões que com duas ou três notícias positivas constroem um país cor-de-rosa, fazendo passar a ideia de que é tudo obra do actual governo quando, como é óbvio, o aumento das exportações e o correspondente crescimento da economia não resultaram de medidas governativas. Os resultados até poderiam ser ao contrário, independentemente da bondade das actuais políticas, estando agora o governo a tirar o cavalinho da chuva.

A verdade é que nem a dívida pública, nem a emigração, nem as assimetrias regionais, nem a taxa de pobreza, nem o crédito mal parado, nem os deprimentes indicadores socioeconómicos, com destaque para os educacionais, que continuam a colocar Portugal lá para as bandas do Terceiro Mundo, para não citar o défice demográfico que indicia o desaparecimento de Portugal, a prazo, levam o senhor presidente da República e o senhor primeiro-ministro a franzir o cenho e a baixar o tom da música.

Mas será que a maioria dos portugueses, incluindo os mais de dois milhões e meio que vivem abaixo do limiar da pobreza, todos os que andam derreados pelo fardo dos impostos e os muitos que continuam a ser constrangidos a emigrar comungam do mesmo optimismo?

Ou será que desconfiam (gato escaldado da água fria tem medo!) que esta alegria momentânea terminará logo após as próximas eleições legislativas, com o povo, classe média em especial, a ter que fazer face a uma nova crise?

Salvador Sobral, o inesperado vencedor do Festival da Eurovisão surgiu no momento mais asado convidando os portugueses a amar pelos dois, isto é, pelo presidente da República e pelo primeiro-ministro. Nem de propósito! Só foi pena que quando foi recebido na Assembleia da República não tenha cantado a música vencedora aos deputados.

 Proponho, por isso, que o próximo Festival da Eurovisão tenha lugar no palácio de São Bento. E que os representantes de Portugal sejam o senhor presidente da República e o senhor primeiro-ministro cantando a rábula “Senhor Feliz e senhor contente”. Com a “Geringonça” como coro, claro está. Auguro o maior sucesso. Será mesmo a apoteose do regime.

Post scriptum: Algum bicho lhes mordeu. Agora que Portugal deixou o Procedimento por Défice Excessivo quer o senhor presidente da República quer o senhor primeiro-ministro denotam, nos seus discursos, também terem posto de lado o Procedimento por Optimismo Excessivo. Oxalá não seja sol de pouca dura.

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Qual discriminação, qual carapuça!

Discriminação é uma palavra feia. Por isso os políticos a adjectivam de “positiva” quando tratam as assimetrias regionais que resultam, principalmente, da relapsa subalternização das terras do interior.
Embora outros factores menores haja a considerar e que, por isso mesmo, requerem iniciativas governamentais justas e patrióticas e não a governança irresponsável, tão-somente ao sabor do capital e da demagogia eleitoralista, essa sim a verdadeira causa da concentração massiva de populações no litoral, e o consequente ermamento do interior, a que os políticos também chamam “desertificação”, para iludir o problema, como se a culpa fosse do clima.
É interessante que, nesta matéria, contrariamente ao que acontece com os comuns pobrezinhos, não se ouve falar de regiões “menos favorecidas”, o que é significativo, porque há regiões, como Lisboa e Porto que são escandalosamente privilegiadas, o que descredibiliza os governantes, e porque Trás-os-Montes, por exemplo, não é uma região pobre e antes possui consideráveis recursos naturais, e inexploradas potencialidades agrícolas, turísticas e humanas.
O discurso da discriminação positiva é, portanto, falacioso e racista, apesar dos transmontanos terem a mesma cor de pele que os lisboetas ou os portuenses, embora sejam, regra geral, mais rosados, por causa do ar puro e da superior qualidade das comidas e das bebidas.
Ainda que não sejam portugueses de segunda, os transmontanos são tratados como tal por muitos políticos, particularmente por todos que sistematicamente preconizam a fantasiosa “discriminação positiva”. Porque entendem que os transmontanos devem ser, por isso mesmo, ajudados ou esmolados. E donde resulta que os transmontanos acabam sempre por ser ironicamente amolados.
Trás-os-Montes e os transmontanos, porém, não precisam nem de esmolas nem de favores, de descontos mixurucos em certos impostos, inutilmente para aliciar empresas a instalar-se na região, ou para tornar certos produtos mais competitivos, ou de bónus inócuos a casais para procriarem como coelhos, muito menos de bonitos discursos de circunstancia, entre duas garfadas de alheiras e grelos em paga da legendária hospitalidade transmontana que, hoje em dia, também serve para encobrir muito regabofe custeado pelos municípios.
Trás-os-Montes e os transmontanos precisam, bem pelo contrário, de projectos e investimentos com dimensão, escala e consequência que, em princípio, compete à Administração Central promover e financiar mas cuja ausência nada abona em favor dos poderes locais.
Como é o caso de um abrangente projecto de rega integrado da Terra Quente, destinado a valorizar uma vastíssima e fértil região agrícola, potenciando múltiplos empreendimentos e negócios, designadamente nos domínios do turismo, lazer e cultura. Projecto que, além do mais, não tem que ter o gigantismo do Alqueva.
Ou de um apropriado e consequente programa de recuperação para fins hoteleiros, culturais ou mesmo de administração pública, das centenas de palacetes, com história, que se desfazem em ruínas em todas as aldeias transmontanas.
Descriminação positiva cheira a esmola, portanto. E é um logro.

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.