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Fontes: uma aldeia típica da raia

Qua, 16/03/2011 - 08:53


População guarda na memória os tempos do contrabando e fala das relações com o povo espanhol vizinho

As histórias dos tempos em que as populações raianas viviam do contrabando ainda se ouvem na aldeia de Fontes de Transbaceiro, freguesia do Parâmio, no concelho de Bragança. Esta localidade dista cerca de 10 quilómetros do povo vizinho de Teixeira, já do lado espanhol, com o qual os habitantes de Fontes têm relações de amizade que se perdem no tempo.
Actualmente, é fácil aceder ao lado de lá da fronteira por uma estrada recentemente asfaltada pela Câmara Municipal de Bragança, mas os populares garantem que, antigamente, as pessoas também se deslocavam pelo caminho de terra batida que atravessava a raia. “Primeiro íamos a pé, tempos mais tarde sofriam os carros. Agora a estrada está boa e mesmo os espanhóis vêm por aqui para ir às compras a Bragança”, conta Eugénio Vaz, um habitante da aldeia.
Aos 80 anos, Eugénio ainda recorda os tempos em que se dedicava ao contrabando do café para conseguir amealhar mais alguns tostões para criar os filhos. “Chegava a levar aos 100 quilos de café para Hermizende, que fica a 12 quilómetros. Pagava-o cá a 22 escudos o quilo e vendia-o lá a 30 escudos”, conta o idoso.
Esta era a forma encontrada pelas pessoas que antes do 25 de Abril viviam nas localidades raianas, para fazer face às dificuldades em que viviam em Portugal. “ Trabalhava na agricultura e depois fazia estes extras para ganhar mais algum. Naquele tempo não havia subsídios, nem pensões, nem abono de família”, desabafa.
Durante o tempo em que se dedicou ao contrabando, Eugénio Vaz afirma que nunca foi apanhado pelos guardas fiscais. “Nunca me viram e se alguma vez me viram também não vieram ter comigo”, graceja.

Mata de castanheiros bravos é uma fonte de recursos financeiros para a aldeia

As relações com “nuestros hermanos” continuam nos dias de hoje, mas já lá vão os tempos em que compensava atravessar a fronteira para fazer compras. “A única coisa que lá é mais barato são os combustíveis. Por exemplo, o café, lá custa 1 euro e cá é a metade do preço”, garante Eugénio Vaz.
Mesmo assim, a vontade de conviver leva as pessoas destas duas aldeias raianas a cruzar a fronteira.
Inserida em pleno Parque Natural de Montesinho, a beleza das paisagens que envolvem Fontes, onde predominam os castanheiros, levam alguns turistas a visitar a aldeia. “Vêm espanhóis, também já estiveram aqui comigo dois casais israelitas. Tiram fotografias e nós recebemo-los bem”, enaltece este habitante.
Numa visita à aldeia, para além das histórias do contrabando também encontramos algum património com valor histórico, que a população teima em preservar. As fontes antigas, a igreja matriz e a capela de S. João, onde existe uma fonte com água milagrosa que, segundo os populares, cura doenças de pele, são os ex-libris de Fontes de Transbaceiro.
Aqui encontramos, ainda, uma mancha importante de castanheiros bravos, que é gerida pela Comissão de Baldios, cujos lucros revertem a favor da povoação. “Há 20 anos que sou o presidente da Comissão de Baldios e o dinheiro que conseguimos já serviu para ajudar a compor a igreja por fora e para a festa do S. João”, recorda Eugénio Vaz.
Para melhorar as condições de quem aqui vive, as pessoas garantem que faz falta um Centro de Dia na freguesia, bem como saneamento básico, que ainda não chegou a esta aldeia raiana.