class="html not-front not-logged-in one-sidebar sidebar-second page-taxonomy page-taxonomy-term page-taxonomy-term- page-taxonomy-term-94">

            

Henrique Pedro

A maior de todas as crises

Os nossos políticos são o máximo. Ainda mais que os treinadores de futebol. Senão veja-se o caso do primeiro-ministro que perdeu as eleições mas, mesmo assim, ousou montar um governo numa geringonça que trouxe estabilidade política ao país e deu novo fôlego à prevalecente crise económica e social, tornando-a suportável, mas da qual continuamos sem saber quem é o verdadeiro pai, tantos eles são.

Ainda melhor: a geringonça inventada pelo genial António Costa, que bem mereceria o prémio Nobel da política se tal prémio houvesse, é a verdadeira varinha de condão com a qual o governo opera os milagres da multiplicação dos pães e da transformação das rosas, que é como quem diz, distribui esmolas de miséria aos mais pobres, pingues prendas aos mais ricos e mordomias aos da cor.

Aos demais, ao granel a que se convencionou chamar classe média, não beneficia de igual forma já que estes continuam a ser explorados e mal servidos pelo Estado, embora andem de barriga cheia, graças a Deus, e se divirtam o suficiente para se sentirem felizes e contentes.

Um mal maior, porém, que é como que um “fogo que arde sem se ver, uma ferida que dói, e não se sente” (como diria o imortal Luís de Camões, não falando eu do amor mas do infortúnio da Pátria) vai continuar a minar silenciosamente a sociedade portuguesa até causar o colapso definitivo do Estado e o fim da Nação. É a maior de todas as crises.

Os alertas são muitos e diversificados mas os sucessivos governos continuam a não lhe dar a importância que merece. Trata-se do sistémico decrescimento da população e correlativo envelhecimento da Nação.

Resumindo: os portugueses são cada vez menos, estão cada vez mais velhos e morrem cada vez mais. São tão poucos que o pequeno território já parece demasiado grande para tão pouca gente. E, o que é mais grave, cada vez se concentram mais nas metrópoles litorais.

Já lá vai o tempo em que as famílias portuguesas produziam filhos em quantidade e com qualidade suficiente para as necessidades do país, para arrotear os campos e dar vida às aldeias, vilas e cidades e ainda sobravam para exportar.

Entretanto já muitos autorizados diagnósticos foram feitos para esta doença fatal da Nação. Há quatro anos, com o patrocínio do governo Passos Coelho, uma competente comissão independente elaborou um estudo cientificamente validado que deve ter ficado esquecido, penso eu, numa qualquer gaveta ministerial.

Mais recentemente, o actual líder do PSD tornou pública uma séria abordagem política do fenómeno mas que, tudo o leva a crer, não passará de mais um apelativo exercício de estratégia partidária.

Mais relevante, ainda assim, é a opinião do actual primeiro-ministro que afirmou, no último congresso do seu partido, que os imigrantes são a solução, como já o havia feito para os incêndios florestais e que deu no que deu.

Esperemos que não tenha agora em mente despejar em terras de Trás-os-Montes milhares de imigrantes de cultura hostil, que na primeira oportunidade entrarão em confronto com os naturais, tentando expulsá-los das suas terras.

É que para resolver a crise demográfica seriam precisos muitos milhares de imigrantes pelo que, ou muito me engano ou, a concretizar-se tal enormidade, os transmontanos não ficarão de braços cruzados, muito embora não sejam propriamente xenófobos ou avessos a gestos humanitários e mal seria que não fossem ciosos do seu berço e do leite que mamaram nos seios de suas mães.

Os transmontanos, como os demais portugueses, gostam de ver as caras e as pernas das mulheres e há roupas que não assentam bem no corpo das portuguesas.

Para lá do mais, riscar a feijoada à transmontana ou a carne de porco à alentejana da ementa nacional seria um verdadeiro crime de lesa pátria só comparável a derrubar os velhinhos campanários para erguer centenas de minaretes nos céus de Portugal.

Nada disto tem a ver com religiões. São meras questões de tradição, gastronomia, alta-costura e arquitectura paisagística.

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Nós, os “TransmonTansos”!

Trás-os-Montes, entendido como Miguel Torga o delimitou e rebaptizou de Reino Maravilhoso, “um berço que oficialmente vai de Vila Real a Chaves, de Chaves a Bragança, de Bragança a Miranda, de Miranda à Régua”, é tão-somente, uma parte desse mal-amado país que os machuchos políticos levianamente apodam de “interior”. Se pelo menos uma vez na vida fossem coerentes chamar-lhe-iam sim de “exterior”, já que teimam em colocá-lo fora da Nação.

Não cairei na estultícia de dizer, parafraseando uma conhecida expressão popular, que de boas intenções está o inferno cheio. O “interior”, melhor direi. Mas não tenho qualquer rebuço em afirmar que de palavreado e promessas de circunstância estão fartos e enfastiados todos os transmontanos que não enjeitam as origens.

Fartos de que esses políticos impostores sistematicamente os tomem como “transmontansos”, embora o façam à socapa. Incluindo os parolos autarcas da casa, esses sim verdadeiros tansos, que teimam em desprezar a cultura e os criativos seus conterrâneos. Ó Junqueiro, ó Coelho, ó Alves, ó Pascoais, ó Nadir, ó Cardoso, ó Luís Vaz, perdoai-lhes que eles parecem saber o que dizem mas não sabem o que fazem!

Tropecei, há dias, numa página da Internet do Jornal de Negócios que abordava com o pormenor até então não noticiado, a cerimónia de apresentação ao Presidente da República e ao Primeiro-ministro, no passado 18 de Maio, no Museu dos Coches, em Lisboa, de um conjunto de propostas consideradas "radicais" laboriosamente preparadas por um autodenominado Movimento pelo Interior, com a finalidade de revitalizar as regiões ditas de baixa densidade populacional.

Confesso que fiquei descoroçoado. Primeiro porque lá se dizia que depois desse acto solene o dito Movimento pelo Interior se extinguiria, quando parecia ser um movimento duradoiro, redundando, quiçá, num alargado partido regional e regionalista, capaz de fazer valer as suas ideias na Assembleia da República ou mesmo num eventual Governo.

Descoroçoado porque o tal Movimento pelo Interior remeteu para o livre arbítrio do Governo a eventual aplicação das medidas em apreço. Claro que o Governo, ainda que o seu Primeiro-ministro sempre se mostre sorridentemente receptivo, não vai pôr em práctica nenhuma das medidas elencadas, por maior bondade que elas possam ter. O mais certo é remetê-las para as calendas gregas ou directamente para o Museu das Descobertas.

O mesmo se não diria se do grupo proponente fizessem parte administradores da EDP ou da China National Petroleum, por exemplo, cujas directivas receberiam de pronto o beneplácito governamental, mesmo que implicassem o afogamento ou o envenenamento do Reino Maravilhoso, como aconteceu, com o vale do Tua.

Descoroçoado também porque, tanto quanto me foi dado saber, as 24 medidas propostas são meramente administrativas, avulsas, desenquadradas de um indispensável modelo de desenvolvimento, ao arrepio de princípios fundamentais garantes do respeito pela ecologia, cultura e tradições transmontanas.

 Visam, principalmente, trazer gente a granel para a região, sem ter em conta o óptimo populacional ajustado à capacidade das terras, dos rios e dos ares, salvaguardando os habitats e a qualidade de vida a que os “transmontansos”, ainda assim, é suposto terem direito.

Por certo, nenhum “transmontanso” que se preze, a si, à sua família e à terra, gostaria de ver ressurgir em Vila Real uma cópia do Casal Ventoso, uma imitação do Bairro do Aleixo em Chaves ou uma nova Reboleira em Bragança, para não falar em lixeiras orgânicas a céu aberto ou nucleares a céu fechado. Imagine-se o que seria se descobrissem petróleo no Vale da Vilariça ou na Veiga de Chaves!

Descoroçoado, sobretudo, porque nós, os “transmontansos” continuamos a não ser tidos em conta o que só demonstra que não é o nosso bem-estar que preocupa tais machuchos políticos.

 Havemos de concluir, ainda assim, que tudo não passa do usual fogo-de-artifício, foguetes de estalo e de lágrimas que animam as romarias partidárias. Mas que não estão livres de causar incêndios. Cuidado!

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Portugal está em guerra

O Estado Português continua a saque e a economia nacional em roda livre, a mover-se perigosamente sem que o Governo dê aos pedais. A dívida pública que o diga, que não pára de aumentar. Portugal sofre, em surdina, os efeitos duma guerra civil generalizada, subversiva e insidiosa. Não declarada.

 Os inimigos da Pátria, chamemos os bois pelos nomes, não lhe dão tréguas. São políticos, de esquerda ou de direita, banqueiros, grandes empresários ou simples sucateiros. Cuja arma principal é a corrupção embora também façam uso do compadrio, do tráfico de influências e de outros expedientes ilícitos.

Cedo tomaram de assalto os principais bastiões do Estado democrático, os partidos políticos, as grandes agremiações desportivas, as empresas públicas e a própria Assembleia da República, valendo-se das fragilidades do Regime

É uma modalidade de guerra que não coloca forças militares em terra, no mar ou no ar, mas se trava nos gabinetes, em combates ininterruptos conhecidos pelos códigos que lhes são atribuídos, como operação Marquês, operação Face oculta, ou operação Fizz.

Uma guerra de guerrilha que força populações inteiras a abandonar os campos e o interior e a procurar refúgio no litoral e mesmo no estrangeiro.

Uma guerra camuflada de paz social, de estabilidade política, de democracia do faz de conta, em que os soldados da pátria, que é como quem diz da Lei, estão em desvantagem porque manifestamente mal armados, mal equipados e em número insuficiente.

Uma guerra em que invariavelmente são apanhados políticos agachados atrás da moita, a fazer o que facilmente se adivinha e que a comunicação social seraficamente trata como escândalos.

 Já lá vai o tempo em que as portuguesas e os portugueses se escandalizavam quando viam um casal de namorados beijarem-se em público. Presentemente só a democracia que todos os dias é prostituída os parece ofender muito embora, e justamente, a não repudiem, o mesmo não se dizendo dessa guerra traiçoeira de que são as grandes vítimas.

Os portugueses repudiam, sim, quem assalta paióis militares mas também os responsáveis que permitem que os paióis sejam assaltados.

Repudiam os incendiários e igualmente os governantes que durante décadas desleixaram as florestas originando a morte de centenas de infelizes. Repudiam os grandes agiotas que desfalcam bancos e também os governantes que se apressam a salvá-los com o dinheiro dos contribuintes.

 Repudiam a Justiça que não ata nem desata, que é como quem diz não prende nem solta ninguém, e repudiam por igual todos os políticos que a enredam em novelos de insuficiências e contradições.

Os portugueses, cima de tudo, repudiam os governantes que, como diria o imortal Eça de Queiroz, persistem em cobrir com o manto diáfano da democracia do faz de conta a nudez crua e dura da corrupção.

Que importa que o senhor Presidente da República venha agora, a propósito do acto terrorista ocorrido em Alcochete, dizer que não “podemos continuar a fazer de conta, temos de parar para refletir e pôr as instituições a funcionar”, se as suas palavras entram por um ouvido do governo da Geringonça e saem pelo outro?

 Governo que no que toca a reformas fundamentais é completamente cego, surdo, mudo e deficiente. Limita-se ao óbvio, ao mais fácil e que dá votos: esmolar os pobres e presentear os ricos. É por isto tudo que os portugueses de bom senso e boa vontade se devem mobilizar para o combate.

A guerra continua. A vitória não é certa!

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Partidos políticos ou associações de malfeitores?

Todos os portugueses que se prezam continuam a ter razões de peso e de sobra para se indignarem e picarem os maus governantes como quem pica mulas, não devendo limitar-se a dar um ar de sua graça apenas quando são convidados a votar. Só desta forma as coisas poderão mudar para melhor.

Que fique bem claro, porém e desde já, para que não haja lugar a más interpretações: conheço muitos distintos cidadãos e cidadãs e sou amigo preferencial de alguns, que militam em partidos políticos e desempenham cargos públicos com irrepreensível dignidade. E muitos mais haverá do que aqueles que eu conheço e de quem sou amigo. Esta não é a questão, portanto.

O problema reside no regime político que propicia tão graves desmandos e bafeja tantos artistas da corrupção porque confere aos partidos políticos o privilégio de serem apenas eles a governar. Donde resulta que a Democracia Liberal, ou Representativa, tal qual a conhecemos, todos os dias é maltratada pelos próprios partidos que açambarcam, estrangulam e viciam a função política, estando no poder ou na oposição.

Oposição que emudece, por regra, em matérias sensíveis como as que dizem respeito ao escandaloso descaminho do erário público por parte de caciques partidários e seus compinchas. Os partidos não se fiscalizam uns aos outros e antes tacitamente se congraçam e fazem valer como domínios imunes à Justiça.

Esta partidocracia opressiva é a verdadeira causa da imparável hemorragia financeira e moral do Estado, que agrava as desigualdades e abre caminho ao populismo subversivo e à ditadura, porque os partidos políticos trazem no ventre a tentação totalitária, o germe da corrupção e todos os apetites malignos que levam a democracia à ruína.

Partidos políticos que frequentemente dividem dramaticamente a Nação, entram em guerras intestinas, condicionam a Justiça, afugentam os cidadãos, manipulam a vontade dos eleitores, acoitam verdadeiros gangues no seu seio, privilegiam interesses privados em detrimento do interesse público, se alimentam do peculato dos organismos públicos que tutelam, provocam o endividamento incontrolado do Estado e vivem do nepotismo, do clientelismo e do tráfico de influências. E, o que não é menos grave, são incapazes de se unir em torno de projectos nacionais.

 É a vox populi, que assim fala!

É verdade que sem partidos políticos, por mais insignificantes que fossem, não haveria democracia verdadeiramente livre e representativa, o mesmo se dizendo de sindicatos ou de associações culturais, citados apenas como exemplos. Mas também é verdade que, quando como na situação vigente, apenas aos partidos é conferida a prerrogativa de governar, a democracia se transfigura na fraude monumental que se sabe. O mesmo aconteceria se, continuando com os exemplos, apenas os sindicatos pudessem eleger deputados à Assembleia da República.

Não basta, portanto, perante a gravíssima crise moral que o regime politico português atravessa, que uns tantos machuchos partidários (que só não sabem o que não querem), porque sentem o poder absoluto a fugir-lhes da mão em reflexo de casos perdidos na opinião pública, ou porque esgotaram todas as hipóteses de condicionar a Justiça, venham agora, tarde e a más horas, chorar lágrimas de crocodilo e proclamar-se envergonhados. Como também não tem sentido que a oposição, que desde a primeira hora guardou silêncio, só agora, na oportunidade, dê ares de indignação.

Gente desta categoria não sente vergonha, nem entende a dignidade, da mesma forma que o vulgar cidadão, pelo que terá outras inconfessas razões para tão estranho comportamento. Não é de espantar que também corra na opinião pública a ideia de que dinheiros manuseados na operação Marquês poderão ter beneficiado directamente o partido Socialista e que outros partidos, noutras circunstâncias, terão usufruído de dinheiros da mesma espécie. Estará agora a Justiça empenhada em investigar estas hipóteses por amor à democracia? Oxalá que assim seja.

A verdade é que a tudo continuar como está, os casos de corrupção vão continuar a acontecer, encobertos ou às escâncaras. Forçoso é, por isso, que os muitos militantes escorreitos dos actuais partidos se predisponham a refundar o Regime e a Reformar o Estado, abdicando do seu hegemonismo e, entre outras medidas fundamentais, abram o poder a instituições cívicas menos permeáveis à corrupção, designadamente às candidaturas independentes também à Assembleia da República e em pé de igualdade com as candidaturas partidárias.

Há mais e melhor democracia para lá dos partidos. E melhores governantes, também! De que têm medo os cabos partidários?

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

O 25 de Abril ainda não passou à História

Três acontecimentos notáveis balizam a História de Portugal no século passado, dois dos quais são comemorados no mês de Abril: a batalha de La Lys, assim designada porque ocorreu no vale da ribeira de La Lys, na região da Flandres Francesa, no decurso da I Grande Guerra, com trágico fastígio no dia 9 de Abril de 1918 e, 56 anos mais tarde, o golpe de estado militar de 25 de Abril de 1974, que desencadeou a chamada Revolução dos Cravos.
Entrementes, mais precisamente a 18 de Dezembro de 1961, eclodiu outro inglório evento da História de Portugal - a Invasão de Goa, que as forças armadas indianas designaram por Operação Vijay, ou da Libertação de Goa, realizando-a por terra, mar e ar com forças esmagadoramente desproporcionadas, e pondo termo à presença portuguesa de quase 500 anos na chamada costa do Malabar, mais concretamente em Goa, Damão, Diu e outros locais menos conhecidos.
Todavia, é a batalha de La Lys, na qual o exército alemão infligiu uma derrota demolidora às tropas portuguesas que é considerada o maior insucesso militar depois da batalha de Alcácer-Quibir, que ocorreu em 1578.
O golpe militar de 1974 foi o derradeiro acto da vulgarmente designada Guerra Colonial, Guerra do Ultramar ou Guerra de África, que as forças opositoras preferiam chamar de Guerra de Libertação e que encerrou, definitivamente, o império português, o quinto império, o império místico de Pessoa e outros notáveis.
Três acontecimentos militares relevantes, portanto, que tiveram os seus próprios heróis e também, verdade seja dita, muitos mais de quem se costuma dizer que não reza a História.
Tenha-se em conta que “herói” é quem protagoniza ações de extrema coragem e abnegação, sem motivações egoístas, sempre em benefício de outrem e com respeito por princípios morais e éticos, podendo ser-se herói civil ou militar, na paz ou na guerra.
O herói mais celebrado de La Lys é sem dúvida o transmontano soldado Milhões, mas muitos outros houve que, muito embora não sejam assim tão conhecidos, também cometeram actos de insuperável coragem e abnegação, dos quais destaco os flavienses coronel Bento Roma e capitão Ribeiro de Carvalho que, entre outros feitos notáveis, efectuaram raides temerários às linhas inimigas fazendo prisioneiros.
Também na Invasão de Goa se cobriram de glória o comandante Cunha de Aragão que comandava o aviso Afonso de Albuquerque e que foi gravemente ferido, o segundo-tenente Oliveira e Carmo, comandante da Lancha Veja e o alferes Santiago de Carvalho, que morreram em combate.
Quanto ao 25 de Abril propriamente dito, não se poderá em rigor afirmar que teve heróis porquanto os riscos eram insignificantes face às reduzidas forças opositoras, para lá de que as motivações principais dos seus intervenientes foram fundamentalmente de natureza pessoal e corporativa e não patrióticas, na verdadeira acepção da palavra.
Poderá dizer-se, todavia, que o 25 de Abril ainda não passou à História, porquanto nem tudo já está escrito com a necessária isenção, justiça e rigor científico. Os factos estão consumados, é certo, as feridas do corpo saradas mas as mágoas da alma de muitos que no Ultramar viveram ou combateram, ainda não.
Uma coisa é certa, porém: quer em La Lys, quer em Goa ou em 25 de Abril, os militares portugueses foram os bodes expiatórios redentores das más políticas prevalecentes, devendo realçar-se que por três vezes as Forças Armada Portuguesas se assumiram como verdadeiras forças de libertação.
Assim foi em 25 de Abril com o golpe de estado que abriu as portas à democracia, assim foi em 25 de Novembro quando libertaram Portugal da barbárie anarco-comunista e assim foi anteriormente nas derradeiras guerras do Império, quando rasgaram estradas, edificaram escolas e hospitais, dispensaram cuidados médicos, promoveram desenvolvimento e harmonia racial e garantiram a paz em todas as povoações, grandes ou pequenas. Panorama esse que regrediu tragicamente quando a retirada se operou, dando lugar à fome e à miséria generalizadas e a guerras bem mais cruéis e devastadoras.
As Forças Armadas Portuguesas da Guerra do Ultramar foram, sem dúvida, o exército mais humano de que há memória, servido por milhares de heróis brancos, negros e amarelos, que merecem ser justamente glorificados e nunca aviltados. Pessoalmente sinto o maior orgulho em ter integrado as suas fileiras.
São estas Forças Armadas que, lamentavelmente, mais uma vez, os políticos de hoje, civis e militares, persistem em ostracizar, até ao dia em que, de novo, precisem de carne fresca para canhão.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

 

O capital não tem pátria e a corrupção não tem partido

Tudo que de relevante acontece no Brasil é acompanhado em Portugal como se de uma telenovela se tratasse. E não é só porque os meios de comunicação social internacionais, e os portugueses em especial, lhe dão particular importância mas também por um visível fenómeno de afectividade histórica.
Para lá de que o Brasil continua a ser o maior país onde se fala a universal língua de Camões, ainda que desgraçadamente adulterada, e também porque as relações familiares ancestrais entre portugueses e brasileiros continuam a ter forte peso social e económico. E político, naturalmente.
Não é de estranhar, portanto, que os monumentais casos de corrupção que ocorrem no Brasil tenham especial relevância para os portugueses, até porque o Regime reinante em Portugal também se encontra atolado em escândalos que parecem não ter fim.
A prisão de Lula da Silva como corolário de um demorado processo judicial conduzido por alargado número de investigadores e tratado por vários tribunais qualificados, representa um sério aviso, mais um, para todos aqueles que se julgam acima da lei ou se sentem protegidos pelo sistema. E também constitui uma lição exemplar para a classe política portuguesa que continua a menosprezar o papel da Justiça na democracia.
Não é preciso ser-se conhecedor de ciências políticas e jurídicas para justamente se compreender que o Regime político português está mais próximo das pseudodemocracias russa, chinesa e latino-americanas em que a corrupção e o nepotismo são lei, do que das verdadeiras democracias do mundo livre.
Em Portugal os processos judiciais que envolvem rufiões políticos e financeiros são quase sempre inconclusivos ou postergados indefinidamente, enquanto políticos e magistrados do topo da hierarquia fazem discursos eloquentes em actos solenes, por mero exercício intelectual ou evidente hipocrisia política, já que a reforma da Justiça continua a marcar passo e a moralização da vida pública não passa de letra morta. Em matéria de corrupção Portugal e Brasil são, sem dúvida, países irmãos.
O povo português, porém, já não vai em cantigas e sabe muito bem que o capital não tem pátria e a corrupção não tem partido. Por isso exige a todos os governantes indiscriminadamente que não se limitem a bem governar mas que igualmente o façam com honestidade. Santo que seja quando peca deixa de o ser.
Não é de admirar, portanto, que a opinião pública prevalecente em Portugal seja que, na democracia portuguesa, o crime político e a corrupção de Estado continuam impunes e a compensar. É de esperar, por tudo isso, que a actuação corajosa e pertinaz do juiz Sérgio Moro também se repercuta positivamente do lado de cá do Atlântico.
Sobretudo agora que já vai adiantado o processo Marquês, cujas semelhanças com o processo Lava Jato são mais do que evidentes, ainda que a opinião pública não esteja tão dividida em Portugal como no Brasil.
Cá como lá, é de lastimar que governantes destacados quando acossados pela Justiça lancem mão, em desespero de causa, de argumentos e artifícios políticos e populistas à falta de outros melhores. É o caso de Lula da Silva e do seu partido que pretenderam anular a Justiça com uma estrondosa golpada que não teve, até ver, o sucesso esperado mas que, tudo leva a crer, vai prosseguir.
Também o processo Marquês se prefigura como a verdadeira prova de fogo da Justiça portuguesa. Esperemos que em Portugal não haja lugar a golpadas políticas, públicas ou sub-reptícias, e que deixem a Justiça funcionar plenamente sem constrangimentos ideológicos e partidários.

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Um caixão de surpresas

Uma destacada militante do Partido Social Democrata, que também já foi sua líder mor, disse que o seu partido não era nenhum saco de gatos. Lamentavelmente muitos críticos entenderam exactamente o contrário, ou seja, que o PSD seria isso mesmo, sem apelo e com agravo.
Pessoalmente também entendo que não, que é por demais óbvio que não há gatos e muito menos ratos no PSD ou em qualquer partido que se preze. Tal seria um contra-senso, de resto, dado que gatos e ratos não se dão lá muito bem.
Quanto a mim o PSD é, isso sim, uma grande caixa de surpresas. Um caixão, melhor dizendo, tantas, tão grandes e tão surpreendentes elas são e tendo em conta também que o seu destino poderá ser a cova política. Ao fim e ao cabo o PSD é o espelho do Regime.
Já para os presunçosos partidos de esquerda o PSD é uma verdadeira caixa de Pandora, um jarro mais precisamente, dado que esse foi de facto o artefacto oferecido a essa primeira mulher da mitologia grega, no qual todos os males do mundo se acoitavam.
Jarro de vidro ou de barro, não importa, que Passos Coelho entreabriu e agora Rui Rio fragorosamente partiu, libertando inesperados infortúnios e malefícios, sem que se possa imaginar quando e como a tormenta irá terminar. Afinal o diabo de Passos Coelho morava dentro do próprio PSD, somos levados a concluir.
Tudo isto está a ser particularmente triste e frustrante para muitos portugueses, militantes ou simplesmente simpatizantes do PSD que, como agora se constata, depositavam infundadas esperanças em Rui Rio, a quem tinham como um político pragmático, um paladino da ética política e um acérrimo defensor das tão ansiadas reformas do Regime e do Estado e que, por isso mesmo acreditavam que ele iria acordar muitos abstencionistas, com efeitos salutares na deprimida democracia portuguesa.
Foi esta auréola de Rui Rio que se esfumou ruidosamente dando lugar à imagem de um líder titubeante, que dificilmente encontra pessoas credíveis que com ele queiram trabalhar e que ainda não mostrou saber lá muito bem o que quer e muito menos para onde vai.
Rui Rio, até mais ver, por azar ou inabilidade, apenas conseguiu transformar a esperança, que também estava aprisionada no jarro de Pandora do PSD, no pior dos malefícios.  
Porque o mais provável, agora, é mesmo que António Costa alcance a maioria absoluta nas próximas legislativas, que a Geringonça se desconjunte, que o presidente da república fique refém do PS e que o CDS de Assunção Cristas acolha a multidão de desiludidos do PSD, uma vez que Rui Rio não será capaz de fazer o pleno no seu próprio partido.
Contudo, manda o bom senso que se diga que ninguém pode prever com rigor o comportamento do PSD nos próximos tempos e muito menos se António Costa será capaz de corrigir e fazer esquecer os fragorosos fracassos da sua administração, por mais que os ventos económicos continuem de feição.
Em qualquer caso a maioria absoluta do Partido Socialista seria um mal maior que o próprio monstro do Bloco Central, só mesmo comparável à de um governo do PS com o BE. A má memória da governança de José Sócrates, que ainda queima, aí está para o sugerir.
Uma coisa é certa: a democracia portuguesa precisa de ser reformada ou mesmo refundada. Portugal não pode continuar a sofrer eternamente as injúrias sistemáticas de um Regime imoral, por mais legítimo que ele seja.
Bem pode o PSD, portanto, tratar de arranjar uma nova imagem, um novo líder, uma nova direcção e um novo rumo, enquanto é tempo. Para bem de Portugal e da democracia.
 
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

O Regime e seus acólitos

Mal comparadas Lisboa é Roma, não a Roma do império mas a Roma de Berlusconi, e São Bento o Vaticano. E, se assim for entendido, o presidente da república Marcelo será o papa Francisco português que, como é sabido, não é bem quisto por muitos cardeais da cúria republicana embora seja idolatrado pela maioria dos fiéis.
Ainda nesta alegoria, que não pretende ser uma parábola, os partidos pouco mais são que seitas, os líderes partidários bispos e os deputados seus acólitos, coadjuvados por legiões de anjinhos que prometem levar os portugueses para o céu dos pardais, voando graciosamente na atmosfera rarefeita do Regime, lado a lado com os milhafres da desigualdade e da corrupção.
Tudo terá mais sentido se olharmos o Regime sem dó nem piedade, preferencialmente a partir da província de Trás-os-Montes que os políticos persistem em considerar uma colónia pobre e longínqua, habitada por nativos rudes e ignorantes e que ainda não comungam plenamente da religião democrática esotérica de confissão lusitana.
Claro que os transmontanos descrentes duvidam da apregoada infalibilidade dos profetas Costa, Jerónimo e Catarina escaldados que estão com os demiurgos que os antecederam. Para eles Lisboa será mais parecida com Brasília e São Bento com o Olimpo da mitologia grega, morada celeste de deputados vitalícios e de outros que tais e onde muitos dos fiéis militantes partidários sonham, um dia, montar barraca para o resto da vida.
Crentes e não crentes num ponto parecem, todavia, estar de acordo: os deputados da nação, no actual quadro constitucional bem como os autarcas mais categorizados, não passam disso mesmo: de acólitos, que o mesmo é dizer, em linguagem mais terra a terra, de sacristães e sacristãs do Regime que lhes garante prebendas e sinecuras e apenas resmungam ou se revoltam contra os bispos quando sentem ameaçadas as suas mordomias.
Quando tal não acontece, porém, cumprem exemplarmente as tarefas que lhe estão acometidas: tocam o sino, recolhem as esmolas, acendem e apagam velas, servem a água e o vinho, tratam da palamenta e da ferramenta do ofício, batem com a mão no peito, a tudo dizem amém e sobem ao altar para as leituras litúrgicas.
Tanto assim é que apesar das muitas vozes de revolta, profanas e populares, que se fizeram ouvir recentemente, quando o cardeal primaz António Costa veio em visita pastoral à diocese de Bragança abençoar o TGV castelhano e amansar os transmontanos, nenhum acólito do Regime, deputado ou autarca melhor dizendo, ousou erguer-se em defesa da região.
Mais grave ainda: uma semana depois o mesmo cardeal primaz benzia a ferrovia Évora-Elvas que, pelos vistos, pretende ressuscitar o TGV de seu correligionário José Sócrates e que não será mais rentável nem terá maior impacto nacional e regional que uma eventual via Porto-Zamora, cruzando Trás-os-Montes de lés-a-lés.
Mais grave ainda: enquanto que no Alentejo o monumental empreendimento do Alqueva é uma positiva realidade, o velho sonho transmontano de ligar os rios Tuela e Rabaçal num sistema de rega que beneficie a vasta e fértil Terra Quente continua a ser uma quimera que esturrica os campos pelo Estio. Segundo o evangelho do governo da Geringonça meia dúzia de charcas bastarão para que as rãs continuem a coaxar a seu contento. A tudo isto os acólitos do Regime, deputados e autarcas melhor dizendo, dizem nada.
E depois queixam-se que os transmontanos não vão à missa.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Uma democracia de moscas e de mel

Contrariamente ao que muitas vezes ouço dizer, nós portugueses somos um povo dócil, ordeiro, trabalhador, inteligente, solidário, destemido e universalista.
Há milhares de provas e exemplos em todos os domínios de actividade a confirmar que assim é. E não só em Portugal! Por esse mundo fora, o que é mais relevante. É certo que os portugueses também têm alguns defeitos mas que não são para aqui chamados.
Já o mito de que portugueses são iguaizinhos aos lusitanos do tempo de Viriato, que não mais se livraram da má fama que lhes terá sido lançada pelo romano Galba, no longínquo século III antes de Cristo, quando escreveu «Há, na parte mais ocidental da Ibéria, um povo muito estranho: não se governa nem se deixa governar!», não passa disso mesmo, duma grande estória.
Talvez o maior defeito dos portugueses de hoje, que não é bem defeito mas feitio, seja mesmo deixarem-se governar com leviana credulidade, que é como quem diz intrujar, explorar, manipular, contrariamente aos lusitanos daquele tempo, com os quais temos pouco ou mesmo nada a ver.
Então nós, os transmontanos, valha-nos Deus! Somos mais crédulos que São Tomás que acreditou que um boi poderia voar. Agora até já nos comprazemos com o TGV espanhol que o primeiro-ministro António Costa nos veio impingir e que passa a voar a dezenas de quilómetros de Bragança.
Eu teria perguntado, se me tivessem dado voz para tanto: e porque não um TGV do Porto a Zamora, passando por Vila Real, Mirandela e Bragança, senhor primeiro-ministro?
Também são por demais conhecidas as desgraças em que os portugueses se deixaram envolver, sem tugir nem mugir, ao longo da sua História gloriosa, não se contestando, como é óbvio, a epopeia a que generosamente aderiram de corpo e alma.
Mais frescas estão, ainda assim, as vergonhas e misérias dos quarenta anos da República Democrática de Portugal provocadas por governos que, verdade seja dita, apenas representavam a vontade de uma minoria de eleitores já que a maioria sistematicamente se refugia na abstenção.
A classe política de topo, que apenas é portuguesa no cartão de cidadão e no idioma em que se expressa, mas que em boa verdade pertence a outra nação e vive num país exterior, desde o primeiro dia de democracia que dela se aproveita para habilmente explorar, iludir, espoliar, massacrar os portugueses. Sobretudo os que resistem nos intestinos da pátria a que os políticos do país exterior chamam interior.
Senão, atente-se nas vezes em que os Estado português foi levado à ruína, na Justiça que marca passo, na desigualdade social que prevalece, nas assimetrias regionais, no rosário interminável de escândalos e assaltos ao erário público, para não citar outros exemplos.
Podemos concluir, portanto, que a classe política portuguesa de topo essa sim é a herdeira natural dessa histórica virtude dos lusitanos de que falava o romano Galba: governam mal, não deixam ninguém governar, mas sabem muito bem governar-se e andam sempre zangados uns com os outros. Assim como as comadres e os compadres da Geringonça que, apesar de tudo, lá vão baptizando os filhos, atirando os foguetes e apanhando as canas. Os meus sinceros agradecimentos.
Outro exemplo elucidativo é o que presentemente se passa no PSD no qual ferve o ódio e a afronta. PSD que já foi comparado a um saco de gatos e que corre o risco de que alguém lhe ate a boca, com consequências imprevisíveis para a democracia.
No fundo é o que se passa em todos os partidos e entre todos eles entre si. Que não se riam os socialistas, os bloquistas, os comunistas ou os centristas porque, lá diz o ditado: gaba-te cesto roto que logo vais à vindima.
Outro mito perigoso que se instalou no bom censo comum é que só as moscas mudam. Puro engano. É verdade que o Regime político que tantas moscas atrai permanece inalterável desde há décadas, mas é igualmente verdade que as moscas, sobretudo as varejeiras, também são sempre as mesmas. Mudam é de tacho.
E enquanto o Regime for o que é, um apetitoso prato de mel de que as moscas se alimentam e tanto gostam, nada vai mudar. Nem as moscas nem o mel.
Eu o garanto.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

 

O que querem os transmontanos, afinal?

Não me alongo ao Alto Douro, para tanto. Fico-me por Trás-os-Montes, por agora.
Trás-os-Montes que no presente é irrelevante no contexto nacional porque, politicamente falando, não existe. O que não deixa de ser surpreendente porquanto se trata de um espaço geográfico diversificado mas coerente, com múltiplos recursos a que os tempos modernos dão importância acrescida em cada dia que passa.
E, se Trás-os-Montes não existe politicamente, também não existe administrativamente, pelo que nenhuma entidade o representa e defende enquanto tal.
Ninguém está formalmente habilitado, portanto, a traçar-lhe um rumo, a definir-lhe uma estratégia de desenvolvimento coerente e consequente, preservando e dignificando os seus usos e costumes e promovendo a cultura transmontana no seu todo.
Não passa de uma região teórica portanto, que é administrada a esmo, a granel, fragmentada, segundo o conhecido lema “dividir para reinar”, como convém ao Governo central que assim pode livremente privilegiar o quê mais lhe interessa, a começar pelos poleiros em que toma assento.
Os transmontanos, esses, existem, mas só o são quando se afirmam como tal, porque, se assim não for, também ninguém dará conta deles.
E tempos houve em que sabiam bem o que queriam porque nada tinham, embora tivessem tudo que era seu: serras, rios, vales, hortas, searas, olivais, vinhedos, caminhos para caminhar, braços para trabalhar e o suor do rosto.
Nem sequer tinham quem pensasse por eles, como hoje têm. Nem precisavam porque as suas carências eram por demais evidentes de tão elementares que eram: chafarizes, escolas, hospitais, esgotos, telefones, electricidade, estradas e pontes.
Porém, com o advento da democracia, os transmontanos passaram a ter milhares de cérebros a reflectir e a decidir por eles: demagogos, ex-governantes em processo de expiação dos seus fracassos governativos, deputados e autarcas que supostamente os representam mas que em boa verdade obedecem a outros interesses e muitos doutores e mestres, intelectuais e especialistas em todas as áreas, a quem o poder não dá ouvidos.
Não se compreende, por isso, que Trás-os-Montes esteja cada vez mais despovoado e deprimido. O Regime já pôs a hipótese de regionalizar e de descentralizar, já criou comissões regionais e unidades de missão, distribuiu subsídios a rodos, rasgou uma autoestrada, ainda que tardega, furou o Marão, vendeu rios, edificou universidades e centros culturais, mas os transmontanos não dão mostras de abandonar a saga emigrante e muito menos de retornar à pátria, o que parece ser, hoje mais do que nunca, um estigma maior.
O que querem os transmontanos, então?
Será que querem ser independentes, como os escoceses, os catalães ou os corsos? Ser uma região autónoma como a Madeira ou os Açores? Ter uma Autoeuropa instalada em Vimioso e um Google em Vinhais? Casas da Música como o Porto tem? Estádios de futebol como a Nova Luz ou o Dragão? Milhares de turistas endinheirados que animem o comércio, a hotelaria e as hospedarias rurais? Ou apenas que o azeite, o vinho e a castanha sejam pagos ao preço da prata?
Talvez os transmontanos não queiram nada disso ou talvez até queiram muito mais. O Regime é que parece não saber o que os transmontanos querem nem estar habilitado a responder.
Por isso, o que falta à região transmontana é cérebro para pensar por ela própria e ser bem governada. Como um todo e não como uma colecção de municípios e freguesias, a jeito de capelas e sacristias, em que os vigários (Honi soit qui mal y pense) se limitam a dizer amém à Roma dos partidos.
O que os transmontanos querem, afinal, é políticas, projectos e investimentos de âmbito regional que tenham impacto nacional. E vice-versa.
Começando, por exemplo, por uma profícua defesa do meio ambiente e o aproveitamento integrado e racional das suas águas, enquanto é tempo.
Que é o mais urgente, para começar.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.