Moletas e trampolins

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Ter, 29/08/2006 - 17:13


Já estamos habituados a que logo após as férias, os partidos políticos anunciem as suas rentrées e comecem imediatamente a esgrimir assuntos polémicos, num desafio aberto, cara a cara, para acabar com a monotonia do Sol e praia a que quase todos estiveram sujeitos, por gosto e por mais ou menos mérito.

Não é pois novidade que tal aconteça. Até é meu entendimento que tal se verifique, protagonizando deste modo, uma dinâmica necessária ao ambiente político nacional, deixando no ar o tom pelo qual irá afinar o resto da banda.
Assim, embora repetida ano após ano, lá vemos o chamamento para a Festa do Avante, ao mesmo tempo que o Secretário Geral do PCP, de luvas enfiadas, dá uma ajudinha na montagem de algumas estruturas, numa mostra de coragem e perseverança, trabalho e fiscalização, não vá algumas das barracas cair no chão!
O seu discurso, não precisa de ser ouvido em directo, para se saber o tom da afinação ou os alvos dos tiros das inúmeras barracas por ali espalhadas. Críticas ao governo em geral e tiros específicos a alguns ministérios, ministros e secretários de estado que nada fazem ou fazem muito pouco em prol da economia do país e dos trabalhadores. Que mais haveriam de dizer?
De igual modo, o PSD também anunciou a sua rentrée, mas de um modo completamente diferente do habitual, isto se considerarmos que o que aconteceu no Pontal em Faro, não foi rentrée nenhuma e só contarmos o que no Norte terá lugar. Mas as personagens de intervenção são polémicas. No Algarve, ao ar-livre, todos podiam assistir e alguns podiam falar. No Norte, no salão da Universidade (!), só assistem os alunos filiados para ouvir essencialmente o Presidente do Partido, numa tentativa de consciencialização partidária e de formação política intensiva. Nem o senhor Presidente da Câmara do Porto irá falar! Nem Filipe Menezes! Não me parece que isto seja o habitual das rentrées do PSD! Afinal o que está mal? Assim não haverá grandes assuntos para esgrimir e duvido mesmo que os alvos sejam objecto de acerto, a não ser que algum franco-atirador mais afoito, despido do medo a que alguns se sujeitam, atire a matar!
Entretanto o PS resolve fazer a sua rentrée em terreno inimigo e envia Alberto Costa à Madeira, enfrentando assim o Presidente Regional, numa clara afronta à sua política. Num comício bem assistido, apesar de tudo, o ministro da administração interna, lá foi desfiando o seu rosário de amarguras e acusações contra o outro Alberto, tentando justificar por meias palavras o que aos madeirenses parece injustificável! Mais parecia D. Quixote a lutar contra moinhos de vento!
Seguindo o mesmo caminho, também o PND fez a sua r entrée no Norte. Manuel Monteiro tentou fazer passar a mensagem de uma nova direita, sem preconceitos ou rabos-de-palha que a ligassem ao antigo regime ou às tias de Cascais. No meio de tanto palavreado, foi dizendo que quer discutir com o CDS essa nova direita e os apoios necessários a conceder ao seu partido. Anunciou que vai fazer o mesmo ao PSD. Está pois disposto a discutir a sua proposta, nem que seja porta a porta com os cidadãos, numa tentativa de afirmação desta suposta direita democrática. Eu até acredito que seja democrática, mas que está longe do centro, lá isso está!
No meio de tudo isto, uma coisa está presente em todas as rentrées, muito embora nem todos o percebam. Na verdade todos os partidos se querem apoiar nos outros, de uma maneira ou de outra. Alguns já estão apoiados ou recebem os apoios necessários à sua existência política, como é o caso do PCP ou CDU. Os Verdes existem porque existe o PCP e este apoia-se naquele para ter maior score eleitoral.
O PSD dirige-se ao CDS e vice-versa para as grandes decisões, quer parlamentares, quer governamentais. O CDS tem sido o apoio necessário do PSD enquanto este tem servido de trampolim ao CDS para chegar ao governo. De igual modo também o PS se tem servido do CDS para governar, sendo este a muleta imprescindível na falta de maiorias… dos outros!
Agora aparece Manuel Monteiro a pedir apoio do CDS e do PSD, querendo ele ser a muleta dos outros dois, mas com uma percentagem tão mínima a nível nacional, parece pouco provável que tal aconteça. Tentar não custa!
Afinal todos precisam de todos e cada vez mais vai ser assim. Que não se perca pelo menos a dignidade de cada um.