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Haja vontade

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Quando é que se aperceberam de que estão rodeados por pessoas extraordinárias? Talvez ainda nem se tenham dado conta. Tentem fazer esse exercício hoje - olhar para as pessoas como pessoas. Saborear-lhes a alma, ver-lhes as entranhas. Há uma famosa frase que diz que ninguém é tão ignorante que não possa ensinar nem ninguém tão sábio que não possa aprender. Todas as pessoas com quem nos cruzamos deixam algo em nós, se der-mos chance. Quando não dermos, ficamos a perder. Num presente em que tudo é uma rápida sucessão de eventos e onde nunca temos tempo na ânsia de avançar, tem-nos faltado apreciar os outros seres humanos. Apreciar, na verdadeira acepção da palavra. Quando foi a última vez que pararam para dar da vossa disponibilidade a alguém? Que se detiveram para ouvir e fazer perguntas? Ainda sabem como é ter uma conversa onde ambos estejam presentes e empenhados, sem termo? Estaremos mesmo com menos tempo disponível, fruto do ritmo de vida agitado que levamos? Ou essa é a nossa boa desculpa? A vida vai acontecendo à nossa volta, mesmo que não façamos nada por isso. Com ou sem efeitos borboleta pelo meio, vai correndo. E nós sempre a dizer que hoje não tivemos uma oportunidade para, que não deu porque, que se meteram outras coisas. E os ponteiros avançam e perdemos as pessoas. Como fumo, vão desaparecendo. Desapareceram sem que, sequer, déssemos por isso. É que “hoje não tive uma oportunidade para”, “não deu porque”, “meteram-se outras coisas”. Com elas vão lições e vivências que nunca vamos entender. É que a prioridade nunca são as pessoas. A bateria está sempre apontada para um lado menos claro e nem sempre definido. Há sempre algo que parece mais imediato. E as pessoas... bem... isso logo se há-de ver. Têm parado para dar apreço aos vossos entes queridos? Fazer-lhe perguntas sobre o mundo, sobre o que os move, sobre coisas aleatórias da vida? Sabem o que eles fazem de melhor? Já os viram em todas as suas luas? E por que motivo escolhemos manter algumas pessoas e descartar outras? Qual é o critério, se nem lhes vimos a essência? A vida é um lugar incrível para se morar, em especial rodeados de vizinhos. Viver num enorme bairro é melhor do que viver num condomínio fechado. Que bom é poder bater na porta desses vizinhos e chamá-los para uma festa, onde, a meio da dança, olhamos para o lado e vemos. Vemos, de verdade, e ficamos felizes, por saber quem é o vizinho que ali está, a segurar-nos pela mão. O relógio estica ou encolhe conforme quisermos. Não nos falta tempo - falta vontade. Haja vontade. As pessoas extraordinárias estão à nossa espera, mesmo aqui ao lado, com a mão esticada à espera que a agarremos para irmos bailar.

Tânia Rei