Ter, 26/08/2008 - 10:12
Jornal Nordeste (JN) - Como encontrou a ACIM quando fui eleito?
Paulo Jaloto (PJ) - Quando chegámos à direcção deparámos com uma Associação financeiramente rota, com dívidas de 30 mil euros, sem aplicações financeiras, formação chumbada e sem verbas a chegar. Nem se falava na Associação, apesar de ter sido reactivada em 1984 e existir desde 1928!
Nestes 24 anos pouco produziu, mas foi objecto de muita negociata. Apareceram até facturas falsas passadas a uma empresa de Bragança, referentes a serviços em consultadoria que nunca foram prestados.
JN - Que medidas foram tomadas para reduzir o passivo da ACIM?
PJ – Os 30 mil euros que tínhamos para pagar foram resolvidos à custa de redução de despesas e custos. Começou-se logo pela Contabilidade que era feita em Bragança e custava 250 euros por mês. Passou a ser a ACIM a fazer isso com uma técnica superior formada nessa área.
O nosso grande projecto era a sede e foi concretizado. Reactivamos o projecto associativo e a componente de formação. Dentro, das associações mais pequenas do distrito, fomos a que teve maior volume de acções, com taxas de empregabilidade de 87%.
Não se realizavam feiras há muito e nós fizemos a de velharias, stocks de vinhos e produtos da terra. Implementamos um site a favor da barragem, conteúdos on-line, boletins informativos e começámos a fazer aquilo que nunca foi feito, que foi prestar apoio aos associados na elaboração a candidaturas de incentivo à actividade empresarial e iniciativas locais de emprego, MODCOM e UAC.
Depois de um mandato de 2 anos e outro de 3, penso que levámos a ACIM a bom porto.
JN – Como é que foi possível construir uma sede com a dimensão da actual?
PJ – Para construirmos a nossa sede, o senhor presidente da Câmara ofereceu-nos o edifício antigo que já tinha sido oferecido a outras direcções, só que a sede nunca foi feita porque ou não havia dinheiro ou havia quem entendesse que o local não agradava. Eu costumo dizer que “pobres não negamos nada”…
Temos que nos habituar a fazer dinheiro sem dinheiro e isso só se consegue com boa gestão e não a fazer obras de mil euros por 100 mil euros, que é uma coisa que está instituída. No nosso caso acho que conseguimos fazer uma obra de 100 mil euros por 70 mil euros.
Aproveitamos um programa que muita gente pensa que só se destina à Agricultura e Desenvolvimento Rural que é o Leader.
Para tal fizemo-nos sócios da Douro Superior - Associação de Desenvolvimento e apresentámos uma candidatura no valor de 50 mil euros, que foi reduzida para 30 mil sem que eu hoje consiga saber porquê. O Leader acabou por comparticipar em 22.500 euros e o resto socorremo-nos do apoio da Câmara, que agradecemos, e de verbas próprias da Associação.
“Apareceram até facturas falsas passadas a uma empresa de Bragança, referentes a serviços em consultadoria não nunca foram prestados”
JN – Mas depois houve a fase do auditório…
PJ – Sim, a 1ª fase foi feita, mas nós queríamos ampliar a sede para construir um auditório. Para tal, a Câmara cedeu-nos um terreno através de um contrato de comodato por 50 anos e nós fizemos questão de dizer ao senhor presidente da Câmara que para esta fase não precisávamos de um tostão da autarquia. Por isso, fizemos as obras com boa gestão e capitais da ACIM.
JN – Parece-me que ficou magoado com a Douro Superior - Associação de Desenvolvimento pelo facto da candidatura ao Leader ter sido reduzida…
PJ – Há cerca de 4 anos fui convocado para uma Assembleia-Geral da Douro Superior para aprovação de Relatório e Contas. Fiquei com a impressão que havia um jogo de interesses e quando me abstive pedi para ficar em acta que não podia aprovar um Relatório e Contas sem receber o documento previamente para analisar. Responderam-me que ninguém queria receber o Relatório e Contas previamente, mas que iriam passar a enviá-lo antes da Assembleia-Geral.
O presidente na altura da Douro Superior era o ex-presidente da Câmara de Freixo, Edgar Gata, que na altura me disse: “o senhor para a primeira vez que cá está já está a botar muita faladura”.
JN – Quem são os sócios da Douro Superior - Associação de Desenvolvimento?
PJ - São as Câmaras, mais uma ou outra associação, e aquilo mais parece um clube privado onde se gerem os vários interesses de cada um do que uma verdadeira associação de desenvolvimento.
A partir daquela Assembleia-Geral começou um verdadeiro ataque à Associação Comercial de Moncorvo. Em 2007-2008, já com José Santos na presidência da Câmara de Freixo e da Associação Douro Superior, há outra Assembleia-Geral onde se pretendia eleger novos órgãos sociais.
Ora, como as eleições só iam decorrer dali a 1 mês, questionei porque é que queriam avançar para um assunto que nem sequer estava na Ordem de Trabalhos e questionei também a demissão do administrador-delegado da altura, sem sequer ouvir os associados.
Puseram a questão à votação e como não quiseram aceitar a nossa declaração de voto e a acta da Assembleia-Geral não está em conformidade, avançámos com uma providência cautelar no tribunal, de modo a realizar nova Assembleia-Geral e marcação atempada de novas eleições.
A ACIM tentou fazer uma lista e, das 12 pessoas necessárias, só conseguimos reunir 8.
JN – Mas então como é que começa o ataque à ACIM?
PJ - O ataque à ACIM acontece porque nós quisemos lutar contra uma série de coisas pouco transparentes no seio da Associação Douro Superior. A partir dessa Assembleia-Geral da Douro Superior, começa a ouvir-se que haverá uma lista de candidatos à ACIM, mesmo que estivéssemos a 5 meses das eleições.
Já nessa altura o actual presidente da ACIM, Dinis Cordeiro, que faz parte da direcção da Associação Douro Superior, me diz com uma grande lata: “então tanta coisa e nem uma lista conseguistes fazer”. Eu respondi: “nós reunimos 8, mas o resto parece que está tudo comprometido convosco”. E ele voltou à carga: “É por essas e por outras que estou a pensar pedir a vossa expulsão da Douro Superior”
Ora, isto foi dito pelo actual presidente da ACIM, sinal que não se revia no nosso projecto, até porque ele não é comerciante, mas agricultor e profissional de associações…
“Aquilo [a Douro Superior – Associação de Desenvolvimento] mais parece um clube privado onde se gerem os vários interesses de cada um”
Bem, mas o que me pareceu nesta passagem pela Douro Superior foi que o programa Leader serve para as Câmaras darem umas bicadas, para servir os interesses de algumas associações e não para promover o desenvolvimento das empresas e se calhar perderam-se bons projectos no concelho de Torre de Moncorvo. Tem funcionado ao contrário, infelizmente, e penso que é prejudicial 2-3 associações geridas pela mesma pessoa terem assento na Douro Superior e responsabilidade na gestão das verbas do Leader
JN – Essa pessoa é quem?
PJ – É o senhor Dinis Cordeiro, obviamente.
JN – Mas foi só essa a razão da derrota na ACIM? Havia dívidas quando deixou a direcção?
PJ – A nossa equipa saiu da ACIM com uma dívida de 35 mil euros, entre verbas para chegar, cheques passados, letras e um empréstimo bancário. Para garantir liquidez para quem chegasse fizemos um acordo com uma empresa que nos garantia adiantamento de dinheiro mediante serviços prestados. Hoje temos uma sede totalmente equipada, com boas condições de trabalho e um auditório capaz de receber vários eventos de carácter empresarial e associativo.
JN – O processo eleitoral decorreu normalmente?
PJ – As listas não foram entregues com 30 dias de antecedência, tal como estipulam os estatutos. Tentei impugnar o acto, mas a Mesa da Assembleia-Geral deixou passar. Os estatutos dizem também que para integrar uma lista à ACIM os candidatos têm que ser sócios há pelo menos 6 meses e ter as quotas em dia.
Ora, o vice-presidente da lista encabeçada pelo senhor Dinis Cordeiro não pagava quotas há 6 anos e só as actualizou pouco antes da tomada de posse. Mais uma vez eu tentei impugnar, mas deixaram passar. Bem, isto para não falar dos sócios com menos de 6 meses…
Entretanto houve a corrida aos sócios e ao pagamento de quotas de associados que por eles deixavam a ACIM falida, porque não pagavam há 5-6 anos. O senhor Dinis Cordeiro pôs a máquina das suas associações a funcionar e começaram os telefonemas para os associados a questionar o sentido do voto, o envio do programa eleitoral pelo correio e os carros a ir buscar pessoas para votar, e aquilo mais parecia umas eleições autárquicas do que para a ACIM.
O senhor Dinis pôs ao serviço destas eleições toda a máquina das outras associações e eu pergunto se quando essas associações forem a votos ele põe os funcionários da ACIM e o dinheiro das nossas quotas a pagar estas despesas de correio e telefone?
JN – Foram as eleições mais concorridas de sempre?
PJ – Bem, normalmente às Assembleias-Gerais apareciam 30-40 pessoas, mas na das eleições apareceram 350-400 pessoas, porque a corrida à votação foi grande.
A Assembleia-Geral parecia um pandemónio e começaram por pegar pelo Relatório e Contas, que está o mais transparente possível. Acusaram-me de ter feito uma venda de mobiliário à ACIM, em que a Associação iria gastar 9.500 euros, mas acabou por gastar 3.500 euros e eu tive a frontalidade de o dizer aos sócios.
Quem mais questionou isso foi o Dr. Reboredo, a quem eu expliquei que uma das coisas que eu não fazia era a contabilidade da Associação, sendo simultaneamente presidente do Conselho Fiscal, tal como ele fez durante alguns mandatos.
“Quem mais questionou (…) foi o Dr. Reboredo, a quem eu expliquei que uma das coisas que eu não fazia era a contabilidade da Associação, sendo simultaneamente presidente do Conselho Fiscal, tal como ele fez durante alguns mandatos”
JN - E o Dr. Reboredo assinava essa contabilidade?
PJ – Sim, assinava. Aliás, acho muito estranho é que os registos informáticos dessa contabilidade não estejam disponíveis na ACIM. Informaticamente não consegui encontrar registos anteriores a 2001. Em papel deverá haver, mas eu também não encontrei.
Acho incrível que tenham prometido dar credibilidade à ACIM, quando esta associação foi roubada durante 15 anos e nós deveríamos saber era porque é que a direcção da ACIM, da qual fez parte o actual presidente da Assembleia Geral, Dr. Joaquim Reboredo, gastou 35 mil euros em brindes publicitários, outdoor´s, guloseimas e desdobráveis em apenas 2 anos. É assim que vem nas facturas!
Depois também acho incrível que direcções que nada fizeram tenham apresentado despesas de representação, como aconteceu quando o Dr. Reboredo fazia parte da direcção ou do Conselho Fiscal. Posso ter apresentado algumas despesas de representação, mas saí da Associação com obra feita. À excepção de Macedo de Cavaleiros e Bragança, nenhuma associação comercial do distrito tem uma sede como a nossa!
JN – Vejo que a sua saída da ACIM não foi pacífica…
PJ - Tenho pena que os sócios mais críticos tenham sido convidados para a nossa lista, mas como era para trabalhar não quiseram e deixaram de aparecer às Assembleias-Gerais. Na lista do senhor Dinis Cordeiro, 30 por cento inscreveu-se à pressa para poder votar, outros 30 não pagavam quotas há anos e outros trinta nem sequer podem ser sócios! Isto é a ACIM que actualmente temos e pergunto se hoje temos uma associação de comerciantes ou de agricultores?