Ter, 02/02/2010 - 10:51
Na corticeira Alcino, Alina e Eduardo Gonçalves, em plena Zona Industrial de Vimioso, a matéria-prima entra sob a forma bruta e “crua”, tal como é retirada dos sobreiros. Depois de empilhada e prensada, normalmente em lotes de 500 quilogramas, a cortiça entra num forno apropriado, onde coze durante cerca de uma hora e meia.
“Uma pequena parte é produzida por nós, mas a maioria da matéria-prima é oriunda do Planalto Mirandês, de onde é a de melhor qualidade, mas compramos, também, no Alentejo e no Norte de Espanha”, explicou Alcino Gonçalves, um dos proprietários e responsável pelo negócio.
Depois de cozida e endireitada, a cortiça terá que “descansar” e secar durante dois ou três dias. Só aí é que está pronta para ser traçada e trabalhada manualmente.
É durante este processo que a matéria-prima é separada por qualidade e calibre.
“É escolhida, porque uma cortiça é para fazer as rolhas ditas normais e outra, a mais fina, para os discos, que são usados na confecção de rolhas para champanhe ou alguns vinhos”, adiantou o empresário.
Aos 31 anos, e a trabalhar há mais de dez neste sector, Alcino Gonçalves gere a única corticeira do género na região e uma das poucas existentes em todo o Norte do País.
A única corticeira a laborar no distrito de Bragança
De Vimioso saem, assim, toneladas de matéria-prima transformada rumo a fábricas e indústrias em todo o território nacional e onde será executado um sem-número de produtos, tais como rolhas.
Ao longo de todo o processo, os “desperdícios” de cortiça são armazenados, uma vez que serão utilizados para fabricar corticite e material de isolamento para a construção civil.
“Prevemos que, depois de executadas as obras de ampliação da corticeira, comecemos a executar nas nossas instalações este tipo de produtos”, avançou o responsável.
Apesar de não sentir o “peso” da concorrência, o empresário sublinhou que a debilidade económica do País tem afectado este negócio, sendo que o preço de venda do quilo de cortiça caiu, em alguns casos, para metade.
“Já foi mais rentável. A crise afectou o sector, mas Portugal continua a ser conhecido pela qualidade da cortiça e, por isso, não temos concorrência nesse ramo”, salientou Alcino Gonçalves.
Recorde-se que a cortiça é extraída, pela primeira vez, ao fim de 25 anos, sendo conhecida como cortiça “virgem”. Já na segunda vez em que é retirada do sobreiro, denominada de “secundeira”, têm que passar, pelo menos, nove anos, bem como nos descortiçamentos que se seguem. Só ao fim de aproximadamente 40 ou 50 anos é que é extraída a cortiça de melhor qualidade, chamada de “amadia”, para a produção de rolhas.