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Presidente de junta de freguesia aos 19 anos mas a sentir-se “mais capaz do que ninguém”

Ter, 25/05/2021 - 11:03


Mas haverá uma idade certa para entrar para a política? Estará um jovem preparado para aceitar um cargo importante? Ricardo Cordeiro é a prova de que “de pequenino é que se torce o pepino”. Com 19 anos foi eleito presidente da Junta de Freguesia de Castanheira, no concelho de Mogadouro.

O 25 de Abril dos generais.

Em França, um grupo notável de generais advertiu publicamente o presidente Macron do risco de colapso do país às mãos de fanáticos islâmicos que atacam desapiedadamente a cultura e as tradições francesas e já impõem os seus mandamentos nos grandes subúrbios, desrespeitando a Constituição Francesa. Em Portugal, um não menos notável grupo de generais, libertando-se surpreendentemente da indigna subordinação aos políticos que não à Constituição, endereçou uma carta ao presidente Marcelo, manifestando o seu desagrado com a suspeitosa concentração de poderes militares numa única entidade. Gesto que poderá ser entendido como o 25 de Abril dos generais. Muitas e preocupantes são, de facto, as ameaças à democracia que o Regime corrupto gera, com destaque para a latente governamentalização e consequente partidarização das Forças Armadas que esses mesmos generais, até hoje, silenciaram. Com excepção de Ramalho Eanes, justiça lhe seja feita. Ainda que a generalidade dos signatários tenha dado o seu aval ao fantasioso Conceito Estratégico de Defesa Nacional, do qual decorrem o Conceito Estratégico de Defesa Militar, o Sistema de Forças e suas Missões, bem como o Dispositivo Territorial, que se consubstanciam em Forças Armadas pouco mais que simbólicas. Donde resulta que Portugal é, faz tempo, um país indefeso, considerando velhas e novas ameaças, externas e internas. É certo que esta evidência não foi comprovada por episódios de guerra recentes, mas ninguém poderá estar seguro de que não venha a sê-lo, ainda que não se deseje. Porque, como é sabido, os conflitos acontecem quando menos se espera, enquanto a organização e a preparação da defesa nacional deve ser feita com décadas de antecedência. Portugal, porém, é um país indefeso, mas não um país indefensável! É indefeso porque os estrategas determinantes, condicionados por malignas dinamogenias partidárias e corporativas ou porque encaram os assuntos de defesa como atractivas oportunidades de negócio, continuam a defender conceitos e doutrinas utópicas que requerem sistemas de armas excessivos, economicamente incomportáveis e territorialmente desajustados. Portugal é um país indefeso e vai continuar a sê-lo nas próximas décadas. A menos que os governantes mudem radicalmente de conceitos e de preconceitos. E se convençam, de uma vez por todas, que Portugal só será defensável se, no essencial, assentar a sua defesa no conceito de “povo em armas”, já testado em anteriores situações. O que pressupõe que todos os cidadãos, homens ou mulheres, estejam permanentemente aptos a empunhar uma arma, seja de que tipo for, devendo para tanto receber, regularmente, a adequada preparação e treino militares. E que em cada cidade, vila ou mesmo aldeia sejam providenciadas infraestruturas de defesa, preferencialmente da responsabilidade da Protecção Civil Municipal, capazes de proteger os cidadãos em situações de ameaça real. E que a educação cívica para a defesa e segurança de pessoas e bens, passe a constar dos curricula escolares considerando, designadamente, a prevenção de emergentes acções terroristas. À semelhança do que acontece na República Suíça, por exemplo, que não possui forças armadas regulares, mas baseia a sua defesa terrestre numa milícia composta por todos os cidadãos de sexo masculino (a participação feminina está agora a ser incentivada) com idades compreendidas entre os 20 e os 42 anos, com os militares de carreira reduzidos a um pequeno núcleo de não mais de 1000, e aos quais estão atribuídas as missões de treinar os milicianos e de assegurar o comando nos escalões superiores. Modelo que capacita a República Suíça, que tem uma população de pouco mais de 7 milhões, a mobilizar, em menos de 48 horas, mais de 200 000 mil militares, devidamente armados e treinados. Feito impensável com o modelo português em vigor. Acresce que os custos de implementação deste conceito de defesa de inspiração suíça seriam incomensuravelmente menores do que os requeridos pelo Conceito Estratégico de Defesa Nacional, que não será economicamente exequível nos tempos mais próximos, se é que algum dia o virá a ser. Assim sendo, o povo português vai continuar indefeso, manietado, desmotivado, incapacitado de se defender das insidiosas ameaças internas que poem em risco a sua própria sobrevivência. A carta em apreço é um grito de salvação da democracia e da nação.

L’outoridade de la rezon

No dia 19 deste mês de maio, o Movimento Cultural das Terras de Miranda (MCTM) publicou um pequeno vídeo em que, sob o título “Terras de Miranda, Mulheres Intemporais, Heroínas Anónimas” apresenta, um retrato de um rosto feminino, envelhecido e com rugas muito marcadas, da autoria da pintora Balbina Mendes, comentado pela própria. A artista mirandesa quis homenagear as mulheres da sua terra contemporâneas da construção das barragens do Douro Internacional. O traço vincado e monocromático traduz, segundo a autora “a quelor de lanuite que era a quelor de lálma na delor que se perpetuaba na perda temperana de ls filhos”. Aquelas rugas profundas são uma das várias parcelas da fatura do progresso que, entre muitos outros, o ministro do Ambiente desfruta na comodidade do seu gabinete, que João Matos Fernandes, a custo deixou para vir ao Praino, não para mercar fumeiro e artesanato local, mas para trazer, segundo as palavras do MCTM “uma mão cheia de nada”, uma migalha perante o longo historial de proveitos já arrecadados bem como a choruda venda que se anuncia. A esta voz temerária que, felizmente, nem o vergonhoso ataque ao mirandês José Maria Pires conseguiu atemorizar e, muito menos calar, juntou, inconformado, a sua, o autarca de Mogadouro: “A meio das reuniões tínhamos cerca de 440 milhões... [para] ...projetos como regadio ou reativação da linha férrea do Sabor.” Mais do que justificado desagrado e frustração de Francisco Guimarães, relatados pelo Francisco Pinto, na edição do Mensageiro 13 de maio e onde igualmente relata que, Nuno Gonçalves, pelo contrário “disse que os 91,7 milhões anunciados são suficientes para os projetos anunciados”! A audiodescrição de Balbina Mendes fez-me recuar cinquenta anos, para o momento da descoberta, do livro do padre Telmo Ferraz, “O Lodo e as Estrelas”, traduzido para mirandês pelo saudoso Fracisco Niebro (Amadeu Ferreira). Não é de agora que as vozes incómodas das Terras de Miranda se fazem ouvir e não é fácil fazê- -las calar. Quando, depois de concluído o empreendimento hidroelétrico do Baixo-Sabor, os Barrais da Vilariça foram inundados, foi deliberado na Assembleia Municipal de Moncorvo, convocar o responsável de EDP para vir explicar qual era afinal o papel da segunda barragem denominada de “contra-embalse”. Só que quando foi contactado informou que esse assunto já tinha sido abordado em reunião com o Presidente da Câmara. Este confirmou, por e-mail, alegando que esse era um assunto do Executivo. Provavelmente tinha razão. O problema é que não foi publicado o teor das explicações da EDP, se é que as houve e, por outro lado, quando o Douro encheu de novo, os Barrais voltaram a ficar inundados destruindo as culturas de um ano inteiro! Por onde anda a ambição que deveria presidir à liderança do concelho? Quando e onde se perdeu a capacidade de falar alto e grosso a entidades que, como a EDP, ganham milhões com os recursos naturais da nossa terra?

Bragança no Século XX, através da imprensa regional (2)

3 - No século XX a paisagem rural do concelho mudou

No início do século, a agricultura baseava-se em processos ancestrais, ao longo deste século iria ocorrer uma grande mudança, saltando das práticas quase medievais para a modernidade. A castanha era a base alimentar da população. Com a subida do preço da madeira, os sutos foram sendo abatidos. A produção cerealífera aumentou a partir de 1905. No ano de 1932 foi criada a Federação Nacional dos Produtores de Trigo e criadas infraestruturas de apoio à produção, ao armazenamento e compra, com garantia de preço de venda. Nas décadas de 1930 e 1940, semeava-se tudo o que era possível, a desarborização foi intensa. Na década de 1920 surgiram modernas moagens, a Mariano & Companhia Ld.ª; a Moagem Lopes no local do antigo Moinho dos Padres; a moagem Afonso Lopes & Companhia, Ld.ª a única que mantem atividade. A marca deste período é visível nos Silos da EPAC, onde milhares de toneladas de cereal eram carregadas em vagões do caminho de ferro. No ano de 1990, ainda se formavam grandes filas de tratores carregados de cereal. A cultura da batata, desempenhava papel importante na alimentação das populações da Terra Fria. No ano de 1930, para reduzir a importação, foram criados campos experimentais em Montalegre, na Serra de Montesinho e de Nogueira. Muito em breve Portugal seria autossuficiente. Referia-se que nestas serras, em altitudes superiores a 1000 metros, nem pulverizador era preciso ter, porque o míldio não vingava. Em Santa Comba de Rossas fazia-se a ensilagem, para conservação durante cerca de cinco meses, após o que era expedida em vagões de comboio, trabalho a cargo da Cooperativa de Produtores de Batata da Semente de Bragança, criada na década de cinquenta, atualmente sem atividade associativa. Nas montanhas, os campos de cultivo ocuparam terrenos baldios de pastoreio livre, contra a vontade das populações locais. No ano de 1939, para além dos 5200 hectares da Serra de Nogueira submetidos ao regime florestal, contabilizavam-se a área dos 213 baldios, somando 7612 hectares. O apelo à “arborização de serras e estradas”, foi apresentado em algumas comunicações do I Congresso Transmontano realizado no ano de 1920. O ilustre bragançano, Prof. Batista Ramires, membro da Academia de Ciências de Lisboa, referia, «E se o fizéssemos, se arborizássemos serras e estradas, os nossos netos abençoariam a nossa obra». Na vigência do Plano Florestal de 1938-1968, foram plantadas centenas de hectares de floresta, construída uma rede de casas florestais de apoio aos trabalhos de limpeza, à florestação e vigilância. Seguiu-se o Projeto Florestal Português do Banco Mundial de 1981 a 1986, e o Programa de Ação Florestal de 1986 a 1995. Parte destas últimas plantações não tiveram valor económico, terminados os subsídios, as plantações foram abandonadas, os incêndios florestais, têm- -se encarregue de destruir muitas dessas plantações. A pecuária teve um forte incremento, representava muito na alimentação humana e no trabalho dos campos, sobretudo a raça mirandesa essencial na lavoura e no transporte dos produtos agrícolas. No ano de 1935 o efetivo bovino era de 41764 animais, no ano de 2020 o efetivo adulto era de 3000 bovinos em 220 explorações. A mecanização e o abandono da atividade agrícola, levou a que os campos de pastagem se estejam a perder. A cultura do lúpulo, desenvolveu-se entre 1960 e 1980, chegou a haver 30 campos de lúpulo, cerca de 100 ha, era o designado “ouro verde”. Na década de 1970 e de 1980 a produção nacional satisfazia as necessidades da indústria cervejeira nacional, atualmente não chega a 5% das necessidades. A produção ocorria em Braga e Bragança, aqui estava sedeada a empresa Lupulex, junto do Centro de Educação Especial. A instalação industrial já não existe, o terreno foi urbanizado, por volta do ano de 2010. O apoio à viticultura foi assegurado pela Cooperativa Agrícola da Terra Fria SCRL, criada no ano de 1954, com instalações industriais em Vale de Álvaro, sem atividade associativa há cerca de três décadas. O olival tradicional de sequeiro, ocupa um a bonita mancha do concelho, nas freguesias de Macedo do Mato e União de Freguesias de Izeda e Paradinha Nova. A construção do Lagar dos Olivicultores de Izeda, remonta aos anos 1966/1967, pela Cooperativa Agrícola da Terra Fria. A área de olival explorada pelos cooperantes do Lagar Cooperativo é de cerca de 1200 hectares e a produção é de cerca de 250 mil toneladas de azeite. É a única cooperativa do concelho. A produção de castanha, no final do século XVII ocupava cerca de 100 mil hectares, terá caído para cerca de 60 mil no início do século XX, regrediu até atingir cerca de 20 mil hectares na década de 1980. Voltou a recuperar, o Recenseamento Geral Agrícola de 2019, indica que há 51,9 mil hectares, a produção segundo dados da “fileira da castanha”, será da ordem das 45 mil toneladas. A Terra Fria com 26 795 hectares, representa 51,6% da área nacional. Em Bragança, no ano de 1989, a área de soutos seria de 2529 hectares e no ano de 2019 será superior a 15000 hectares. A castanha já foi designada de “petróleo verde”. Esta cultura está sob forte ameaça sanitária, as autarquias e o IPB têm um papel muito importante na preservação e sustentabilidade dos soutos. Os negrilhos/olmos atingiam até 35 metros, duravam centenas de anos, marcaram a paisagem rural durante séculos, uma doença recente extinguiu-os. As barragens de Serra Serrada e de Veiguinhas de abastecimento de água, construídas no Parque Natural de Montesinho criado no ano de 1979 e a barragem de Gostei para rega, são uma marca na paisagem rural. A construção das barragens de abastecimento de água, decorreu desde o ano de 1981 até ao ano de 2014, deram mais vida à paisagem e futuro a Bragança, resolvendo para as próximas décadas um problema de séculos, foi uma grande preocupação no século XX. A água potável é um dos grandes desafios do futuro das sociedades. Foi um século de grandes transformações na paisagem rural, vividas com entusiasmo e apreensão. Deveríamos fazer o exercício de antevisão da próxima mudança, do futuro da paisagem rural e sua sustentabilidade face ao forte despovoamento e às alterações climáticas.

4 - No século XX a paisagem urbana mudou

Bragança foi durante séculos um grande centro produtor da indústria da seda, aberta ao comércio externo, perdeu desde 1835 até ao final do século, a oportunidade de se modernizar, ganhar competitividade. Os serviços, as repartições públicas e as guarnições militares asseguravam muita da atividade comercial. A escassez de capitais, as elevadas taxas de juro e hipotecas ruinosas não ajudavam ao progresso da economia. Um grupo de investidores criou no ano de 1875 o Banco de Bragança, banco emissor, até ser integrado no BNU, no ano de 1919. A fragilidade económica de Bragança agravou-se durante a I República face a outras regiões, reivindicava-se a modernização da agricultura. No ano de 1947, no Grémio da Lavoura, foi deliberado criar a Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Bragança. Importa reter os seguintes dados: A população da cidade no ano de 1900 era de 5310 habitantes e no ano de 2000 de 21074. No ano de 1947, a área urbana era 0,55 Km2 (Plano de Januário Godinho), em 1963 de 2,95 Km2 (Plano Regulador de Viana de Lima). No ano de 2009, passados 62 anos Bragança passou a ter o 1.º Plano de Urbanização aprovado, que fixou a área urbana em 15,3Km2, apostando na estrutura ecológica urbana, na mobilidade e integração. Até ao ano de 1974 foram lentas as transformações nas estruturas económicas do concelho. No ano de 1920, a mão de obra ativa agrícola ascendia a 72,2%, no comércio a 24,4% e na indústria a 3,4%. Feita a comparação ao ano de 2011, a situação é a seguinte: atividade agrícola representa 4,8% da população ativa; o setor secundário 16,6% e o setor terciário 78,8%, números que falam por si. Em termos urbanísticos Bragança cresceu bem, escreveu a Revista Monumentos, no ano de 2011, dedicando o seu último número à cidade de Bragança, referindo-a como uma das cidades portuguesas globalmente melhor estruturadas, sendo Bragança pelo conjunto de monumentos de eleição, pelas suas características, uma cidade de referência no quadro do património artístico nacional. No ano de 1925 foi criado o Grupo dos Amigos dos Monumentos e Obras de Arte, havia muito a fazer pela renovação da cidade. Algumas iniciativas tomadas no final da década de vinte e início de trinta criaram ânimo regenerador na sociedade brigantina e nos seus dirigentes. Nas décadas de 1930 e 1940 aconteceram algumas transformações no espaço urbano de que se salienta: a construção da Avenida João da Cruz, de 1926 a 1946; a inauguração do Museu Regional; do Monumento aos Mortos da Grande Guerra; do Museu Militar; do Seminário de S. José; do Patronato de S. António; do Bairro Social da Estação; do Colégio do Sagrado Coração de Jesus; foi reposto o Cruzeiro na Praça da Sé e demolido o Coreto aí existente; feito o restauro da Domus Municipalis; construído o jardim José de Almeida; no ano de 1939 chegou a rede telefónica. Desde a década de 1940 até início da década de 1970, o investimento público associado ao Plano de Investimentos do V Centenário foi muito significativo. Salientam-se: a construção da Praça Cavaleiro; o Trubunal e Casas dos Magistrados; o Palácio das Corporações; os edifico dos CTT, da Caixa Geral de Depósitos e do BNU; os novos edifícios da Escola Industrial e Comercial e do Liceu Nacional; a Escola de Enfermagem; o Lar da Gulbenkian; o Centro de Educação Especial, o Colégio de S. João de Brito; a Escola Preparatória de Izeda; a Pousada de S. Bartolomeu; o aeródromo de Baçal, a variante ferroviária; foi requalificada a Cidadela e as muralhas; o Hospital Regional de Bragança, foi inaugurado no ano de 1973 pelo Presidente da República. No ano de 1947 foi construído o campo de futebol no antigo Toural, sem balneários, bancadas e vedações em madeira. No ano de 1957 foi decidida a construção de um novo, no Cabeço das Beatas, junto ao Posto Hípico, iniciado no ano de 1973 e concluída a 1.ª fase em 1977. No investimento privado, a construção da estação de serviço da Sacor e do complexo da Torralta. O período pós 25 de Abril e início do século XXI marca o crescimento e consolidação da cidade do futuro: Referem-se alguns factos: As infraestruturas desportivas evoluíram muito, o complexo desportivo do concelho é significativo, destaca-se o estádio municipal, as piscinas e pavilhões municipais, as infraestruturas do Clube Académico de Bragança, do IPB, a que acrescem outras infraestruturas desportivas, na cidade e nas aldeias. O voluntariado é desde há séculos uma Força Social, de promoção do apoio social e humanitário. Das instituições atuais, a Santa Casa da Misericórdia, a Associação de Socorros Mútuos e a Casa de Trabalho Dr. Oliveira Salazar são as instituições sociais mais antigas do concelho. Após o ano de 1974, doze novas instituições sociais e humanitárias se fixaram na cidade e mais sete nas aldeia e Vila de Izeda, a que acrescem algumas unidades privadas. Foi uma grande evolução da Força Social a que o voluntariado dá a solidez que o Estado por si só não conseguiria assegurar. As condições e assistência hospitalar foram tema no II Congresso Transmontano, no ano de 1941, defendeu-se a melhoria da assistência médica e social, para combater as doenças que afligiam as populações, o carbúnculo, o paludismo, a lepra, a raiva, a tuberculose etc. Defendeu-se a criação do Ministério da Saúde e Assistência, a conclusão das obras do Hospital de Mogadouro, a construção de um Hospital na Vila de Mirandela e de um hospital Central em Bragança. No ano de 1943, havia o hospital militar e o hospital da Misericórdia. A resposta de cuidados de saúde primários e hospitalares deu um grande salto, apesar disso, não se pode descurar o investimento em instalações, em meios avançados de diagnóstico e na modernização tecnológica, condições necessárias para fixar recursos humanos qualificados, melhorar os cuidados de saúde. A indústria nos primeiros três quartos de século, não teve qualquer expressão na produção industrial bruta do País, no ano de 1969 representava 0,2%. A atividade industrial e as infraestruturas de apoio, ajudaram a mudar a paisagem urbana e a economia, Bragança passou a ser um dos principais concelhos exportadores da Região Norte. No ano de 2002, ocupava o 40.º lugar no ranking dos concelhos ao nível do poder de compra per capita. No ano de 2011, segundo estudo realizado pelo Prof. Francisco Cepeda, Bragança apresentava os melhores índices de desenvolvimento de entre as capitais de distrito do Interior. No ano de 1972 foi criada a PRECINORTE, encerrou no ano de 1980. No ano de 1985 foi criado o Núcleo Empresarial da Região de Bragança, que ocupou as antigas instalações da PRECINORTE, adquiridas pela Câmara Municipal. No ano de 1990 instalou-se a fábrica de metalomecânica Gruning, que chegou a laborar com 190 trabalhadores, foi alienada no ano de 2000, por venda judicial, adquirida pela Câmara Municipal, foi nesse ano vendida à multinacional francesa Faurécia. A instalação desta empresa mudou o perfil industrial e exportador do concelho, atraindo novas empresas exportadoras, fixadas na zona industrial de Mós. Outros importantes investimentos de empresários locais foram concretizados, na área agroalimentar, sendo exemplo as fábricas de transformação de castanha, as empresas de enchidos e de panificação; na área dos medicamentos, da metalomecânica ligeira, da construção civil e obras públicas, setor que deu grande contributo para a construção do parque habitacional e comercial da cidade e do concelho. A Câmara Municipal desde o final da década de oitenta até à atualidade tem investido na construção de zonas industriais para acolhimento empresarial – Cantarias, Mós e Carvas, o que muito ajudou no reordenamento urbano e acolhimento de novas empresas. No ano de 2012 iniciou a construção da 1.ª fase do Brigantia EcoPark, centro de investigação e de incubação para empresas de base tecnológica. O Comércio e os serviços evoluíram muito, a grande mudança inicia com os retornados, muitos com capacidade empreendedora. A instalação na cidade na década de noventa de quatro médias/grandes superfícies comerciais, alterou o conceito de abastecimento público, com forte impacto no comércio tradicional e de bairro. O comércio da cidade aderiu ao conceito de negócio de franchising, o investimento em novas marcas ajudou à modernização do comércio. Na década de 2000, a parceria entre a Câmara Municipal e a ACISB, deu origem à maior renovação de sempre, no comércio tradicional do Centro Histórico e em geral do espaço público. A atividade comercial evoluiu ao longo das novas avenidas, rompendo com a visão do comércio centrado no Centro Histórico. Na transição do milénio, a cidade deu um grande salto em termos ambientais, no final da década de 1990, a limpeza urbana era muito deficiente, os resíduos sólidos urbanos eram recolhidos de forma indiferenciada, depositados em lixeiras a céu aberto, junto ao cruzamento de Donai e nas proximidades da Quinta das Searas, no tempo seco, os plásticos, pneus e cartões ardiam com frequência, as colunas de fumo negro marcavam a atmosfera. As lixeiras foram encerradas e seladas, os lixos transportados para unidade de tratamento e valorização. No ano de 1997, os esgotos da cidade corriam diretamente para os rios Sabor e Fervença, a cidade estava de costas para o rio. Foram feitos os investimentos de canalização e tratamento dos esgotos, o mais avançado possível. A frente ribeirinha, após despoluição ganhou nova vida com investimentos de requalificação. Na transição do milénio foi lançada uma grande operação de requalificação urbana e ambiental da cidade, foram construídas novas avenidas, jardins, parques urbanos, a plantação maciça de árvores, Bragança ganhou nova imagem, a de cidade verde, amiga do ambiente, já não contava só com a sua envolvente natural, as serras de Montesinho e de Nogueira. A cidade é um exemplo de limpeza e de responsabilidade ambiental, na área rural recuperou passivos das antigas minas de volfrâmio. Passou a ostentar a Bandeira Verde ECOXXI, a ocupar lugares cimeiros na classificação entre cidades, ao nível da qualidade de vida e bem-estar, a conquistar prémios, como Cidade de Excelência, Ecologia Urbana 2009, Excelência em Inovação 2013.

5 – A imprensa em Bragança no século XX

A imprensa retrata parte significativa da realidade do município. Dá-nos informação, que foi essencial à comunidade, é- -o também no presente e será no futuro. Bragança foi, no ano de 1845, a primeira capital de distrito a fundar um jornal regional, fora das cidades de Porto, Lisboa e Coimbra, com a designação, O Farol Transmontano, que foi editado durante dois anos. O século XX trouxe modernas tecnologias de comunicação e composição gráfica, até à impressão digital e às plataformas digitais. A imprensa escrita teve como concorrente a rádio, a partir do ano de 1930. No ano de 1957, iniciou a Televisão Portuguesa, as pessoas juntavam- -se em locais públicos para assistir à emissão, que em Bragança foi durante anos muito irregular. No ano de 1969, a preto e branco vimos o homem dar um passo inédito, pisar o solo lunar. A emissão a cores ocorreu a partir de 1980. Em Bragança, na última década da monarquia foram publicados 12 títulos de jornais, regularmente O Nordeste, órgão oficial do Partido Progressista e a Gazeta de Bragança, que representava ao Partido Regenerador. Na primeira República foram publicados 18 jornais, a maioria em curtos períodos, sendo A Pátria Nova o de maior duração, seguido do Notícias de Bragança. Durante o Estado Novo, com a abolição da liberdade de imprensa e introdução da censura prévia, diminuiu o número de títulos a seis, o Mensageiro de Bragança, foi o único que manteve regularidade até ao presente. Foi publicado o boletim Amigos de Bragança (1955 a 1974) dedicado aos estudos de Bragança. Após a revolução do 25 de Abril de 1974, com o regresso da liberdade, a imprensa, ganhou novo fôlego. De 1974 a 2012 surgiram 9 títulos, mantém-se o Mensageiro de Bragança e o Jornal Nordeste, com edição regular desde a sua fundação. No ano de 1991, a RTP abriu delegação com estúdios em Bragança, encerrou nos primeiros anos de 2000.

6 – A terminar esta viagem de um século, de grandes mudanças, concluímos sublinhando que a Bragança de hoje, é o resultado de “sucessivas Braganças”. Que, honrar a memória e a história é respeitar gerações de homens e mulheres que ao longo de milénios, lutando com coragem contra adversidades, nos trouxeram ao presente de que nos orgulhamos. Continuar e valorizar este legado tão valioso ao nível social, económico e urbanístico, exige-nos visão e cooperação, os melhores princípios e valores para resolver bem os problemas do nosso tempo sem hipotecar a autonomia das próximas gerações e a vida no planeta. É incontestável o valor da presente obra e o propósito de tão elevada dedicação do Professor Francisco Cepeda que merece o nosso aplauso, também a Câmara Municipal pela edição.

Bragança : A Nação Judaica em Movimento - 7 - A “nação de Bragança” atraída pelo Algarve

A partir de 1588, com a derrota da “invencível armada” luso-castelhana, as marinhas da Inglaterra e da Holanda conheceram um extraordinário desenvolvimento. Para isso muito contribuiria o transporte das mercadorias comercializadas pela “gente da nação”, sempre em alerta na Península Ibérica, por causa da inquisição e trabalhando em rede com os que fugiam para outros países, nomeadamente a Holanda, já que na Inglaterra só mais tarde floresceu a nação sefardita. Em 1651, visando sobretudo a concorrência dos barcos holandeses, Cromwell decretou o Acto de Navegação, que proibia barcos estrangeiros de transportar produtos de e para Inglaterra. Então, sim, a marinha inglesa ganhou hegemonia mundial. E com o domínio dos mares, alcançou a hegemonia no comércio internacional. Portugal, que fora o país das descobertas e da navegação e tinha um imenso império colonial, viu a sua marinha destruída na “armada invencível”. E recuperada a independência de Espanha, ligou-se preferencialmente à Inglaterra, aliado tradicional desde o século XIV. Dada a sua dependência comercial e militar, Portugal aceitou mesmo ser tratado como se fora um “Protetorado Inglês”. Como o nosso trabalho é sobre a gente da “nação de Bragança” que vimos seguindo em itinerâncias constantes, vamos até ao Algarve. É que, nas últimas décadas do século XVII, registou-se um forte movimento de gente hebreia de Bragança que foi “assistir” para o Algarve. E antes de falarmos dessa gente, vamos tentar conhecer a ambiência do local naquela época, tentando saber as razões desta atração pelo Algarve. E começamos com uma pergunta: será que a disputa comercial entre holandeses e ingleses se refletia então no Algarve? Será que também ali se impunha a hegemonia marítima e comercial dos ingleses? Como lidaram os migrantes de Bragança com a situação? Não podemos dar uma resposta categórica e definitiva, pois isso exigiria a consulta de múltiplas fontes e um trabalho muito aturado, que não se compadece com uma publicação jornalística semanal. No entanto, podemos apontar indícios ou tendências, baseados fundamentalmente num corpo reduzido de processos da inquisição, já que a grande maioria dos que foram instaurados aos judaizantes brigantinos presos no Algarve pertencem à inquisição de Évora e não estão disponíveis para consulta. Socorremo-nos de alguns autores (Virgínia Rau, Alberto Iria, Borges Coelho…) que estudaram o assunto, muito especialmente a Drª Carla Vieira, cuja tese de doutoramento nos mostra cristãos-novos que embarcam em portos do Algarve com destino ao Brasil e vão circular pelo Perú, Colômbia, Panamá, Costa Rica… como foi o caso de Lopes Pero, natural de Beja, morador em Faro, embarcado em Lagos. E os apresenta também frequentando as feiras do Alentejo e mais ainda a percorrer os caminhos de Castela a negociar figos, amêndoas, sardinhas ou atum, como Estêvão Rodrigues ou Pedro Seixas. E até casos extremos de itinerância mercantil como o de Marcos Gomes, estabelecido em Tavira, que se deslocava até Lamego a comprar castanhas para ir vender em Cádis e Sevilha. Ou o sapateiro Cristóvão Rodrigues, de Portimão, que ia a Sevilha comprar coiros. Especificamente, consultamos o registo de barcos estrangeiros que chegavam a Faro, os quais eram obrigatoriamente vistoriados pelo comissário da inquisição, com a preocupação maior de ver se traziam livros a bordo, a proveniência do barco, a nacionalidade e qualidade religiosa da tripulação e o responsável/destinatário da carga. Raramente aparece também referida a natureza dos produtos transportados. Comecemos exatamente pela análise, muito ligeira, do livro de visita às naus estrangeiras entre 1662 e 1683, o único que se encontra à leitura e que mais se enquadra na época que estamos trabalhando. Desde logo, regista-se uma predominância de barcos ingleses que chegam a Faro: mais de 200, o dobro dos holandeses, o triplo dos espanhóis, muito poucos franceses e alguns genoveses. Acresce que os barcos ingleses não vinham apenas dos portos do seu país “em direitura a Faro”, mas também de outros portos. Assim, contamos uns 14 que chegaram a Faro vindos da Terra Nova. E contamos muitos que vinham de Tânger e até de Cádis, em Castela. Veja-se um exemplo: - Aos 21 de Outubro de 1662, chegou a este porto de Faro o navio chamado Mercador de S. Lucar, que veio de Inglaterra a Tânger e dali a este porto, remetido a Henrique Janson, cujo capitão veio de Londres em direitura a Tânger, com 20 companheiros, todos ingleses. Mais estranho ainda: são barcos ingleses (e também holandeses) que aparecem transportando trigo dos Açores para Faro e assegurando transportes de colónias portuguesas, como Cabo Verde e Azamor e mesmo de Lisboa, Porto ou Aveiro para Faro. Um dos casos referidos: - Aos 19 de Outubro de 1672, chegou o navio Samuel, vindo do Porto, de Portugal, remetido a Samuel Hismail, mercador inglês desta cidade de Faro, sendo a tripulação inglesa. A generalidade dos barcos vinha destinada a mercadores de Faro, bem individualizados, os quais dominariam as importações para o Algarve. Também aqui é esmagadora a vantagem dos 7 mercadores ingleses estabelecidos no Algarve que receberam o carregamento de 296 barcos, contra 42 que vieram destinados a 3 mercadores holandeses. Samuel Hismail, entre 1672 e 1683, recebeu 68 barcos, (média de 1 barco em cada 2 meses), terá sido o mais ativo mercador inglês de Faro, seguindo-se Henrique Janson, que recebeu 45 barcos, entre Setembro de 1662 e fevereiro de 1673 e Guilherme Croque com 41 barcos, entre setembro de 1662 e Setembro de 1669. Refira-se que em Faro, foram descarregados 6 barcos vindos de Inglaterra dirigidos a Tomas Smith, mercador inglês estabelecido em Tavira. E esta e outras referências semelhantes, mostram que, por aqueles anos, o porto de Faro dominava absolutamente sobre todos os portos algarvios. Barcos estrangeiros dirigidos a mercadores holandeses, contamos 42, sendo que 40 traziam carga para Samuel Joaquim e seu sócio estabelecidos em Faro. Dirigidos a Maximiliano (?), mercador holandês, sedeado em Portimão, chegaram 2 navios, remetidos de Amesterdão. Mercadores portugueses responsáveis por mercadorias importadas, contamos 12, um dos quais a trabalhar em Portimão e que receberam 59 barcos estrangeiros. Muitos aparecem furtivamente, descarregando apenas um ou dois navios e apenas 4 marcam presença de algum relevo e que foram: António de Castro, a quem vieram dirigidos 6 barcos, entre 1662 e 1666. Vieram 3 de Amesterdão, 1 dos Açores, mas com bandeira holandesa e 2 de Cádis, um deles com a tripulação constituída pelo capitão do navio, “8 companheiros, franceses, católicos e 3 marinheiros”. António de Castro, natural de Lagos, morador em Faro, seria preso pela inquisição de Lisboa em 17.7.1669.  Anos depois, em 1680, aparece-nos um Manuel de Castro, a receber 2 barcos e Gaspar Dias de Castro recebendo 6 navios. Pelo menos, este último seria filho de António de Castro, natural e morador em Faro. Também ele foi preso pela inquisição de Évora, em Dezembro de 1669. À exceção do primeiro, remetido de Hamburgo, com tripulação hamburguesa, todos os outros barcos vieram de Amesterdão. Quanto a Gaspar Dias de Castro, sabemos que, por 1689, trazia arrematada a distribuição do tabaco no Algarve, a crer na informação do médico António de Mesquita, que, na audiência de 15.5.1703, acrescentou: - Haverá 13 ou 14 anos, que se ausentou para as Índias de Castela onde, ouviu dizer, que se fizera padre da Companhia de Jesus. Durante 7 anos, entre 1662 e 1669, João Ribeiro, alferes e depois capitão, foi o mercador português assistente em Faro que mais barcos estrangeiros recebeu (16, no total). O primeiro registo que aparece no livro citado, refere-se a um navio inglês chegado de Tânger. O segundo carregamento, em Dezembro de 1662, é assim descrito: - Chegou ao porto de Faro o navio chamado S. Guilherme, de Amesterdão em direitura a este porto, remetido ao alferes João Ribeiro, morador em Faro, cujo capitão com 7 companheiros e um rapaz todos holandeses. Na verdade, a origem das mercadorias recebidas por este mercador hebreu eram bem variadas, porventura escondendo uma rede familiar de negócios da diáspora sefardita. Vejam: de Amesterdão – 8 barcos, Nantes - 4, La Rochelle -1, Roterdão – 1, Hamburgo – 1 e Tânger – 1. Mais ativo se mostrou Rafael de Sá que, em 5 anos de atividade, recebeu 17 navios. Mas, sobre este homem da “nação de Bragança” que em Faro se tornou homem de negócio, falaremos em próximo texto. Dissemos atrás que raras vezes se falava dos produtos transportados. Quanto a isso podemos dizer que o produto mais referido, importado do Sul de Espanha e Norte de África, era o esparto. Quanto aos produtos carregados em Faro, referimos já os figos, as amêndoas, o trigo… Faltará referir o atum e um barco que veio a Faro carregar cal para Tânger.