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O sinistro aparelho político-partidário

Entre muitas outras coisas a palavra “aparelho” também se aplica, justamente, ao conjunto de artefactos com que se arreiam as cavalgaduras e que comporta, entre outras peças, a albarda, a rédea e a cilha. Objectos que já nada dizem às novas gerações porque os burros de quatro patas são uma espécie em vias de extinção. O que é pena porque se trata de animais dóceis que cumpriram um papel fundamental nos trabalhos rurais, até ao aparecimento máquinas agrícolas financiadas pela CEE, especificamente para esventrar e desassossegar os nossos campos paradisíacos. A cilha, para quem não sabe, é uma faixa larga que aperta a barriga da besta para que a albarda não caia. Da mesma forma que o cingidouro dos impostos cada vez mais arrocha a barriga dos contribuintes, sobretudo a dos mais magros e indefesos, que são a generalidade. Ocorreu-me esta imagem quando lia notícias relativas às recentes eleições internas do PSD que referiam que Rui Rio as ganhou contra o aparelho, precisamente. A vitória não terá sido assim tão folgada como muitos pretendem. Certo é que o jumento deu um pinote inesperado, ainda que tímido, e foi o que se viu e o que mais se verá. Falta saber se o dito jerico acabará por cair de cangalhas ou pura e simplesmente se acomodará, docilmente, sem espernear, por mais ornejos que já se ouçam, ao novo aparelho que ninguém garante será melhor que o anterior. Certo é que Rui Rio teve a coragem de montar o burro em pêlo, isto é, desaparelhado, o que lhe poderia ter sido particularmente doloroso. Acabou por provar, todavia, conhecer bem a arte de bem cavalgar toda a sela, contrariamente ao que vinha dando a entender. Não se fique a pensar, porém, que é só o PSD que tem um aparelho pomposo e sinistro com que arreia as próprias clientelas e albarda os portugueses, sempre que tem tal ensejo. O aparelho do PCP, por exemplo, embora pouco conhecido, tem-se revelado coeso e resiliente, o que não é de espantar porquanto foi talhado a foice e martelo. Já o aparelho do BE não passa disso mesmo. De uma tinta de água com que anda a dar uma primeira demão nas paredes da democracia mas que, será o mais certo, acabará por borrar a pintura se os portugueses o deixarem. Quanto ao aparelho socialista, que é volumoso e possui um acentuado toque familiar, está na espectativa de saber se o cavaleiro António Costa irá ou não aguentar os pinotes do jumento eleitoral depois que a mula Geringonça arreou das quatro patas. O que não é de espantar porque António Costa, que durante o seu longo consulado se mostrou incapaz de impor uma linha de rumo e de coordenar eficazmente os seus anafados governos, sobretudo nos momentos mais dramáticos e escandalosos, a que respondeu com burricadas atrás de burricadas. Ainda assim, o mais sinistro e arrochado aparelho é o Regime político vigente, paradoxalmente antidemocrático, comunizante e fascizante e que a tudo se presta, até para se fazer passar por um estado de direito, muito embora privilegie, descaradamente, os criminosos de alto gabarito. E é por uma questão de elementar justiça que aqui expresso uma vénia respeitosa à meia dúzia de magistrados, com Carlos Alexandre à cabeça, que tudo fazem para salvar a honra do convento. Certo é que este aparelho político-partidário regimental arreia e derreia os portugueses, principalmente com a albarda dos impostos, a rédea solta da corrupção e os estribos doirados da Justiça em que se estribam os criminosos mais notórios que, como se sabe, são hábeis cavaleiros do povo. Todos nós, portugueses, independentemente do credo, da raça ou da ideologia deveríamos sentir vergonha e, mais do que isso, indignação, pela democracia que somos e ser capazes de, democraticamente, dar uns tantos pinotes e atirar com a albarda ao ar. Sem ligar aos partidos que mais uma vez já afinam as suas aparelhagens sonoras para darem a música do costume aos eleitores nas eleições que se aproximam e posteriormente os poderem ajaezar a seu gosto. Música pimba. Claro é, partido a põe. PS.: Desejo um Santo e Feliz Natal a todos quantos o Jornal Nordeste passa pelas mãos e esta minha humilde crónica pelos olhos. Vale de Salgueiro, 16 de Dezembro de 2021 (Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico)

 

Salvar o Natal

Apesar da conotação menos positiva que os acontecimentos do ano passado vieram trazer a esta expressão, é, no entanto, atual, útil e importante.

O Natal é, disso não haja qualquer dúvida, um período muito especial e de um enorme significado na civilização a que pertencemos. É a época da reunião familiar, por excelência. Reuniões que, é sabido, não casam com as medidas de precaução e distanciamento recomendadas pelas boas práticas de combate à terrível pandemia que nos fustiga já há dois anos e cujo termo ansiado, teima em demorar a concretizar- -se. No ano transato, a propósito de “salvar” o Natal, foram abrandadas as medidas mais draconianas em vigor até então (e retomadas, mais tarde... aliás, tarde demais). Contudo, não é aceitável que por causa desse erro se cometa um erro maior que seria a adoção de apertadas medidas de distanciamento e confinamento. Em primeiro lugar há que fazer uma distinção clara entre os festejos de Natal e de Ano Novo, que em 2020, erradamente, tiveram tratamento igual. As reuniões natalícias sendo muitas e chegadas acontecem em células limitadas e muito restringidas à chamada “bolha familiar”, enquanto que os festejos de “réveillon” são, por natureza, mais abrangentes, em espaços com um alargado número de pessoas de proveniências diversas. Manda pois o bom senso que, sem descurar as elementares precauções e cuidados adequados, se facilite a reunião familiar para celebrar e confraternizar na noite de 24 e no dia de 25 de dezembro. Será bom que os Lares, dentro das suas possibilidades e analisando com critério e razoabilidade as circunstâncias, proporcionem aos mais idosos um reconfortante reencontro com os seus familiares mais próximos. É verdade que devemos proteger a saúde de todos mas também não podemos minimizar a dor provocada pelo isolamento, sobretudo aos mais idosos, mais frágeis e mais debilitados. Ainda que mal comparado, atrevo-me a lembrar que, nesta altura, todos os anos, há acréscimo da sinistralidade rodoviária. Obviamente que se fosse decidido fechar as auto-estradas, proibir as viagens entre concelhos e impedir os encontros dos mais próximos... os acidentes e, por consequência, as mortes deste período sofreriam uma redução radical. Mas, o b v i a m e n t e , tal é impensável, por causa do impacto inaceitável no modo de vida. E, mesmo em termos de saldo, no que toca a vidas, não é certo que fosse positivo. Às vidas “salvas” dos acidentes rodoviárias teria que ser contraposto as que não se poderiam salvar por não poderem ser transportadas com rapidez pelos serviços de urgência, aos medicamentos que não chegariam a tempos e muitas outras razões. Se a esperança de vida tem aumentado com o correr dos tempos, tal deve-se ao progresso, logo, por contrapartida, qualquer regresso civilizacional significa um aumento da mortalidade. Contudo é bom que, sempre, mas muito especialmente, nestes dias haja um acréscimo de cuidado, um aumento da fiscalização e um cuidado adicional na sensibilização dos condutores e demais agentes. E, claro, manter a proibição da velocidade excessiva e da ingerência de álcool para lá dos limites impostos e consagrados na Lei. Assim deve ser, igualmente, com a pandemia. Não é aceitável impor regras e limitações excessivas, promovendo, muito embora, as elementares regras sanitárias de combate e prevenção desta maldita doença que em má hora nos entrou porta dentro. Os internamentos por Covid competem com os internamentos por muitas outras razões que, como sabemos, ficarão prejudicados se houver um excesso securitário, covidiano.

Um Bom Natal para todos.