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Vendavais- O vírus veio à bola

É escusado ficarmos i n d i g n a d o s . Sempre fomos um povo pacífico e condescendente e como não queremos o mal dos outros, não nos importamos de arcar com o mal que nos possa caber em sorte. Enfim, nada a fazer. A História ensina-nos muitas coisas e particularmente estes pequenos pormenores que justificam as asneiras que fazemos ou que os nossos governantes fazem em nosso nome. Não é que alguém lhes dê autorização para isso, mas eles tomam esse direito abusivamente agarrando-se a justificações que nada justificam a não ser a bondade que o nosso povo tem em aturar tudo isso. Pois ao longo de toda a nossa História a aliança com a Inglaterra serviu muito bem aos ingleses, mas muito mal aos portugueses. A nós só justifica o facto de sermos aliados para permitir que em alguns momentos e perante determinados assuntos políticos e económicos, não tenhamos tido a coragem de dizer Não aos ingleses para ficarmos bem vistos aos olhos da Inglaterra como se isso lhes interessasse sobremaneira. Definitivamente Não. Não interessava nada. Eles sempre quiseram defender os seus interesses e não os de Portugal. Foi o que aconteceu com o Tratado de Methuen tão desastroso para economia nacional, mas tão importante para eles. De facto trocar lã por vinho do Porto, era ditado só pela necessidade de escoar os nossos vinhos e não pela falta de lã em Portugal. Enfim! E para os que não sabem, também abdicámos do famoso Mapa cor- -de-rosa em África, porque os ingleses nos ameaçaram e teríamos de abandonar esse território entre Angola e Moçambique, a bem ou a mal, para eles ligarem a cidade do Cairo à cidade do Cabo na África do Sul. D. Carlos acedeu e talvez por isso, mas não só, acabou assassinado pelo Manuel Buíça de Vinhais. Coisas da História. Agora, uma vez mais, abrimos as pernas aos ingleses e à UEFA para receber a final da Champions entre duas equipas inglesas. Neste caso, eles não têm culpa. A culpa é de quem aceitou que isso tivesse lugar no nosso país e até ficasse contente com a vinda de mais de dezasseis mil ingleses para a cidade do Porto para assistir ao jogo. Ia ser muito bom para a economia nacional, como disseram os responsáveis portugueses. Será que vai ser bom? Será que foi bom? Será que o Porto e as pessoas do Porto não vão pagar caro esse evento? A chegada de tantos adeptos vindos de um país onde o vírus se passeia livremente pelas ruas de Londres e de outras cidades inglesas, não abona nada a favor de tal solução para nós, especialmente porque nada temos a ver com esses clubes que se vão gladiar em arena neutra. Que o fizessem na terra deles. E isto não é ter nada contra os ingleses, mas sim contra o facto de estarmos em plena pandemia e se os portugueses não se podem reunir porque a polícia logo aparece para dispersar toda a gente, então porque é que os ingleses podem? Aliás, eles para treinar, começaram logo a agredir-se em plena cidade, aos milhares, com toda a raiva que o fanatismo clubístico permite. Completa loucura. Dentro de alguns dias saberemos se essa final tão polémica e tão publicitada a nível internacional, foi ou não um sucesso. Se ganhou o Chelsea ou o City não é o mais importante. O importante é que tenha ganho o Porto, mas isso só veremos daqui a dias. A escolha do estádio do Dragão seria sempre uma boa escolha se nada se passasse de extraordinário. Em tempos de acalmia e serenidade, o acontecimento era relevante e, obviamente de saudar a escolha. Mas o momento presente e perante os perigos que correm, penso que dispensávamos tal evento. Mas o que está feito, feito está. Aconteceu. O vírus terá vindo ver a bola, ou não. Esperemos que ele não tenha assistido ao jogo, já por si tão renhido, e não viesse a acompanhar os fanáticos ingleses, que não sabem ver futebol e não se sabem conter perante estes momentos únicos no desporto internacional. Sabemos bem que para estes adeptos o que interessa é beber uns finos bem bebidos, dar uns murros e partir umas montras pelo caminho. Tudo pacífico. O vírus, bem, alguém ouviu falar dele? Eles também não. Perante tudo isto, parece que se justifica a indignação dos portugueses que, em Lisboa foram dispersados pela polícia por se juntarem sem respeitar o distanciamento e a colocação de máscaras. Máscaras? Os ingleses também não sabem o que isso é! Francamente! Pois no meio de tantos milhares de pessoas será difícil afirmar que o vírus não se passeou pelo meio do pessoal, mas eu espero que ele, pelo menos, não seja fanático de nenhum dos clubes e se tenha mantido quietinho em território britânico. Nós dispensamos.

Francisco Cepeda

Conheço o Professor Doutor Francisco Cepeda desde os bancos e carteiras da Escola Primária sita no então tamanino Bairro da Estação, da época das nevadas a paralisarem a circulação dos comboios cujos apitos imitavam os amoladores de tesouras, facas de cozinha e navalhas a anunciarem iminente zurvada ou chuva bem caída. Na Escola imperava a professora Dona Aninhas Castro, senhora que impunha respeito, bastava um olhar, e mesmo os repetentes do calibre do Herculano (Michelin) ou do Fernando (Calcada) metiam os queixos no pescoço e nem tugiam, nem mugiam. Pelos anos fora continuámos a estimá-la, a ouvir os seus conselhos, a temer os seus ralhetes. O «Xixo» Cepeda impunha-se através do seu comportamento conciliador e bem-humorado e, primacialmente, devido à sua pendularidade de bom aluno desprovido de espúria jactância. E, assim continuou, no secundário perdeu-se de amores, tendo sido correspondido por uma menina bragançana, o amor solidificou-se numa união que persiste, a qual costumo salientar a propósito de tudo, a propósito de banalidades quotidianas. Parabéns à Julieta, qual Penélope esposa amantíssima. Em 1967, sou colocado no Batalhão Caçadores Nº 10, em Chaves, ali roía o tempo «militar» o alferes Cepeda. O meu destino era bater com os ossos no então Ultramar, porém durante três meses o poiso era Chaves numa altura de angustiante desalento que uns papéis agora a repousarem na Torre do Tombo explicam a causa da provação. Pois bem, mal coloquei a mala no quartel, por um feliz acaso surgiram o Francisco Cepeda e o Mário Carneiro e logo me concederam todo o gasalho possível. A gratidão não se vende nas farmácias, exalto-a quando surge a ocasião. É o caso. Por nás e nefas tenho acompanhado o percurso académico e social do autor desta notável investigação referente ao modo como a imprensa da velha urbe acompanhou o palpitar daquela comunidade viveu e sobreviveu durante cem anos, o século XX, enfrentando o isolamento, a castração cultural, o advento e a plena fruição da democracia, as crises expressas em doenças, em sofrimento e morte das populações, os minguados tempos de alguma abastança, logo relativa prosperidade e o mais que adiante irei referir. Não se confinou ao ram-ram da docência no ensino secundário, muito menos ao adormecimento intelectual, do mesmo à letargia cívica no alvorecer da democracia. Por assim ter sido, foi tenaz, doutorou-se na prestigiada Universidade Técnica, acumulou trabalhos da sua autoria nas bibliotecas especializadas, correu Mundo, interveio na vida da cidade, do desempenho de funções profissionais das várias áreas do conhecimento, gastou energias na representação cultural e científica do terrunho brigantino com brilho e distinção. Tudo isto, no passado de há mais de meio século, estou convicto que assim irá continuar dado o seu resoluto ânimo. Este ingente e suado labor sem dificuldades, decepções e claro que não, serena e elegantemente colocou os energúmenos especialistas na inveja, nas raivosas ciumeiras, demonstrando de modo incisivo o ser um Homem bom, um Homem justo. Nos tempos correntes dos génios das bagatelas e especialistas na discussão do efémero, ter um amigo do Talante de Francisco Cepeda concede-me felicidade e fortaleza para aguentar a pandemia ética e moral a engordar no nosso País e, no tocante à pandemia cujo braço armado em punha a gadanha da morte (título de um livro de ilustre republicano anti-salazarista) tenho procurado e procuro fugir- -lhe. Está na altura de emitir opinião acerca do seu livro Bragança no Século XX. Que dizer depois do magnifico e desenvolvido artigo a ele referente do Engenheiro António Jorge Nunes? Muito pouco na justa medida de o nosso comum amigo ter dito tudo. O livro é um fino e acerado repositório das Instituições e figuras de várias matizes e mutações de ordem religiosa, científica e técnica, sem esquecer a sociedade, as comunidades das sucessivas gerações, nos dias quotidianos, nos dias de regozijo e farândula. Não andarei longe da real/ realidade ao escrever que nos vários capítulos deste livro existem lembranças de múltiplos tons e sons a recordarem o rolar dos seixos na calçada das dez décadas do burgo do Braganção, ora registados pelo Senhor Professor ousado capaz de no Inverno da produzir tão belo e brioso trabalho ao qual ouso colocar na estante dos trabalhos só possíveis a quem detém uma paciência de copista beneditino.

O Estado falhou!

Todos estamos ainda lembrados dos incêndios de junho de 2017 em Pedrógão. Também temos presente que nesse mesmo ano em 15 de Outubro, numa altura em que já ninguém contava com incêndios, a zona centro entrou em auto ignição. Num só dia atearam-se 500 incêndios. E num País que não costuma registar mortos vítimas de incêndio, só nessas duas datas registaram-se mais de 100. Foi uma verdadeira catástrofe. E tudo se conjugou para correr mal. Se por um lado os matos chegavam às portas das casas por outro o incêndio teve características tais que o investigador, encarregado de fazer o relatório sobre o acontecimento, disse não ser este incendio enquadrável pois a violência e a raridade são tais que não existe literatura cientifica que o tipifique. Além disso o gigantismo do fenómeno provocou erros e falhas em cadeia uma vez que ninguém tem preparação para acontecimentos não conhecidos. Não obstante o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa proclamou “urbi et orbi” “o Estado falhou.” Há pouco tempo um emigrante Ucraniano que pretendia trabalhar em Portugal viu a sua pretensão recusada pelos Serviços de Estrageiros e Fronteiras, vulgo SEF. Indignado, reagiu mal e em consequência foi brutalmente agredido pelos agentes do SEF. Morreu vítima das agressões. Marcelo Rebelo de Sousa repetiu “o Estado falhou”. Quando, a propósito do surto epidémico ocorrido em Odemira na comunidade imigrante, vieram a terreiro as condições infra-humanas em que vive essa mesma comunidade, fruto da negligência de uns e da ganância de outros. Marcelo sentenciou “o Estado falhou”. Na celebração da vitória do Sporting no campeonato onde foram infringidas várias regras de segurança sanitária, fruto da incorreção de uns e do excesso de confiança de outros, Marcelo exclamou “o Estado falhou”. Ouvir “o Estado falhou” vindo da 1ª figura do Estado faz parecer um acto de humildade, um acto de contrição, um “mea culpa”, a fazer lembrar o filósofo Karl Jaspers quando declarou indignado “a culpa do Nazismo é de todos nós”. (Jaspers, casado com uma judia e vítima do Nazismo, sentia culpa e remorso por ver, tarde demais, que as minorias activistas e organizadas conseguem manobrar as maiorias silenciosas.) Mas não. “o Estado Falhou” parecia a “trompeta Castelhana”, “ingente, fera, horrenda e tormentosa”. Era uma declaração de guerra. Acho bem que se faça guerra às falhas do Estado. Por isso não entendo bem que o nosso Presidente não tenha sido mais assertivo, mais acutilante e mais presente quando da morte dos dois instruendos dos Comandos vítimas duma exigência física que, além de manifestamente exagerada, teve tiques de sadismo. Nem ele nem a classe política em geral. Aquele coro de indignação que se ouviu pela morte do Ucraniano, que teve pedidos de demissão e que obrigou a uma restruturação dos serviços, não teve presença na morte dos dois militares. Será que aqui o Estado não falhou? Ninguém disse. É que as causas das mortes nos dois casos são rigorosamente as mesmas: um exercício de violência gratuita levada ao extremo que, aceito, não tivesse a morte por objectivo mas que a teve por consequência. Porque uma morte traz muitos aborrecimentos, como se verifica. Um pouco menos de violência e o Ucraniano estaria agora na Ucrania a lamber as feridas e o SEF registaria esse dia como de absoluta normalidade. Mas a banalização da violência em alguns sectores leva a um crescendo sem limite, inebriados que ficam do seu próprio sadismo. E se a causa das mortes foi a mesma nos dois casos, já não foi semelhante o tratamento posterior. Se não repare-se: os julgamentos estão agora no fim mas enquanto que o caso do Ucraniano esperou um ano, o dos militares esperou cinco; a indeminização atribuída à família do Ucraniano foi de setecentos e tal mil euros e foi decidida antes da sentença transitar em julgado mas as indeminizações às famílias dos militares esperam pela sentença e estariam a propor à volta de quatrocentos mil euros para os dois; além disso, e sem querer branquear qualquer comportamento violento, o Ucraniano rebelou-se contra as regras de um Estado soberano ao passo que os os rapazes só queriam ser militares do Exercito Português. Houve uma clara diferenciação nos procedimentos fruto do clamor das oposições e do mediatismo que lhe foi associado. É este mediatismo que marca a agenda das coisas, que lhes dá ou tira valor, que faz pressão num sentido ou noutro, que seduz figuras públicas, em suma, que distorce muitos procedimentos. É esta perversidade do mediatismo que me sugeriu uma pergunta para a qual não tenho resposta. Vejamos o seguinte raciocínio: estes dois casos de morte foram investigados, debaixo da alçada do Ministério Público, pela Polícia Judiciária no caso do Ucraniano e pela Polícia Judiciária Militar no caso dos militares. No caso da investigação feita pela PJM, a Procuradora Cândida Almeida teceu rasgados elogios ao Major Vasco Brazão que liderou a investigação. Mas quando aconteceu o roubo das armas em Tancos a Procuradora Geral da República, Marques Vidal, não aceitou que as investigações fossem feitas pela PJM, no que foi acompanhada por Marcelo Rebelo de Sousa. E a pergunta é: porque é que o Major Brazão serve para investigar um caso sensível com duas mortes e não serve para investigar um roubo de armas obsoletas que é um caso de pilha galinhas versus tropa fandanga? De um lado havia Ministros e outras figuras públicas do outro eram só dois rapazes. Eram só dois rapazes…

Sim, continuo aqui

Vou lançar aqui um desafio: conhecem alguma história de amor que tenha ficado mal resolvida? Ou será melhor perguntar antes de quantas se lembram, sem pensar muito (ou no próximo texto ainda estaremos a discutir este tema, e vamos chegar à conclusão de que é melhor escrever um livro só com estas vivências. Fica o registo para eu receber depois os devidos louros). Começo, como é lógico, eu, - e até acho que já contei isto uma outra vez - com a história de um senhor que queria pedir a mais nova de duas irmãs em casamento. Mas, com o nervosismo, atrapalhou-se tanto que o pai das moças em idade casadoira percebeu mal, e acedeu dar a mão da filha mais velha. Não foi permitido desfazer o engano, estava feito. Pelo que o jovem teve que casar com aquela que queria antes para cunhada, e que se chamava Perpétua. Já pensaram quantos amores ficaram desfeitos por mal- -entendidos, por uma carta que nunca chegou ao destino, por culpa de um preguiçoso que não foi chamar para ir ao telefone, por uma mentira maldosa de terceiros? E tudo tinha um fecho, de algum modo. Que podia ser um “e nunca mais soubemos nada um do outro”, com mais ou menos pena. Tudo mudou com as redes sociais. Podemos estar a morar noutro planeta que nos é permitido manter por perto quem nós quisermos. Ou afastar. Só que, por norma, e pelo sim pelo não, fica lá. Ou porque achamos infantil eliminar alguém só porque as coisas correram menos bem, ou porque estaríamos a dar a parte fraca e dizer que aquilo nos afectou. Ou, tanta vez, porque queremos manter uma ligação, ainda que digital, com determinada pessoa. Saber algo dela, saber que podemos conversar (ou tentar, vá) com ela ou interagir de alguma forma. Interagir é talvez a melhor expressão, porque é o que fazemos online. E há uma espécie de manual quase universal com vários passos para isto, quando se trata de “pendências” (façam vocês a piada). Podemos escolher dar “likes” depois de meses ou até anos sem trocar uma palavra. Podemos elevar o patamar e fazer isso só que em fotografias com séculos (eu estive a ver o teu perfil todo, todinho, pois foi. E como é que isso te faz sentir? Vais falar comigo? Ou começo eu? Sim, sou o amor da tua vida. Mas está tudo cego?). Podemos dar logo tudo numa piada no chat. Lançar ao mar aquilo que parece um inofensivo anzol sem isco, que acaba por ser pesca de arrasto. Estamos ávidos de informação na internet, de dar e receber. Queremos também marcar uma presença, lembrar ao outro que estamos vivos, numa publicação perto de si. E não queremos demoras nas ditas interacções, se houver lugar a elas. Para isso teríamos escolhido enviar uma carta, soubéssemos nós o raio da morada. Acho que hoje em dia só as Finanças sabem a nossa morada. Ou talvez, com a internet, saibamos é tudo e tão pouco, na verdade, sobre as pessoas a quem queremos. E sabemos que as queremos por perto, ainda que assim à moderna, onde tudo funciona à distância, sem horários e quando nos apetece. É então caso para perguntar: estamos a dar cabo do romance ou é o romance que está a dar cabo de nós?

Sou credor. E agora?

Falar em recuperação de crédito é falar também de um fator social subjacente ao mesmo, já que o cidadão associa imediatamente este termo a “dívidas” e a “penhoras”, muitas delas com a presença das autoridades policiais e com a alegada “entrada forçada” nas residências dos devedores. Mas, afinal, o que é um crédito? É quando o credor detém “a confiança de que vai receber de volta o dinheiro emprestado”, ou seja, o credor pretende que “paguem o que lhe devem”. Muitas vezes, este crédito torna-se num verdadeiro problema devido às tentativas inúteis do próprio credor em pressionar pessoalmente o devedor. Tal pode levar à frustração pessoal daquele, que acaba por se sentir inseguro e desmotivado para recorrer aos meios legais quando, em boa verdade, o aconselhamento jurídico no momento certo pode resolver um problema que apenas está a começar. E então surge a questão: será que quando o credor procura um Solicitador para que este recorra, em seu nome, aos meios legais disponíveis para recuperação de crédito, já pouco ou nada há a fazer? O Solicitador tem conhecimento do sistema jurídico em vigor e é um profissional qualificado que observa cuidadosamente a complexidade e a fragilidade da recuperação de um crédito. Analisa o caso concreto, a documentação que suporta a dívida e reage de imediato, muitas das vezes dando início ao processo apenas com uma carta de interpelação ao devedor. E se, com esta primeira interpelação, não obtiver resultados, tendo o credor em sua posse faturas, o Solicitador poderá optar pelo procedimento de Injunção. Através deste mecanismo, a Secretaria Nacional de Injunções notifica o devedor para pagar ou para se opor à Injunção. Nada fazendo, o credor ter o direito de executar a dívida em processo de execução. E assim, sem mais demoras, com a intervenção do Solicitador, o credor passa a ter um título com força executiva, servindo de base a uma execução. De seguida, o caminho jurídico em busca da recuperação do crédito passa por intentar um processo executivo e nomear um Agente de Execução. Se não antes, é finalmente neste momento que se consegue a “atenção” do devedor! Ora, chegados a esta fase de natureza executiva, estamos perante um processo coercivo e intimidatório que também tem um lado de conciliação, já que confere ao devedor a possibilidade de celebrar um acordo em prestações ou um acordo global, nomeadamente através da negociação da dívida. Com a chegada do processo ao Agente de Execução, o credor vê um fim ao seu martírio. É certo que o “crédito” faz parte da atividade económica, quer na vida privada, quer na vida empresarial. E por isso mesmo, não deixe de trilhar os seus caminhos nos negócios por falta de clareza ou apoio jurídico. Procure sempre um profissional qualificado.

Joana Bonifácio

Bragança : A Nação Judaica em Movimento - 8 - Rafael de Sá mercador em Faro e Lisboa

Entre 1662 e 1683, nenhum mercador português estabelecido no Algarve terá importado tantas mercadorias de países estrangeiros como Rafael de Sá, conforme consta do livro da “visita às naus estrangeiras”. Em apenas 5 anos (1678 – 1683) foram descarregados por sua conta 17 barcos, no porto de Faro. O primeiro foi uma sumaca inglesa, por nome Suzana, remetida de Londres, que chegou a Faro em 23.2.1678. E este foi o único navio que veio de Inglaterra, “em direitura a Faro”, por conta do mercador Brigantino. Passaram quase dois anos, até receber segunda encomenda. Má experiência comercial? Não temos elementos que nos permitam dar uma resposta. Pensamos, porém que isso resultou de algumas mudanças na organização empresarial de Rafael. A partir de então todos os fornecimentos lhe vieram da Holanda, mais concretamente, de Amesterdão. Chamava-se S. Martinho, o navio holandês, vindo daquele porto, chegado a Faro em 14 de Novembro de 1679, destinado a Rafael. O capitão era Jacob Reinaldo e ele e toda a tripulação eram holandeses. Passado um mês, chegou o navio Sara e Isabela, igualmente vindo da Holanda, mas o capitão e a tripulantes eram todos ingleses. A partir de então, constata-se que capitães e tripulações eram todos holandeses. Olhemos também para os nomes dos navios que abasteciam Rafael: vimos o S. Martinho, nome de santo tipicamente português, e bem portugueses parecem os nomes dos outros navios que Rafael de Sá foi recebendo: Suzana, Sara e Isabela, Dragão Verde, Vaca Malhada, Ovelha Branca, Cordeiro Branco, O Sul Dourado, Cisne Branco… tudo nomes de sabor lusíada! Seriam sefarditas os armadores de tais barcos? E quem seriam os correspondentes de Rafael de Sá em Amesterdão? Possivelmente a resposta a estas perguntas haverá de encontrar-se em arquivos holandeses, nomeadamente os registos dos contratos e despachos dos barcos. Porém, uma vez que não podemos ir à Holanda à procura de respostas, voltemos a Bragança. Talvez aí se encontre uma resposta plausível. É que, desde há duas gerações, a família da sogra de Rafael (Joana Nunes) se encontrava na Flandres. E estes – os Lafaia - passariam a ser os seus correspondentes de Amesterdão. Continuemos em Bragança, situando-nos em um dos primeiros dias do mês de Junho de 1660, quando a inquisição prendeu Rafael de Sá e os seus pais, António da Paz e Engrácia Nunes. Todos eles saíram penitenciados no auto da fé de 9.7.1662. A pena mais severa foi aplicada à matriarca, Engrácia Nunes, desterrada para o Brasil. Como muitas vezes acontecia e certamente por dificuldades no transporte, foi-lhe comutado o desterro para Castro Marim, no Algarve. Possivelmente, foi o desterro de Engrácia Nunes que motivou a deslocação de Rafael para o Algarve, acompanhando o pai e a mãe. Entretanto, Rafael de Sá, casou com Luísa da Mesquita, que na mesma altura estivera também prisioneira na inquisição de Coimbra e fora sentenciada no mesmo auto, filha de António Mesquita, de Vinhais e Joana Nunes (Lafaia), de Bragança. O casal assentou morada em Loulé, vila onde nasceu o filho António de Mesquita, em 1669. Curioso: O seu padrinho de batismo foi Henrique Janson, mercador inglês estabelecido no Algarve, de quem se falou em texto anterior, o mercador que mais barcos estrangeiros recebeu no Porto de Faro, entre 1662 e 1673: 45! Que ligações haveria entre Rafael e Janson? Será que este forneceu mercadorias a crédito, nomeadamente fazendas inglesas, quando Gabriel chegou ao Algarve e se estabeleceu como mercador? Será que Rafael entrou para caixeiro de Janson? Na verdade, a mudança de Rafael, de Loulé para Faro, aconteceu logo de seguida e a entrada de Rafael no ciclo das importações de produtos de Inglaterra e Holanda aconteceu depois da “reforma” de Janson. E isto vem corroborar a mudança de estratégia empresarial de Rafael, acima referida. Certamente que o Algarve se revelou uma terra de oportunidades, pois logo para ali rumaram outros membros da família de Rafael nomeadamente o seu irmão Luís da Paz de Sá que, em 1678 foi padrinho do seu segundo filho varão: Francisco de Sá Mesquita, nascido e batizado na cidade de Faro, para onde, entretanto, todos se mudaram. Isabel Nunes, irmã de Rafael, essa não rumou ao Algarve. Ficou morando em Vinhais, onde estava casada com Francisco Cardoso, mercador. Os dois conheceram as cadeias da inquisição de Coimbra e em Vinhais faleceram. Seus dois filhos, porém, seguiram o caminho do Algarve. De um deles, António Cardoso da Paz, haveremos de falar em próximo texto. Por agora diremos que, em 1686, batizou um filho, com o nome de Rafael de Sá da Paz, cujos padrinhos foram os tios Rafael e Luísa Mesquita. Da outra, Grácia Nunes, diremos que casou com Pedro Borges, de Bragança e o casal foi também para a cidade de Faro onde, em 29.7.1678, batizaram um filho com o nome de Rafael da Paz, cujo padrinho foi igualmente o tio Rafael. E se em Bragança Rafael tinha a profissão de curtidor de peles e em Loulé se fez mercador, em Faro apresentava-se como um respeitável homem de negócio e contratador, com relações sociais muito diversificadas. A título de exemplo, refira-se que, por essa altura, aconteceu a cerimónia do crisma de António, seu filho. E então, o padrinho já não foi o mercador inglês mas… o inquisidor do tribunal de Évora, Dom Manuel Guerreiro Camacho Aboim! Porém, a ascensão social da família tornou-se mais visível quando os seus dois filhos rumaram a Coimbra, a estudar na universidade, ambos se formando em medicina. Com dois filhos doutores e certamente uma acrescida capacidade de entrar em arrematações e contratos comerciais, Rafael de Sá deixou Faro e foi estabelecer morada em Lisboa, onde, certamente, janelas mais amplas se abriam para negociar e casar os filhos. O primeiro casamento terá sido o da filha, Grácia de Mesquita, com João Esteves Henriques, um dos filhos de João Álvares de Castro, contratador e de Branca Lopes Henriques, uma das mais poderosas famílias de Beja, latifundiária, diríamos, em linguagem dos nossos dias. Do lado de João Álvares de Castro, diremos que se trata de uma família de lavradores alentejanos, médicos e advogados que, aliavam a exploração da terra com o exercício da medicina e da advocacia e o comércio. Duarte Lopes Rosa, médico, é um bom exemplo. Explorava 3 herdades (montes), as quais lavrava com 17 juntas de bois e tinha olivais e um lagar de azeite que valia 300 mil réis, para além de outras terras do Marquês das Minas. E mantinha duas “lojas” comerciais, uma de “vestiaria” e outra de solas e madeiras que importava do Brasil, lojas que valiam mais de 2 contos de réis, não descurando também o serviço de “bancaria” que consistia em mandar vir bulas de Roma, o que implicava grandes transferências de dinheiros. E agora importa referir que na Cúria de Roma trabalhavam membros da família, nomeadamente o médico Duarte Lopes Rosa, tio do citado, seu homónimo e o também méEntre 1662 e 1683, nenhum mercador português estabelecido no Algarve terá importado tantas mercadorias de países estrangeiros como Rafael de Sá, conforme consta do livro da “visita às naus estrangeiras”. Em apenas 5 anos (1678 – 1683) foram descarregados por sua conta 17 barcos, no porto de Faro. O primeiro foi uma sumaca inglesa, por nome Suzana, remetida de Londres, que chegou a Faro em 23.2.1678. E este foi o único navio que veio de Inglaterra, “em direitura a Faro”, por conta do mercador Brigantino. Passaram quase dois anos, até receber segunda encomenda. Má experiência comercial? Não temos elementos que nos permitam dar uma resposta. Pensamos, porém que isso resultou de algumas mudanças na organização empresarial de Rafael. A partir de então todos os fornecimentos lhe vieram da Holanda, mais concretamente, de Amesterdão. Chamava-se S. Martinho, o navio holandês, vindo daquele porto, chegado a Faro em 14 de Novembro de 1679, destinado a Rafael. O capitão era Jacob Reinaldo e ele e toda a tripulação eram holandeses. Passado um mês, chegou o navio Sara e Isabela, igualmente vindo da Holanda, mas o capitão e a tripulantes eram todos ingleses. A partir de então, constata-se que capitães e tripulações eram todos holandeses. Olhemos também para os nomes dos navios que abasteciam Rafael: vimos o S. Martinho, nome de santo tipicamente português, e bem portugueses parecem os nomes dos outros navios que Rafael de Sá foi recebendo: Suzana, Sara e Isabela, Dragão Verde, Vaca Malhada, Ovelha Branca, Cordeiro Branco, O Sul Dourado, Cisne Branco… tudo nomes de sabor lusíada! Seriam sefarditas os armadores de tais barcos? E quem seriam os correspondentes de Rafael de Sá em Amesterdão? Possivelmente a resposta a estas perguntas haverá de encontrar-se em arquivos holandico João Álvares Batista, filho daquele. Branca Henriques, por seu turno, pertencia a uma importante família da Covilhã, detentora de uma fábrica de tecidos. Isabel Henriques, sua irmã, casada com o Dr. Simão Lopes Samuda, foi queimada pela inquisição em 1703. Outra irmã, chamada Catarina Henriques, foi casada com Bernardo de Lara e, ficando viúva, casou de novo, em Viseu, com Gaspar Rodrigues Brandão. João Álvares de Castro, um dos netos do citado João Álvares de Castro e Branca Henriques, lavrador em Beja, era o proprietário da casa onde se realizou a célebre academia (ou celebração judaica?) que levou à prisão de muitas dezenas de pessoas, na conhecida “Cumplicidade de Beja”. Com uma filha do Dr. Simão Lopes Samuda e Isabel Henriques, chamada Guiomar Maria Henriques, casou o Dr. António de Mesquita, filho de Rafael de Sá. E com uma filha destes, nascida por 1695, batizada com o nome de Isabel Henriques, viria a casar o Dr. Henrique (Jacob) de Castro Sarmento. O casal fugiu para Londres onde o Dr. Jacob se tornou famoso pelas suas experiências na descoberta da vacina contra a varíola e pelo famoso remédio que ele vendia com o nome de “Água da Inglaterra”. Finalmente, o Dr. Francisco de Sá Mesquita, queimado pela inquisição no seguimento da “Cumplicidade de Beja”, foi casado em Lisboa com Isabel de Sequeira.