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O ano do boi e os nomes das vacas

Bons dias, forte gente. Que estas palavras vos encontrem com saúde e com o ânimo e os corações ao alto para enfrentar mais esta hibernação. Hoje venho falar-vos de vacas, esse animal que faz parte do nosso dia-a-dia, seja por causa do leite e demais lacticínios, das costeletas ou da posta à mirandesa. Um animal que sempre nos deu o corpo ao manifesto, ora em vida, entregando-se aos trabalhos forçados dos campos, ora depois da hora do seu abatimento, para satisfação dos prazeres de comensais não vegetarianos. Excepção feita às que tiveram a sorte de vir ao mundo em algum el dorado hindu. Mas antes de passar à vaca trasmontana, começo pelo boi chinês. O novo ano chinês começa na segunda lua nova do ano, o que calha sempre entre meados de Janeiro e meados de Fevereiro, sendo também conhecido como Festival da Primavera. Em termos da sociedade civil também utilizam o nosso calendário gregoriano, mas para festividades usam o calendário lunar. Uma curiosidade do calendário chinês é que quando há estas celebrações ou festivais (da Primavera, de Outono ou de Inverno), por se basearem nas fases da lua, normalmente a mudança climatérica própria de cada estação sente- -se de forma mais evidente. Digamos que bate mais certo, não tanto como no nosso em que o Verão costuma derrapar até Novembro ou o Inverno quase até Maio. A forma de se celebrar não difere muito do nosso Natal, muitos jantares de amigos e de trabalho durante esta quadra, conviver em família na noite de ano novo e no primeiro dia do ano, e um período de dez dias em que tudo literalmente pára. Segundo o horóscopo chinês a cada ano corresponde um de doze animais devido a uma lenda em que os animais mais estatutos, pelas suas diferentes características, conseguiram atravessar o rio e chegar até junto do senhor Buda. Este ano que vai entrar é o ano do boi. Para quem liga a signos, que não eu, é idêntico ao nosso signo touro, nomeadamente, a força, a determinação, o empenho, a capacidade de trabalho, a resistência, e a tenacidade a toda a prova. Qualidades que até não vêm a despropósito. No fundo é aquilo que os signos fazem que é dizer- -nos o que precisamos de ouvir e aconselhar-nos o caminho que idealmente devemos seguir. Estes bovinos caminhos fazem-me seguir a lembrança muito pueril de uma vaca grande e misturada que não era totalmente mirandesa e que apesar de forte e trabalhadora era má como as cobras, domesticada mas pouco (de tal modo que eu até julgava ser um touro). Uma das ténues recordações que guardo de meu avô paterno, foi de um dia em que ele a estava a tirar da loja e ela esperneava e escorneava, indomável, não sei se por feitio ou se por ter tido algum vitelo há pouco tempo. Certo é que me lembro desse episódio porque inclusive feriu o meu avô na face de tão desgovernada. Ao que o meu pai acrescentou outro, que certa vez numas férias, já bem adulto, a dar uma ajuda aos pais revisitando o tempo de ir com as vacas, teve de dar corda aos sapatos e saltar um muro à peixe por causa dos bravios e repentinos maus humores da dita cuja cujo nome agora não me lembro. O destino não poderia ser outro se não vendê- -la quanto antes, pelo que foi, creio, a última vaca que meus avós tiveram. Estes animais sempre foram chamados pelos nomes que se lhes davam, desde o tempo em que um vitelo era tão ou mais importante do que um filho para a economia de uma família e o dono dormia ao lado da vaca quando estava para parir, para garantir que ambos não perdiam o seu precisoso bem. Apontava-se num caderno o dia em que a vaca ia ao touro, contavam-se as nove luas, depois os vitelos tratavam-se a pão de ló e vendiam-se por voltas dos cinco meses. Ouvi contar que vinham os bezerreiros com umas carteiras enormes cheias de dinheiro e que compravam os vitelos por umas quantas notas. “Vale 12 notas”, diziam, enquanto os donos regateavam para ver se chegavam às catorze ou quinze. Nesse tempo os bezerreiros andavam a pé, muitos vindos do sul, até do Algarve, e levavam o gado com paragens programadas onde pernoitavam, comiam e bebiam. Enfim, outros idos tempos, outros fardos para carregar. Os fardos vão e vêm, mas os nomes ficam como os que ainda hoje as vacas possuem, por exemplo as belas e autóctones vacas mirandesas, e que se podem ver nos eventos a elas dedicados como feiras ou concursos. Se quisermos passar uma demão para transformar o nome das vacas em académiquês, registe- -se esta área de estudo como “onomástica bovina trasmontana” elaborada com o apoio de meu pai na investigação de campo. Antigamente as vacas tinham nomes que lhes eram dados pelas suas características físicas: carriça ou carricica (pequena), malhada, morena, amarela, preta, castanha, roliça, cabana (como o lombo encurvado em baixio como uma barca, mais próprios dos cavalos, dizia-se vaca ou boi cabano); pelo seu feitio: amorosa (como a de um senhor que se montava na vaca e ia às feiras e a todo o lado com ela), marquesa, ratunha (que se escapava e ia roubar comida aos lameiros dos vizinhos colocando o pastor em trabalhos...); pela origem de onde vinham ou onde tinham sido compradas: mirandesa, vileira, romeira; nomes de motivação campestre: cereja, perdiz, rola, pomba, rosa, tomilha. Muitos mais se poderiam descortinar. Havia também as que herdavam os nomes de família, ou seja, certo dono costumava atribuir o mesmos nomes às diferentes bovinas gerações que lhe passavam pelos jugos. As vacas têm nomes e merecem a nossa maior consideração, palavras de apreço para além do bem ou mal passado. Um agradecimento às vacas, e ao tanto que nos dão, e que a força do ano do boi esteja connosco para levarmos tudo a eito sejam quais forem as adversidades. Um forte abraço!

Bragança: anos de 1700: Quadros Sociais- Depósito dos bens de João de Lafaia

Da família Lafaia aparece em Bragança, no século de 1500, o casal constituído por João de Lafaia, carpinteiro de profissão, que se apresentava como cristão-velho e Isabel Rodrigues, forneira, meia cristã- -nova e que tinha dois irmãos padres, um cura de Sezulfe e outro jesuíta. Isabel foi presa pela inquisição de Coimbra em 1597, no decurso de uma das maiores vagas que assolaram aquela cidade trasmontana. Nesta mesma vaga, foram também arrastados para as celas da inquisição, 3 filhos do casal: Catarina Rodrigues, Manuel de Lafaia e Pedro Lafaia. (1) Catarina era casada com Francisco Garcia, estalajadeiro e almocreve. Depois de processada pelo santo ofício, foi para o Brasil. Manuel era surrador e, quando foi preso, mantinha-se solteiro. Posteriormente fez-se mercador e casou com Leonor Nunes. Pedro era sacristão da igreja de S. João e certamente o seu objetivo era ascender ao sacerdócio, como os tios. Saiu condenado em confisco de bens e degredo de dois anos a remar nas galés. Tal como a irmã, acabou por rumar ao Brasil. Um quarto filho de João e Isabel chamou-se António Lafaia e casou com Brites Nunes, que também foi presa pela inquisição em 1601. (2) O casal estabeleceu-se na cidade do Porto, com loja de mercador. Dois de seus filhos (Roque e Pedro Lafaia) cedo fugiram para França. A filha, Isabel Nunes, casou em Bragança, com o seu parente Pedro Gonçalves e os filhos destes ligaram-se, pelo casamento, a outras históricas famílias cristãs-novas desta cidade, como os Ledesma, os Pissarro e os Costa Vila Real. Janeiro de 1661 abriu com mais um “tsunami” do santo ofício contra os judaizantes de Bragança. E vários membros da família Lafaia engrossaram as fileiras dos penitenciados em Coimbra. Foi o caso de 2 filhas, um filho e uma neta de Manuel e Leonor: Isabel Nunes, solteira, 47 anos, morreu no cárcere; Catarina Nunes e João de Lafaia, mercador, solteiro, de 37 anos e a neta Luísa da Mesquita, de 17 anos, solteira. (3) Olhemos um pouco para o inventário dos bens de Catarina, que então contava 43 anos e se mantinha solteira. Morava em uma casa sita na “Praça do Colégio dos Jesuítas”, casa de 2 sobrados, de que tinha a quarta parte. E tinha também a quarta parte de uma casa de sobrado sita da Rua do Cabo, que estava alugada para alojamento de soldados. Provavelmente os outros ¾ das casas pertenciam a seus irmãos. Da sua casa agrícola refiram- -se 4 vinhas, uma em Cabeça Boa, outra na Candaira e duas em Fonte Arcada. Não sabemos quanto vinho produziam, mas tinha 9 cubas para o meter, se bem que, quando a prenderam, apenas duas ficaram cheias, contendo uns 180 almudes de vinho e uma outra com 30 almudes de vinagre. Contava também umas terras em Vale de Álvaro e no Vilarinho, deixando em casa uns 500 alqueires de trigo que nelas colhera. Resulta, assim, que estamos perante uma verdadeira empresária agrícola, que produzia para vender e não apenas para consumo próprio. Catarina era também uma industrial da cera, fabricando velas e tochas. Aliás, se há uma profissão que possamos atribuir aos Lafaia era a de cerieiros, a mais frequente na família. Para além disso, Catarina era comerciante e na sua tenda encontramos produtos tão diversos como “2 arrobas de açúcar, alguns confeitos, uma arroba de amêndoa em casca, papel, atacas, agulhas e outras miudezas e adubos (…) uma arroba de pólvora, 2 arrobas de balas de várias formas”… Face a esta mesma onda de perseguições, 5 netos de António Lafaia e Brites Nunes, filhos de Isabel Nunes e Pedro Gonçalves, rumaram igualmente a Coimbra, para se apresentar na inquisição. Um deles chamava- -se António Lafaia, como o avô, cerieiro de profissão, casado com Clara Garcia. Penitenciado em 1662, voltaria a ser preso em 1667, saindo no auto-da-fé de 14.6.1671, queimado na fogueira, por “convicto, confitente, diminuto, impenitente e falsário” (4) E a tragédia continuou com os descendentes, (5) que, por várias gerações foram alimentando o “fero monstro” até aos anos em que aconteceu o terramoto de Lisboa que, para além das casas, também abalou os alicerces morais do santo ofício e da sociedade portuguesa, com as políticas pombalinas contrárias à inquisição. Voltemos atrás, à prisão de João de Lafaia, em 1661, e ao sequestro dos seus bens, cujo processo ainda não estava concluído em 1684. Com efeito, só nesta data parte do dinheiro que os seus bens renderam foi entregue a Gonçalo Pires, depositário do fisco na cidade de Bragança. Só então se deu inteiro cumprimento à sentença dos inquisidores que o condenaram em cárcere a arbítrio, penas espirituais e ao pagamento das custas, “não excedendo a terça parte de seus bens”. Vamos então ver um pouco do rumo que levaram os bens sequestrados e a entrega do dinheiro dos mesmos, ao depositário Gonçalo Pires: Antes de mais, diga-se que, em seguida à prisão, a responsabilidade da gestão dos bens do preso foi entregue pelo juiz de fora a João Gomes e, falecendo este, passou o encargo para a viúva, Francisca de Barros. Em poder desta “depositária dos bens” estavam 43 125 réis, provenientes de “arrematações do dito inventário”, os quais entregou ao “depositário do dinheiro” Gonçalo Pires. Obviamente que, tanto o inventário dos bens, como a sua venda e a entrega do dinheiro, tudo foi registado pelo escrivão do fisco, Francisco Correia. (6) A mesma viúva fez ainda entrega de 82 816 réis “de alguns bens de que não deu conta, por se terem perdido, e os pagou pelas avaliações do inventário, como consta dele”. Outros bens arrematados, não descritos no livro da receita, renderam 28 277 réis, que ficaram carregados no dito depositário. Outro lote de bens arrematados, fizeram-se 2 645 réis. Uma cuba e uma tina foram vendidas por 6 mil e 2 500 réis, respetivamente. A casa de morada de João seria logo vendida, em hasta pública, por 12 000 réis a Gaspar da Silva, dinheiro que foi entregue ao depositário pelo irmão daquele, Daniel da Silva, mercador de Macedo de Cavaleiros que também conheceu as celas da inquisição, condenado a degredo para África. Outra casa que estaria arrendada a Isabel Rodrigues, foi tomada pelo fisco mas continuou arrendada, rendendo 44 000 réis que a mesma Isabel entregou ao depositário Gonçalo Pires. Arrendadas foram também umas vinhas a Pedro Pascoal e renderam para o fisco 1 200 réis. Finalmente, do inventário dos bens de João Lafaia constavam umas cubas que foram vendidas em almoeda e renderam 16 400 réis. Deste dinheiro, o juiz de fora fez questão de logo receber 2 000 réis, em gratificação dos “dez dias que assistiu aos leilões”. No entanto, o fisco de Coimbra, decidiu que ele não tinha direito a receber nada e por isso devia repor o dinheiro. Não sabemos se o repôs, mas facto é que no livro da receita do fisco, foram carregados os 16 400 réis à viúva Francisca de Barros, que os entregou ao depositário Gonçalo Pires. Em próximo texto falaremos de abusos semelhantes, por parte de outros funcionários do fisco e da inquisição, que muitos comiam à custa dos bens dos prisioneiros do santo ofício.

Empate amargo

Dom, 28/02/2021 - 23:53


O dérbi transmontano da jornada 18 da série A do Campeonato de Portugal terminou com um nulo no marcador. Um resultado que não serve a nenhuma das formações já que continuam em zona de despromoção, sendo que a missão do Vimioso, último classificado, é mais difícil.

Rafael Nascimento (GDB): “Estou confiante que vamos conseguir a manutenção”

Qua, 24/02/2021 - 15:11


Os brigantinos somam nas últimas cinco jornadas duas vitórias e três empates, o último frente ao Montalegre (4º classificado). Um resultado que não serve as intenções da equipa orientada por Rafael Nascimento numa altura em que o campeonato entra numa fase decisiva. “Para nós o empate é mau.