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Autarca de Vimioso diz que falhas de internet e TDT contribuem para abandono do território

Ter, 23/02/2021 - 15:46


Segundo Jorge Fidalgo, numa reunião com os autarcas da Comunidade Intermunicipal Terras de Trás-os- -Montes “foi garantido pela ministra da Coesão Territorial que todos os alunos iam ter acesso à internet e computadores” e não compreende por que motivo “quando é possível resolver estas situações

Vendavais- A aVentura

Estamos bem. Sim, ao que parece, estamos bem pois os últimos números de casos da pandemia levam a essa conclusão. O vírus está a perder o transporte da transmissão que o levava a passear- -se impunemente por todo o país. O confinamento a que nos sujeitámos teve, até agora, efeitos positivos. Se fosse mais cedo teríamos poupado mais de 3.000 mortos, mas as decisões tomam-se quando se tornam efectivas e isso cabe ao governo e ao Presidente da República. Contrariamente às opiniões de muitos partidos políticos, o governo manteve-se relutante no encerramento das escolas alegando desculpas que já todos conhecemos, mas a verdade é que com as escolas confinadas, o país inteiro viu descer drasticamente o número de contágios, de óbitos e de internamentos. Claro que os custos são imensos. Terríveis e insuportáveis na sua maioria. São tempo de crise. Agora que tudo caminha para uma melhoria acentuada, já se fala em desconfinamento das escolas. Sabemos que os alunos estão a pagar uma fatura elevadíssima na sua formação arriscando o futuro e mesmo a continuidade dos seus estudos. Sabemos que os pais são abrangidos por esta decisão e não queriam que as escolas confinassem, já que os remetem a uma posição mais caseira e de teletrabalho, que não queriam. Deste modo, e se as escolas desconfinarem apressadamente, pode correr-se o risco de se inverter a tendência positiva que estamos a atravessar e entrarmos numa quarta vaga ainda pior. Há que correr riscos, ou manter a cautela? Neste momento e a este respeito, os partidos parecem estar divididos. Contudo, a data de 1 de março, parece ser a escolhida para iniciar o desconfinamento, incluindo o das escolas. Assim sendo, ainda apanhamos o combóio antes da Páscoa! Não parecendo estar muito preocupado com estes assuntos, é o deputado do Chega que no fim de semana se apresentou aos militantes no Porto, em comício, não se sabe se como líder, se como recandidato a líder ou se como demissionário ou simplesmente deputado único do partido. No entanto, numa manifestação de força, ameaçou o PSD e exigiu desde já, que quer seis ministérios do próximo governo com o PSD, caso contrário não haverá governo de direita em Portugal. E se o PS ganhar novamente? Francamente! Ao que chega a petulância de um petulante vaidoso e convencido! Ainda agora acaba de iniciar a sua viagem política e já quer dar ordens aos que por cá andam há tantos anos. A humildade é tão bonita! Mas um partido extremista não tem dessas coisas, claro. Na Assembleia da República, onde se remete a um único lugar, solitário, vai atacando tudo e todos fazendo lembrar o deputado Acácio Barreiros nos bons velhos tempos. Acabou por perder tudo e desaparecer. Mas ele até tinha a sua piada e era pacífico. Sabia conviver, o que Ventura não sabe. As ameaças e exigências que Ventura fez ao PSD e aos outros partidos, são de uma prepotência extraordinária, partindo de um partido com um só deputado. Claro que conta ter nas próximas eleições 15%, segundo diz. Até pode ser que os atinja. Vá-se lá saber! Para ele, o povo é que decide. Sabemos disso, mas também sabemos que o povo não embarca em navios furados e sabe escolher a embarcação onde quer viajar em segurança. Exigir seis ministérios como a Administração Interna e Justiça e agora a Defesa, seria entregar o leme do país a um marinheiro de água doce que nunca experimentou as tempestades e as revoltas do mar alto. Seria uma aventura demasiado arriscada que levaria o país ao abismo profundo onde nem a sua História se salvaria. Para essa aventura, não contem muito com o povo português. Já pagou bem por uma viagem idêntica e não quer outra. As aventuras são para as crianças que ainda acreditam no Pai Natal!

Marcelino da Mata e o execrável Mamadou Ba

Há semanas o Sr. Henrique Pedro publicou neste jornal um artigo no qual comentava acidamente e bem as torpezas deste senegalês a residir em Portugal e aboletado à mesa do Orçamento do Estado através de euros concedidos a uma organização que se afirma defensora dos direitos do homem e contra o ódio racial. O Sr. Mamadou foi assessor do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda tendo-se notabilizado ao classificar a PSP de bosta. A bosta da bófia! Eu não sei quais as razões para Madou ter procurado gasalho no nosso País, mas sei que obtido conforto e bom salário não tardou a babar ódio uivante contra a Pátria Portuguesa (o conceito de Pátria nada lhe diz) atacando figuras ímpares da nossa História cujo exemplo mais saliente é o grande defensor dos índios do Brasil a valer-lhe tortuosos e humilhante processo na sinistra Inquisição de Torquemada e sequazes portugueses cujos maiores mentores provinham da Nobreza eclesiástica e de sangue azul. O Sr. Ba abotelado à mesa do Orçamento via SOS Racismo, utiliza essa organização de forma a vomitar opiniões aviltantes dos portugueses e, na esteira de Frantz Fanon veicula a ideia de o Homem branco é bom morto. No entanto, esse seu «cuspir no prato de quem lhe deu e dá a sopa» é a prova provada de preferir alimentar- -se no meu País a contentar- -se com a dieta senegalesa. Pudera! A última felonia do antigo assessor do Bloco de Esquerda (será interessante saber os motivos da sua saída do grupo Parlamentar), prende-se com a figura de Marcelino da Mata um guineense da etnia papel que nunca deixou de ser português, tendo-se notabilizado na Guiné-Bissau. O sempre lembrado e saudoso «capitão de Abril», Fernando Salgueiro Maia, várias vezes me contou pormenores dessa guerra desprovida de códigos, sublinhando quão difícil era a situação, (ele esteve em Guidache) e, por isso mesmo, ao exemplo de outros países, as autoridades portuguesas recorriam a tropas locais a fim de susterem as mortíferas incursões do PAIGC, sendo enquadradas por oficiais idos da Metrópole. Percebe-se: os militares portugueses desconheciam o território, não falavam dialectos locais e, acima de tudo ofereciam os trabalhos sujos (deploráveis) às forças locais. Eu permaneci 27 meses na floresta do Maiombe, Cabinda, ali imperavam os T.E.s, tropas especiais comandadas pelos majores Ruas e Stélio cujas forças eram antigos guerrilheiros da FNLA, do sanguinário Holden Roberto cujos miseráveis feitos foram o de cumprir a doutrina de Fanon massacrando centenas de crianças, mulheres e homens cujo maior defeito era a de serem de raça branca. Pois na década de 70 do século passado o chefe Alexandre Taty passou a integrar as aludidas tropas especiais levando consigo os guerrilheiros esventradores da população branca. Num livro da minha autoria a sair em breve registo o nojo que revolveu o meu estômago ao ouvir na Beira Nova (residência de Taty) um seu sequaz dizer de cigarro na boca e cerveja Primus na mão, ter conservado durante três meses o braço de um branco com o relógio no pulso. O tenente-coronel Marcelino da Mata optou por ser português para lá da ideia de raça, mostrou-se digno das medalhas que lhe concederam mesmo quando torturado por camaradas de Ana Gomes e Maria José Morgado entre outras e outros fanáticos do maoismo. Ele merece o meu respeito. Esse mesmo nojo sinto ao ler as frechadas ou frexadas do dito Sr. Mamadou, o execrável cavalheiro leu a História de Portugal através de lentes impregnada de profundo ressabiamento cuja representação mais íntima pode ser a inveja pela impossibilidade de ser branco, porém enquanto destila rancores usufrui as benesses da civilização ocidental, que apesar das suas distorções, desigualdades e desmandos procura respeitar os direitos do Homem ao contrário do que acontece noutras civilizações. Temos de agradecer à filosofia grega, do direito romano e à essência da Igreja católica tão pujante benesse. As aleivosias do Sr. Bá revelam à saciedade a robusta ignorância do significante da acrisolada benesse. Paciência, que é boa para a vista!

 

Identidades

Não deixa de ser irónico que depois de a esquerda tradicional ter dado o seu melhor na defesa dos mais desfavorecidos, estes, um pouco menos desfavorecidos, tendam agora a virar-lhe as costas. Vivendo melhorzinho, os trabalhadores já não estão para se consumir com aquela mania de esborrachar homens barrigudos de fraque preto e charuto a vomitar cifrões. A oposição operariado/patronato não tem a mesma força mobilizadora que antes tinha entre as massas e por isso, a partir de certa altura e por razões de sobrevivência, a esquerda moderna viu-se obrigada a virar o disco. Mantendo a tradição de dividir para reinar que está no seu adn e de que necessita como do ar que respira, o instinto levou-a a convencer alguns grupos sociais de que são injustiçados por causa daquilo que os distingue de quem não é como eles.Em sociedade há diversas coisas que nos solidarizam, identificam, unem, nomeadamente a história, a língua, a cultura, a partilha do mesmo território, os anseios e projetos comuns, a seleção nacional de futebol.... Tudo isto é desvalorizado pelas pessoas que se entrincheiram num círculo. Elas farejam hostilidade e ameaça em quem está fora dos seus muros, antes de começarem a exigir compensações, como agora, pelos danos que pensam ter sofrido ao longo do tempo e continuam a sofrer. As quotas para mulheres na política e para certas minorias nas universidades, de que se tem falado, são dois exemplos. A meu ver, contudo, quem aceita ser beneficiado dessa maneira denota um autoconceito degradado e falta de respeito por si próprio. Estamos aqui por ação de uma vontade superior que faz de nós o que somos e nos dignifica, não obstante a diversidade generalizada. E à dignidade repugnam favorecimentos, pois estes partem do princípio de que alguns indivíduos são menores, inferiores, incapazes. A dignidade humana dá- -se mal com paternalismos e o desejo de superproteção cheira a esturro. Reparar que uma estação televisiva colocou um rapaz escuro a apresentar o telejornal, ver esse facto como uma vitória da inclusão sobre a discriminação negativa e dar os parabéns a uma e a outro é sinal rematado de preconceito, o oposto do que se quer dar a entender. No fundo, quem o ostenta acha que aquela pessoa é capaz de estar ali por causa dos traços que a distinguem da maioria e não pelos seus méritos. Eu nunca me lembraria de saudar uma coisa banal numa terra, como a nossa, onde existem pessoas com vários tons de pele, entre cem outras diferenças, que poderão ocupar o lugar que quiserem se se esforçarem para tanto. Nem tugi nem mugi quando passámos a ter um primeiro-ministro com origens na índia, uma ministra angolana e pelo menos um deputado que diz ter casado com outro homem. O precedente levantado pela discriminação positiva de cidadãos é que se excluirmos homens brancos, europeus, heterossexuais, de classe média/alta (isto é, a minoria odiada e a abater), não falta no mundo quem se ache com direito a ser discriminado, o que se tornaria insustentável. Hoje por todo o lado se sente no ar a sensibilidade extremada e assanhada de gente que se reconhece em grupos identitários. Achando-se injustiçadas tanto no presente como no passado, as pessoas vestem essa pele, interiorizam a indignação correspondente e deixam- -se levar por emoções sob as quais lhes é lícito insultar, denegrir, acusar, destruir, espancar ou até matar. Sobram criaturas que assumem facilmente estes papeis se souberem que podem tirar algum proveito disso. E quem há meses assistiu a uma intervenção da deputada joacine katar moreira não precisou de ser tarólogo para deduzir que a vitimização também se pode transformar em arrogância e autoritarismo num abrir e fechar de olhos. As pessoas em geral exibem preconceitos contra mulheres, negros, ciganos, imigrantes, homossexuais? Certamente, tal como todos eles os exibem por norma contra as pessoas em geral. Uma sociedade evoluída deve atenuar as desigualdades? Pois deve, mas sem perder de vista que é uma luta contra a natureza, e como tal nunca será ganha. Temos a obrigação moral de integrar os que são diferentes de nós e conviver em harmonia com eles? É o mínimo que se espera de gente civilizada, e isso até tem vindo a ser feito aos poucos pelo menos nesta parte do mundo. Mas é um caminhar difícil e constante, não uma linha de meta que se possa cortar.

Bragança despovoada pela peste negra- Guerra entre Bragança e Gimonde

Uma sentença da usucapião que durou pouco:

• A seara da vila

3. Gimonde ganha e Bragança perde No final, o corregedor, colocando-se no pedestal de Salomão – o rei sábio -- acima de ambas as partes, como juiz prudente e justo, produziu a sua sentença. Ninguém saía dali, sublinhava ele, cantando vitória. Eufemismo que escondia o triunfo total dos moradores de Gimonde. Ora vejamos: do caminho que saía da villa para o castello d’Outeiro, ou seja, da actual estrada de Alfaião, até ao Sabor, encosta que não tinha sido semeada, nada mudava, continuando os gados de Gimonde em pastoreio livre (sem contradiçom alguua). Quanto à outra pendente, virada a sul, até honde corre a rybeira que chamam Fervença, os moradores de Bragança apenas seguravam as searas daquele Dezembro de 1438 até ao Verão seguinte, porque tudo estava bem lavrado e semeado, louvava o magistrado. Mas, depois da dita terra ficar livre das sementeiras, tudo voltava a ser como dantes: que os ditos autores as possam pastar com quaisquer gados, sentenciava, peremptoriamente, o corregedor. Aos pastores e boieiros de Gimonde só faltou uma concessão: a de avançar logo com os gados sobre as searas, então já viçosas, adubadas por muita sedimentação orgânica de um pousio prolongado, imposto pela peste. Mas, segadas feitas, os gados de Gimonde podiam logo deliciar-se, sobre o restolho das searas de Bragança, debicando, sôfregos, as espigas que tinham escapado das ceifas. Por agora, toda a mesopotâmia, entre a vila e a ponte de Valbom, sobre o Sabor, ia regressar ao uso pastoril dos moradores de Gimonde. Não se cumpria assim o objectivo do concelho de Bragança de recuperar a posse de toda aquela seara – a tulha da farinha da vila. Faceira que já era sua, antes da peste negra começar a matar, noventa anos antes, no Outono de 1348. A retoma deste maná de centeio e trigo ficava assim adiado por mais 52 anos, como veremos na terceira parte deste estudo. No ponto seguinte -- o objectivo perseguido deste trabalho -- vamos analisar alguns considerandos da sentença, usando-os como uma espécie de lentes, verdadeiras cápsulas do tempo, que nos vão abrir as portas da vila para observarmos a herança física e mental dos últimos 90 anos de surtos pestíferos, que ora se apagavam, ora se reacendiam, mas que continuavam a amontoar mortos nos adros das quatro igrejas paroquiais da vila de Bragança. 4. Os fundamentos da sentença: as lentes sobre uma vila sem memória Pode uma sentença, passados 583 anos, trazer-nos ainda notícias frescas – só as estamos a saber agora -- da tragédia de Bragança, assaltada por 90 anos de pestes, e reduzida a menos de um quarto da população? Que fios utilizar para lá chegar? Puxemos alguns deles. De Gimonde, segundo o texto jurídico, foram inquiridas, como testemunhas, três boos homes, convém a saber, Fernam Pirez, e Fernam d’Affonso e outro em nome da dita alldeia e dos moradores della. Todos declararam que os vizinhos de vila de Bragança nunca de tall couto usaram. O procurador dos réus de Bragança, Affonso Garcia, e as testemunhas Rodrigo Affonso e Gil Affonso, estes dois últimos designados como boos escudeiros, não foram capazes, com as suas contraditas, de desfazer a prova dos autores de Gimonde. Pior, os advogados dos réus teriam deixado o corregedor desconfiado. E porquê? É que, espremendo os nomes dos três, ficamos a saber que eram todos do mesmo clã familiar. Ora, repare-se: os dois filhos têm igual patronímico (segundo nome) – Afonso -- que é a designação do primeiro nome do pai: Afonso. No século XV, o patronímico ainda não tinha fecundado o apelido, como hoje o usamos. Esta constatação reflecte uma vila de Bragança seca de gente, não conseguindo trazer à demanda outros testemunhos, para além dos oficiais da autoridade concelhia. Ou seja, as testemunhas confundiam-se com o poder, que, a tudo o custo, queria ganhar o litígio. Nestes termos, poderia a justiça aceitar uma produção de prova, gerada exclusivamente dentro de uma só família, e que também detinha o poder político concelhio? Da parte de Gimonde, não havia este aleijão processual. Uma terceira testemunha fora chamada à demanda em nome da ditta alldeia e dos moradores della. Isto é, tinha sido designada pelo conjunto dos vizinhos para os representar no pleito. Tudo transparente. Ao contrário de Bragança, que não foi capaz de apresentar uma única testemunha em nome dos seus moradores, na aldeia dos “quatro rios” havia recursos probatórios abundantes. A afirmação da sentença, referindo explicitamente que (…) a prova dos réus lhes não aproveita, não deixa lugar a dúvidas quanto à ineficácia do testemunho dos procuradores dos réus e das inquirições efectuadas aos vizinhos da vila. Ou seja, apesar da função exercida pelos três depoentes de Bragança – os mandantes do poder concelhio -- o corregedor não acolheu as suas provas. E foi assim que a vila de Bragança, sendo a proprietária histórica da seara entre o Sabor e o Fervença, como veremos mais à frente, perdeu este pleito da usucapião com Gimonde, porque o ponto -- o quid -- do litígio era este: ninguém na vila se lembrava das lavranças e sementeiras outonais dos moradores de Bragança, entre o Sabor e o Fervença. Do que sabiam, isso sim, era do pastoreio dos rebanhos de Gimonde, mesmo às portas da vila, presenciado ao longo das últimas dezenas de anos. Este é que foi o gume afiado do confronto jurídico, sobre o qual desabaram, com estrondo, as provas dos magistrados da vila. Com a matança da peste negra, perdera-se a memória individual, a da família e a identidade colectiva da vila de Bragança. Os homens-memória, os mais velhos – os acumuladores de conhecimento -- foram os primeiros tragados no sorvedouro de quase um século de catástrofes pandémicas. A memória da vila, agora tão necessária para reaver a seara perdida, apagara-se com eles. Sobre a paisagem urbana de Bragança, com alguns moradores apáticos e assombrados, descera uma névoa cerrada de esquecimento, que sepultou antigos direitos públicos da vila, que pareciam, antes da peste, adquiridos para sempre. Por outro lado, o facto dos oficiais do concelho de Bragança terem sido transvasados da mesma família -- o pai e os dois filhos – reflecte bem que a elite dirigente do concelho esgotara já todas as soluções de rejuvenescimento do poder. Este clã estava sozinho ao leme do concelho. Os veios das linhagens, habitualmente chamadas às magistraturas para lhes trazer sangue novo, já tinham secado. E, assim depauperadas pela hecatombe pestífera, as opções de renovação da cúpula municipal debatiam-se com uma impossibilidade objectiva: não havia donde trasfegar seiva nova para remoçar a aristocracia, que costumava disputar o cume do poder concelhio. Como os leitores já terão concluído, moradores de Gimonde foram mais poupados pelas grandes pestilências medievais do que os de Bragança. O enorme rombo territorial, que fizeram ao termo da freguesia de Santa Maria -- e que mediremos mais à frente -- levando os seus gados a pastar, mesmo nas barbas da vila, durante dezenas de anos, confirma aquela dedução. Mas outras provas surgirão na última parte deste estudo.

(continua na próxima edição)

In memoriam de Teófilo Vaz

Ernesto Albino Vaz

Bragança: anos de 1700: Quadros Sociais- Organização da leva e sequestro de bens

A Organizar a leva dos presos para Coimbra e proceder ao sequestro dos seus bens implicava algumas diligências que, por vezes, se arrastavam por vários dias. Veja-se, a título de exemplo, o que escrevia para Coimbra o comissário Miguel Ferreira Perestrelo, em Março de 1714: - Foram as 6 pessoas presas em uma segunda-feira, pelas 10 horas do dia e como uma delas, que era Manuel da Costa, estivesse na vila de Azinhoso, que dista desta cidade 10 léguas, chegou a ela preso na terça-feira à noite ou na quarta, e dispus a jornada para domingo, no qual chegou ordem para as segundas prisões e dilatei a jornada, para não fazer duas levas; e como havia de mandar a Santa Valha, foi necessário esperar mais alguns dias e esta foi a causa da dilação. (1) Entretanto, era necessário arranjar dinheiro para comprar as cordas e os grilhões para segurar os presos e conseguir bestas para os transportar e para pagar as jornas aos “guardas” que os conduziam. Vejamos um caso concreto, datado de 1652: o rol de despesas efetuadas com a prisão de Henrique Dias da Costa, (2) natural e morador em Torre de Moncorvo: A Manuel Coelho de Azevedo de 12 dias da Torre a esta cidade – 1500 réis. De 3 homens que o acompanharam no mesmo tempo – 1 200. Da cavalgadura e da do fato - 2 370. Dos ferros deste preso - 300. Dos 3 dias que o familiar gastou para ir a Bragança prender o dito - 1 500. De 2 homens que o acompanharam no mesmo tempo - 840. De uma mula em que veio até à Torre - 360. Do gasto de comer até à dita vila - 120. Da Torre até esta cidade - 533. (3) Obviamente que poucas pessoas se dispunham a alugar as suas bestas, para serem conduzidas por estranhos. É que, os animais, como as pessoas, têm os seus tiques e as suas manhas e só os donos os conhecem e tratam bem. Por isso, muitas vezes não era fácil conseguir as bestas necessárias, tendo os homens da inquisição de as tomar pela força, com recurso à justiça d´elrei, em feiras ou nos próprios alojamentos. Por outro lado, em Bragança, até havia dificuldade em mobilizar familiares do santo ofício para conduzir as levas, como já se viu. A propósito destas dificuldades e constrangimentos, veja- -se a seguinte informação do comissário Manuel Camelo de Morais: - Dei ordem a dispor o que me ordenastes nela e se prenderam os 9 presos que o familiar Pedro Esteves entregará nessa inquisição, e suposto me mandavam fizesse as prevenções de bestas e familiares prontos para a leva dos presos, me não foi possível em vista das muitas repugnâncias, assim a respeito do dinheiro da leva que era necessário para os gastos dela, por o juiz de fora desta cidade o não dar dos presos (…) e por esta causa e do familiar dela se deter, houve mais dilação do que eu tinha disposto (…) Eu lhe dei para a leva 10 moedas de ouro, de que deixou recibo. (4) Havia, pois, “muitas repugnâncias” da parte do juiz de fora em dar o dinheiro e da parte dos familiares em levar os presos e com eles o dinheiro estipulado para sua alimentação na cadeia. Esta última verba vinha logo indicada no mandado de prisão e que, geralmente, variava entre os 20 e os 50 mil réis. Obviamente que tudo devia sair do bolso dos prisioneiros. Mas não seria fácil apanhá-lo, pois que o dinheiro é fácil de esconder. Vendiam-se então os bens necessários, a começar pelos bens perecíveis: cereal que havia nas tulhas, batatas, vinho e outros géneros que se encontravam nas adegas, animais que havia nas cortes… De seguida, vendiam-se outros bens móveis e, faltando estes, iam os de raiz. Claro que, como em 1713 escrevia o escrivão do fisco Francisco Correia, sempre que podiam, os familiares do preso “limpavam a casa e ultimamente nem um preso tem ido sem haver roubo na casa em seus bens, ou seja feito pelos da casa ou pelos guardas” que o iam prender. Isso mesmo se depreende do comentário feito pelo comissário Manuel Camelo de Morais, em carta para Coimbra, acompanhando a remessa de um prisioneiro: - Do inventário que se fez, não consta mais do que 1300 réis que tem de bens, que todos são pobres, como se vê das certidões que remeti do escrivão do fisco a Vª Senhoria no correio passado. (5) Começámos esta série de textos falando de uma carta enviada de Bragança para Coimbra dizendo que os depositários dos prisioneiros deixavam estes falar com seus familiares. E falámos de uma outra carta, escrita por Francisco Correia, notário do fisco, informando que muitos dos bens mandados sequestrar aos presos, desapareciam como fumo. Recordemos um extrato daquela carta: - Como vejo as prisões serem feitas cada vez pior, com tão má forma e disposição, que os bens dos presos os furtam ou lhe ficam outra vez em casa, por isso me decidi fazer este aviso, levado pelo zelo do santo ofício e dos bens do fisco (…) Ultimamente, nem um preso tem ido sem haver roubo na casa em seus bens, ou seja feito pelos da casa ou pelos guardas que se lhe põem. (6) Não sabemos se outras mais cartas ou informações chegaram a Coimbra e que levaram os inquisidores a instaurar um processo sumário para averiguar a verdade dos factos. Nada encontrámos também sobre esse processo, a não ser o despacho do inquisidor António Portocarreiro, do teor seguinte: - Pelo sumário que se fez sobre os descaminhos dos sequestros e bens confiscados, pareceu ao inquisidor se transladasse o dito sumário, no que somente toca ao fisco e se enviasse ao juiz dele para que proceda contra os que se acham compreendidos em tais descaminhos. Coimbra, 11 de Maio de 1715. (7) Não encontrámos o sumário referido, mas descobrimos nos Arquivos da Torre do Tombo um “Livro de receita dos depositários Gonçalo Pires, Miguel Rodrigues e António Mendes de Madureira - Agentes em Bragança” (8) cujos registos são datados entre 1683 e 1719. Da existência e análise deste e outros livros semelhantes, se mostra que em Bragança existia um depositário do dinheiro e dos objetos de ouro e prata resultantes do sequestro e venda dos bens dos presos. Tal depositário, se obrigava por sua pessoa e bens a entregar o dinheiro à ordem do juiz do fisco, todas as vezes que lhe fosse pedido e a entregá- -lo em Coimbra, juntamente com uma certidão justificativa dos mesmos dinheiros, passada pelo notário do fisco, que, em Bragança, naqueles anos, se chamava Francisco Correia. Para além do juiz, do escrivão e do depositário do fisco, devemos referir a intervenção do juiz de fora no sequestro dos bens dos prisioneiros. Era ele que dirigia os sequestros, competindo-lhe que os bens se não perdessem, que os bens perecíveis se não estragassem e que as casas e propriedades fossem mantidas e rendessem para o santo ofício. Para isso nomeava depositários e dava de arrendamento aqueles bens. Mas antes, tinha de fazer- -se um inventário dos mesmos bens e nisso intervinha um escrivão do judicial. Fiquemos então na página 34 deste livro, onde se ficaram escritas as verbas para alimentos, tiradas dos inventários de pessoas que foram presas em Bragança no dia 11.4.1685: Do inventário de Clara Gonçalves, mulher de Gaspar Rodrigues – 2 000 réis, da venda de uma terra; e dos móveis – 5 300; e levou para alimentos – 10 000. Do inventário de Jerónima Ledesma, mulher de Fernando Fonseca – Deu de depósito 25 000 réis; e levou para alimentos – 15 000. Do inventário de Brites Nunes, mulher de José Dias - Dos móveis – 12 000 réis; E levou para alimentos – 10 000. Dos inventários de Brites Nunes, viúva de Roque Rodrigues e sua irmã Isabel Rodrigues – Dos móveis dos inventários - 16 500 réis; levaram as presas 10 000. Do inventário de Catarina Pereira, filha de António Rodrigues Raba, casada com Lourenço Rodrigues, que também foi preso, alguns dias antes – De seus móveis 42 500 réis; de renda de casas e vinha, por tempo de um ano – 12 000; e mais 5 500 réis, que deu em depósito; e levou a presa para alimentos – 20 000. Do inventário dos bens de Isabel Rodrigues, mulher de Rafael Rodrigues Cachicão – Levou 15 000 réis. Do inventário de Mécia de Castro, solteira, filha de Gabriel Rodrigues e Isabel de Castro – Dos bens móveis – 4 000 réis; levou a presa 10 000. Do inventário de Filipa Nunes, mulher de Pascoal Lopes – Dos móveis – 26 000 réis; leva a presa 10 000. Do inventário de Isabel Rodrigues, mulher de João Gonçalves, o Marrana – Deu de depósito – 25 000 réis; leva a presa para alimentos – 15 000. Do inventário de Isabel Rodrigues, por ela e seu marido, António Rodrigues Peinado, preso também uns dias antes – Dos móveis – 46 000 réis; das rendas das casas e vinhas – 14 000; leva a presa 20 000. Como se vê, trata-se de verbas relativamente pequenas e, como dizia o comissário, todos parecem pobres. As aparências, no entanto, não enganavam os inquisidores e os bens dos presos seriam bem escrutinados, levando, por vezes, alguns anos, a recolha dos mesmos. Disso haveremos de dar conta em próximos trabalhos. E também os presos e seus familiares procuravam maneira de esconder os bens, nomeadamente apresentando dívidas, por vezes até superiores aos bens que apresentavam.