Peixes e Migas: um segredo gastronómico que atrai cada vez mais turistas à Foz do Sabor

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Qua, 20/07/2016 - 14:44


Sabor único dos peixes do rio fritos, regados com um molho tradicional, acompanhados de migas preparadas com ovas, são um segredo bem guardado mas que desperta a curiosidade de cada vez mais pessoas

Peixes há muitos mas na Foz do Sabor são especiais. Pelo menos esta é a opinião de quem por lá passa e prova os peixes do rio que não podem ser servidos sem migas e o molho tradicional. Acredita-se que esta seja a última aldeia piscatória de Trás-os-Montes, onde, diariamente, barcos tradicionais percorrem a confluência dos rios Sabor e Douro.

Os pescadores trazem, sobretudo, boga e barbo, que depois vende aos habitantes da aldeia. Alguns começaram a deixar de fazer os petiscos tradicionais apenas em casa, passando a confeccioná-los nos cafés da zona que, na altura não tinham condições para se tornarem restaurantes. O caso, agora, é bem diferente. Quem quiser provar a iguaria, o melhor é mesmo reservar com antecedência ou arrisca-se a ficar sem comer. Sobretudo no verão, casa cheia é o prato do dia nos cafés da Foz do Sabor e também da aldeia vizinha de Cabanas de Baixo. 

È nesta aldeia que encontramos Adriana Pereira, a cozinheira do café que gere, juntamente com o marido. Quando abriram a casa, há 33 anos, estavam longe de imaginar o sucesso que teriam em 2016. Quem passa numa das ruas principais da aldeia e procura o tal café, encontra-o timidamente, e pode pensar que até nem é ali que se comem os afamados peixes do rio e as migas. Mas basta andar um pouco para descobrir um pequeno parque de estacionamento à pinha e uma esplanada aos socalcos, que resultou de acrescentos que os donos da casa tiveram que ir fazendo, à medida que os clientes iam aumentando. Afinal é aqui. Podemos ouvir as gargalhadas de grupos de amigos satisfeitos, famílias que vieram de longe, ou simplesmente alguém que se perdeu mas que jamais vai deixar de lembrar aquele lugar e de querer lá voltar.

È ali que, num dos vários compartimentos a que se tem acesso a partir do pátio principal, Adriana Pereira, de 61 anos, passa horas a fio a fritar peixes e a fazer migas. “Ás vezes chega aqui muita gente para entrar e não conseguimos dar vazão. O melhor é mesmo marcarem antes de vir, porque os peixes podem acabar”, adverte a cozinheira. Um movimento que nota que “tem aumentado de ano para ano, sobretudo no Verão”. Criada numa quinta na zona, sempre se lembra de ver cozinhar estes pratos. Afirma que cada dia aprende alguma coisa, que torna o prato ainda mais aprimorado e garante que o segredo “está sobretudo na qualidade do peixe”. Tem um pescador a pescar durante o ano só para ela e no verão tem encomendar peixe a outros pescadores pois nunca chega para as encomendas.

Não é difícil encontrar quem se apaixonou por esta iguaria, desde um casal do porto que teve de ir a Bragança e foi de propósito almoçar a Cabanas de Baixo, a um grupo de amigos de vários pontos do país que a convite de um elemento do grupo de Freixo de Espada à Cinta que os trouxe a conhecer a autenticidade do lugar, ou da região, uma família de Alfândega da Fé e um grupo de colegas de trabalho de Bragança. Apenas alguns exemplos, que dão lugar a outros, todos os dias. Muitos vêm de longe porque ouviram falar ou, simplesmente, porque já provaram e não resistiram a voltar a degustar o prato. “Viemos cá no ano passado e como gostamos dos peixes, voltamos. O único problema é que os restaurantes são pequenos e é preciso vir muito cedo para conseguir peixes”, constatou  Luís Miguel, de Bragança.  Um colega, natural de Amarante confessa que ainda não conhece bem a zona mas acredita que “tem potencial turístico”. E a comida não podia ser melhor. “Não gosto muito de peixe mas estes estavam muito bons”, garantiu Filipe Ribeiro.

No outro café da aldeia, encontramos uma família com ligações ao concelho de Mirandela mas que vive em Almada.  “Moramos em Almada mas somos  de Abreiro, Mirandela. Esta é, pelo menos, a terceira vez que venho, com o meu marido e a minha filha. Gostamos dos peixes, da paisagem e da praia da Foz do Sabor, contou Sofia Trigo.

No passado fim-de-semana decorreu o Festival das Migas e do Peixe do Rio, organizado pela Associação de Comerciantes e a Câmara Municipal. Sete restaurantes ou cafés aderiram à iniciativa, incluindo alguns da sede de concelho e de outras localidades. Mas, pelo menos na Foz do Sabor, os empresários da restauração garantem que têm procura durante todo o ano. Mesmo que ainda sejam servidos em salas ou esplanadas de pequena dimensão,  este parece ser um dos segredos para atrair gente que quer sair do reboliço das cidades e do turismo de massas, respirar ar puro e saborear um prato simples e económico como os peixes do rio e as migas. 

Jornalista: 
Sara Geraldes