FELIZ ANO NOVO

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O notável, esfusiante, e até luxurioso escritor brasileiro Rubem Fonseca escreveu um livro de contos cujo título é o desta crónica. Ele nasceu em Juiz de Fora (Minas Gerais) filho de transmontanos, também escreve roteiros ou guiões para filmes, tendo recebido ao longo da sua fulgurante gesta literária fruto de anacromáticas giestas (romance, conto, novela, ensaio) inúmeros prémios, entre les o Camões no ano de 2003.
Não vou tecer considerações acerca de nunca (ao que sei) ter sido convidado a lavar os olhos, inebriar o nariz, afagar o palato durante alguns dias nas terras de onde o pai e mãe nasceram e viveram até rumarem para o Brasil, outros bem menos talentosos e conhecidos internacionalmente o têm sido, mas asseguro quão feliz tenho sido a ler as suas obras, melhor dito, na companhia de confrades (raros) o prazer redobra quando as releio.
Ora, o inventor, interventor e transgressor Rubem Fonseca se comove no descrever o Natal, em Feliz Ano Novo transmite-nos o contraste violento da passagem do ano finito para o alvorecer de novo ano onde se cruza o erotismo, o luxo, a marginalidade, a alegria, o choro, a abertura sonhadora, o abstruso desfecho da noite profanada pelo imprevisto do choque entre o limpo e o sujo, o perfume e o odor infecto, a obscena de sucção de quem nunca tinha provado tais e tantas iguarias.
Considerei refazer episódios de passagens de ano ocorridas no Clube de Bragança nos anos agora encerrados nos programas radiofónicos cujo descritor principal é a palavra Nostalgia, seria um pedaço de passado no presente, desisti pois de passado têm muito os leitores, de futuro todos temos pouco embora no meu caso concreto apresento propostas e trabalhos relativos ao futuro a troco de compensações pecuniárias.
Eu gostava de saber se os leitores apreciam as referências passadistas, as anotações ao presente, os «juízos» sobre o futuro que vou publicando, o respeito a eles devido obriga-me a pedir-lhe caso o entendam fazer-me chegar as suas opiniões porque as da minha lavra de sulcos irregulares leem-nas quinzena a quinzena. Mesmo só um comentário já será presente antecipadamente agradecido.
Entenda-se o pedido dentro do espírito da frontalidade transmontana, não o faço no sentido de assegurar boa reputação, mesmo no auge da labuta política nunca esfalfei o coração atrás de simpatias, antes pelo contrário, interessa-me isso sim auscultar todos quantos dispõem de tempo e paciência para lerem os opinadores os quais muitas vezes pinoteiam a essa mesma paciência.
O Mundo escancara portas e janelas a todo o momento, a curiosidade dos interessados é imediatamente satisfeita através da Internet, no entanto, errarei se colocar a ênfase no aparente ser tal escancarar, a toda a hora verificamos os dislates da propaganda, a imagem retocada de homens e mulheres a esconder pústulas materiais e morais, os discursos laudatórios relativos a gente sáfia, incompetente, capaz de todas as tropelias na procura de réditos sem custo de nenhuma espécie.
Ora, os leitores lembram-se de um senhor austríaco de nascimento chamado Karl Popper, o filósofo morreu em 1984, porém os seus livros continuam por aí, neles estão contidos avisos sobre as grandezas e misérias da sociedade aberta, e no futuro terá uma forma ainda mais aberta? Ou mais fechada? Completamente cerrada, parecendo aberta?
E, se o Ano Novo está a dar vagidos as interrogações relativas ao acima afirmado vão ganhando vetustez ano após ano levando à construção de obras de vários matizes impregnadas de incertezas e receios.
Acredito na possibilidade de gente bem pensante achar despropositado expender este género de dúvidas no NORDESTE INFORMATIVO, não me inquieta a possibilidade do despropósito, a notação elitista favorece a propagação do ruído informativo ofuscador da reflexão, sendo saliente o papel da imprensa regional no favorecimento da tão necessária reflexão porque cada número do jornal aguenta-se sobre a mesa de cada casa até à chegada de nova edição.
Secundando o parecer futurista (não o de Marinetti) do meu amigo Alexandre Manuel antigo jornalista, ora professor no ISCTE, os órgãos de comunicação social regionais além de desempenharem ingentes tarefas de «provedores» dos pobres, dos humilhados e ofendidos, podem e devem ser instrumentos de afirmação da cidadania democrática de primeira plana.
As nuvens carregadas prenunciam-se no horizonte neste Inverno de sol florido, aos leitores desejo Ano Novo repleto de prosperidades, ao Nordeste Informativo auguro Feliz Ano Novo recheado de alacridade para gáudio de todos nós. Ao seu Director peço a continuação da oferta de editoriais de espírito acutilante como até agora na defesa da sua Dama, a nossa, o Nordeste Transmontano. Não sou pobre no pedir, pois para mal basta assim cantava uma canadiana nos anos oitenta. Não é a Diana do Elvis.

Armando Fernandes