Ter, 02/06/2009 - 11:44
Arminda Veiga continua a seguir o ciclo tradicional da lã que aprendeu com a avó, mas confessa que, actualmente, a maioria das pessoas já não carda, ou seja, já não usa as peças de pregos que servem para “pentear” a lã. “Se for cardada é mais fácil de fiar”, acrescenta.
A fiadeira explica o processo de transformação da lã até chegar a fio e desvenda que não é qualquer pessoa que consegue dar a volta ao fuso. “Depois de seca, a lã é carmeada, ou seja é aberta, de seguida enrola-se para fazer o manelo (novelo) que é atado à roca”, explica.
Quando a lã já está colocada na roca, Arminda usa a sensibilidade que tem nos dedos e sabedoria adquirida ao longo dos anos para transformar “farrapas” de lã no fio que usa para fazer os miotes (meias) que aquecem os pés no Inverno. “O mais complicado neste processo é fiar. Se a menina pegasse nisto desfazia tudo, porque não está habituada (risos)”, salienta Arminda Veiga.
Depois de multiplicar os fios no fuso, Arminda Veiga transforma-os em pares de meias para toda a família
Esta argozelense passa horas e horas a fiar, até conseguir fios suficientes para a maçaroca (um conjunto de fios) que é debanada, ou seja ajeitada nos novelos usados para fazer na meia. “Isto não é para fazer tudo num dia, é para se ir fazendo”, realça Arminda, com entusiasmo e brio naquilo que faz.
As dores nas costas e no pescoço são aliviadas com dois dedos de conversa entre os companheiros do soalheiro, que admiram o trabalho e a ligeireza desta filha da terra, que teima em preservar a tradição. “Tenho uma filha que sabe fiar bem. As outras não se ajeitam com o fuso (risos)”, enfatiza a fiadeira.
Quando já tem lã suficiente, Arminda Veiga deixa a roca e o fuso e passa para as agulhas de fazer na meia. “Costumo fazer miotes e são bem quentinhas no Inverno. Os novos agora não os querem, dizem que picam, mas quando está neve e gelo bem se agradecem”, enaltece a argozelense.
Os tempos mudaram, a azáfama da roca e do fuso abrandou e as meias de lã começaram a cair em desuso, mas Arminda Veiga teima em manter viva uma tradição que, outrora, fazia parte do quotidiano de quem se dedicava ao trabalho no campo.
“É uma arte que requer bastante trabalho, mas depois de se aprender fiar não custa nada e até é bonito”, conclui Arminda Veiga, enquanto vai retirando o fio para o fuso do maranho de lã que tem atado à roca.