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Ligação de alta velocidade Porto-Madrid pode incluir estações no distrito de Bragança

Ter, 22/03/2022 - 11:51


Esta associação tem como grande missão implementar e divulgar os valores históricos, patrimoniais, culturais e sociais do distrito de Vila Real e nas regiões do Douro, Trás os Montes e Beira Alta bem como desenvolver e apoiar actividades nos domínios cultural, social, desportivo e recreativo.

16 de Agosto de 1974

Ora, “bons dias vos dê Deus!”, ao que vocês me respondem: “Deus vos dê bons dias!”. Era assim que se cumprimentava em bom trasmontano nordestino nos jovens tempos da vovó viral. Hoje vou falar de um ano marcante na história portuguesa, assinalado com datas especiais. Para o país foi o 25 de Abril, para uns poucos foi o 25 de Novembro. Abertas dualidades políticas que antes não se praticavam e que surgiram nesse ano quente do qual se diz que dispensa apresentações, mas sobre o qual as apresentações não estão ainda todas feitas. Não sem antes ser contada a determinante história do dia 16 de Agosto e o desenrolar de acontecimentos que marcaram as relações transfronteiriças se não de duas nações ou de duas regiões, pelo menos marcaram certamente a história da vida de quem os viveu. Podem crer que já vi documentários bem menos mirabolantes. E agora que cheguei até aqui a prender a vossa atenção e a fazer a trama prometer, não sei como haverei de conseguir não defraudar as vossas expectativas. Vou começar por fazer como o poeta Luís Vaz e pedir inspiração às Ninfas do Rio Maçãs para ver se me dão tantico engenho. Aí vai, o melhor que sei ou o melhor que ouvi contar. Esta é a história de um penálti em Alcañices, ou Alcaniças como se diz em bom português de Avelanoso. Era dia de São Roque Santeiro nessa raiana vila espanhola e a mocidade deste lado da Serra do Mó não podia faltar à festa. E festa era coisa que não havia sem a final da Liga dos Campões luso-espanhola, trasmontano-alistana que se disputava todos os anos por essas fechas no teatro dos sonhos que eram as eiras, um pouco para lá da praça maior. As condições estavam perfeitas para a prática do futebol de alta competição, céu limpo, humidade relativa abaixo dos 20%, a terra batida bem fofa e aparada à espera de ser roçada por joelhos e cotovelos, muito pó, restos de palha dalgumas malhas de centeio e um ou outro rebolo de dimensões acima das medidas regulamentares, prontamente retirados antes do início da partida. O estádio confortável com gente apinhada sob o sol abrasador. Tudo a postos. No dia anterior alguém tinha ido a pé até Santanas (aldeia espanhola mais próxima) a pedir que no dia seguinte a tal hora da tarde lá estivesse um táxi para levar alguns futebolistas portugueses para o jogo. Isto porque nessa semana tinha havido um ciberataque e a rede móvel andava em baixo. A outra parte da comitiva iria de carro por Quintanilha. A equipa na sua máxima força. No entanto, havia um problema, é que se do lado de cá já se recém- -saboreavam livres virtudes, do outro lado ainda subsistia um franco obstáculo. E a liberdade tinha ainda fronteiras bem definidas. Os titularíssimos Zé Galhardo, Casimiro Pires, Casimiro João, Abel Galhardo foram de carro (se falha algum nome a culpa é de quem me narrou, eu não acrescentei nenhum ponto). De Avelanoso a Pinelo, Outeiro, Paçô, estrada de Bragança a Quintanilha e aí chegados parou o baile! É claro que se fossem a pé seris mais rápido do que dando tamanha volta, mas a juventude já tinha proa e ninguém queria ir a uma festa com os sapatos engraxados, as calças passadas a ferro ou a camisa lavada cobertas com as camadas de pó que as carrejas dos carros de pão deixavam pelos caminhos. Octávio, Zé Miranda e Adérito já no táxi de Santanas para Alcañices, ao chegar à aduana barrados pelos carabineiros: o taxista que os levasse de volta e se certificasse que entravam em Portugal, não queriam lá portugueses infetados com os vírus da democracia. Deram meia-volta e após a primeira curva fechada um aviso ao motorista, mais teimoso em obedecer às ordens da autoridade do que às ordens de paragem dos atletas: “olha que ele veio do Ultramar, se não páras mata- -te aqui como a uma galinha”. Passado meia hora estavam a juntar-se à mocidade espanhola. Estes foram falar com o alcaide, bastante interessado em que se cumprisse festa e futebol. Telefonou para Zamora a explicar que era antiga a tradição e que a única política que lhes interessava era a do pontapé para a frente. O Major em Zamora autorizou o partido e game on! Alguns que não tinham o hábito de jogar tiveram de ser convocados à última hora, como o Ramiro e o Marcolino. Assim contado até parece que o resultado pouco interessava, mas interessa sempre. Uma combativa igualdade a uma bola, empate para Avelanoso de penálti. Marcador, Adérito, depois disso jogador profissional, Benfica, Rio Ave, famoso pé canhão. Diz quem assistiu a esse pontapé de penálti que nunca se viu chuto tão forte em que uma bola andou mais tempo pelo ar. Que só vendo é que se acredita onde a bola foi parar, a umas paredes longe das eiras, que um dia, diz meu pai, me vai levar lá a ver o sítio só para ver a distância do remate. Um golo de belo efeito e longo alcance. Depois do jogo uns bocadilhos e umas gasosas providenciadas pelos anfitriões, outras vezes umas barras e chocolate ou umas bananas que os espanhóis as tinham baratas e em Avelanoso ainda não abundavam. Barriga acomodada e viva a festa, que ainda hoje continua a ser das mais fortes de Zamora. Os outros titulares sempre retidos em Quintanilha até noite dentro sem ninguém saber deles (ainda a tal falha de rede) e diz que a única coisa que puseram ao dente foram umas melancias oferecidas por um emigrante de passagem. Resumidamente, foi assim esse dia, se este guionista não teve grande talento para o descrever, pouco importa. O que fica para a história são as vivências do dia de 16 de Agosto na memória dos seus actores. Durante gerações os homens de Avelanoso souberam bem quanto valia um jogo de futebol além-Portugal e as montanhas que estavam dispostos a superar para poder correr atrás de uma bola nas eiras socalcadas de Alcañices entre paus de pinho e engrideiras. Eles e os seus camaradas espanhóis. Esta é a história de um jogo de futebol em Alcañices que fala por todos os outros e cujo significado e simbolismo se vai perdendo hoje nas brumas da memória. Por isso, no que depender deste texto, o dia de 16 de Agosto de 1974 andará sempre por aí para ser devidamente marcado e celebrado como todos os grande golos de antologia. Um forte abraço!

A Geração de Adónis e os Tipos de Pêlos no Peito

Já lá vão uns bons aninhos, ficou-me na memória uma resposta dada pela saudosa e brilhante atriz Beatriz Costa, num programa da RTP, quando questionada sobre se gostava de homens com pêlos no peito: “Sim, gosto de homens peludos; não goste é de cabelos na sopa”. À luz da mentalidade daquele tempo, “aceitava -se”, como por oposição à mulher (um ser poeticamente belo e inspirador), a sentença de que “o homem se quer feio e a cheirar a cavalo”. Uma opinião, diga-se, de que nunca fui adepto. Pode parecer estranho submeter à reflexão um tema como este, capilar. Faço-o na qualidade de interlocutor anónimo e furtuito duma “meçoila” que dá pelo nome de Filomena Cautela, figura esganiçadamente irritante, por esta, recentemente, num programa de rádio, se ter referido, em tom jocoso, ao clube ( a que eu orgulhosamente pertenço) dos homens de pêlos no peito e nas pernas, como sendo, por outras palavras, seres cavernícolas. Ao longo de milénios, o ser humano foi sempre marcado, na sua passagem, tanto pela natureza como por questões culturais. Hoje em dia, muito por culpa de certos movimentos que estão na origem do grito do Ipiranga, há, felizmente, uma larga discussão em torno daquilo que cabe e é devido a um e a outro. Até há bem pouco tempo era comummente aceite pela sociedade, marcadamente machista, a ideia de que, por exemplo, o lugar das mulheres era na cozinha, e que pintar o cabelo era exclusivo das mulheres. Os poucos homens que tinham a coragem de se “apropriar” daquilo que culturalmente não lhes pertencia, faziam-no sem o assumir, por vergonha. Felizmente, certos estereótipos, que durante séculos fizeram “lei”, estão gradualmente a esbater- -se: as mulheres bebem, nos bares e nos restaurantes, com orgulho e jactância, a bebida de Baco. Os homens apregoam, com alarde, que são eles quem cozinha em casa, depilam-se (por modismo) dos pés à cabeça. Nos finais dos anos 70, e durante a década que se lhe seguiu (período da minha juventude, vivida intensamente), estava na moda fumar uns charros. Eu, o meu irmão Mário, o Zé Gomes, o Fernandinho, o Zé Lopes, o Luís Parente, o João Pinheiro, o Manuel Barros, o Jorge Tiago, o Armando Reis, o Guedes e outros que tais, nunca aderimos à moda, ou por não sentirmos o chamamento, ou, provavelmente, por sermos rapazes muito populares e extrovertidos, pelo que o rir era natural e espontâneo em nós. Como resultado da não adesão, os aderentes apelidavam-nos de “caretas”. Isto para dizer que, e ainda que estivesse na moda enrolar o “gramado” na mortalha, nenhum de nós teve necessidade de o fazer. Como a vida é feita de escolhas, não tenho dúvidas que, voltado a cassete atrás, tomámos a decisão certa. Não obstante pertencer à colheita dos anos 80 (potencialmente mais resistente à mudança), fruto do berço que me criou, convivo pacificamente com a extravagância do Outro, e, estranhamente, “rendido” à ideia da crescente desmasculinização do homem, do culto do corpo e do vintage style, imperativos dos Adónis do século XXI. Parece que vivemos num mundo de valores subvertidos. Aqueles que até há bem pouco tempo viviam, na “clandestinidade”, uma vida reprimida e de recalcamentos, são hoje os mais fervorosos detractores da maioria que recusa ser refém das excentricidades na nova Ordem. Porque não vejo reciprocidade do outro lado, no respeito pela diferença, e porque nós, gente de pêlo, somos vítimas de chacota, sem, no entanto, nos prestarmos a ela, estou a pensar seriamente fundar o clube dos “da malta da camuflagem corporal”, como acontece, por exemplo, com o “clube bigodes”, que se encontram anualmente, em convívio, quais ex combatentes da guerra do ultramar. Importante é termos a lucidez suficiente para relativizar as coisas. Esta é tão – somente uma discussão do sexo dos anjos.

António Pires

A velha casa

De memória revejo a Velha casa (o ora esquecido escritor José Régio escreveu o livro a Velha Casa e acréscimos) herança materna, bicentenária, a qual não visito desde os primórdios da pandemia, cuidada prestimosamente pela Cândida minha parente em duplo (eu e o marido somos primos em segundo grau, a casa do avô exibe a riscante data 1908 numa pedra da outrora palheira e/ ou cabanal) e, sempre atenta na observação das fissuras e sinais de velhice pois também as casas nascem, crescem e morrem. Ora, as casas acompanham a calvície e mantas canosas dispersas nas cabeças dos donos por assim ser, e é, Portugal desde o litoral ao interior a par da arquitectura com laivos ou acentuados símbolos significantes da traça original pululam toda a sorte de volumetrias, colorações, ademanes e bizarras «esculturas nas casas e jardins no Continente e Ilhas adjacentes. É um fartote/ orgia de gostos na maioria de duvidoso gosto. E, no entanto as casas encerram histórias, segredos, dramas, amores desvairados, dependências atrozes, pecados mortais, doenças e entorses de toda a casta e géneros. Nem só Régio escreveu sobre as Casas vetustas, façam o favor de lerem entre muitas outras as obras-primas A Ilustre Casa de Ramires, a Casa Grande de Romarigães, a Casa de Bernarda Alba e ouvia a distinta Amália a cantar a casa da Mariquinhas das tabuinhas tão comuns a ripas com as latas existentes nos dias de agora, das armas guiadas de longe de modo a erradicar bairros inteiros de casas/ caixotes das grandes e médias cidades, escapando (às vezes) as Velhas casas das aldeias de todas as partes do Planeta. A casa de Lagarelhos aquando das obras de restauro das cicatrizes sem ofensa da fachada trouxe à vista desarmada o cano enferrujado de uma espingarda escondida no falso apressadamente construído para esconder o meu avô dado o seu primo Manuel Buíça ter sido o autor do assassinato do rei Dom Carlos. O meu avô nada sofreu, porém o ferrete do apelido perseguiu-o várias vezes, lépido que nem coelho a retouçar no vergel do quintal o meu progenitor expurgou o Buiça do nome da minha Mãe, do mesmo modo ao registar- -me poupou trabalho à mulher do Senhor Frederico Monteiro (correspondente da quase totalidade dos jornais de Lisboa e Porto) funcionária do Registo Civil. O desvelado servidor da imprensa Sr. Monteiro bem merecia placa a assinalar o seu labor em prol do jornalismo local, prazenteiramente, aqui fica a sugestão. Pois, seria imperdoável não assinalar a brigantina e emblemática Casa do Arco cujo passeio fronteiro sapateei, longe de ter visto a Sapateira Prodigiosa, mas na esperança de ver guapas encerradas no casarão a partir da hora de recolhimento. A pandemia está a caminhar para a endemia, mantendo o elmo e a viseira penso em volver à Velha casa, por um ou dois dias (o tempo continua a escassear-me, terei uma eternidade à minha espera para repousar quando for desta para pior) a fim de perscrutar o horizonte até à Serra de Nogueira recreando o oráculo de Delfos no desejo de obter resposta para a causa da continuidade e crescente aumento da banalidade do mal debaixo de todos os ângulos, prismas e pontos de vista. PS. Não utilizei – cima da mesa – dada se terem esgotado as mesas!

Os efeitos da guerra

A Europa não vivia uma guerra tão cruel e sangrenta há muitos anos e quando ninguém esperava, eis que surge quase do nada, uma guerra tão brutal como qualquer outra guerra. Como sempre é a estupidez de quem não combate que obriga outros a combater e a morrer por causas que não lhes pertencem. A ambição, o ódio, a religião, a vingança e talvez a visão de um mundo operado por um poder superior, é que faz despoletar qualquer guerra. De outro modo não se compreende nem se justifica esta como outra qualquer guerra. Para Putin todas estas razões são válidas para invadir a Ucrânia e destruir uma Nação, um povo, uma cultura ou mesmo várias culturas. Não há justificação nenhuma seja ela histórica, política, social ou até cultural que permita iniciar um conflito desta envergadura. É e continua a ser, um desmantelar de tudo o que se construiu naquele país nos últimos trinta ou quarenta anos. Como qualquer guerra, os efeitos são devastadores. Morte e destruição, fome e separação. Crianças que morrem sem se aperceberem da injustiça dos homens, da crueldade da guerra, mães que fogem deixando para trás os maridos para combater os invasores, invasores que não sabem que razões justificam matar os seus irmãos, lares destruídos, cidades desfeitas. Mas um país é muito mais do que isto. Está embrulhado numa cultura própria que não se fica só pela tradição. É o seu sentimento, as suas vivências, a sua literatura, o seu desporto, o seu teatro, a sua música, os seus artistas, os seus heróis. Séculos de construção, de identidade cultural e de afirmação que se esvaem por vontade de um invasor que só o é porque lhe dá gozo, porque quer ser um imperador a exemplo de outros que o tempo aniquilou, porque quer mostrar ao mundo que tem poder e que consegue esmagar um povo que nenhum mal lhe fez. Num tempo em que as guerras deveriam ser obsoletas e inexplicáveis, eis que novamente alguém nos vem lembrar que isso é mentira. Que prazer poderá tirar Putin desta guerra, desta destruição, destas mortes e deste genocídio? Eu pessoalmente não sei responder. As consequências deste conflito sem sentido são imensas. Todos vemos nos meios de comunicação social as cidades completamente destruídas, recém-nascidos que não sobrevivem aos bombardeamentos, infâncias destruídas, famílias desfeitas, lares destruídos, mulheres viúvas, famílias sem eira nem beira que fogem para longe à procura de um país novo, de um novo lar, um novo emprego, um novo futuro. Talvez um dia, talvez, cheguem a voltar à terra que os viu nascer. E as mulheres barrigas de aluguer que se prestaram a isso e que agora, depois de dar à luz, esperam pelos pais que não chegam em busca dos filhos que não conhecem. Mas há muito mais do que isto. Os efeitos são enormes. A Europa dá-se conta agora que o preço a pagar também pode ser insustentável a curto prazo. O preço do petróleo subiu, o preço do gás segue-lhe as pisadas, os transportes subiram, os produtos estão cada vez mais caros e escasseiam especialmente o trigo do qual a Ucrânia era um dos grandes exportadores, as sanções impostas à Rússia irão destabilizar a sua economia e certamente o leão meio adormecido irá rugir mais forte ainda. O que esperar mais de tudo isto? Os governos dos vários países europeus felizmente estão solidários na receção a todos os refugiados desta guerra insana. A Polónia, critica aos emigrantes, recebe no seu seio milhões de refugiados, mas a situação está crítica. Outros países estão igualmente receptivos. Portugal. Com uma comunidade de ucranianos bastante grande, continua a acarinhá-los e a dar-lhes as oportunidades para refazerem as suas vidas. Voltarão se for possível, ou não. António Costa tem mantido uma política acertada neste âmbito, aceitando os refugiados que nos chegam por meios legais. O que não me parece tão acertado é o governo querer trazer para Portugal as barrigas de aluguer. Que barrigas de aluguer? Porquê? Para quê? É demasiado delicado abordar este assunto. É preciso coragem. Depois de uma crise grave como foi a de 2008, depois de uma pandemia que ainda teima em não nos abandonar e que já causou milhões de mortos em todo o mundo, só nos faltava efetivamente uma guerra no nosso continente. Não sei se a culpa também é da Europa se é só da Rússia ou melhor, de Putin, já que os russos certamente não quereriam esta guerra, mas seja de quem for, não tem desculpa. Putin julga-se com todos os direitos e acusa a Ucrânia de crimes de guerra, quando é ele que os comete, que não os evita e que constantemente está a ultrapassar todos os limites dos direitos humanos. Ele sim que é um criminoso de guerra, um genocida e que será certamente julgado pelo seu próprio povo e pelo mundo a seu tempo. Talvez tarde demais. Mas sê-lo-á com toda a certeza. E a paz? Onde fica? Quando chega a este povo martirizado? Já é tempo de ter bom senso.