Henrique Pedro

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Se queres ver o vilão mete-lhe a maioria absoluta na mão

Talvez a pensar na nobre cooperação partidária agora evidenciada no processo Tutti Frutti, Augusto Silva, presidente da Assembleia da República, defendeu, em sessão organizada pela JS, ser falsa a tese de descredito do PS e do PSD, os dois maiores partidos, que são as duas faces do sistema. Ficamos a saber, portanto, que, na ideia de Augusto Silva, o regime político vigente está bem e se recomenda. Como se vê pelos frutos. De salientar que Augusto Silva, não se limita a defender a honra da sua dama, o PS, mas se bate igualmente pela do PSD, partido da direita em que gosta de malhar sem dó nem piedade. Quem diria! Tenha-se em conta, todavia, que o que diz Augusto Silva até poderá ter sentido se consideramos que se trata de um famoso militante socialista, ex-deputado do PS eleito pelo círculo Fora da Europa, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, actual presidente da Assembleia da República e que aprecia a situação alcandorado na varanda do Palácio de São Bento. Na verdade, têm sido raras as manifestações de rua em frente ao palácio de Augusto Silva, contra os sucessivos escândalos e trapalhadas do Governo. Somos levados a supor que o povo tem mais que fazer e que o futebol e as novelas sempre são mais divertidos. Mas Augusto Silva não desconhecerá, por certo, a crise generalizada nos serviços fundamentais do Estado com realce para a Saúde, o Ensino ou a Justiça. Lamentável é, por tudo isso, que Augusto Silva, enquanto Presidente da Assembleia da República, não assuma, e daí retire consequências políticas, que tais crises tudo têm a ver não só com o Governo, mas igualmente com o Regime que o gera e que não se trata de fenómenos que dignificam a democracia. Bem pelo contrário. Já o seu correligionário António Costa veio a público, na mesma ocasião, sentenciar, a seu estilo, que é preciso “dar oportunidades à classe média” para se defender a democracia, tendo em conta que quando este “estrato social se sente desamparado” é tereno fértil para a extrema direita, sem mais nem menos! Depreende-se que, para António Costa, a grande ameaça para a democracia é a extrema direita,” tout court”, que salta de paraquedas vinda sabe-se lá donde, para se acoitar na classe média infeliz que se sente desamparada. Inacreditável! Será que António Costa não reconhece aos milhões de portugueses que integram a anónima classe média, infeliz e desamparada, direito e inteligência bastantes para procurar abrigo preferencial noutras paragens, na estrema esquerda, designadamente? Ou será que o único receio de António Costa é ser apeado do poder pela extrema direita, convicto que continua a ter a extrema esquerda na mão e que o PSD de Luís Montenegro não aquece nem arrefece? Populismo e demagogia é o que é! Certo é que dar prioridade à resolução dos problemas concretos de Portugal e dos portugueses não é com ele. Contrariamente ao que António Costa proclama, porém, as grandes ameaças para a democracia são, isso sim, a corrupção, o nepotismo, a incompetência, a desigualdade e a mentira prevalecentes. Sendo que a presente crise, que antes de ser política é ideológica, económica, social e ética, é o somatório de muitas crises provocadas pela má conduta do Governo. Nada tem de artificial até porque é igualmente sistémica porque se não fosse a permissividade do Regime vigente nunca teríamos, por certo, um governo como este que é um verdadeiro aborto governativo. Acresce que para Augusto Silva e António Costa o socialismo não passa de um slogan, de uma máscara para dissimular as suas políticas de favorecimento dos interesses dominantes, para lá de que, para eles, em democracia vale tudo, desde seja a seu favor. Quanto a reformas não são com eles e com outros que tais. Sentem-se bem como estão. António Costa já deu provas bastantes de não ter outro projecto para o país que não seja usá-lo como uma coutada de gestão partilhada com um grupo restrito de correligionários, familiares e amigos do peito, que continuam a trocar os olhos e esticar a corda dos impostos a todos os portugueses, que não só à classe média. É por estas e por outras que o descontentamento dos portugueses nunca foi tão alto e exasperante, sendo que já nem a manipulação demagógica dos indicadores macroeconómicos os convence. Vilões para todos os gostos e de todos os feitios há muitos na política portuguesa. Demasiados até. Como o ilustra à saciedade o espetáculo hilariante propiciado pelo inquérito à gestão da TAP, em curso, em que a mentira, a hipocrisia e a incompetência alcançam patamares nunca vistos. Tanto que somos forçados a concluir que Maquiavel está francamente desatualizado. Bem mais actual e assertivo é, sem dúvida, o velho anexim lusitano: se queres ver o vilão mete- -lhe a maioria absoluta na mão.

O triunvirato da vergonha

Na crónica anterior, aqui publicada, privilegiei o senhor primeiro-ministro António Costa. Texto que não viralizou, como agora soe dizer-se, longe disso, nem eu tal esperava. Ainda assim, mereceu comentários espontâneos de leitores amigos que justamente me persuadiram, cada um à sua maneira, de que António Costa não é o único grande responsável pelo actual status quo nacional, que é deplorável. Pois não. Também há que chamar à liça o inefável Presidente da República e, já agora, o inestimável presidente da Assembleia da República. É que Marcelo de Sousa, António Costa e Augusto Silva têm longos e pesados passados de exercício efectivo de poder, já que desempenharam, ininterruptamente, múltiplos e diferenciados cargos governamentais do mais alto gabarito. Muito em especial Augusto Silva e António Costa, e de tal forma, que poderão ser considerados dois lídimos dinossauros do poder em Portugal. Do poder socialista, claro está. Ninguém melhor do que eles conhecerá, por certo, os cantos à casa, que é como quem diz, os arrumos, as águas furtadas e as cozinhas do palácio governamental. Dito de outra forma: Marcelo de Sousa, António Costa e Augusto Silva corporizam o triunvirato melodramático da presente vergonha nacional que, apesar dos continuados escândalos e fracassos, mantem intocável o regime político que institucionalizou a mentira, o nepotismo, a corrupção, a desigualdade social e territorial e a incompetência governativa. Reparos do Regime e muito menos reformas não são com eles. Assim foi que Marcelo de Sousa que é suposto ser o guardião do Regime, se transfigurou no seu principal perversor, deixando a tarefa de garante para Augusto Silva que, por tudo e por nada, não se coíbe de malhar à direita e à esquerda, desde que a ordem socialista estabelecida seja beliscada. É que, para Augusto Silva, a democracia nasceu com o PS, cresceu com o PS, muito embora possa morrer com outros, que não com o PS. Ainda que os seus cangaceiros e cangalheiros possam ser socialistas. Já António Costa, não passa do que é: um treinador de governos familiares, de terceira divisão. Sendo que a taça mais pesada da sua já longa governança foi ter convertido a Transportadora Aérea Nacional num empreendimento de submarinos pelo que, o mais certo será o novo aeroporto de Lisboa vir a ser construído na Base Naval do Alfeite. António Costa que dá mostras de não ter outro projecto para o país que não seja convertê-lo numa coutada autocrática, gerida por um grupo restrito de correligionários, familiares e amigos. Durante os primeiros sete anos em que exerceram os cargos que ainda agora ocupam, Marcelo de Sousa e António Costa, levaram a vida a elogiar- -se reciprocamente, divertiram- -se em conjunto, e alegraram-se com os mais felizes e choraram lágrimas de crocodilo com os mais tristes momentos da governação. Ainda que da sinceridade ou cinismo desse seu relacionamento só eles possam falar Aparentemente esse seu entendimento até poderia ser positivo, se não tivessem desrespeitado, sistematicamente, o que é grave, a sacrossanta separação de poderes, pedra angular da democracia que, por esta via, tornaram promiscua e inoperante, sobretudo em domínios fundamentais, como os a Justiça, a Saúde, a Educação ou do combate à corrupção. O verniz estalou, porém, quando António Costa se recusou a demitir João Galamba, seu ministro dilecto, como era desejo expresso de Marcelo de Sousa. Foi, sobretudo, a partir daí que passou a falar-se de crise como se ela tivesse a ver, apenas, com o relacionamento afectuoso de Marcelo de Sousa e de António Costa. A verdadeira crise, porém, vem de longe, é visceral do Regime político vigente que vicia a própria democracia. Daí que o povo esteja farto de discursos ideológicos que só interessam a meia dúzia de intelectuais de partido e que vivem à sombra da bananeira política. O povo quer actos transparentes e consequentes. Não basta que lhe deem liberdade. Requer igualmente justiça e igualdade. É por isso que qualquer português de lei, se sente revoltado, humilhado, ofendido, prejudicado com a presente governação. Marcelo de Sousa, António Costa e Augusto Silva demonstram repetidamente serem governantes que não estão à altura dos acontecimentos, incapazes de fazerem com que a democracia funcione em plenitude e Portugal alcance o objectivo simples que continua adiado: o nível de vida dos parceiros da União mais evoluídos. Felizmente a democracia ainda suporta um primeiro ministro medíocre. Eventualmente poderá suportar um primeiro ministro e um presidente da república medíocres. Seguramente não sobrevirá a um triunvirato medíocre e vergonhoso. Lamentavelmente os portugueses continuam a dormir tranquilamente à sombra da bananeira comunitária, refastelados nas redes que o Regime tece. A propósito: qual é o escândalo que se segue?

Porque não se demite, senhor primeiro-ministro?!

O cidadão António Luís Santos da Costa é, reconhecidamente, um destacado tribuno, qualidade que lhe é conferida pelos dotes oratórios, voz sonante e postura personalizada. Enquanto autarca não deslustrou, ainda que não tenha passado da vulgaridade e enquanto ministro também não deu nas vistas. É tido, ainda assim, como um hábil político de bastidores. Um tanto surpreendentemente, porém, tem vindo a impor-se, nos já longos sete anos que leva no cargo, como um primeiro- -ministro inoperante, dissimulado e demagogo. Medíocre, numa palavra. Credenciais que ganhou enquanto presidente da Camara Municipal de Lisboa, como Secretário de Estado e Ministro dos Assuntos Parlamentares no governo de António Guterres, o tal do pântano, Ministro de Estado e da Administração Interna do governo de José Sócrates, o tal que, em desespero de causa, chamou a Troica, e, sobretudo como primeiro-ministro do XXII governo, o da célebre Geringonça e do XXIII, o da presente maioria absoluta em decomposição. Acresce que, como reza o seu curriculum vitae, nada fez de relevante fora da política. Filiou- -se na Juventude Socialista em 1975, apenas com 14 anos de idade, começando por colar cartazes nos tempos conturbados do Processo Revolucionário em Curso, dando assim início a uma longa vida dedicada ao partido e ao poder. Marcante é, portanto, a sua faceta de primeiro-ministro, cargo no qual se tem revelado incapaz de constituir equipas governativas isentas e competentes e, muito menos, de as liderar e coordenar eficazmente, como lhe compete. Factos são factos. Não admira, por isso que escândalos para todos os gostos envolvendo, precisamente, os membros mais suspeitosos dos seus gabinetes, se sucedam ininterruptamente, o mais recente dos quais, ainda em desenvolvimento, é protagonizado pelo azougado ministro João Galamba. A degradação persistente e acentuada da governança de António Costa, alcançou agora o clímax com o noticiado desvio de um computador (sabe-se lá qual a natureza da informação comprometedora que guardará), as confrontações físicas que terão ocorrido no próprio gabinete ministerial e a intervenção de forças policiais no múnus governativo. O mais grave ainda assim, terá sido a eventual utilização do Serviço de Informações e Segurança como se de uma polícia política se tratasse. Governança aviltante, que nem mesmo os propagandeados sucessos da área económica, pontuais, insuficientes e fugazes, manda a verdade que se diga, conseguem branquear. De salientar que a Dívida Publica continua a crescer de forma preocupante. Governança escandalosa apesar do primeiro-ministro António Costa ter beneficiado, desde a primeira hora, da ajuda prestimosa do Presidente da República que, por norma, se solidarizou com todas as trapalhadas e dislates governativos. Governança desastrosa apesar da maioria absoluta de que dispõe na Assembleia da República onde o truculento Santos Silva, a segunda figura do Estado, sempre pressuroso a malhar na direita, e na esquerda, tem desempenhado, com lamentável destemperança e facciosismo, o papel de anjo protector. Situação trágico-cómica, esta, em que Portugal cada vez mais se afunda numa profunda crise política, social e ética e sem perspectivas de se poder pôr a par dos seus principais parceiros, no que ao desafogo económico e bem-estar social diz respeito. No topo do bolo da sua desastrosa governança António Costa, acaba de colocar uma cereja contaminada, o ministro João Galamba, ao decidir mantê-lo no governo, surpreendendo tudo e todos. Perante as críticas generalizadas que tem recebido, de dento do próprio partido e o sancionamento, grave, do Presidente da República, ensaiou, com a desfaçatez que ele próprio popularizou, uma fuga para a frente proclamando, cito, que “hoje é um novo dia e é um dia em que começaremos a trabalhar”. Espantoso! Começar a trabalhar oito anos depois de ter ganho o emprego, dará direito a despedimento por justa causa se acaso o patrão tiver ousadia para tanto. Tem todo sentido, portanto, perguntar: porque não se demite, senhor primeiro-ministro?! Será que pretende ir ao fundo, heroicamente, com o barco? Ou será que está à espera que seja o presidente da república a demiti-lo para depois, envernizado de mártir, se recandidatar? E se o barco, longe vá o agoiro, acabar mesmo por se afundar, ante a inação do presidente da república que parece continuar a privilegiar a vocação de analista/comentador político, menosprezando a gravidade da crise e a sua responsabilidade? Será o fim do Regime, por certo. Em democracia as crises só têm uma solução: eleições. Tudo leva a crer que Marcelo de Sousa e António Costa, vão continuar a engolir em seco, os sapos e os gelados com que mutuamente passaram a mimosear-se. Com o cinismo com que anteriormente engoliam as baboseiras mútuas. Agora ao som da Cavalgada das Valquírias. Os portugueses que se cuidem.

O regabofe socialista e o sambista da paz

Portugal é, faz tempo, uma república popular democrática assumidamente socialista, ainda que não seja claro de que socialismo se trata. Uma república em que os escândalos são mais do que os pais, as mães, os tios, os primos e os avós. Sem esquecer os amigos da família, claro está. Ainda assim, não devemos confundir Portugal com a República Popular da China, a Federação Russa, ou a República Popular Democrática da Coreia do Norte, países de referência da velha guarda comunista. Ainda que seja oportuno e pertinente equiparar o Portugal de Costa à Venezuela de Maduro, sem desprimor de outras notáveis repúblicas latino-americanas. Tal não significa, porém, que os portugueses devam sentir-se menorizados pelo facto do inefável Lula da Silva, mediático sambista da paz marxista, que legitima o genocídio de inocentes indefesos, ter afastado Portugal desse seu egrégio grupo de amigos, indiferente ao massacre que as hordas do seu compincha Vladimir continuam a perpetrar na martirizada Ucrânia. Antes devem os portugueses, isso sim, sentir-se humilhados, ofendidos e indignados com o presente regabofe socialista, que reina na transportadora aérea nacional e não só. Não conheço métodos para classificar a gravidade dos escândalos, mas se tomarmos por base o montante dos dinheiros surripiados ao erário público, a trapalhada ideológica, o alargado número de governantes de alto coturno envolvidos, as mentiras descaradas que aduzem para se justificar e a incompetência que evidenciam, o caso TAP é, sem dúvida alguma, o escândalo maior do Regime. Diria mesmo que, visto sob que perspectiva for, o caso TAP é uma verdadeira desgraça nacional, a coroa da vergonha do Regime político vicioso e antidemocrático. Maior desgraça só mesmo a falência do Estado ou uma nova ditadura, sendo que a sobrevivência desesperada do actual governo mais aproxima Portugal dessa tragédia. Ouvi, inadvertidamente, em plena semana da paixão cristã, uma conversa de rua em que alguém dizia que o escândalo TAP, comprova que Portugal está a ser governado por um bando de fariseus. Os fariseus, para quem não sabe, constituíam uma seita de judeus hipócritas que em público ostentavam a mais pura santidade. Os tais que a Bíblia cita como raça de víboras, émulos dos muitos que no presente, pela calada, mordem e envenenam a Nação e a Democracia. Fariseus que, manda a verdade que se diga, tinham nos Saduceus uma seita opositora cujos membros pertenciam, por norma, à classe mais abastada. Pois é precisamente no elenco dos figurões do escândalo da TAP sobretudo, mas não só, que poderemos recriar muitas destas mal-afamadas personalidades bíblicas. Desde logo os Pôncio Pilatos que lavam as mãos sempre que as coisas não lhe correm a jeito, ou os sumos sacerdotes Caifás que teimosamente continuam a condenar a Nação e a Democracia à morte, sem esquecer os muitos Judas Iscariotes que não têm pejo em trair seja lá quem for ou o que for, não por trinta dinheiros, mas por maquias bem mais chorudas. Claro que o martirizado é o povo português que anda em bolandas de Pilatos para Caifás e o mais certo é acabar crucificado no calvário marxista. Portugal está, mais uma vez, mergulhado numa profunda crise e, mais uma vez, os próceres políticos, argumentam com a estabilidade política, iludindo os problemas. Assim foi com o presidente Cavaco Silva e agora assim é com o presidente Marcelo de Sousa. Não é a salvação do país que os preocupa, pelo que se vê, porque, se o fosse, já teriam promovido as reformas políticas e administrativas indispensáveis. Antes se batem, isso sim, pela sobrevivência do Regime vicioso à sombra do qual vivem regalados. Dizem-se democratas, mas têm medo da democracia. Tanto assim é que, quando o clamor do povo nas ruas é ensurdecedor, se apressam a cuidar que o mesmo não seja ouvido nas urnas. É o caso do actual Presidente da República que perante a galopante crise política, social e económica, mostra não ter o necessário rasgo democrático para abrir caminho a que seja o povo a gerar um novo poder mais sério, patriota e competente. Argumenta Marcelo de Sousa que a oposição não está preparada para governar. Mas será que António Costa que já é primeiro ministro há oito anos, mas que só tem gerado crises e escândalos estava ou está preparado para governar? Lamentável é que PS e PSD não se entendam nas reformas necessárias e suficientes para que o Estado funcione plenamente e a democracia se salve. Optam pela intriga política, denunciam eventuais acordos de governo adversos, sendo certo que para se manterem no poder venderão a alma se preciso for. Assim foi com a geringonça de Costa e assim poderá ser com uma eventual engenhoca de Montenegro. Certo é que são lícitos todos os possíveis acordos de governo, desde que respeitem os princípios constitucionais. Todos. À esquerda e à direita. Sem excepção!

Temos Papa?

No que à controversa personalidade de Jorge Bergoglio diz respeito já me referi em crónica anterior, neste mesmo espaço. Reafirmo, todavia, que enquanto cidadão e crente mantenho o actual Papa em alta estima. Aprecio, sobretudo, a sua humildade e bonomia que lhe conferem a imagem de homem bom. De forma nenhuma imagino, sequer, e minimamente valorizo, a deriva herética de que certos ficcionistas o acusam, por dá cá aquela palha. Ainda que algumas intervenções públicas de Jorge Bergoglio, informais, circunstanciais e pouco cuidadas, possam fragilizar a sua imagem de homem de paz, imparcial e justo e, sobretudo, de garante da unidade da Igreja e de paladino da Fé. Como foi o caso recente da defesa despropositada dos controversos Lula da Silva e Dilma Ruef que claramente extravasou o papel de neutralidade política que um Papa sempre deve assumir, até para não prejudicar o seu primordial empenhamento espiritual, moral e social. Para lá dos equívocos doutrinários em que Jorge Bergoglio propositadamente ou precipitadamente se envolve, que nada mais são que meros desafiantes de reflexão. Como serão os casos das suas afirmações volantes relativas ao celibato dos padres, à sexualidade e à possibilidade de as mulheres assumirem o sacerdócio. O Papa, por si só nada decide. Devemos ter em consideração que a Humanidade vive tempos dramáticos de mudança, particularmente visíveis nos domínios da ética e dos usos e costumes, e que a Igreja Católica, a maior organização que alguma vez operou sobre a Terra por tempo tão dilatado, já lá vão dois milénios, está no centro do furacão. O seu chefe supremo não tem, portanto, uma tarefa fácil. Bem pelo contrário: gestos, palavras e silêncios são inexoravelmente avaliados, contados, pesados e medidos, sempre havendo quem os aplauda e quem os condene. Cristo que é Cristo não agradou a toda gente! Acresce que no coração da Igreja Católica que é a Santa Sé, instalada no Vaticano, a pequena cidade-estado a que Bergoglio preside, moram todos os vícios do mundo, ao que se diz. Não será de admirar, por isso, que Francisco cative meio mundo com sua bondade, por um lado, e por outro pretensamente lance a desunião e a animosidade entre as próprias hostes. Para gáudio dos inimigos da Igreja, já se vê. A verdade é que o Papa Francisco é tido pela maioria dos crentes e homens de boa vontade, como a personalidade chave dos nossos dias, capaz de conduzir no melhor sentido as reformas indispensáveis de que a Igreja carece. Disso já deu provas bastantes, E de ter papel excepcional na construção da paz e da justiça social neste nosso mundo que dia após dia mais se afunda no abismo da guerra, do ódio, do sofrimento, da doença, da fome e da pobreza. Mundo no qual o Papa Francisco se tem destacado, malgrado todos os equívocos, como uma verdadeira força de paz e de esperança. Assim o Criador lhe dê saúde e vigor para tanto. Permitindo, desde logo, que possamos vê-lo, em Lisboa, já no próximo Verão, a dinamizar mais uma Jornada Mundial da Juventude, liberto dos problemas de saúde que recentemente o apoquentaram. E que, então sim, possamos dizer: Temos Papa! Papa capaz de levar para afrente a indispensáveis reformas garantindo a pureza dos princípios da doutrina de Jesus Cristo. Certo é que o dogma medieval da Infalibilidade Papal não passa disso mesmo.

Os marinheiros aventureiros ...

A propósito da reacção do almirante Henrique Gouveia e Melo, Chefe do Estado Maior da Armada, à desobediência de alguns elementos da guarnição do navio Mondego da República Portuguesa, quatro sargentos e nove praças, mais precisamente, li e ouvi muitos comentários positivos e negativos, ou não se tratasse de matéria altamente fracturante, sobretudo nas actuais circunstâncias. Pessoalmente faço uma apreciação francamente positiva, no essencial, pese embora a excessiva exposição mediática que se compreenderá, ainda assim, porque se trata de um acontecimento de relevância e que, por isso mesmo e em qualquer caso, a comunicação social não deixaria de badalar a seu gosto. Não sei se o almirante em causa será ou não candidato no próximo acto eleitoral para a Presidência da República muito embora uma recente sondagem de opinião o dê como favorito. Tão pouco valorizo, neste contexto, o facto de Gouveia e Melo ter dirigido, com pleno sucesso, o programa de vacinação contra a Covid, depois que os estimados “boys” do primeiro-ministro se revelaram completamente incompetentes. Muito menos me importa saber se o almirante Gouveia e Melo é de esquerda ou de direita, próximo do Governo ou da Oposição, ainda que subjacente a tudo isto esteja o patente abandono a que as Forças Armadas têm sido votadas pelo poder político, com a complacência dos chefes militares que não se fazem respeitar. Nada, em qualquer caso, poderá justificar insubordinações e muito menos motins no seio das Forças Armadas de um país democrático como Portugal. Condenável é, portanto, o facto de um navio da Armada portuguesa não ter cumprido uma missão que lhe foi atribuída no quadro das leis da República, só porque parte da guarnição se recusou a embarcar, quando a maioria dos seus camaradas estaria disposta a assumir, disciplinadamente, os eventuais riscos, donde se depreende que não seriam assim tão graves como os revoltosos fazem crer. Convém lembrar que qualquer operação militar, grande ou pequena, em tempo de paz ou de guerra, sempre comporta riscos. Valorizo, portanto, a atitude do Chefe do Estado Maior da Armada que enfrentou a situação sem delongas ou tergiversações, contrariamente ao que vem sendo hábito nos chefes políticos e militares da actualidade. Gouveia e Melo demonstrou estar à altura dos acontecimentos quando a Nação está mergulhada numa profunda crise económica, social e moral e a autoridade do Estado democrático vacila sistematicamente, deixando os portugueses apreensivos quanto ao futuro da Nação. Note-se que esta sedição de uns tantos marinheiros, originou o incumprimento da missão de acompanhamento e vigilância de um navio reconhecido como hostil, o que é por demais grave, não só porque comprometeu a soberania, a segurança e a defesa do país, mas também porque ofendeu escandalosamente o princípio da disciplina que é fundamental na unidade e operacionalidade das Forças Armadas, em tempo de paz ou de guerra. Tanto assim é que nenhuma Nação sobrevive, livre e independente, sem Forças Armadas competentes, dignas e disciplinadas. Acresce que Portugal, enquanto membro da União Europeia e da NATO, está democraticamente alinhado num confronto generalizado com a Rússia de Putin, muito embora, até ver, apenas se verifiquem acções armadas na distante Ucrânia. Sendo que a embarcação intrusa, que deveria ter sido devidamente acompanhada pelo navio Mondego, ameaçava interesse vitais dos países constituintes das referidas organizações, designadamente cabos de comunicação transatlânticos. O alto comando da NATO não deixou de prestar, por certo, a devida atenção a tal facto, com descrédito para a Armada nacional. Ainda não são publicamente conhecidas as motivações profundas dos revoltosos que tiveram, por certo, outras oportunidades e formas mais dignas e adequadas para afirmar as suas eventualmente justas reivindicações. Não são de excluir, por tudo isso, razões ideológicas e políticas contrárias ao sistema político democrático vigente o que tornará o caso ainda mais grave. Certo é que não se tratou de um mero levantamento de rancho. Deixar passar em claro este grave acto de indisciplina será abrir portas para que tais episódios se repitam e generalizem sem razão bastante, pondo em causa o regime democrático, a paz social e a própria sobrevivência do Estado, como bem se viu no decurso do mal-afamado processo revolucionário em curso (PREC). Vem a propósito evocar e homenagear o comandante Oliveira e Carmo e toda a guarnição da lancha Vega que há 63 anos apenas, enfrentaram, em Goa, uma poderosa esquadra indiana, protagonizando um dos episódios de maior heroicidade da História Pátria. Glória eterna aos verdadeiros heróis

A tripla vitória ucraniana

“A dissolução da União Soviética ocorreu em 26 de dezembro de 1991, como resultado da declaração nº. 142-Н do Soviete Supremo da União Soviética. A declaração reconheceu a independência das antigas repúblicas soviéticas.” (Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.) Porque há, entre nós, uns tantos que intencionalmente disso se esquecem, convém lembrar que a “Ucrânia é uma República constitucional, semipresidencialista, cuja independência da extinta União Soviética foi declarada em 24 de agosto de 1991 e formalmente reconhecida em 25 de dezembro do mesmo ano”. Em contrapartida, não há, por certo, quem não tenha presente que no passado dia 24 de Fevereiro se completou um ano sobre a invasão da Ucrânia pelas hordas sanguinárias do facínora Putin, dado que este facto tem sido matéria diária de mil e uma notícias e comentários. O mundo livre e democrático, o mesmo não se dirá do povo russo, está, portanto, muito bem informado dos crimes e barbaridades cometidas em solo ucraniano pelas forças militares a soldo de Moscovo, sendo que parte significativa delas é constituída por mercenários e presidiários recrutados nas prisões. Para lá de que o grosso do contingente é formado por cidadãos oriundos de regiões longínquas da Federação, que Putin manda para uma morte inglória, mal equipados, mal treinados e, acima de tudo, desmotivados. A invasão armada da Ucrânia, país livre e soberano, a destruição das suas escolas, hospitais e maternidades, a deportação de milhares das suas crianças, o saque de casas privadas e museus, a violação de mulheres e crianças, as valas comuns de mártires inocentes não são “fake news”, note-se bem! São factos comprovados, testemunhados e credibilizados por organizações internacionais com autoridade para tanto. Factos que inevitavelmente trazem à memória colectiva as barbaridades cometidas na era soviética. Um ano decorrido sobre a invasão da Ucrânia pelos exércitos russos já não restam dúvidas a ninguém sobre o cinismo e a crueldade de Putin. Putin que continua a lançar mão de mentiras, falsidades e subterfúgios imorais para justificar esse repugnante acto e esconder os seus reais propósitos expansionistas e totalitários. Putin que agora se vitimiza acusando o Ocidente de querer destruir a Rússia ainda que os principais líderes ocidentais tudo façam para não lhe exacerbar essas e outras paranoias. Putin que, confrontado com uma nova estirpe de líderes ocidentais, e não dispondo da benevolência amiga de Donald Trump ou de Silvio Berluscon, para não citar outros, está agora completamente isolado da comunidade internacional, como de resto ficou provado em recente votação plenária da ONU. Putin que, apesar disto tudo e incompreensivelmente, possui em Portugal uns tantos, não muitos, é certo, agentes e simpatizantes que a coberto das liberdades democráticas se esforçam por lhe branquear os crimes, prostituindo as mais elementares normas deontológicas. Estão no seu direito ainda que dele façam mau uso. Agentes, admiradores ou simples simpatizantes que hipocritamente defendem o fim da guerra, mas pela capitulação da nação ucraniana, quando deveriam, e mais convincentes seriam, reclamar, isso sim, a retirada das forças agressoras. Ou, no mínimo, promover manifestações pela paz em Moscovo. Ninguém duvida que se Putin ordenasse a retirada das suas forças da Ucrânia a guerra acabaria de imediato e sem que o exército ucraniano as perseguisse para lá das suas fronteiras. De salientar que foi neste cenário trágico que emergiu o até então desconhecido Volodymyr Zelensky, o atual presidente da Ucrânia. Um jovem de 44 anos que, independentemente do desfecho que a guerra possa ter, já ganhou o estatuto de verdadeiro herói do mundo livre e paladino da democracia e da liberdade. Volodymyr Zelensky que assumiu em pleno a liderança magistral da digníssima nação ucraniana e do seu exército heroico que, pese embora com pesados sacrifícios de pessoas e bens, tem vindo a causar derrotas esmagadoras ao exército invasor. Sublime sacrifico este, sem dúvida, o da Nação ucraniana, que apenas uma tripla vitória, consubstanciada na derrota total das forças de Putin, na reposição da integridade territorial da Ucrânia e na democratização da Rússia, premiará e recompensará em absoluto. Vitória que, em qualquer caso, não será tão breve e tal fácil quanto se desejaria e muito menos está garantida. Contudo, nenhum cidadão adepto do mundo livre e democrático poderá deixar de nela acreditar. Aguarde-se a contraofensiva ucraniana da próxima Primavera, então. 

PS.: A Armando Fernandes, distinto colega colonista do Jornal Nordeste agradeço a referência simpática e generosa que me fez no rodapé de um recente artigo de opinião.

A novíssima ética republicana

A distinta classe política lusitana diverte-se agora fazendo exercícios de flic- -flac no palco papal e a nadar de costas no pântano de que António Guterres teve a lucidez de, a tempo, se salvar. Com os actuais próceres da Nação, com destaque para o primeiro- -ministro António Costa e o presidente da Assembleia Augusto Silva, a encherem o peito de ética republicana socialista, enquanto os putativos primeiros-ministros Pedro Santos e Fernando Medina perdem fôlego com os ares viciados da TAP, do Novo Aeroporto de Lisboa e de outros ambientes mais fechados. Longe vai o tempo em que o demiurgo socialista Mário Soares cunhou o lendário princípio da indignação popular e, sacrílego, não se coibiu de elogiar a ética do ditador republicano António Salazar que, segundo ele, “não foi nem fascista nem corrupto e nunca mexeu nos dinheiros públicos”. Convém, portanto, repensar a república e a ética republicana e esclarecer que república não é sinónimo de democracia, como também monarquia o não é de ditadura. Presentemente, há na Europa, países democráticos em que vigoram regimes monárquicos, como é o caso da vizinha Espanha e da nossa secular aliada Inglaterra, ainda que não se vislumbrem grandes hipóteses de Portugal voltar a ser uma monarquia, democrática, ainda assim, igualzinha à república em vigor. A verdade é que Portugal é, desde 1910, um país republicano e a portuguesíssima república já conta 113 anos, portanto. Implantada com a revolução de 5 de outubro de 1910, teve uma primeira vigência, conhecida como Primeira República, que durou apenas 16 anos porque terminou abruptamente como o golpe de 28 de maio de 1926, que deu origem à Ditadura Militar primeiro e, posteriormente, ao Estado Novo. Período de 16 anos apenas que, segundo fontes autorizadas, foram bem recheados com sete parlamentos, oito presidentes da República, 45 governos, 40 chefias de governo (um presidente do Governo Provisório e 38 presidentes do Ministério), duas presidências do Ministério que não chegaram a tomar posse, dois presidentes do Ministério interinos, uma junta constitucional, uma junta revolucionária e um ministério investido na totalidade do poder executivo. Primeira República, essa, que ficou igualmente marcada por convulsões sociais constantes e inúmeros crimes civis e políticos. Já o Estado Novo a que alguns historiadores também chamam de Segunda República, foi um regime político ditatorial, autoritário, autocrata e corporativista, é certo, mas republicano, note-se bem. E, como não há duas sem três, aí está a Terceira República que corresponde ao atual regime democrático estabelecido após a Revolução de 25 de Abril de 1974, que pôs fim à tal república autoritária de António Salazar e Marcello Caetano. Período inicialmente caracterizado por uma grande instabilidade que ficou conhecido como Processo Revolucionário em Curso, ou simplesmente PREC. A chamada ética republicana, na prática, tem muito que se lhe diga, portanto, apresentando-se, hoje em dia, como uma coisa do outro mundo, do mundo latino americano, melhor dizendo. Em teoria é lindo de se dizer que repudia, veemente, todo o tipo de compadrio, clientelismo, nepotismo e corrupção, consagrando o primado da igualdade de todos os cidadãos perante lei, não admitindo que uns beneficiem de privilégios e vantagens em função da sua filiação partidária ou laços familiares. Triste é reconhecer, porém, que esta república terceira, não tem sido propriamente um sucesso em matéria de democracia, no domínio económico e da justiça social bem como no combate à corrupção, sobretudo agora que a nova ética republicana em curso, uma espécie de PREC socialista, ganhou dinâmica própria com a maioria absoluta alcançada por António Costa, uma caixa de ressonância de todos os vícios do regime. O que também é bem visível na legião de autarcas que continuam a ser processados judicialmente, ainda que a causa primeira, temos que reconhecer, esteja na larga maioria dos eleitores que, desmotivados a preceito, sistematicamente não exercem o seu direito de voto, permitindo que o poder seja assaltado por gente indesejável. Não é de admirar, por isso, que a classe política em geral e a própria Assembleia da República em particular, contrariamente ao que afirma o seu presidente Augusto Silva, estejam cada vez afastados das boas graças da Nação. E que o primeiro-ministro António Costa e o seu o anjo da guarda, o presidente da República, Marcelo de Sousa, cada vez mais sós no poder e de caras voltadas, entre eles e o país. Ainda assim, a Nação esperava muito mais e melhor desta república de terceira classe, pelo que invocar a tal ética republicana no contexto actual é, no mínimo, ridículo. A menos que apenas se pretenda abafar a justa indignação popular que Mário Soares legitimou e à qual a governança socialista do presente dá toda a razão de ser

Ilegalize-se o Partido Socialista. Salve-se a Democracia!

É trivial ouvir-se dizer que os portugueses têm memória curta. Talvez assim seja, porquanto, tudo leva a crer, já poucos se lembrarão dos tempos em que os dinheiros da CEE começaram a inundar Portugal mas a maior parte acabou por ser mal empregue ou levar descaminho. Tempos em que correu na opinião pública a boutade “não comam com os pés”, atribuída a um eminente político socialista de então, que a terá proferido perante uma assembleia de correligionários e outros distintos machuchos. Parodiando, claro está, aqueles fiéis amigos que metem os pés e as mãos na gamela, chafurdando sem maneiras, até que a ração acabe. Mentira ou não a verdade é que tal recomendação, que não era dirigida a nenhuma estimada família canina mas a uma outra desumana raça de cães da democracia, caiu em saco roto, como mais uma vez agora se constata. Os escândalos relativos à utilização indevida e o descaminho de fundos provindos da União, considerando igualmente receitas próprias do Estado arrecadadas com o sacrifício e o suor dos contribuintes, continuam a acontecer às escâncaras e sem cessar. O que explica que Portugal, quando se prepara para comemorar 50 anos de democracia e 38 de adesão à CEE, continue a ser um dos Estados mais pobres, mais corruptos e socialmente mais injustos da União, por mais brilharetes que os actuais governantes, verdadeiros mestres de magia e funambulismo, digam que fazem e dias milagrosos que profetizem. Talvez os portugueses tenham mesmo memória curta. Pessoalmente, porém, estou convencido de que a maioria ainda se lembrará, uns mais amargamente do que outros, é certo, dos três anos de austeridade durante os quais Portugal foi tutelado pela mal-afamada Troika. Recaiu sobre Passos Coelho o odioso de ter sido ele a pôr em prática as medidas acordadas no designado Plano Troika, celebrado em 2011, entre o Estado Português e o Fundo Monetário Internacional, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu, como condição necessária para o empréstimo de 78 mil milhões de euros que visou, em última análise, vergonha das vergonhas, salvar Portugal da bancarrota. Ainda que ninguém, de boa fé, também se possa dar ao desplante de não atribuir ao rasgo e clareza governativa de Passos Coelho, o mérito do sucesso dessa gigantesca operação de ajuda político- -financeira que a má governação de José Sócrates havia tornado dramaticamente indispensável. Emblemática é a cerimónia de 3 de Maio de 2011, em que o afamado ex-primeiro ministro José Sócrates, tendo a seu lado o envergonhado e comprometido ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, comunicou ao País o estabelecimento desse indigno mas providencial contrato. Também não deixará a maioria dos portugueses de ter presente que o alívio da crise resultante do sucesso do Plano Troika acabou por ser sopro de vida, e de morte, dos governos de António Costa que lhe seguiram. Muito em especial do constituído sob a égide da célebre Geringonça, que ficou irremediavelmente marcado pelo aventureirismo ideológico, político e administrativo e de que a TAP é paradigma. Geringonça que acabou por gerar no próprio ventre a maioria absoluta mais absurda e abortiva de que há memória, que é mãe do governo mais desconchavado e desastroso que imaginar se pode. Mais visível agora quando de novo a UE está a injectar milhões de euros na suspeitosa administração portuguesa e mais uma vez se questiona a transparência e eficácia da sua aplicação, porque o primeiro-ministro António Costa tem limitado a governação a interesses partidários e particulares, varrendo o interesse nacional para debaixo do tapete de Bruxelas. É que os governos de António Costa não são de esquerda nem de direita. São do que lhe dá jeito. Claro que isto tudo só é possível porque o regime político vigente é uma cloaca de incompetências, compadrios, desonestidades e impunidades, o que também explica que os seus principais usufrutuários não o queiram reformar. Ainda que a forma leviana como António Costa tem constituído governos e governado não teria sido possível sem a explicita complacência de Marcelo de Sousa, para quem a política continua a ser um divertimento e a presidência da república uma excentricidade. Leviandade e excentricidade que, até aqui, têm combinado perfeitamente. Daqui para a frente se verá. Amargo e preocupante é constatar que os portugueses estão a viver de novo tempos dramáticos de incerteza, com sérios pronúncios de grave crise económica e social e sem que Portugal tenha governo e oposição à altura. Só assim se compreende que o presidente da república se agarre agora à tábua de salvação da estabilidade política e grite à sacrificada Nação: aguenta que é democrático! Será mesmo que o é? Talvez melhor será ilegalizar o PS para salvar a democracia, e permitir que os muitos e bons socialistas que ainda restam fundem um novo partido. Mas atenção: o PSD que não se fique a rir e se cuide.

Se a si lhe perguntassem se gostaria que o matassem que responderia?

A recente discussão e aprovação da lei que legaliza e regulamenta a eutanásia provocou em muitos portugueses, por certo, uma reflexão silenciosa e angustiada.
Lamentando, veementemente, que não tenham sido tidos nem achados sobre matéria de importância capital porquanto tem a ver com a vida e a morte e com tudo de mais sagrado em que acreditam.
Tudo se confinou, porém, aos corredores e gabinetes fechados do palácio de São Bento como é timbre das democracias de fachada, em que a público apenas vêm, por norma, os espectáculos, ora tristes ora divertidos a que os deputados se prestam perante as televisões, na sala de audiências que também é designada por hemiciclo, porquanto se trata de um espaço semicircular e não de volta completa, dado que falta lá o povo.
Para lá de que é por demais conhecida a seriedade e a competência da maioria dos actuais deputados, formados na subserviência política, social e mental dos partidos que os ataviam.
A triste realidade, porém, por muito que a muitos portugueses custe, é que a lei da eutanásia foi aprovada nas suas costas, competindo agora o remate final ao mais alto magistrado desta democracia de fachada, que o irá dar por entre milhares de selfies risonhos e divertidos, como é óbvio.
Claro que a eutanásia não é uma questão nova porquanto foi praticada por diversos povos ao longo da História, sem lei nem piedade, como era o caso dos celtas em que os filhos matavam os pais quando estes começavam a apresentar sinais de envelhecimento ou enfermidade.
Ou no caso da Índia em que era costume levar os enfermos para as margens do rio Ganges e tapar-lhes a boca e as narinas com a lama que consideravam o “barro sagrado”.
Felizmente, no conceito moderno, a Eutanásia está circunscrita ao acto de facultar aos pacientes uma morte tanto quanto possível indolor, libertando-os das dores provocadas por doença incurável ou particularmente dolorosa.
Acto que em qualquer caso não deixa de levantar problemas complexos de natureza religiosa, filosófica, política e pratica, que envolvem não apenas os pacientes mas também aqueles que são constrangidos a praticá-la.
Ainda que no âmbito do denominado suicido voluntario, se é que algum suicídio o não é, possa ser operada mediante o fornecimento dos meios requeridos ao paciente, a seu pedido, aliviando deste modo
a consciência dos profissionais em causa.
De salientar que na maior parte dos países não existe legislação específica sobre a eutanásia, donde decorre que se realizada pelo próprio doente será, por norma, tida como suicídio e se operada por terceiros considerada homicídio.
Entre nós o problema foi agora novamente colocado na ordem do dia político, sendo muito controversa a oportunidade, sabe-se lá porque suspeitas razões, e mais uma vez a Nação não só não foi devidamente esclarecida como tão complexa matéria requeria, como o pensamento e o sentimento nacionais foram liminarmente postergados em benefício dos desígnios de uns quantos iluminados.
Ainda assim, a maior gravidade deste obscuro procedimento legislativo advém de que há receios fundados de que poderemos estar a caminhar para a legalização de mortes criminosas, abertas ou encapotadas, como no caso do aborto, convertendo-se a eutanásia numa verdadeira selvajaria, como o foi no tempo dos celtas.
Abrindo portas ao sacrifício dos mais desfavorecidos que não tenham dinheiro para pagar uma boa clinica de cuidados paliativos ou de quantos deixaram de ter importância social, como já foram noticiados casos em países em que a eutanásia está legalizada.
Razões mais que suficiente para que a Nação tivesse sido chamada a pronunciar-se em tempo oportuno, mediante um pergunta simples e directa e sem o chorrilho de palavras e conceitos de teor técnico e filosófico que ninguém compreende.
Tudo seria mais sério, pacífico e transparente, estou em crer.