class="html not-front not-logged-in one-sidebar sidebar-second page-frontpage">

            

Proteja-se do calor

São mais vulneráveis ao calor:
• As crianças nos primeiros anos de vida
• As pessoas idosas
• Os portadores de doenças crónicas (nomeadamente doenças cardiovasculares, respiratórias, renais, diabetes, alcoolismo)
• As pessoas obesas
• As pessoas acamadas
• As pessoas com problemas de saúde mental
• As pessoas a tomar alguns medicamentos, como anti-hipertensores, antiarrítmicos, diuréticos, anti-depressivos ou neurolépticos
• Os trabalhadores expostos ao sol e/ou ao calor
• As pessoas que vivem em más condições de habitação

Falando de … Quando as mães saíram à rua…uma ficção em Bragança

Portugal ganhou. Semana do nosso contentamento, dirão muitos portugueses, pobres e ricos, cultos e incultos, onde a irracionalidade despertada pelo futebol nega tudo o que é culturalmente adquirido, até a própria linguagem. Retiro a imagem de uma revista e transporto-a para as páginas deste semanário.
Semana rica de acontecimentos. Mais pobre a União Europeia, não irá esquecer tão depressa David Cameron, primeiro-ministro britânico, promotor do referendo que projectou o ex-jornalista e ex-mayor de Londres, Boris Johnson, de penteado à Donald Trump e Nigel Farage para as primeiras páginas dos jornais. Portugueses preocupados com o seu futuro e  ingleses, expatriados, receando pela sua existência, congeminam uma dupla nacionalidade neste Portugal que tão bem os acolhe e cujo sol é matéria de exportação.
Questões de emigração/imigração. E o Reino Unido divorciado da Europa, não esquecendo que é o mais velho aliado de Portugal, com Babe a mostrar quanto vale em matéria de aliança luso-inglesa.
Bragança, terra de emigrantes, tal como tantas outras cidades flageladas pelas circunstâncias. Para França e Alemanha muitos partiram. Os tempos mudaram em épocas que à memória não escapam. Portugal recebeu outros que tentaram a sua sorte. Ucranianos, brasileiros, brasileiras e tantos mais… Bragança terra de brasileiras que inquietaram pacatos cidadãos de bolsos mais ou menos fartos.
Brasileiras que foram notícia nos jornais. Na revista Time. E Bragança correu mundo. Mulheres de alma angustiada, de espírito perturbado, de lar quase desfeito, vieram à rua e reclamaram. E as brasileiras, alimento de cafés, cabeleireiros, padarias, lojas, enfim do comércio em geral, saíram. Todo o mundo português soube. Bragança não era o que se publicitava. Era terra de bons costumes. E Fernando Calado ficcionou. Acrescentou. Alterou. Investigou. Documentou-se para que nada fosse ao acaso. Mostrou do que falava e escreveu.
Duzentas e trinta e nove páginas de trinta e três capítulos de uma narrativa, onde a ficção aparece contaminada de uma realidade que conhecemos, e de uma outra realidade com laivos de veracidade e verosimilhança. Livro ousado, de um homem que à sua terra tece loas, com uma linguagem onde o termo licencioso em abundância aparece ao lado de expressões latinas, devidamente traduzidas, com citações religiosas de permeio. Texto de língua portuguesa valorizada, diversa, de regionalismos transmontanos oportunos.
Bragança dos anos sessenta à actualidade. A alegria da escrita a extravasar e a convidar-nos ao entusiasmo de uma existência que não queremos, num retrato de angústia por muitos experimentado.
Um livro que nos conduz à reflexão, a tomar partido, a odiar ou aderir, num quadro de um passado não muito remoto em que o proxenetismo, a corrupção, o baixo-mundo aparecem retratados, como se Bragança fosse um caso isolado do vício, do incumprimento, do ilícito ou da vingança.
Talvez os mais puritanos se sintam deslocados na narrativa. A ficção nem sempre é boa companheira. Um livro de final feliz a marcar comportamentos exemplares e amores duradouros, numa sintagmática em que os afectos são definidos pela precariedade.
A ler. Nada nos é indiferente. Lido de um fôlego, percorrendo espaços conhecidos, de nomes que fizeram história, num tempo que vai pertencendo à história de uma terra onde pouco acontece e abundam os brandos costumes, hoje não distantes dos hábitos das grandes metrópoles. É assim a globalização.
 
                                                                                                                                    Por   João Cabrita

Não foi adoptado o Novo Acordo Ortográfico
 

A salto

Meus caríssimos amigos. Bons olhos vos vejam. Essa vida como vai? Às portas do Verão não tem porque ir mal. Haja saúde que o resto vem por acréscimo. Pois é. Passaram há poucas semanas 50 anos após a Revolução Cultural. Ao contrário do que se possa pensar, apesar de ainda haver um punhado de fiéis veteranos dos princípios (e fins) de Mao Zedong, a China faz por esquecer esse período. Os meios de comunicação foram orientados a não assinalar a data e o governo já reconheceu o redondo falhanço por mais que uma vez. O que ficou conhecido como o “Grande Salto em Frente” não foi mais que um aparatoso trambolhão e uma época de acentuado retrocesso. Não sou eu que o diz, “o partido” dixit. São tempos e feridas que continuam bem vivas. Matou-se literalmente o saber e o conhecimento e mandaram-se as pessoas para o campo para produzir o progresso e a boa ventura. Mas os campos nem sempre dão frutos quanto mais progresso, as ideologias não puxaram carroça e dezenas de milhões de pessoas morreram à fome, sem ter o que comer. Conheço muitas histórias, mas posso cingir-me só à pequena amostra dos meus alunos. Alguns dizem-me que os seus avós comeram relva do chão e vasculharam solos e pedras à procura de algo onde meter o dente. Homofagia também? Não interessa. Vem dessa altura o ditado deles “no céu, na terra e na água só não se comem os aviões e as pedras” e é essencialmente por culpa desses tempos que hoje se vive este clima de salve-se quem puder. Primeiro o EU, depois o resto, não é comigo. O caminho é o crescimento, económico, as pessoas não têm tempo para pensar no outro, na comunidade, na verdade não têm tempo para nada a não ser ganhar dinheiro, fazer fortuna. E ostentá-la. Nem sequer para os filhos. São os avós que criam os filhos porque os pais têm de trabalhar, enriquecer. Só no bairro onde vivo, diria, 70% dos bebés ou crianças vivem só com os avós (muitas vezes só um avô/avó) e os outros 30 com os avós e com os pais ao mesmo tempo. Isto é assim em toda a China desde há poucas gerações. Os pais relegam as crianças para os avós quase desde que nascem com semanas. Às vezes vivem no estrangeiro, outras vezes cá dentro mas muito longe e apenas visitam os filhos nas festividades. Depois, chegados à idade escolar, voltam a perfilhar as crianças. E não poucas vezes os pais acabam por ser seres meio estranhos habituados que estavam ao convívio com os avós. Conheço uma professora de São Paulo cujo trabalho é integrar estas crianças na sociedade e no meio escolar brasileiro. Crianças que 1. São levadas para um país/língua/cultura totalmente diferentes à entrada da idade escolar e 2. A relação com os pais é praticamente nula, pessoas que mal conhecem. Fácil de ver que é um trabalho que requer acima de tudo um enorme coração. Bem, não era exactamente disto que eu queria falar, mas as conversas são como as cerejas (em Portugal, porque aqui são caríssimas, quase um luxo). Por estas bandas persegue-se a fartura a todo o custo para que não dê em fome novamente. O modelo? O norte americano. Sim, é verdade. Na tecnologia, no sistema educativo, no estilo de vida… Como se nos EUA tudo fosse um perfeito mar de rosas. Não importa. Eles estão em primeiro, são quem mais riqueza possui, por isso são objectivo a perseguir com obstinação. Se o sucesso é isso, se é disso que o mundo gosta, façamos igual. Quanto à ditadura é relativo. Talvez fosse difícil manter a integridade e governar tanta gente de outro modo. Além disso, a saúde da Europa, instável, violentada, meio falida (e falida é que não) e outras Trumpalhadas têm dado muita força ao governo e criado nas pessoas o sentimento de que as coisas estão a ser bem feitas, afinal, dizem, a Europa precisava de rédea mais curta. Enfim, a verdade é que o sonho chinês existe e as pessoas sentem que o podem alcançar se dedicarem todos os segundos da sua existência a esse nobre propósito de produzir riqueza. Tudo o resto é perda de tempo. Lembro-me que quando cheguei, pouco conhecedor da sociedade, a algumas perguntas respondiam-me quase ofendidos “claro que não, nós já não somos essa China, fechada, isto não é a Coreia do Norte”. Ok, peço desculpa. Às vezes em Portugal as pessoas ainda me perguntam coisas como se na China há McDonalds. Três pontos: Primeiro, antes de se olhar a cores, olhe-se para o que realmente importa. Se dá dinheiro. Se sim, claro que há. Segundo, o que é de fora e norte americano não só é bem vindo como é bom. Tem qualidade, é referência, moderno, chique, para quem pode. Terceiro “claro que sim, nós já não somos essa China, fechada, isto não é Coreia do Norte”. Outros tempos pairam como nuvem negra, a revolução cultural já lá vai. Fugir. Saltar sem olhar para trás.