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Lucinda Moreiras e Rui Muga são campeões distritais de trail

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Ter, 30/01/2018 - 14:03


A aldeia de São Julião, no concelho de Bragança, recebeu, no domingo, o I Trail Terras da Lombada. Uma prova que que se revestiu de especial importância já que consagrou os campeões distritais da modalidade da Associação de Atletismo de Bragança.

Pela sua Saúde faça atividade física!

A atividade física tem vantagens para a saúde e para o bem-estar da população. O exercício regular permite gastar as calorias ingeridas em excesso, contribuindo para a prevenção da obesidade. 
Uma vida sedentária, passando muito tempo sentado - a trabalhar, a ver televisão ou no computador - , leva o organismo a transformar as calorias consumidas em excesso em gordura. Por isso, uma das formas mais eficazes e saudáveis de prevenir ou de diminuir a obesidade é fazer atividade física regularmente.

III Feira Rural da Terra e da Gente da Lombada - As feiras que dão vida às nossas terras

Ter, 30/01/2018 - 12:39


Olá familiazinha!
Estamos chegados ao fim do mês de Janeiro e, como sempre, neste espaço tentámos resumir tudo o que se passa diariamente no programa Bom Dia Tio João da rádio. Claro que há dias em que a alegria vem ‘ao de cima’, proporcionando-nos escutar vários instrumentos musicais e muitas cordas vocais, que embelezam e dão alegria a quem nos ouve. Mas também há aqueles dias em que as pessoas sentem necessidade de desabafar os seus problemas do dia-a-dia, entre eles os de saúde e a perda de entes queridos. Quando em alguma localidade acontecem acidentes tão trágicos, como o da semana passada em Caravela, toda a família vive a tristeza das outras pessoas como se fosse deles próprios.
O casal Norberto Moreira e Rita, de Oleirinhos (Bragança) festejaram, no passado sábado, as suas bodas de ouro. Que continue o pão da boda.
A tia Emerência, do Castedo (Torre de Moncorvo) pôde, na semana passada, dizer alto e em bom som: “— Tenho uma filha que fez 74 anos”… E agora digo eu: Não é para todos, é só para os que lá chegam. Nem todas as mães podem dizer o mesmo.
Além da tia Austelina (74), da Horta da Vilariça (Torre de Moncorvo), também estiveram de parabéns a tia Maria da Conceição (73), de Vilarandelo (Valpaços), o tio Mário (91), de S. Mamede de Ribatua (Alijó) e a tia Maria (54), de Uva (Vimioso).
Que continuem a contar os anos na nossa companhia.
Como estamos a chegar ao fim de Janeiro, brindo-vos com um artigo sobre os santos do fumeiro e também com a III Feira Rural da Terra e da Gente da Lombada.

Água mole... Psitacismos

Próprio de inúmeras espécies vivas e parte apreciável da sua aprendizagem, imitar é para a nossa tão útil que será difícil, ao fim de um dia qualquer, lembrarmo-nos de algo que tenhamos feito não aprendido dessa forma. Os comportamentos imitativos têm ainda a vantagem de ser socialmente aceitáveis, facultando desse modo sentimentos de inclusão, proteção, a segurança do rebanho.
Mas imitar também traz riscos. A tendência para o fazer é tanto maior quanto menor for o autoconhecimento, quer a nível individual quer coletivo. Ora o que nos identifica é o que mais ninguém tem. Por isso, se ao reproduzir não juntarmos o tempero da reflexão e da personalidade, estamos apenas a responder a estímulos, como os cãezinhos de Pavlov, a ser robôs. E em íntima ligação com isto, é sabido que a liberdade pessoal diminui na razão inversa da normalidade, de maneira que, embora sob os riscos da punição do grupo, os que têm a coragem de ser eles próprios são também os mais livres. O maluco é muitas vezes aquele que, não se cingindo a copiar, se desvia tanto quanto possível de condutas uniformizadas.
As ações de cada um tendem assim a ser uma linha média entre a permeabilidade às forças e pressões externas e a capacidade crítica perante elas. Acontece que, no que nos diz respeito, somos bem mais inclinados a plagiar do que a refletir. Basta pensar nos tiques de linguagem que de repente desatamos a repisar para nos sentirmos “in”, nos gestos estereotipados que fazemos ao apanhar uma câmara pela frente, no afã com que, para aparecer no Guiness, construímos o maior seja o que for do mundo, na paixão com que nos deixamos pescar pelas redes sociais, na forma como acatamos cegamente as modas do vestuário mesmo se nos propõem algo tão disparatado como andar esfarrapados. No meu prédio os carros não cabem nas garagens e são forçados a manobras árduas porque as dimensões destas obedecem a um modelo trazido sabe-se lá de onde.
Mas não era bem aí que queria chegar, até porque há coisas mais e menos ponderosas. É já proverbial o caso de uma das nossas vilas que possui uma larga avenida de alto a baixo com uma série de belas rotundas, vitais para a fluência do tráfego, onde não falta absolutamente nada a não ser o próprio tráfego. Sucede que a rotunda se tornou um cliché para obter votos, qualquer quinta faz questão de ter a sua e aquela gente não quis ser menos que as outras. Aborrecido é que, para mal dos nossos pecados (e bem da dívida) este anedótico caso está longe de ser único, a insensatez conta-se por milhares, por todo o lado.
Os de Arçanha-de-cima arranjaram que o presidente lhes erguesse um pavilhão desportivo todo apetrechado mesmo que, com a escassa gente da terra, não se enxerguem grandes eventos para lá fazer? Que importa, os de Arçanha-de-baixo, não se querendo ficar atrás, e sob a tácita ameaça de não votarem no partido nas eleições seguintes, exigem um superior e mais moderno. E conseguem-no.
Um autarca vê algures um belo campo de futebol de cinco com o que há de melhor e o faz recuar ao seu imaginário infantil? Não está com meias medidas e toca de construir um igual na sede da junta. Até podia dar-se o caso feliz de tal equipamento ser usado para fazer as delícias de uma série de garotos. Mas ocorre esta coisa bizarra de não haver no sítio nenhum garoto, nem sequer um para amostra, é extraordinário.
Noutra aldeia faz-se um parque de merendas junto ao rio, num local concorrido, uma bela ideia para os piqueniques de verão tanto para locais como visitantes? Logo os outros povos do concelho pedem parques de merendas. E eles prontamente aparecem, bem arquitetados, com bons materiais, mesmo que não haja rio, nem sombras, e seja pouco provável que apareça lá alguém para merendar.
Os exemplos, todos com o seu quê de risível, poderiam amontoar-se. Avanço só mais um, referido à cidade. Entre as décadas de setenta e noventa vivi nos dois grandes centros do país. Acontece que, nessa altura, tanto num como noutro a invasão automóvel era caótica, sendo muito comum ver os carros fazer dos passeios parque e atirar com os pobres peões para o meio das ruas. Foi para acabar com o abuso que sensatamente se decidiu colocar aqueles pinos que toda a gente conhece.
Mas aqui, não me lembro de alguma vez ter sido hábito estacionar dessa maneira. E como neste caso os bonecos conseguem juntar o inútil ao desagradável, não estou a ver outro motivo a não ser que alguém se tenha deixado encantar por eles. É isso. Assim não vamos lá.

NÓS, TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - Manuel António Monteiro (n. Freixo E. Cinta, 1647)

Historicamente, a família Monteiro Carvalho é uma das mais nobres de Freixo de Espada à Cinta. Remontando ao século de 500, ali vivia o casal constituído por Diogo Garcia de S. Miguel e Isabel Monteiro Carvalho, que foram os pais de António Monteiro Carvalho, que vivia de sua fazenda e tinha o emprego de guarda a cavalo das alfândegas e portos secos. Era um emprego de importância estratégica pois o porto e alfândega de Freixo registavam então um extraordinário movimento de pessoas e mercadorias, até porque nesses anos os dois países ibéricos estavam unidos debaixo do mesmo trono, sendo as feiras de uma e outra banda da fronteira frequentadas por mercadores de ambos os países. E foi por causa de facilitar a fuga de “judeus” para Castela que o guarda António Monteiro Carvalho foi preso pela inquisição, em 1629.
António era casado com Catarina Pereira Varejão e estes foram os pais de outro António Monteiro Carvalho (1) que, criando-se em Freixo, foi fazer vida em Madrid e Lisboa, na casa do “fidalgo D. Álvaro de Sousa”. (2) Quando regressou à terra natal, depois da revolução de 1640, vinha já casado com Maria Saraiva Cardoso, de Marialva. E estes foram os pais de Manuel Monteiro Carvalho que terá nascido em Freixo de Espada à Cinta pelo ano de 1647 e foi batizado em Marialva, onde seus pais viveram algum tempo.
Manuel casou com Maria Coelho Zuzarte, de outra nobre família freixenista, recebendo de seu sogro, em dote, um olival no sítio de Riba Boa, uma vinha às Fontainhas “que leva de cava 10 homens” e 2 tapadas e 2 courelas ao Santoquixo. Para além disso, o sogro, Pedro Lopes da Fonseca, passou para ele o emprego de meirinho do judicial.
Seria com muito espanto que, em Julho de 1669, as gentes de Freixo assistiram à prisão de Manuel M. Carvalho, (3) juntamente com sua mulher e 2 cunhadas, pela inquisição de Coimbra, denunciado como sendo cristão-novo e acusado de se ter declarado por judeu.
Levado para Coimbra e dizendo ser cristão-velho, houve primeiro que apurar a qualidade do seu sangue. Foram para isso interrogadas 40 testemunhas, de avançada idade e reconhecida idoneidade, para além de outras que os comissários ouviram extrajudicialmente, fazendo-se diligências em Freixo de Espada à Cinta, “Maria Alva” (4) e Celorico da Beira, terra de sua avó materna, Guiomar Saraiva Cardoso, (5) que “uns parentes levaram ainda pequena para Marialva, onde a casaram”. Todas as testemunharam e o parecer dos comissários foram unânimes sobre a qualidade do sangue e o Conselho Geral proferiu o seguinte despacho:
- Assentou-se que ele é cristão-velho legítimo, limpo de toda a raça de cristão-novo…
Prosseguiu então o processo destinado a averiguar a veracidade das denúncias, provando ele que os denunciantes terão agido por ódio e vingança. E aqui reside o maior interesse do processo de Manuel Monteiro Cardoso. É que as suas contraditas constituem um verdadeiro tratado do viver quotidiano da vila de Freixo de Espada à Cinta naquela época.
Vamos então para a casa do sogro de Manuel Monteiro, que era vizinha da casa de Isabel Madeira, filha única, cujo pai falecera e que vivia de sua fazenda. Havia entre eles uma grande familiaridade, tratando-se até por parentes. Isabel seria um bom partido e o sogro de Manuel tratou de a casar com o seu filho João Coelho da Fonseca, então ocupando o cargo de meirinho delegado pelo pai. Mas o João é que não estava pelos ajustes do casamento.
Pelo meio meter-se-ia então um grande amigo de Isabel, chamado António Rodrigues Pereira (6) que, por seu turno, tinha entrada na casa do marquês de Távora, que então era o governador de armas de Trás-os-Montes. E António Pereira foi falar com Luís Álvares de Távora que chamou a Chaves o João Coelho Zuzarte e o colocou perante o dilema: ou casava com a Isabel ou ele o obrigaria a sair de Freixo recrutando-o para soldado. João terá respondido que não casaria com ela e antes iria para soldado. Efetivamente João foi feito soldado e o cargo de meirinho foi então delegado em Manuel Monteiro, seu cunhado.
Enraivecido por não conseguir o casamento da amiga (e não “ganhar a fanega” (7) - dizemos nós), o mesmo António Pereira foi depois a Freixo e, encontrando o pai de João, puxou de uma faca… e só não o espetou porque aquele fugiu. E sempre foi comentando que Pedro Fonseca fazia bem melhor casar o filho com a Isabel  do que a filha com o “judeuzinho de Marialva”… e dizendo-lhe as pessoas que o ouviam que Monteiro Carvalho não era da família de judeus… “ele mudou de cor e se foi da conversação em que estavam”.
Francisco de Almeida era, de certo modo, o líder da comunidade hebreia de Freixo e grande inimigo de Manuel Carvalho. Porquê? Aquele trazia arrendada uma fazenda de um parente seu. E falecendo este, Manuel, na qualidade de tutor de uma filha órfã, tentou tirar-lhe a fazenda, antes do tempo contratado, metendo uma ação no juízo de Freixo, a qual perdeu. E recorrendo para o juízo da correição, perdeu também. Mas conseguiu tirar-lhe uma casa que trazia também arrendada, com o argumento de que não pedira autorização ao juiz dos órfãos. E daí nasceu a inimizade.
Mas a inimizade do Almeida com a família de sua mulher tinha ainda outras razões, uma delas motivada porque, estando os Almeida a passar a fronteira, vindos de Castela, em uma noite, com fazenda contrabandeada, foram vistos pelos guardas da alfândega que os perseguiram. Não os apanhando, foram, com o escrivão da alfândega “dar varejo em casa do dito Francisco Almeida para descobrirem a dita fazenda”. O escrivão era… Pedro Lopes da Fonseca… Claro está que…
As lutas entre os cristãos-novos de Freixo, quase todos ligados por laços familiares a Francisco de Almeida e a Francisco de Matos, este originário de Foz Côa e aquele de Almeida, ganharam mesmo contornos políticos. De modo que, sendo juiz de fora interino e, consequentemente, presidente da câmara de Freixo, Domingos Lopes da Fonseca, irmão do sogro de Manuel Carvalho, foi aprovada em reunião de câmara uma deliberação no sentido de expulsar da terra todos os que dela não eram naturais.
A deliberação não foi cumprida… imagine-se: porque os “carmijuteiros” (assim chamavam aos de fora) conseguiram um despacho do tribunal da inquisição de Coimbra “para os não despejarem da terra”. Estranha esta imiscuição dos inquisidores na vida política de um recôndito vilarejo trasmontano! Possivelmente receavam perder o proveito dos bens sequestrados aos Freixenistas que tinham presos.
Dissemos atrás que, com o recrutamento do cunhado para a tropa, Manuel Monteiro tomou posse do lugar de meirinho. Pois, no exercício de tal cargo, sabendo que um Duarte Nunes e uma Ana Nunes, cristãos-novos, primos entre si, andavam amancebados, fez participação do facto no tribunal de Freixo, processo que subiu à relação do Porto e cujo desfecho não conhecemos.
Muitas mais histórias do viver coletivo quotidiano dos Freixenistas se contam no processo de Manuel Carvalho Monteiro que, naturalmente, foi declarado inocente. 

Notas:
1-O casal teve outro filho chamado Manuel Monteiro Carvalho que foi sacerdote e uma filha, Joana Monteiro Carvalho que casou com João de Gamboa, de igual nobreza e fidalguia.
2-Trata-se, certamente,  de Álvaro de Sousa, que vivia em Madrid à data da Restauração e fugiu para Inglaterra e para Lisboa, não obstante a concessão do título de conde de Ansiães pelo rei Filipe IV, com o objetivo de o aliciar contra o novo regime entretanto instaurado em Portugal.
3-ANTT, inq. Coimbra, pº 8969, de Manuel Monteiro Carvalho.
4- Maria Alva – assim aparece escrito. Ao final da diligência, o inquiridor escreveu: - Não faça aos senhores inquisidores reparo eu tirar tantas mulheres, porque homens antigos não os há nesta vila…
5-Os pais de Guiomar Cardoso eram donos da Quinta de Espinheiro, que tinha uma capela particular onde eles foram sepultados.
6-Embora cristão-novo, António Rodrigues Pereira era feitor da alfândega de Mogadouro.
7-Pelo menos em algumas terras da região do Douro Superior, perdurou até meados do século XX, o hábito de dar uma fanega (4 alqueires) de cereal à pessoa (inculcador) que proporcionava condições de casamento com alguém que se pretendia.
8-António Rodrigues Pereira foi preso pela inquisição de Coimbra e, enquanto esteve preso, faleceu Isabel Madeira. Na mesma ocasião foi também presa uma Francisca Soares, amiga do mesmo Rodrigues Pereira, moradora em Freixo e antes de ser presa, entregou valores em casa de Isabel Madeira, para escapar ao seu confisco pela inquisição. Aconteceu que, quando foi solta e regressou à terra, foi a casa de Isabel reaver o seu “fato”. Não o conseguiu porque Catarina Ribeira, meia-irmã de Isabel e sua herdeira universal, disse que não sabia de nada e nada tinha para lhe dar, ameaçando-a aquela “que não quisesse vir para onde o réu (Manuel Monteiro Carvalho) vinha e a sua gente”.
 

Vendavais - À procura do Éden

Portugal, desde sempre foi procurado por muitos e bons motivos e por muita gente bem intencionada. Localizado mesmo à beirinha do Atlântico, mar aberto logo em frente, estrada de ida e volta para todo o tipo de embarcações, não seria de modo algum de descartar a possibilidade de aqui se ancorarem algumas delas.
Desde os primórdios temporais onde assenta alguma da nossa História, já por aqui vinham povos à procura de grandes negociatas, num leva e traz metafórico, incentivando desse modo, um sistema económico de trocas bastante eficaz. Com algumas lutas à mistura, uns fixaram-se por cá, outros simplesmente passaram e poucos rastos deixaram dessa fugaz passagem. Mas algo ficou, quanto mais não fosse uma leve aprendizagem que se foi transmitindo aos que por cá ficaram e desenvolveram o sistema.
Os séculos não pararam e através deles podemos ler o que escreveram os que moldaram esses tempos e o resultado que por ventura daí se possa concluir, de toda essa azáfama.
Portugal só o foi efetivamente há cerca de 900 anos, mas o território onde se insere, não seria demasiado grande para a alma lusitana que aqui se iria expandir. E foi essa alma lusitana que acabaria por definir os contornos do território, lhe marcaria as fronteiras e acabaria por dizer bem alto “aqui mandamos nós”. O “aqui” é o mesmo hoje. Não vou entrar em pormenores. Não é necessário. Claro que os nossos vizinhos não deixaram de tentar a sua sorte, mas sempre gorada. Feliz ou infelizmente, a História foi assim escrita.
Hoje, quando sentimos o peso de alguma fraqueza e a desventura de algum sucesso, acabamos por constatar que ainda há quem nos procure e queira ficar por aqui, apesar do enorme êxodo que temos sentido nos últimos anos. Se uns querem sair e outros querem vir e ficar, qual será a explicação? De facto, parece haver aqui um contrasenso, mas se calhar não há. Os que partiram foram procurar o que aqui não acharam. Os que vêm querem o que não têm, seja lá onde for. Se os que partiram tivessem cá o que os que vêm procuram, escusavam de sair. Mas isso seria difícil de satisfazer. Então o que esperam uns e outros?
Na verdade, os que partiram não tinham emprego compatível com o seu estatuto profissional e os que vêm têm estatuto profissional, mas querem muito mais e esse muito mais passa além das fronteiras que os nossos antepassados definiram. Hoje, passados séculos, as fronteiras não se limitam ao espaço terrestre. Têm outros contornos e eles são quase ilimitados.
Afinal quem demanda este país e para quê? Pois ao que parece até podemos dizer que estamos com sorte, visto que quem nos procura são gigantes económicos da área das novas tecnologias, a começar pela Google e a acabar na Amazon. Colossos económicos que se querem sediar neste Portugal de séculos à beira-mar plantado.
Ao que se diz, ninguém os chamou ou lhes prometeu contrapartidas de qualquer ordem. Ainda bem que assim é, pois não há lugar a subornos aparentes. Os investimentos são enormes e os lugares de emprego também, o que significa que temos vantagens enormes nesta concessão agradável aos que nos procuram. Sejam pois bem vindos.
O que me custa por vezes entender é a relutância com que alguns partidos políticos encaram estas coisas. Nenhum país cresce ou se desenvolve sem que o grande capital se instale e desenvolva, desde que não seja selvagem. Esse, não queremos cá. As ideias de cada um e do partido a que possa pertencer, são deles e têm todo o direito de o possuir. Ninguém lhes rouba essa privacidade, mas sejam razoáveis ao ponto de compreender que sem capital nada feito.
Portugal precisa de investimentos, nacionais ou estrangeiros, que possam dar emprego e garantias para que muitos não tenham a tentação de abandonar o território que os viu crescer e aqui deixar lágrimas de esperança nas faces de quem os vê partir. Se a Google e a Amazon querem investir aqui é porque têm razões para isso. No meio de tantas possibilidades, a escolha de Portugal não será casual certamente. O local é promissor, as pessoas também. Em termos políticos já há quem questione que razões levam estas multinacionais a investir num país onde o governo é composto por partidos extremistas de esquerda. Sim, por que sendo grupo económicos enormes, esperam ter aberturas à sua altura para os negócios internacionais que querem operar. E o espaço é enorme! Vai até ao Médio Oriente. Muitas fronteiras! Não querem entraves políticos no seu caminho e muito menos de partidos pequenos e extremistas, porque se for o caso, levantam ferro e rumam a outras paragens. Aqui, será o Éden para eles, mas também não poderá ser o paraíso para alguns malandros. Vamos estar atentos.

Restaurante O Nobre

Nos idos de 1984, no fervilhar do caldeirão político, reuníamos perto do Palácio de Belém, num restaurante chamado Rimini, nessa casa de comeres avultavam figuras militares do talante de Melo Antunes e Vítor Alves, discutia-se muito, acima de tudo a necessidade de ser formado, construído, desenvolvido um projecto político alternativo ao Bloco Central, assim foi parido o PRD.
A marcha do tempo impunha-se à marcha dos militares, em 1085 realizaram-se eleições, o PRD elegeu 45 deputados, fui um deles, os trabalhos parlamentares impunham presença assídua em Lisboa e errâncias prandiais especialmente à noite.
Numa dessas incursões o meu amigo e excelente jornalista transmontano Rogério Rodrigues disse-me (e recomendou-me) a novidade de na Ajuda existir o restaurante O Nobre onde “a nossa conterrânea Justa deliciava o palato da nata da classe política a principiar no Dr. Mário Soares”. Agradeci a informação, mal tive ensejo fui «testar» as aptidões da Chefe, de tudo quanto degustei na ocasião a sopa de santola agradou-me em excesso e ascendi à condição de cliente regular. O Sr. Nobre, tal como agora, recebia-me de forma galharda e todos quantos franqueavam a porta do restaurante cujo espaço de espera dava pretexto a bebericar vinhos intranquilos e mastigações de entreténs de boca. A seguir o gritado bródio sensorial. Num desses jantares o então Ministro Mira Amaral explicou-me quais eram as virtualidades industriais do vale do Côa, explicou a cousa de modo a estalejar gargalhadas como se fossem foguetes em honra do senhor São Pedro padroeiro da aldeia dos três deputados na altura, Amândio Gomes, Armando Vara e eu, que também entendo possuir vínculos à aldeia por raízes de quatro costados. Lá possuo uma casa herdada baptizada de Casa Buíça.
O Sr. Nobre é uma pessoa duplamente Justa, por isso obrigou-se a derribar muros de dificuldades, assumir responsabilidades dos outros, nunca perdendo o sorriso amável a receber os clientes e para consolo dos gourmets a viverem e/ou a trabalharem em Lisboa renasceu nas imediações do Campo Pequeno. E, de vez em quando ali acudo a refeiçoar não me dando ao trabalho de escolher, mas prazenteiramente dado a honrar como merecem as vitualhas saídas da cozinha onde pontifica a Dona Justa. Pois é no restaurante mais transmontano da capital que a Câmara Municipal de Bragança leva a efeito o tradicional festejo do butelo acolhendo convidados de vários saberes e sabores bem como jornalistas e profissionais das agências de comunicação.
A refeição substanciosa inclui enchidos de massa e de carne, os cuscos cuja ancestralidade está no Magrebe e forma de fazer nos fogões portáteis de cerâmica usados no deserto, e o Butelo em casamento com as casulas ou cascas. A refeição permite rever amigos, ouvir as sábias e momentosas palavras do Professor Adriano Moreira, verificarmos o entusiasmo do Dr. Hernâni Dias a apontar caminhos em direcção à cidade do cunhado do Rei Afonso Henriques, enaltecendo os nossos patrimónios imateriais e materiais a romperem a teia burocrática da Entidade de Turismo mais virada para o Douro dos cruzeiros, o Porto das pontes e o Minho do vira. Causou-me prazer ouvir o óbvio – Bragança - ~e destino capital e não adjacente.
O Nordeste Informativo esteve presente através dos seus colaboradores Ernesto Rodrigues, José Mário Leite e o autor deste escrito, aproveitámos o ensejo falando de vivências, de gente da escrita, de livros, dos livros itinerantes das Bibliotecas da Fundação Gulbenkian desaparecidas há anos, hoje entendem-se noutro figurino de presença cultural, distribui amplexos, fortíssimos ao meu Amigo desde os tempos em que fomos alunos da sempre lembrada Dona Aninhas Castro, o Comandante José Manuel Chiote, troquei piadas picadas não picantes com o Ezequiel Sequeira, osculei a Alexandra Prado Coelho do Público, e a todo o tempo e a todo transe enalteci a Terra Fria, porém o Ernesto Rodrigues só sorriu e o José Mário Leite não se exasperou. E, aguardemos a próxima edição da substanciosa Festa.

Como preferirem

Bom dia, caros amigos. Bem, um dia destes estava ler um texto de alguém que se sentia particularmente incomodado por as empresas e instituições se lhe dirigirem com este caro nas cartas que recebia em casa. Que nunca tinha sequer tomado café com eles para se porem com tantas intimidades. A língua portuguesa juntamente com os portugueses em si pode frequentemente criar uma mistura enervantemente maçadora e picuinhas. Imaginem, na nossa língua tanto podemos dizer é necessário fazermos como é necessário que façamos, o siginificado é igual, no entanto acrescentamos um que e o tempo verbal já muda radicalmente. Só para chatear. Quanto aos portugueses também são particularmente férteis a nível de picuinhice, exemplos não faltam. No que toca a formas de tratamento é o cabo do trabalhos e nem se pode dizer que seja coisa comum das línguas latinas. Se usamos o senhor(a) é porque o senhor está no céu ou me faz sentir muito velho, você nem pensar, esse é o que mais ofende as almas mais sensíveis e puritanas. Dos tempos da estrebaria. Numa dessas entrevistas que se replicaram por aí, o Zé Pedro dizia uma vez a um jornalista “trata-me por tu que o você não é nada rock n’ roll”. Achei piada. Exmº é exagerado. Prezado, estimado, não andei contigo na tropa, dona é a tua tia, somente pelo nome próprio não o conheço de lado nenhum para essas confianças. Não é fácil, missão quase impossível arranjar uma forma que sirva a todos. Melhor é fechar os olhos e escolher uma ao acaso. De qualquer dos modos haverá sempre quem não goste de bacalhau ou de arroz-doce, por isso não vale a pena perder muito tempo com o assunto. Mas atenção àqueles que fazem mesmo questão de ser tratados pelo título. Se colocam engenheiro no cartão do banco ou do Pingo Doce é por alguma coisa. É porque exigem respeitinho. É bonito e eles gostam. Com três letrinhas apenas se difere dos outros e se escreve a palavra Engº. Não omitir também presidente, director, professor e demais pafernália de profissões e dísticos quando os mesmos insistem em alardear tais letreiros. Para tudo o resto doutor, doutora, costuma servir. É carapuça que ninguém parece importar-se muito em enfiar. Pelo contrário, até sabe bem. Se tiverem que pedir alguma coisa ou agilizar algum assunto, doutor, doutora pode ser um bom começo. Doutora, tal como combinado… A probabilidade de vos pegarem de ponta pode assim reduzir-se significativamente. Deixámos de ser um país de analfabetos, para sermos um país em que todos, em algum momento, somos doutores. É o processo mormente referido como doutoramento da sociedade. Todos diferentes, todos doutores. E o princípio é o mesmo desde sempre. Isto é, a formas de tratamento mais refinadas começaram por ser uma forma de se dirigirem aos elementos da família real, vossa senhoria. Com o tempo iam-se difundindo por toda a nobreza, de primeira e de segunda. Arranjava-se outra, vossa alteza. E de cada vez que cada título se vulgarizava e se ia espalhando por ali abaixo, outros se criavam para os reis e mais altos representantes. Vossa majestade. E assim sucessivamente, desciam, banalizavam-se e outros se inventavam. Reparem que os nobres se batiam com unhas e dentes por estas etiquetas. Obviamente significavam estatuto, posição social. Não sei é se se batiam com o mesmo afinco pelo incremento das suas competências individuais, culturais ou socio-profissionais. O foco na forma, no que está por fora, no que enche o ouvido e o egozinho. O tal mesmo princípio que se mantém até hoje. Ao menos uma das coisas que o século XXI mais nos trouxe foi homogeneidade. Todos podem agora com relativa facilidade ser pelo menos doutores. Muito diferente dos tempos da Idade Média, como por exemplo nas nossas aldeias do nordeste há 50 anos atrás, onde apenas alguns poucos podiam aspirar a tão respigados tratamentos. O Bispo era o meu reverendíssimo senhor, os demais sacerdotes também seriam qualquer coisa cheia de “íssimos” e “ências” assim como o professor e talvez o regedor. O resto seriam tios e os demais mancebos, enzoneiros e pantomineiros. Penso eu de que. Sem nenhuns salamaleques, um grande abraço!