Gaita-de-foles no Conservatório

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Ter, 31/01/2006 - 16:05


Há cerca de dois anos que o músico dos Galandum Galundaina, Paulo Preto, é o rosto do curso de gaita-de-foles que está a decorrer no Conservatório de Música de Bragança.

Todas as quartas e quintas-feiras, o gaiteiro ensina a sua arte aos cerca de quinze alunos, de diversas idades, que decidiram aprender um instrumento que faz parte e ajuda a vincar a identidade de um povo.
A ideia do curso há muito que andava na cabeça de Paulo Preto, que viu na abertura do Conservatório uma forma de concretizar o projecto. Para passar da teoria à prática, lançou o desafio ao presidente da Câmara Municipal de Bragança, Jorge Nunes, que acatou a proposta prontamente. “Convidou-me a iniciar o curso de gaita-de-foles e percussões no Conservatório, que na altura tinha aberto há pouco tempo”, recorda o músico.
Desde então, já lá vão dois anos, a procura é tanta que “um só docente tem dificuldade em dar resposta a tantos pedidos, pelo que temos que crescer”, garante o músico. Além disso, para ensinar com eficácia é necessária muita atenção e paciência, a par de “fazer as coisas com calma, com conhecimento científico e muita pedagogia”, assegura Paulo Preto.

A emoção de tocar

Nas aulas, alunos e professor praticam a técnica, aprendem a controlar o instrumento e, claro está, as melodias tradicionais. Só desta maneira é possível “sentir a emoção e prazer a quem toca”, considera o docente.
Um dos jovens aprendizes, Luís Ferreira, justifica o gosto pela gaita-de-foles com a principal razão para frequentar o curso. “É diferente de todos os instrumentos, é muito personalizado e permite a cada gaiteiro uma certa liberdade na maneira de tocar”, sublinha.
António Gonçalves, outro aluno auscultado pelo Jornal NORDESTE, revelou que a sua preferência por este instrumento tradicional já é antiga. “Tinha comprado uma gaita-de-foles há uns nove anos, mas nunca consegui tocar, de modo que a arrumei num armário”,
Por isso, a abertura do curso de música tradicional foi pretexto para voltar a tentar conhecer a técnica e arte de tocar o instrumento. E ainda que julgue que não é muito difícil aprender, admite que se torna mais fácil quando se inicia a actividade ainda jovem e, muito mais, quando se tem a orientação de um professor.

Pioneiro em Portugal

À semelhança do que acontece na vizinha Espanha há mais de duas décadas, também em Portugal se ministram, agora, aulas de gaita-de-foles num Conservatório de Música, neste caso de Bragança, que se tornou no único do País a conjugar o ensino de música clássica com a tradicional, embora em regime de curso livre.
O facto das aulas decorrerem num estabelecimento de ensino de música permite que se desenvolvam de um modo mais fácil. “Estamos um pouco salvaguardados, pois esperamos ter os mesmos apoios que se dão às aulas de outros instrumentos”, sustenta Paulo Preto.
A gaita-de-foles, contudo, apesar de simbolizar as tradições da região, está longe de ter grande importância junto dos poderes de decisão, cultural e económica, ainda que já se registem algumas evoluções. “A música tradicional caiu no chão, mas tem vindo a erguer-se lentamente”, sublinha o responsável.
Para tal tem contribuído uma boa formação, a melhoria das técnicas, bem como, a divulgação e sensibilização para a defesa das tradições.
Esta aposta, segundo o músico, pode vir a revelar-se extremamente valiosa para toda a região. “A gaita-de-foles Mirandesa/ Transmontana, juntamente com os Pauliteiros e os Caretos, podem levar a nossa terra aos quatro cantos do mundo”, defende Paulo Preto, acrescentando que “a cultura e as tradições têm que ser vistas como um potencial gerador de riqueza”.