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Gavião: “eram 13 moradores e 14 loucos”

Ter, 14/07/2009 - 10:06


A viagem faz-se a um ritmo lento, por um caminho de terra batida. Durante o percurso até à aldeia abandonada do Gavião avista-se uma paisagem deslumbrante sobre o Vale da Vilariça.

O cenário ganha, ainda, mais vida com as vinhas, olivais e amendoais cultivados, que demonstram a riqueza agrícola da freguesia de Seixo de Manhoses, situada a seis quilómetros de Vila Flor.
Abandonada pelos últimos habitantes há mais de 50 anos, a aldeia de Gavião é, agora, um local em ruínas visitado por aqueles que deixaram lá as suas raízes ou por curiosos que querem conhecer a vida que existiu, outrora, neste local privilegiado pela natureza.
Numa visita àquelas que já foram ruas movimentadas encontramos um amontoado de pedras que vai resistindo ao passar dos anos, mas também casas com cobertura e fachadas, bem como vestígios de um lagar e da antiga capela de Santo António. A eira é, igualmente, um espaço que ainda prevalece, apesar das silvas terem tomado conta da área que, antigamente, era destinada ao cereal.
Os encantos do Gavião já entraram em casa da maioria dos portugueses através das imagens divulgadas na novela “A Outra”. Desde então, este local tem tido um maior número de visitas. “Há muitas pessoas que vêm à procura do Gavião e todas elas ficam fascinadas”, realça o presidente da Junta de Freguesia de Seixo de Manhoses, Constantino Olmo.
Para que este local não passe despercebido, até foi colocada uma placa à entrada da freguesia a indicar o caminho. No entanto, tardam os investimentos para transformar o Gavião numa aldeia turística. “Só seria possível através de investimento privado. Já houve pessoas interessadas, mas depois aparece sempre algum entrave”, lamenta o autarca.

Proximidade a Vila Flor torna Seixo de Manhoses numa das maiores freguesias do concelho

Em Seixo de Manhoses ainda se encontram algumas pessoas que viveram no Gavião. Na memória guardam histórias de tempos difíceis, em que se trabalhava muito e, muitas vezes, não havia comida em cima da mesa, mas o sentimento dominante é de saudade dos dias passados naquele lugar. “Era uma aldeia muito pequenina. Tínhamos que vir às compras ao Seixo, a água tínhamos que a ir buscar à fonte do muro, que ficava da parte de baixo da aldeia. Viemos embora porque não havia lá mais ninguém, fomos os últimos a sair”, recorda Nazaré Moura, de 63 anos.
Este cenário contrasta com a modernidade de Seixo de Manhoses, para onde se deslocaram as famílias que desistiram de viver no Gavião. “Não tinha condições para as pessoas viverem lá. Não tinha água, nem electricidade… Depois as pessoas começaram a emigrar para França e para África e outras vieram para o Seixo. Ficaram as ruínas e a lenda de que no Gavião havia 13 moradores e 14 loucos, porque um lavrador tinha um burro e diziam que até o animal era doido”, conta Constantino Olmo.
A proximidade à sede de concelho e a construção de casas pelos emigrantes tornam Seixo de Manhoses numa das maiores freguesias de Vila Flor. Com cerca de 600 habitantes, esta localidade é a única que tem escola primária a funcionar com 16 alunos da terra. “Como é um dormitório de Vila Flor temos conseguido aumentar a população e cativar a juventude”, salienta o autarca.
É no mês de Agosto que o número de pessoas duplica, com as festas realizadas no Santuário de Santa Cecília, um local de culto muito valorizado pela população. Quem passar pelo Seixo pode, ainda, visitar a capela de Nossa Senhora do Rosário, que já foi a igreja matriz, ou as fontes recentemente requalificadas.