A ARTE RELIGIOSA DA CAPELA MOR DA IGREJA DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE MIRANDELA

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Nos dias que vivemos as artes plásticas antigas ou modernas passam pela ignorância ou até pelo desprezo de muitos, mesmo gente que se diz culta e sábia. Toda as obras de arte sacra foram concebidas e realizadas com a intenção de honrar a Deus no caso dos judeus , muçulmanos e cristãos e de honrar os seus deuses no caso de outras religiões E se falarmos de arte sacra dos templos católicos , nem mesmo muitos fiéis e padres mostram qualquer interesse pelo património artístico que se conserva nas nossas igrejas. É o caso da Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Mirandela que encerra algumas obras de arte de talha, escultura e pintura de muito valor. As Misericórdias de Portugal foram, em todos os tempos, instituições promotoras e conservadoras de um património artístico muito diverso e relevante de grandes artistas de renome local e nacional. Foram ainda um bastião muito forte da catequese humana e cristã, precisamente por meio destas manifestações artísticas, a par da assistência social aos pobres, doentes e peregrinos. Nas lides da investigação tive a sorte de descobrir os autores da reforma da Capela mor da Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Mirandela que a mesa da Santa Casa resolveu remodelar e ornamentar com talha riquíssima em toda a superfície do tecto e da parede norte da cabeceira da Igreja. Isto e toda a capela mor da igreja. Por uma escritura de obrigação celebrada, no dia 10 de abril de 1718, entre a Mesa da Santa Casa e dois artistas entalhadores, foi por estes arrematada a obra do retábulo e o arranjo do forro da capela mor pelo preço de duzentos mil reis. Os artistas foram BENTO FERREIRA, natural de Entre Douro e Minho e ANTÓNIO DUARTE, morador na freguesia de Veigas, termo da cidade de Bragança. Em toda a região do Nordeste Transmontano desde muito cedo artistas dos diversos ramos da arte de entre Douro e Minho, da província do Minho, da Galiza e da região de Zamora, Salamanca e Valladolid. António Duarte devia ser um entalhador de Veigas da família de João Duarte Pinto, também entalhador que esculpiu algumas obras em toda a Diocese de Bragança e Miranda, durante a segunda metade do século XVIII. Bento Ferreira e António Duarte construíram o tecto entalhado e o grandioso retábulo de riquíssima talha do barroco nacional ou do primeiro período joanino, no ano de 1718 -1719. Esta obra da capela mor como retábulo devia estar acabada no Natal de 1719. Foi assim que ficou estipulado na escritura de obrigação. O douramento do retábulo do altar e da talha do tecto da capela mor foi justo por 2.000 cruzados no ano de 1720 a António da Rocha, da vila de Pena (Ribeira de Pena), termo de Vila Real .A escritura de arrematação da obra estipulava como condições e conforme os apontamentos que todo o retábulo fosse dourado com ouro subido , dando a Confraria as madeiras ne- cessárias para as estadas e não havendo dinheiro suficiente o mestre dourador esperava até que o houvesse da Confraria e das esmolas do Santo Cristo . A Santa Casa comprometia-se ainda a dar casa para morar o dourador, enquanto durasse a obra. O retábulo e todo o conjunto da riquíssima obra de talha tem todas as características do barroco nacional, com suas colunas salomónicas dispostas em forma de portal românico , todas recamadas de talha de parras, uvas , aves e meninos, á boa maneira do primeiro período do estilo joanino. Também os outros retábulos de talha têm valor artístico, sendo esculpidos no período rococó, da segunda metade do século XVIII. De valor artístico é também a bandeira da Irmandade da Misericórdia da mesma cidade de Mirandela. Não publicamos os documentos que serviram de base a este pequeno artigo, por falta de espaço.

António Mourinho