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Henrique Pedro

Arte de Costa e graça de Marcelo

Portugal tem um Presidente da República que foi eleito à primeira volta com 52 % dos votos entrados nas urnas, ainda que apenas 24,75 % do eleitorado lhe tenha dado crédito, sendo que 51,34 % se absteve.
Não é desse que falo.
Refiro-me a um santo homem, anjo da guarda de António Costa, o político sagaz que ousou pôr a Geringonça a funcionar e com ela surfar as ondas de feição.
António Costa, consagrado ilusionista que encanta camelos e serpentes sem se deixar morder, caminha descalço sobre brasas incandescente sem se queimar, engole sapos e espadas sem se agoniar e, com um estalar de dedos, converteu o Estado numa agência socialista familiar.
Hábil político palaciano, sem dúvida, mas governante inábil, como ficou demonstrado nos roubos de paióis, nos incêndios florestais, nos escândalos governamentais, nas greves dos professores e dos enfermeiros e agora na dos camionistas em que, mais uma vez, foram os ministros a dar a cara (e uma no cravo e outra na ferradura), sendo altamente preocupante constatar que o PS não resiste à tentação totalitária que cresce no ventre da maioria absoluta.
Também porque o feito maior de António Costa depois da Geringonça foi converter à sua doutrina, promovendo-o a guardião mor da sua capelinha, o santo homem Marcelo, em tempos um brilhante analista político agora transfigurado em avalista governamental. 
É São Marcelo que, com sandálias de peregrino e rosários de selfies na mão, incansavelmente calcorreia Portugal de lés a lés, aplaudindo os melhores truques do mágico Costa e silenciando os seus fracassos mais estrondosos. 
São Marcelo que contemporiza com o descalabro da Justiça nos processos de corrupção, desobstrói as veredas sinuosas que conduzem a extrema-esquerda ao poder, exorciza os diabos da direita moribunda (de cujo alforge esfarrapado ele mesmo, um dia, caiu desamparado) e, por reflexo, franqueia o palco à extrema-direita, convicto de que assegura a estabilidade política varrendo o lixo do Regime para debaixo do tapete.
São Marcelo, padroeiro do Regime em que pontificam traidores da Nação e cujo maior ferrete é a política de alterne, mascarada de alternância democrática, agora em vias de acabar, embora o negócio continue florescente e sem concorrência. 
Quando nenhum serviço público funciona como deveria São Marcelo tudo abençoa com a água benta e a presunção que António Costa toma quanta quer.
Se os portugueses se queixam da Saúde lá está São Marcelo para dourar a pílula. Se há problemas no Ensino apressa-se São Marcelo a virar os professores contra a parede. Se a Segurança Interna derrapa de pronto São Marcelo desautoriza os polícias.
São Marcelo que frequentemente mete o nariz onde não é chamado, embora, quando lhe convém, meta o rabo entre as pernas.
Qual cana que brada no deserto democrático é escutado por multidões embevecidas, como se de Quim Barreiro ou de António Variações se tratasse, indiferente ao descalabro do Estado e ao descrédito do Regime, que continua partido e engessado.
Paradoxalmente, os portugueses andam felizes mas descontentes. 
Arte de Costa e graça de Marcelo. 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Um País indefeso

A engrossar o já extenso rol de queixas e lamúrias que continuam a abater-se sobre o Governo, veio agora a público, gaba-se-lhe o atrevimento, o almirante Silva Ribeiro, Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, topo da hierarquia militar.

Entre outras coisas de interesse nacional, Silva Ribeiro disse que “ o Exército tem carência de 4 mil praças ”, caceteando João Cravinho, ministro da Defesa que, enchouriçado, se apressou a desautorizar publicamente o almirante amotinado.

Silva Ribeiro, porém, podia e devia ter dito muito mais, fosse ou não inconveniente para o Governo e para ele próprio também, designadamente que as Forças Armadas nacionais têm soldados a menos e generais a mais.

Devia, se para tanto tivesse rasgo, ter posto em causa o utópico Conceito Estratégico de Defesa Nacional vigente, (do qual decorrem o Conceito Estratégico de Defesa Militar, o Sistema de Forças e suas Missões, bem como o Dispositivo Territorial), que privilegia Forças Armadas convencionais, permanentes, excessivas e enviesadas, ignorando a exiguidade do Território, o virtuosismo da Nação e a penúria do País.

E podia ter ido mais longe, ainda, dando a conhecer à Nação, o que só lhe ficaria bem, que Portugal é, faz tempo, um país indefeso e que vai continuar a sê-lo nas próximas décadas. Depois se verá!

Evidência que não foi comprovada, felizmente, por episódios de guerra recentes, mas ninguém poderá garantir que não venha a sê-lo, ainda que não se deseje. Porque, como é sabido, os conflitos militares acontecem quando menos se espera, enquanto a organização e a preparação para a guerra requerem décadas de antecedência. Sem esquecer a consagrada divisa latina atribuída ao romano Flávio Vegécio :“Si vis pacem, para bellum” (“se queres a paz, prepara-te para a guerra”), que continua a ter plena actualidade.

Portugal é um país indefeso, seja a ameaça militar ou dos elementos. Não é indefensável, porém, se a sua defesa for atribuída à Nação. Se todos os cidadãos de maior idade, com condições de saúde, independentemente do género, estiverem aptos a usar armas em defesa do país, devendo para tanto receber a adequada preparação e treino militares regularmente e em tempos livres, o que nada tem a ver com o tradicional serviço militar obrigatório.

À semelhança da República Suíça, exemplo por demais conhecido, que não possui forças armadas regulares, antes baseia a sua defesa terrestre numa milícia composta por todos os cidadãos de sexo masculino com idades compreendidas entre os 20 e os 42 anos, com os militares de carreira reduzidos a um pequeno núcleo de não mais de 1000, aos quais estão atribuídas as missões de treinar os milicianos e de assegurar o comando nos escalões superiores.

Modelo que possibilita que a República Suíça, que tem uma população de pouco mais de 7 milhões, mobilize, em menos de 48 horas, mais de 200 000 mil militares, devidamente equipados, armados e treinados, o que é impensável com o modelo português em apreço.

É óbvio que os desafios que hoje se colocam à Proteção Civil, designadamente os incêndios florestais, teriam soluções bem mais económicas, transparentes e eficientes.

Para lá de que os custos de implementação deste conceito de defesa de inspiração suíça seriam bem menores do que os requeridos para o Conceito Estratégico de Defesa Nacional português em vigor, que não será viável nos tempos mais próximos.

Se é que algum dia o virá a ser.

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

 

Destruindo a Democracia democraticamente

A quatro meses de novo acto eleitoral a demagogia eleitoralista já é avassaladora. Persistem em destruir a Democracia (e Portugal), democraticamente. Prioritário, é endrominar o povo e arrebanhar votos.

No derradeiro debate da legislatura, Governo e deputados discutiram entre si e com mais ninguém, o monstro político, económico e financeiro que tomam por Nação, sendo que o futuro do País não constou da ordem do dia.

Uns e outros entenderam não distinguir o Estado da Nação e intencionalmente confundiram Sistema Democrático com Regime político. Um esquema bem urdido, como se vê.

Convém lembrar-lhes que os portugueses sabem que um Estado, soberano, pressupõe um povo, um território e um governo responsável pela organização e pela administração política, económica e social. E, já agora, com suficiente poder legítimo para fazer cumprir as leis e não só.

Já a Nação é universalmente entendida como uma comunidade estável, que possui Historia e Língua próprias e, acima de tudo, aspirações materiais e espirituais comuns. Uma Nação poderá não ter governo nem território próprio mas um Estado tem que ter, forçosamente, uma Nação. O Estado português assenta numa Nação com História e dignidade.

A Democracia, por seu lado, é um sistema político em que, no mínimo, há separação de poderes e os cidadãos elegem, livremente, os seus representantes nos órgãos de poder.

A democracia não elege ditadores mas poderá eleger demagogos e corruptos, o que vai dar ao mesmo, dado que poderá concertar-se em regimes políticos de duvidosa democraticidade, como é o caso português.

Na Assembleia da República, mais uma vez, não se debateu o estado da Nação em particular e muito menos o estado do Estado, em sentido lato.

Aos deputados não lhes interessou analisar, com seriedade, a situação da Nação porque teriam que evidenciar o abandono preocupante da Língua Pátria, a pobreza da cultura e da arte nacionais, a degradante educação cívica, a emigração dramática, o inquietante envelhecimento populacional, o persistente desinteresse dos portugueses pelos actos eleitorais ou o prestígio vergonhoso dos políticos e, sobretudo, os milhares de cidadãos que vivem abaixo do limiar da pobreza. Matérias que não lhes tiram o sono porque não rendem votos.

Também não lhes interessou falar no deficiente regime político porque teriam que se auto responsabilizar pela corrupção, pela asfixiante hegemonia partidária, pela obtusa lei eleitoral e por muitas outras ruindades. Astuciosamente limitaram-se a baralhar números e a tornar a dar como se a democracia fosse um jogo de sorte e de azar em que apenas o poder está em jogo.

Portugal está um poucochinho melhor, é certo, mas muito longe de estar bem, o que não iliba o Governo de fiascos a toda a linha. Tanto assim é que os serviços públicos vitais continuam a não responder convenientemente e quando aconteceram tragédias foi a solidariedade nacional que valeu mas acabou defraudada.

Pior mesmo só se António Costa ganhar as próximas legislativas com maioria absoluta: a Democracia ficará mais emaranhada, a Justiça mais entorpecida e o Governo mais perigosamente familiar.

 E Portugal mais próximo do abismo da dívida pública.

 

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

O míssil GRECO

Um novo míssil radioactivo de vergonha e humilhação acaba de ser lançado sobre o palácio de S. Bento, coração da Assembleia da República e do Governo, abalando fortemente os pilares do Regime. 
Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, e todos os deputados sem excepção, saltaram nas cadeiras com o sopro, sendo de prever que nas próximas sessões apareçam pintalgados de mercurocromo, a marca da Geringonça, e enfaixados com inócuos diplomas anticorrupção. 
Particularmente  mal  tratado  ficou  o  seu  vizinho e  correligionário,  o  primeiro-ministro  António  Costa,  que,  atordoado,  se  manteve  mudo  e  quedo  para não agravar mais a situação.
Tal foi a amplitude do abalo que se fez sentir no próprio palácio de Belém, deixando o beijoqueiro Marcelo Rebelo de Sousa seriamente chamuscado e sem fala. Tanto assim é que, distante do povo que apaparica com abraços e beijos, ao ser interpelado pela deputada espanhola Melisa Rodriguez, (que na pessoa do Presidente da República claramente humilhou todo o Estado português,) não conseguiu disfarçar as mossas que a bomba lhe causou. 
Que fique bem claro, porém, que a organização responsável pela deflagração não é nenhum movimento terrorista ou sequer populista. Bem pelo contrário: trata-se do Grupo de Estados contra a Corrupção (GRECO), do Conselho Europeu, que tem por missão melhorar a capacidade dos seus membros na luta contra a corrupção. 
Organismo que acaba de tornar público um relatório que estilhaça a competência e a seriedade dos políticos portugueses já que refere que, em dois anos, das 15 recomendações para que Portugal reduzisse os riscos de corrupção, apenas uma foi completamente implementada, três apenas o foram parcialmente, restando onze por implementar. 
Relatório que qualifica o regime político português ainda pior que o da Turquia (pasme-se!), quando todos pensávamos que estava mais próximo da Suíça ou da Islândia. Uma vergonha inqualificável. 
Relatório que reforça palavras recentes de Ramalho Eanes, prestigiado ex-Presidente da República, sobre a corrupção e dá crédito à opinião da não menos prestigiada ex-Procuradora Geral da República, Joana Marques Vidal, que afirmou publicamente haver “redes que capturaram o Estado”.
Perante tão evidente opressão, não seria de espantar se um qualquer partido genuinamente de esquerda se propusesse libertar a Nação por meios radicais, ou mesmo se um mais sentido “capitão de abril” tomasse a iniciativa de marchar sobre S. Bento. Tal seria excessivo, em qualquer caso. O mesmo se não diria se o Presidente da República dissolve-se a Assembleia.
 Marcelo Rebelo de Sousa, porém, fica-se pelas habituais considerações abnóxias para não perturbar o arraial e nem ao menos tem o rasgo de dirigir uma mensagem inequívoca e perentória à Assembleia da República, que é uma sua prorrogativa fundamental.
Não é de admirar, portanto, que António Costa, que por todos os meios tem tentado resgatar os fantasmas do governo Sócrates de que fez parte, embalado pela desgraça do PSD e confiante na atávica credulidade dos portugueses, esteja de novo a apostar na maioria absoluta. 
Que Nossa Senhora de Fátima afaste dos portugueses tal cálice!

Este texto não se conforma com o novo Acordo
Ortográfico.

A Assembleia da República dos Animais

Não é, sequer, o exemplo mais significativo: entre 1987, data das primeiras eleições europeias e 2019, ano das mais recentes, a abstenção saltou de 28% para 70%, o que indicia um claro e continuado fracasso do Regime político vigente. Por este andar apenas os militantes partidários e demais arregimentados, irão votar.

Trata-se de um sapo que os políticos continuam a engolir sem pestanejar, que lhes retira autoridade para representar quem quer que seja e governar seja lá o que for, mas não os demove da vidinha alegre e airada que a política lhes proporciona. A maioria sente-se como peixe na água pelo que, a coberto da mítica estabilidade política, se devota a garantir que tudo continue como está. Marcelo Rebelo de Sousa é um deles.

Enquanto Presidente da República incitou, sem êxito, os portugueses a ir às urnas, mas no rescaldo de mais este estrondoso desaire da democracia apenas se declarou preocupado com a hipotética crise da Direita. O que nos leva a pensar que para Marcelo de Sousa os abstencionistas são de Direita e que as demais desgraças do Regime, assim como o descalabro da generalidade dos serviços públicos, não merecem a atenção do Presidente da República. Ficamos sem saber se é o analista político que opina se o estadista que se demite.

Como se isto não bastasse Marcelo de Sousa reduz a Direita ao PSD, este sim claramente em queda, e ao CDS que está como sempre esteve, mas esquece que o PS, cuja vitória, nas próximas eleições legislativas inoportunamente augurou, também é de direita desde que Mário Soares meteu o socialismo na gaveta, pese embora António Costa, em desespero de causa, se ter concertado com Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, que por sua vez atiraram os pruridos ideológicos às urtigas, para juntos pedalarem furiosamente pelas autoestradas do capitalismo, montados na Geringonça.

No decorrer desta patriótica refrega Rui Rio veio a terreiro discordar do analista Marcelo de Sousa argumentando que a crise é do Regime. Não deixa de ter razão ainda que as aflições do PSD nada tenham a ver com as maleitas da democracia.

Pena é que o inefável líder do PSD não tenha tido tino para apresentar publicamente, aos eleitores e aos competidores, um pacote completo de reformas contemplando, por exemplo, as candidaturas independentes à Assembleia da República, já que a constituição de novos partidos apenas parece servir aos trânsfugas dos partidos tradicionais. Lamentavelmente, ficou-se pela ideia peregrina, avulsa, de reservar cadeiras vazias no Parlamento. Caiu no ridículo pois então.

 Imagine-se uma Assembleia em que os deputados debatem com cadeiras desocupadas, poiso de fantasmas, que não são de esquerda ou de direita, nem votam a favor ou contra. Melhor avisado teria andado Rui Rio se nas cadeiras vazias sentasse animais, antes que o PAN se apodere da iniciativa.

Teríamos assim uma Assembleia da República surrealista, maioritariamente composta por animais políticos, digníssimos cães, gatos e jumentos, entre outros, devidamente amestrados para ornear delicadamente, levantar a patinha e votar.

Perante tanta tontaria só apetece mesmo sair à rua e gritar: candidaturas independes à Assembleia da República. Já!

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Apita o comboio, lá vai a apitar…

Não são os toques de buzina do barco nem os apitos do comboio do Tua que incomodam os transmontanos. É o ruído ensurdecedor da notícia de que já não arrancam no presente ano como fora prometido, havendo mesmo receios de que tal possa não acontecer nos tempos mais próximos.

Jornais e rádios regionais deram o devido ênfase a tão frustrante notícia cujo eco ressoou por montes e vales e principalmente nos corações mirandelenses. As redes sociais regurgitaram de comentários sarcásticos e as conversas, públicas e privadas, carregados de azedume e ironia, foram mais que muitas. O caso não é para menos porquanto, quando já se esperavam turistas a rodos, um rio de desilusão tomou o seu lugar.

Pedro Marques, então ministro do Planeamento, veio a Vila Flor e Mirandela abrilhantar, agora melhor se vê com propósitos meramente eleitoralistas, a assinatura dos papéis relativos a tão prometedor empreendimento, que era suposto garantir a tradicional mobilidade das populações por via ferroviária e abrir portas ao desenvolvimento regional, como nunca se vira, pela via do turismo.

O mais certo é o ministro Pedro Marques ter deixado, por esquecimento ou premeditada intenção, alguns papéis por assinar talvez para que também o primeiro-ministro António Costa, ou alguém por ele, tenha o ensejo de vir pôr o preto no branco, ou novamente no cinzento, com igual pompa e circunstância, agora em vésperas das eleições legislativas.

O carinho que António Costa diz votar ao Interior em geral e a Trás-os-Montes em especial é, de facto enternecedor. Dir-se-ia mesmo, uma verdadeira canção de embalar.

O problema, porém, não se confina ao enguiçado Vale do Tua. Tem dimensão regional e ganha agora acrescida relevância histórica porquanto tem a ver já não apenas com o ermamento crónico das Terras de Trás-os-Montes cada vez mais despovoadas, mas com a desertificação real que começa a ganhar foros de aflição.

Confirma-o a Associação Natureza Portugal, representante do Fundo Mundial para a Natureza que recentemente alertou políticos, empresas e cidadãos para o facto provado de que Portugal já está “a viver além da água que tem”.

No caso particular de Trás-os-Montes, a águas dos seus rios, que durante milénios correram livremente para o mar apenas condicionadas por moinhos e azenhas e pela rega, à míngua, de hortas e pomares, inunda agora cofres chineses com os lucros da energia com ela produzida, depois que foi aprisionada pelas barragens da EDP. Fala-se até que, a prazo, projectarão vender a litro este recurso fundamental, também àqueles que sempre dela usufruíram livremente, pese embora os perigos de desertificação serem agora reais.

Talvez este governo mágico e os que se lhe seguirem, pensem colocar beduínos e camelos a deambular, pachorrentos, nas areias nordestinas e hipopótamos e crocodilos nas albufeiras remanescentes, à laia de chamarizes turísticos.

Ironia à parte, urge proteger, armazenar e distribuir as águas transmontanas de forma mais ampla, eficaz e justa, sem esquecer que pertencem, prioritariamente, às populações residentes.

Que as sacholadas do passado penoso não dêem lugar a revoltas populares no futuro sombrio.

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Roubar o Estado não é crime, é serviço público

A corrupção é porca de muitos leitões que chafurdam nas pocilgas partidárias, em pântanos de perfume e falsidade, de bem vestir e melhor viver.

Veio agora à tona uma nova porcada, a das autoestradas, em que estarão indiciados cinco membros do governo Sócrates que inadvertidamente terão caído nas malhas de pesca artesanal do Ministério Público.

Entretanto o país assistiu, mais divertido do que sério, à representação do reputado comediante Joe Berardo na Assembleia da República que, na opinião de conceituados analistas, teve a colaboração eventualmente dolosa de altos dignitários, pelo que terá muito mais que dizer e que se lhe diga, o que também explica o seu riso galhofeiro e ter feito gato-sapato das inocentes deputadas inquiridoras.

Este despropósito de Joe Berardo poderá custar-lhe, nada mais que isso, a perda das comendas com que foi agraciado por dois excelsos presidentes da República vigente. Mera cosmética, contudo, com que pretendem agora limpar a face do Regime.

Enfim. Mais uma vez a casa da democracia a funcionar como caixa-de-ressonância das misérias do Regime que nela se alberga e que muitos continuam a taxar de democrático e a relacionar com o 25 de Abril quando, verdade seja dita, nada tem a ver uma coisa com a outra.

Consagra-se, isso sim, o lema da mal-afamada elite política lusitana: Roubar o Estado não é crime, é serviço público.

Entretanto o presidente da República Marcelo de Sousa apelou encarecidamente, mais uma vez, ao voto e alertou para os riscos dos populismos, embora sem esclarecer a quais deles se refere, se ao de esquerda, se ao de direita, se ao do poder instalado que é o pior de todos porque é pai de todos os demais.

Caso para perguntar: Portugal é o que é e os políticos são o que são só porque os portugueses se abstêm de votar, ou será que os portugueses se abstêm porque os políticos são o que são e a democracia portuguesa é o que é?

A verdade é que os portugueses têm feito uso do voto válido de forma pouco sábia, raramente do voto nulo e do voto em branco, os mais devotos do voto a Nossa Senhora de Fátima para que salve Portugal dos maus governantes e maioritariamente do voto por abstenção, perfeitamente legal contrariamente ao voto obrigatório que seria um atentado à liberdade individual, se tal viesse a ser deliberado.

Imagine-se o que seria retirar aos digníssimos deputados da Assembleia da República a faculdade de se absterem, obrigando-os a votar ou sim ou não fosse em que circunstâncias fosse!

Querem agora fazer-nos crer que o Estado está finalmente a ser gerido com rigor, que o País progride a todo o vapor, que a Democracia não fraqueja, que a corrupção já passou e que todos os corruptos estão ser meticulosamente julgados.

Nada mais falso. A corrupção, que é mãe da abstenção e avó do populismo de que a democracia portuguesa anda grávida e está prestes a dar luz, é cada vez maior e mais sofisticada, a impunidade prevalece mas os políticos dão a entender que assim é que deve ser.

O voto só terá bondade, sentido e força se for capaz de forçar a real democratização do Regime.

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Até ao lavar dos cestos é vindima

O léxico político português está repleto de nome feios tais como aldrabão, farsante, chantagista e outros da mesma laia.

Todavia, rotular um político ganhador, que não é a mesma coisa que vencedor, com tais etiquetas é uma desnecessária necessidade porquanto o visado se ri dos adversários, interiormente

quando o não faz publicamente.

Poderá ser o caso de António Costa que acaba de alcançar alargado sucesso político com o desfecho da crise que ele próprio provocou a propósito da contagem integral do tempo de serviço dos professores e que lhe valeu adjectivos nada simpáticos dos seus opositores. Ainda mal a vitória se consumava já ele contra-atacava com o cinismo e a arrogância que são seu timbre.

Esta vitória política de António Costa é, de facto, marcante. Está na justa proporção da inépcia dos seus oponentes, incluídos os seus extremosos parceiros da Geringonça, desde a primeira hora transformada numa pandeireta dos festejos governamentais.

À Catarina Martins, António Costa, apagou-lhe as luzes da ribalta e pô-la a fazer teatro de rua. Ao Jerónimo de Sousa deixou-o só e triste, na travessa do Fala Só onde parece morar definitivamente o Partido Comunista português. Ao Rui Rio acordou-o, sarapantado, como se lhe tivesse estourado um pacote de farinha Amparo na cabeça. À Assunção Cristas mandou-a dar uma volta ao bilhar grande. Ao Mário Nogueira congelou-lhe não só o tempo de serviço mas também a ambição de ser o grande líder da extrema-esquerda revolucionária que, com o PCP e o Bloco de Esquerda, continua a ver em Cuba, na Coreia do Norte e mesmo na Venezuela, um modelo de sociedade. Até ao próprio Marcelo Rebelo de Sousa lhe meteu uma rolha na boca, faltando saber se o não terá definitivamente enfiado numa camisa-de-forças.

Esta não é, porém, a primeira vitória política em que António Costa se transfigurou no carrasco traiçoeiro dos seus adversários, não sendo necessário sequer recuar ao episódio em que defrontou o correligionário José Seguro. Mas é a primeira em que ameaçou demitir-se.

Nas demais situações perdeu estrondosamente mas foi suficientemente hábil para transformar a derrota em vitória. Deveria ter-se demitido quando perdeu as eleições para Passos Coelho mas não o fez e venceu. Deveria ter sido demitido na tragédia dos incêndios e no assalto a Tancos, mas não o foi e acabou por sair por cima. Só agora o fez porque sabia que os seus principais adversários são ineptos e pusilânimes e que seriam eles a demitirem-se primeiro dos seus propósitos.

Um grande equívoco, porém, subsiste nesta vitória passageira de António Costa e a que raros analistas deram o devido realce: o verdadeiro ganhador é Mário Centeno, a iminência parda do governo, ministro das finanças e presidente do Eurogrupo, que meteu os pés à parede e forçou o primeiro-ministro a montar o circo político que se viu.

Falta saber se a assistência gostou do espectáculo. A prova dos nove é já no próximo dia 26, data das eleições europeias. A prova real virá mais tarde, lá mais para o Outono. Só então se saberá quem ri melhor porque será o último a rir.

Até ao lavar dos cestos é vindima.

Ai se a estrelinha de Mário Centeno se apaga!

A estrela maior da Geringonça que, como se sabe, é uma coligação desconchavada, pouco fiável, embora funcional, constituída pelo Partido Socialista, de centro-direita e pelos seus satélites de extrema-esquerda (Partido Comunista, Bloco de Esquerda e Os Verdes), é Mário Centeno, ministro das finanças de Portugal que acumula com o cargo de presidente do Eurogrupo. Estrela que começou a luzir, pequenina, ao cair da tarde, quando o governo de Passos Coelho entrou no ocaso e foi aumentando de brilho até se transfigurar num pequeno sol.

De facto, é a estrela Mário Centeno que ilumina o governo da Geringonça desde que anunciou a boa nova do fim da austeridade, na alvorada duma inédita governança de esquerda. Só outra estrela, composta de ininterruptos flashes de selfies, que cintila nos céus de Belém, se lhe compara.

Ao invés a estrela meã do primeiro-ministro António Costa foi-se desvanecendo nas trevas de sucessivas tragédias, escândalos e crises, entrando em eclipse total com a recente interposição dum buraco negro partidário centrado na deslumbrada família socialista governamental.

Não admira, portanto, que assalariados, pensionistas e demais bafejados pela sorte inesperada, cedo tenham começado a incensar o ministro Centeno, a tal ponto que a maioria absoluta do partido Socialista foi, durante longos e luminosos dias, um dado adquirido.

O talentoso e sortudo ministro Mário Centeno teve o condão e o mérito de esmagar sistematicamente os melhores argumentos da inteligência financeira, economicista e política nacional e internacional, para gáudio do próprio primeiro-ministro António Costa que esfregava as mãos de contente e impava de vanglória.

Enquanto Rui Rio, seu principal opositor (ou parceiro, mais tarde se verá!) arengava aos peixes no deserto, a inefável Assunção Cristas se diluía em bravatas com António Costa e Jerónimo de Sousa e Catarina Martins, famintos de poder, se lambuzavam sofregamente com as migalhas da mesa do orçamento.

E assim foi que o taumaturgo Mário Centeno, à luz da doutrina oficial que estabelece que tudo o que de bom tem acontecido à economia nacional nos últimos tempos se lhe deve, se converteu num herói (como há poucos), num Salazar democrático (update do original).

Mário Centeno que, espicaçado pelos fariseus do PCP e do BE, com o seu sorriso afável abençoa o pão e os peixes e os multiplica para saciar as multidões esfaimadas, num ágape alucinogénio à base de pescadinhas de rabo na boca e arroz malandrinho.

É com estupefacção, portanto, que os portugueses constatam que a economia nacional não vai assim tão bem quanto Costa e Centeno fazem crer, agora que as condicionantes conjunturais externas dão sinais de não serem as mais favoráveis.

A austeridade aliviou, mas poucochinho, a dívida pública continua a ser uma bomba em potência, a economia faz que anda mas desanda e a governança socialista é um regalo. Ponto final.

Mário Centeno, hábil a baralhar e a tornar a dar, vê agora a sua estrelinha empalidecer. Resta aos portugueses fazer figas e manguitos para que não se apague de todo.

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Portuguesas e portugueses, indignai-vos!

O calendário eleitoral de 2019 contempla eleições para o Parlamento Europeu, a 26 de Maio e para a Assembleia da República a 6 de Outubro. Entrementes acontecerão as regionais da Madeira, a 22 de Setembro.

De acordo com a lei em vigor os actos eleitorais são precedidos por vistosas campanhas preambulares com datas e durações estabelecidas para que os partidos concorrentes possam mostrar a bondade dos seus programas e dissimular as suas maldades. Tal não obsta, porém, a que os portugueses sejam permanentemente massacrados por campanhas extemporâneas, conduzidas, sobretudo, pelas forças no poder.

E não é por acaso que o conhecido adágio “em tempo de guerra, mentiras por mar, mentiras por terra”, foi entretanto adaptado pelo povo para “em tempo de eleições as mentiras são aos montões”. Isto muito diz dos governantes e afins, vulgo “políticos”, que sobranceiramente servem a Nação com mentiras e mais mentiras.

Os políticos, porém, não se ficam pelos discursos. Não se limitam a mentir, portanto. Vão mais além. Também competem, destemidos, nos campeonatos nacionais do compadrio, do nepotismo, do peculato, da promiscuidade com banqueiros e capitalistas e da corrupção genericamente entendida, que parece não mais ter fim (*).

Na ordem do dia estão as excessivas e injustificadas nomeações de familiares e amigos para bem remunerados cargos públicos, com Portugal a ser objecto da chacota internacional, embora o fenómeno só agora tenha sido tornado público. É quando se zangam as comadres que se descobrem as verdades. Dessas coisas percebe o povo.

O que também explica que os escândalos maiores apenas sejam conhecidos, por norma, em tempo de campanha eleitoral quando os políticos lutam pela sua sobrevivência. Fora dela optam por ser politicamente correctos e encobrirem-se uns aos outros. Aqui o adágio deve ser lido ao contrário: quem mama não chora.

Entretanto, o Presidente da República declarou, sem pompa nem circunstância, que a ética poderá não bastar (haverá vergonha maior?!) para evitar tais delitos, mas que a lei pode ser facilmente atamancada. Já o Primeiro-ministro tentou tapar o sol com uma peneira defendendo uma urgente e peripatética revisão da mesma lei (o golpe está a doer-lhe fundo, como se vê).

 Mais fácil seria pôr um polícia atrás de cada político para lhe cobrir as costas e lhe encobrir a face já que a alma, essa, ninguém sabe em que águas de ética se banha. Presidente da República e Primeiro-ministro, desde sempre em tolerante cumplicidade, procuram apenas salvar a face e bendizer o Regime com discursos de oportunidade, inconsequentes.

Lamentável é que os portugueses apenas reclamem melhores salários e mais dias de férias quando deveriam, isso sim, aproveitar os actos eleitorais para dar um murro na mesa de voto e exigir que os políticos, de uma vez por todas, ganhem vergonha na cara e parem de desgraçar o Estado e de defraudar a Nação. Quem não se indigna nem se sente não é filho de boa gente.

Portuguesas e portugueses, indignai-vos, porra!

 

(*) O meu respeito para aqueles a quem não serve o barrete.

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.