Henrique Pedro

PUB.

Safardanas e sefarditas

Conhecidos políticos domésticos que fazem gala de se dizer de esquerda, têm vindo a lançar confusão entre pátria e nação, entre nacionalismo e patriotismo, melhor dizendo, com um único propósito: confundir e domesticar o povo. E um só efeito prático: inibi-lo de ser civicamente independente e participativo e de assumir uma relação digna e positiva com outros povos. Começaram por banir a ideia de pátria, preferindo o conceito de nacionalismo socialista para se demarcarem do inconveniente nacional-socialismo, embora a ambição seja a mesma. E afirmam-se como internacionalistas, um tanto à maneira de Putin, para quem a nação extravasa a própria Rússia e se estende a toda a Europa e à própria China, relegando a Nação histórica, independente e soberana para passado, pelo que deverá ser denegada. Daí que de tudo se aproveitem para denegrir a História de Portugal, que reduzem às maldades daquilo a que, em consonância com o Estado Novo, também chamam Império Colonial Português, quando sabem muito bem que Portugal nunca foi um império e só num período muito curto foi colonialista, com muitas e boas realizações, nos últimos tempos, como, de resto, ainda está à vista de toda a gente. Consensualmente a Nação é hoje, isso sim, o conjunto de cidadãos que vivem do seu trabalho, seja ele qual for, e que pagam impostos, com exclusão, note-se bem, dos que detêm o poder e de quantos nele participam, por interposta pessoa, com o propósito único de sugarem o erário público. A Nação é o povo, portanto, poder à parte, seja ele qual for, democrático ou autocrático, mundial ou tribal. Assim se compreende que, mais uma vez, no recente debate sobre o Estado da Nação que ocorreu na Assembleia Nacional, que não é propriamente uma assembleia popular, se tenha baralhado Nação e Estado, com o governo e a oposição, o que é inédito, a admitirem que o estado da Nação é deplorável em todos os domínios. De facto assim é. O Estado português continua a esbracejar numa profunda crise moral e funcional que extravasa o plano económico e financeiro. Correlativamente, no que ao povo propriamente dito diz respeito, ou à Nação, melhor dizendo, a desgraça acentua-se, dia após dia. Salva-se a nação emigrada que continua bem, felizmente, tanto que se recusa a regressar à pátria, embora continue a enviar as providenciais remessas monetárias e a construir moradas em solo pátrio. Igualmente os políticos e afins, o tal poder, continuam a viver bem, sem razões de queixa, e assim vai continuar a ser enquanto os dinheiros da União fluírem desgovernadamente. Uma das coisas que melhor ilustram essa crise moral e funcional do Estado é a lei da nacionalidade estabelecida por esse mesmo poder, sinistro porque é contra o povo. Em Inglaterra, por exemplo, para um estrangeiro obter a nacionalidade britânica, para lá de ter que cumprir, no mínimo, cinco anos de residência e trabalho, é obrigado a realizar, com sucesso, testes exigentes de conhecimento da língua e da história inglesas. Sendo que atribuição da nacionalidade é feita em cerimónia pública, com a entrega do competente diploma, tudo com a pompa e circunstância adequada a conferir ao acto a devida dignidade. Em Portugal, como é do conhecimento público, não é bem assim. A certos safardanas, oligarcas íntimos do sinistro Putin em especial, mesmo que nunca tenham vivido em Portugal, incapazes de articular uma palavra de português sequer e muito menos conheçam minimamente a História de Portugal, é-lhes oferecida a nacionalidade de mão beijada, sem que se lhes pergunte o que pretende fazer com ela, que não será boa coisa, por certo. Em nenhuma circunstância devem ser confundidos safardanas com sefarditas, porém. Os sefarditas, assim eram denominados os judeus de Portugal e de Espanha na Idade Média, constituíram uma componente fundamental da Nação portuguesa, com papel decisivo no período áureo das Descobertas, e que deixaram muitos e bons descentes e uma valiosa herança cultural por todo o território nacional, com especial incidência no norte do país. Historiadores há que defendem, até, que o declínio de Portugal começou precisamente com a sua perseguição e expulsão. Ora, vende pátrias, safardanas e não sefarditas, que fique bem claro, são, isso sim, os que agora vendem a nacionalidade portuguesa, não ao desbarato, por certo, uma vez que se dão ao desplante de selecionar os compradores. Incluindo, claro está, os políticos que para tal criam as necessárias condições jurídicas. Safardanas que enlameiam a memória dos verdadeiros mártires sefarditas, distorcem e aviltam a História portuguesa e como tal devem ser sancionados, política e judicialmente.

Uma intentona insana na comédia dramática lusitana

Cada vez mais a política nacional se assemelha a uma comédia dramática em que o drama está a cargo do primeiro-ministro e a comédia do presidente da república, com a arraia-miúda a assistir divertida, se bem que não bata palmas. Entretanto o partido Socialista continua a destacar-se, sobretudo no que à solidariedade entre adeptos diz respeito. Muito embora a dita solidariedade entre pares, consubstanciada no nepotismo e na partilha de benesses e mordomias, alicerce fundamental da militância e da operacionalidade partidárias, não seja exclusiva do PS mas característica dos partidos de poder. Já no que à coerência ideológica diz respeito o PS é uma farsa, como se sabe. Nada disto invalida, porém, que o PS não seja um partido genuinamente democrático o que também não obsta a que seja o mais atreito a golpes internos, públicos e notórios. Marcante, convém lembrar, foi o golpe bem-sucedido com que António Costa afastou José Seguro do poder no partido e, por reflexo, da possibilidade de vir a ser primeiro-ministro. Mais grave e escandaloso foi, ainda assim, o golpe tentado por Pedro Nunes dos Santos para retirar, à socapa, a direcção do partido e a própria liderança do governo a António Costa, servindo-se da monumental trapalhada que é o projecto do novo aeroporto de Lisboa e aproveitando-se, o que é ainda mais condenável, da ausência do primeiro-ministro na cimeira da Nato, em Madrid. Porque não esperou Pedro Nunes dos Santos pelo regresso do primeiro-ministro para anunciar o seu projecto, é caso para se estranhar e perguntar. Tenha-se em consideração que os melhores dicionários políticos definem golpe palaciano como uma espécie de golpe de estado através do qual um governante ou uma parte de um governo é removido por forças pertencentes ao próprio governo, sem que se sigam as normas estabelecidas. A iniciativa ousada e surreal de Pedro Nunes dos Santos foi, portanto, um golpe de estado palaciano, burlesco, bufo, com o qual tentou passar a ser ele a dirigir, na prática, o partido e o governo, como é óbvio, ainda que formalmente, e só formalmente, tudo continuasse na mesma, ficando ele com os louros dos sucessos e António Costa com o ónus da má governação. Actos como este já terá Pedro Nunes dos Santos ensaiado noutras ocasiões e a propósito de outras matérias da governança socialista. Convém, por isso, apreciar um pouco mais este surpreendente lance, que ganhou cariz de verdadeiro golpe de estado ainda que palaciano, e ao qual a arraia-miúda assistiu incrédula e divertida. Tenha-se em conta que no caso em apreço o móbil do crime foi uma obra emblemática do regime, um projeto de dimensão nacional e internacional, envolvendo muitos milhares de milhões de euros, com impacto em múltiplos sectores da economia e em que estão directamente interessadas todas, ou quase todas, as forças e instituições políticas e sociais, sem esquecer as que tratam das questões ambientais. É certo que a substituição formal de um primeiro-ministro eleito democraticamente, ao arrepio das normas constitucionais em vigor, apenas é praticável com recurso ao uso de forças militares ou paramilitares que o golpista felizmente não tem, nem comanda, não deixando de ser interessante imaginar o que aconteceria, dada a personalidade em causa, se as tivesse ou comandasse. Mesmo assim, o golpe palaciano ensaiado por Pedro Nunes dos Santos, mesmo não tendo recorrido à força das armas, teve o cheiro e o sabor de um típico golpe de estado das repúblicas das bananas, o que é verdadeiramente inacreditável e inadmissível numa democracia europeia como Portugal é suposto ser. É por demais óbvio que se o golpe de Pedro Nunes dos Santos tivesse sido bem-sucedido passaria a ser o próprio a dirigir o PS e a liderar o governo, na pratica, remetendo António Costa para um papel meramente formal e simbólico. Dos reais propósitos desta manobra se apercebeu António Costa que de imediato contra-atacou anulando prontamente o golpe ainda que não tenha saído incólume da refrega. Longe disso. António Costa mais uma vez demonstrou não ter especial vocação para se reunir de personalidades com competência e isenção bastante e, acima de tudo, para coordenar eficazmente um governo. Ainda que, mais uma vez, se tenha mostrado imbatível na trama política, matéria em que só Marcelo Rebelo de Sousa se lhe equipara. Marcelo de Sousa que, enquanto presidente da república, deveria ter condenado o golpe de pronto, de forma clara e drástica, como é seu dever institucional e para tanto tem poder. Não o fez. As praias brasileiras são melhor cenário para esquecer este vergonhoso episódio da democracia portuguesa e desviar as atenções da arraia-miúda das agruras governativas, já que à arraia-graúda estas matérias, de alguma forma, sempre lhe convêm. Talvez por tudo isto Marcelo e Costa joguem tão bem, um com o outro. O que não quer dizer que se deem bem.

O Rei das “selfies”

Não deixou de haver reis em Portugal com a instauração da república, contrariamente ao que pensar se possa. Longe disso. Reis disto e daquilo melhor se reproduzem agora no húmus da democracia republicana. É certo que o rei da rádio passou à história. Em seu lugar, porém, foram coroados muitos outros, tais como o rei dos pneus, o rei dos frangos, o rei das cassetes, o rei da sucata e muitos mais. Todavia, o mais badalado de todos é, sem dúvida, o Rei das “selfies”. Porque é o que melhor simboliza o país de faz de conta em que Portugal se converteu: um reino sem rei nem roque, uma democracia e um estado de direito de faz de conta, uma república que faz de conta que tem um presidente. É um rei, festivaleiro, popularucho, quixotesco, imagem central de mil autorretratos e outras tantas “selfies” audiovisuais. Sobretudo é o herói principal da telenovela burlesca que narra a vida penosa de um povo que o próprio rebaptizou de arraia- -miúda, que vive e se desenrasca como pode. Sobretudo agora que Portugal tem tantos, tão graves e tão diversificados problemas, carências e vícios como nunca teve, que nada têm a ver com a pandemia ou a guerra na Ucrânia, como alguns pretendem fazer crer. Sendo que no topo desse bolo podre “made in Portugal” estão as cerejas doiradas do nepotismo, compadrio e mediocridade de inspiração partidária. Talvez seja por isso que o Rei das “selfies”, longe de ser amado e respeitado quanto julga sê-lo, é glosado e ridicularizado especialmente nas redes sociais. Arraia-miúda ingrata que, por mais que o Rei das “selfies” a divirta e lisonjeie, não aplaude a sua árdua missão de preservar a pureza original do Regime. Rei das “selfies” que não tem feitio, nem vocação, para ficar de braços cruzados encerrado num palácio à beira Tejo e a ver passar os navios por nada ter que fazer. Arraia-miúda que não entende que o Rei das “selfies” e demais governantes falem tanto e façam tão pouco, sejam quais forem as razões. É que, lá diz o povo, entre falar e fazer há muito que dizer. Muito que encobrir, digo eu. Muito interesse particular a salvaguardar, muito criminoso a proteger. Os principais problemas, carências e vícios que Portugal enfrenta são velhos e relhos, e exigem reformas profundas para que possam ser eficazmente combatidos. Reformas do Estado e quiçá, da própria Constituição da República. Reformas que têm sido sistematicamente adiadas ou arremedadas e a que os governantes respondem com discursos de circunstância e a bater com a mão no peito. Claro que o próprio primeiro- -ministro, que já está há demasiado o tempo à frente do barco sem obra que se veja, para lá das monumentais trapalhadas que se conhecem, já não tem como alijar as responsabilidades que lhe cabem. Também o Rei das “selfies” já perdeu a credibilidade original porquanto quanto mais se mostra e arenga mais se enfarinha nos insucessos governamentais. Dir-se-á que não tem poderes para mais e que por isso passa a vida fora do palácio a opinar sobre tudo e coisa nenhuma. Ora aí está uma das muitas reformas que se impõem: dar que fazer ao presidente da república, dando-lhe os justos poderes que o motivem a falar menos e a fazer mais e, sobretudo, a fazer com que o governo coloque o interesse nacional acima da estratégia do partido e do negócio de privado. O poder democrático está demasiado fragmentado e desacreditado como se vê, o que o torna presa fácil de políticos oportunistas, incompetentes e criminosos que vivem tranquilos, apesar de tudo, porque o Rei das “selfies” distrai e diverte a arraia-miúda que arranha e ladra mas não morde. O maior beneficiário, ainda assim, é o primeiro-ministro António Costa que tem contado com a sua incondicional e prestimosa bênção e cooperação. António Costa que é, sem dúvida, um homem de sorte. Viu-se quando perdeu as eleições para Passos Coelho e o BE e o PCP lhe deram a mão e o salvaram, por mais cara que a geringonça lhes tenha ficado. Viu-se mais recentemente quando a maioria absoluta lhe caiu nas mãos, sem saber como, porquê e o que fazer com ela. Mas a sorte maior de António Costa é mesmo o Rei das “selfies” que incondicionalmente o protege nas horas más e o aplaude nas felizes. Grande mistério é, por tudo isto, saber que papel assumirá o Rei das “selfies” depois de terminar a presente missão. O mais certo será a arraia- -miúda continuar a jogar forte na raspadinha eleitoral e ter o azar de continuar albardada pela esquerda, porquanto os albardeiros de direita não parecem ter competência bastante para amansar a cavalgadura. Continuará, então, o Rei das “selfies” a oferecer a sua mãozinha aberta ao punho fechado socialista, agora já não em Belém mas noutro qualquer reino transnacional para o qual os machuchos socialistas o empurrem, por gratidão. Isto se a raspadinha da Santa Casa de Bruxelas continuar a distribuir prémios. E se Portugal sobreviver.

Uma invasão a talhe de foice

A invasão da Ucrânia pelas tropas de Moscovo prossegue com a selvática devastação que os órgãos de comunicação social do mundo livre mostram com chocante realismo. Enquanto nas televisões e jornais russos nem uma só imagem destas barbaridades se vê. A luta heroica da Nação ucraniana pela defesa da sua soberania, independência e desejo de integração no mundo livre e democrático é deveras surpreendente e assinalável. Desvirtuar esse sacrifício ciclópico de uma Nação que está na linha da frente do combate pela liberdade e democracia, diluindo-o em jogos geopolíticos, no comércio de recursos naturais ou em negócios de arma é injusto, desonesto e apenas serve os desígnios sinistros de Vladimir Putin. Importa, por isso, fazer alguns recortes fiéis da História recente, concretamente no que ao colapso da União Soviética diz respeito, que se iniciou em dezembro de 1991 e abriu caminho, de uma assentada, à criação de 15 estados independentes. De facto, foi em 21 de dezembro desse ano que líderes da Federação Russa, da Ucrânia e da Bielorrússia assinaram um documento em que era declarada extinta a União Soviética, criando no seu lugar a Comunidade dos Estados Independentes. Todavia, a Ucrânia já proclamara a sua própria independência a 1 de Dezembro, mediante um plebiscito que registou o voto favorável de 90% da população. De realçar, também, que esse monumental colapso da União Soviética foi provocada pelas próprias populações, confrontadas com a desumanidade, a dramática falência económica e social do regime comunista e não porque tenha sido atacada, ou sequer ameaçada, por tropas da NATO, que havia sido criada 42 anos antes, precisamente para defender os países integrantes da selvática agressividade soviética. Pormenores que o PCP e demais simpatizantes domésticos de Putin, se esquecem de citar nas suas diatribes contra a NATO, a que igualmente se associa o BE. Mas também não será despiciendo relembrar que a União Soviética resultou do sucesso trágico do marxismo na Rússia imperial, convenientemente adulterado por Lenine, primeiro, e Estaline, depois, os fautores dos maiores massacres do mundo moderno, em consonância com o seu comparsa Mao Tsé-Tung, todos na esteira nacional-socialismo de Adolfo Hitler. Muito embora, justiça lhe seja feita, não se deva ignorar o papel relevante que a doutrina de Karl Marx teve na dignificação das classes trabalhadoras um pouco por todo o mundo, ainda que os maiores êxitos nesta matéria tenham e continuem a ser alcançados, democraticamente, nos países em que impera a democracia liberal, contrariamente às autocracias em que o marxismo-leninismo prevalece desfigurado. Convém também aqui relembrar que era desígnio fundamental do Marxismo-Leninismo, cito, “criar o novo homem soviético, que seria um cidadão educado e culto, possuidor de uma consciência de classe proletária orientada para a coesão social necessária ao desenvolvimento de uma sociedade comunista”. Aqui reside o fracasso maior do marxismo-leninismo, como fica bem demonstrado na trágica invasão da Ucrânia, a talhe de foice, ou da gadanha do fantasma comunista. Invasão que é, em última análise, a obra mais recente e funesta do abortado homem novo soviético, exemplificado por Vladimir Putin, escudado nos seus homens de confiança mais conhecidos e na classe social dominante, oligárquica e corrupta, que desmerecem e martirizam o povo russo. Todos eles são produtos acabados da ideologia, educação e formação de quadros da tristemente célebre União Soviética, como se vê. Trata-se de seres amorais, cruéis, cínicos, muito longe cidadão educado e culto, possuidor de uma consciência de classe proletária que era suposto o marxismo-leninismo vir a criar. Menor fracasso do marxismo- -leninismo, porém, que também a invasão da Ucrânia patenteia, não será o ilusório internacionalismo soviético ter dado lugar ao sinistro imperialismo de Vladimir Putin que, mais do que restaurar a defunta União Soviética, pretende reerguer e alargar o império do czar Pedro, o Grande, seu confesso inspirador. Putin sabe que o espectro da União Soviética que astuciosamente manipula, lhe rende significativas simpatias dos remanescentes comunistas e afins, que o mundo livre acolhe democraticamente e que continuam a sonhar com a sua reaparição. As semelhanças entre a situação actual e a vivida no início da II Guerra Mundial são, por demais, assustadoras. Resta-nos a esperança de que a conhecida asserção que diz que a História se repete não seja verdadeira ou que, a sê-la inexoravelmente, se não repita pela última vez. Havemos de concluir que, mais do que nunca, o mundo livre precisa de líderes esclarecidos e corajosos, com a dimensão de Churchill, Eisenhower e De Gaulle, capazes de enfrentar e levar de vencida tão grave ameaça à Humanidade, pacificamente se possível for. E ainda que, mais do que nunca, se justifica a existência da NATO.

A República Socialista de Lisboa e Colónias

Não tenho a pretensão de fazer análise política. Para tanto não tenho preparação e muito menos me é dado conhecer os meandros do poder, só acessíveis a politólogos profissionais, enfeudados ou não. E a quem tem amigos influentes, claro está. O que não obsta a que quem quer que seja possa intuir as reais motivações e justamente criticar os actos dos poderosos com base na informação credível que vem a público. Limito-me a escrever inócuos artigos de opinião, portanto, o que está ao alcance de qualquer cidadão que a tal se predisponha e que se dê ao desfrute de ler e ouvir diariamente diversificados órgãos de comunicação, tendo, para lá do mais, o cuidado de aferir a credibilidade da informação. Acrescento que não me revejo plenamente em nenhum partido existente muito embora seja um fervoroso adepto da chamada democracia liberal, sistema político que é, no meu entendimento, o mais justo e que melhores e mais seguras perspectivas abre para um mundo melhor. Donde se infere que igualmente me não revejo no regime político vigente a cujo controverso ordenamento jurídico devem ser atribuídas as graves doenças de que a democracia portuguesa enferma e que fazem do Estado português, por mais que me desagrade dizê- -lo, um estado marginal da União Europeia. Quando se diz que Portugal continua na cauda da Europa é isso mesmo que se pretende realçar. Vários são os sintomas dessas graves enfermidades que afectam Portugal. Em linguagem clínica dir-se-ia que os principais são a febre alta da corrupção, os entorses anquilosantes da coluna vertebral da democracia que é o Sistema Nacional de Justiça, o raquitismo social traduzido nos indecorosos níveis de pobreza e desigualdade e a crónica anemia económico-financeira materializada na preocupante divida pública. Tudo conjugado com a asfixiante hegemonia partidária que oprime a democracia e que agora mais se acentua com a maioria absoluta do PS e o declínio, imparável, do PSD. Tudo leva a crer que com António Costa a hegemonia do PS se acentue e que o PSD, que continua sem ter líderes incontestáveis por mais actos eleitorais a que se submeta, não irá parar de se degradar. Será caso para se dizer: deixem António Costa voar livremente para o seu tão almejado cargo na Europa que Portugal e a democracia só ganharão com isso. É do senso comum, de facto, que o PS cada vez mais se afirma como um partido homogéneo, com uma enorme freguesia, que não para de crescer, sem outra ideologia que não seja o oportunismo e com a mais elevada taxa de solidariedade corporativa entre correligionários, ilícita e antidemocrática, baseada no nepotismo, amiguismo e compadrio levados a níveis indecorosos, bem como na protecção, subtil e sistémica, dos seus mais destacados militantes envolvidos em escândalos de corrupção. Característica que, tudo leva a crer, mais se acentuará com o inevitável abastecimento da máquina partidária com verbas do PPR, por mais observatórios de acompanhamento que inventem. Tudo se conjugará, como é óbvio, na afirmação e aprofundamento da emergente República Socialista de Lisboa e Colónias que assenta no reforço da hegemonia política do PS, no agravamento da centralização político-administrativa, cultural e económica em Lisboa e no agravamento do abandono do interior, com as regiões a serem cada vez mais tratadas como colonias. Sendo que a colónia Porto irá continuar a sua luta pela independência. O PSD, em contra partida, mais uma vez demostra ser um partido heterogéneo, sincrético, em que pontificam barões nacionais e baronetes regionais que primam pelo individualismo, pela vaidade pessoal e pela disputa avulsa de mordomias. Estas foram, de resto, as principais causas do fracasso de Rui Rio a quem nunca se ouviu, por exemplo, uma palavra de defesa da governação de Passos Coelho, o que provocou a fuga de muitos destacados militantes para o Chega e o Iniciativa Liberal que, por certo, não irão retornar. Ilustrativa desta magna diferença entre os dois maiores partidos é também a forma agreste e distante como os presidentes da república que o PSD ousou eleger olharam e trataram o partido que os gerou, contrariamente ao que se tem verificado da parte do PS. Basta olhar para o distanciamento frio e escrupuloso de Cavaco Silva e para a indiferença cínica de Marcelo de Sousa, de um lado e para a promiscua conivência partidária de Mário Soares e Jorge Sampaio, do outro. Acima de tudo, que é o mais grave, os partidos que tiveram responsabilidades de governança, nos quais se incluem o BE e o PCP dos tempos heroicos da geringonça, pecaram sistematicamente por privilegiar vantagens partidárias e afins, em detrimento do interesse nacional, alienando as reformas fundamentais como os ditadores alienam eleições. É por tudo isto, que Portugal está doente e com tendência para a doença se agravar. Os políticos, esses, continuam de boa saúde. Mas não se recomendam.

Actual e urgente

Deus, para muitos, seja que deus for, nada mais é que um fetiche e a religião, qualquer que seja, sortilégio ou pura imaginação. Assim é que muitos olham deus, seja que deus for, com desdém, e outros apenas procuram na religião, seja que religião seja, um meio de alcançar algum tipo de benefício: curas, sucessos sociais, ganhos económicos ou mesmo políticos. Ainda assim, os mais fervorosos seguidores de Jesus Cristo encaram as boas práticas cristãs como o melhor caminho para refrigerar as agruras da vida e alcançar a felicidade absoluta, depois da morte. Não é de admirar, por isso, que neste mês de Maio de 2022, peregrinos de todas as proveniências, movidos pela fé, tenham de novo acendido milhares de velas de esperança no santuário de Fátima. Será oportuno, por isso, relembrar. A fazer fé nos testemunhos de Lúcia dos Santos expressos em quatro manuscritos designados por Memórias, as denominadas Aparições foram várias e de estreme proximidade, dado que a Imagem celeste pousou numa pequena azinheira com cerca de um metro de altura, estando os videntes a menos de um metro de distância, ao alcance da vista, ouvidos e mãos, ainda que apenas Lúcia tenha estabelecido diálogo com a divina aparição. Tais acontecimentos sobrenaturais que hoje possuem notoriedade planetária começaram, porém, dois anos antes, em 1915, quando Lúcia e outras três pastorinhas chamadas Maria Rosa Matias, Teresa Matias e Maria Justino, partilharam visões maravilhosas com forma humana. Depois disso, em 1916, agora já na companhia de seus primos Francisco Marto, de 9 anos, e Jacinta Marto, de 7, Lúcia, que contava 10, dá testemunho de 3 novas visões, as chamadas Aparições do Anjo. Estas aparições prévias a que Lúcia apenas se referirá posteriormente, em 1937, no texto conhecido por Memória II, foram preparatórias das que ocorreram em 1917, que são as fundamentais, porque envolveram “… uma senhora mais branca que o Sol”, no dizer dos videntes, e que na última ocorrência, a 13 de Outubro, declarou ser Nossa Senhora do Rosário. Foram seis, portanto, os encontros dos pequenos pastores Lúcia, Francisco e Jacinta, ocorridos entre Maio e Outubro de 1917, com essa Mensageira celestial, chancelados pelo impressionante Milagre de Sol e por milhares de factos miraculosos que levam milhões de almas a acreditar que se tratou, de facto, da Mãe de Cristo e a fazer Fé na Sua mensagem de amor e paz. A primeira destas Aparições de Nossa Senhora aconteceu em 13 de Maio, razão pela qual essa é a data marcante do fenómeno religioso de Fátima sendo, por isso, eventualmente a mais concorrida e noticiada. Fátima não é, contudo, um caso esporádico e isolado, já que se inscreve na longa lista de locais onde a Mãe de Deus é venerada porque lá se manifestou em diferentes datas, anunciando mensagens semelhantes, como são os casos de Lourdes e La Salete, em França, de Aparecida, no Brasil e de Guadalupe, no México. Mensagens que dia após dia se apresentam mais instantes e prementes face ao declínio persistente da Humanidade. É, de facto, deprimente constatar que apesar dos avanços científicos e tecnológicos, milhões de seres humanos continuam a soçobrar na guerra e a apodrecer no vício, na doença e na mais abjecta miséria, enquanto os biossistemas se degradam irreversivelmente. Também porque a política, que deveria ser a justa governação dos povos, é feita de mentira, traição e corrupção, com a dimensão espiritual do homem a ser banida pelo materialismo mais desapiedado e o lugar de Deus a ser ocupado por mitos mundanos que alienam multidões. Sobretudo no momento presente em que é instante a ameaça de uma terceira guerra mundial que poderá assumir efeitos devastadores e mesmo acabar com a própria civilização e toda a vida à superfície da Terra. E também porque a Igreja católica em geral e a própria Santa Sé em particular dão mostras de estar minadas por mil pecados contrários à doutrina do seu fundador Jesus Cristo, muito embora tenham surgido, com o papa Francisco, renovados sinais de esperança. Assim se compreende que o designado Terceiro Segredo, chave mestra da Mensagem de Fátima, esteja de novo na ordem do dia uma vez que muitos admitem que o texto publicado não será o original e a interpretação oficial não terá sido a mais justa. Todavia, muito mais importante que o sensacionalismo que deriva da vertente profética da Mensagem que a Virgem de Fátima concedeu aos videntes num tempo e contexto peculiares, mas que é igualmente válida para os tempos e eventos do presente, é a energia salvífica que dela irradia. Porque a Humanidade está mais do que nunca à beira de uma catástrofe global urge escutar e acatar esta mensagem ecuménica de paz, amor e verdade, que se mantém actual e instante.

Um homem que tem bombas atómicas no cérebro

A guerra é, por certo, o mais complexo fenómeno social, porquanto, para lá de ser absolutamente irracional é eminentemente niilista, sendo que o seu impulso determinante é, por regra, individual e não colectivo, contrariamente ao que se faz crer, pelo que reduzi-la ao domínio da geopolítica é limitar a sua mais profunda compreensão. Assim melhor se compreende que os conflitos armados de maior dimensão que a História Universal regista foram determinados, em última análise, por verdadeiros génios do mal, dada a crueldade, a despiedade e a falta de escrúpulos com que prepararam, treinaram e lançaram as suas hostes no combate. Assim foi no passado distante. Basta lembrar, para tanto, o papel decisivo de alguns mal-afamados matadores como o huno Átila (400-453), o mongol Genghis Khan (1162-1227), ou turcomano Tamerlão (1336-1405). Também na História moderna não faltam exemplos de famosos assassinos em massa, com destaque para o russo Josef Stalin, de cujo curriculum constam 20 milhões de mortes, do alemão Adolf Hitler que foi o primeiro responsável por outros tantos milhões, ou do chinês Mao Zedong que bateu o record com 60 milhões. Por outras palavras: estes medonhos carniceiros tiveram o ensejo de se aproveitar de circunstâncias históricas, sociais e geopolíticas propícias para fazer valer o seu génio sinistro, que era determinado por punções mentais assustadoras. Assim é que Mao Zedong que tinha no coração a grande China imperial, estava determinado a matar Deus, para tomar o Seu lugar, à semelhança de Josef Stalin, que amava a grande Rússia imperial. Já Adolf Hitler tinha no cérebro o nacional-socialismo, vulgarmente conhecido por nazismo, e no coração a supremacia da raça ariana, razões determinantes, mais do que as económicas ou geopolíticas, para desencadear a terrível catástrofe que foi a II Guerra Mundial. Uma nova figura, igualmente sinistra, se junta agora às atrás referidas: o russo Vladimir Putin que tem bombas atómicas no cérebro e pouco mais, o que o leva a cuspir ameaças de guerra nuclear por dá cá aquela palha, determinado a fazer ajoelhar meio mundo ante o seu renovado império soviético. Foram estas as verdadeiras razões, de resto, que levaram Putin a ordenar a cruel agressão, não declarada, à Ucrânia, uma nação independente e democrática, da mesma forma que envolveu a Rússia em várias outras guerras desde que se assenhoreou do poder, algumas das quais foram autênticos massacres, que não distinguiram militares de civis, como aconteceu na Chechénia, em 1999 e na Geórgia, em 2000. Claro que Putin, antes de se meter nessas sinistras aventuras, estabeleceu uma pérfida teia de prosélitos e colaboradores no chamado Ocidente, com realce para todos os que se esforçam por matar a democracia a golpes de foice e martelo para em seu lugar estabelecer a ditadura comunista. Até mesmo no insignificante Portugal instalou os seus tentáculos a nível de certas câmaras municipais e nas mais altas estâncias políticas e militares, como tem vindo a ser noticiado pela comunicação social. Não será de estranhar, por isso, que os seus mais fiéis defensores atribuam aos americanos e à NATO as culpas da invasão da Ucrânia, o que não deixa de ser paradoxal porque isso poderá significar que Putin está ao serviço do Ocidente o que não é de todo verdade. Bem pelo contrário. Mais lógico seria, isso sim, que sem rodeios nem subterfúgios, declarassem a invasão da Ucrânia como um ataque alargado ao Mundo Livre que, no seu entendimento, anda prenhe de misérias e pecados, o que não deixa der ser verdade. Só que as fraquezas e ruindades do Mundo Livre, todos os que nele vivem as conhecem, podem e devem denunciar e combater democraticamente. Enquanto os terríveis malefícios dos regimes autocráticos, como é o ditador Putin, apenas aqueles que os sofrem na pele e no espirito, os conhecem verdadeiramente mas não os podem, de nenhuma forma, combater. Dramático será concluir, por tudo isto, que a III Guerra Mundial, inexoravelmente nuclear, sempre será um perigo eminente enquanto Putin estiver no poder. Agora a propósito da Ucrânia, mais tarde por causa de outra qualquer guerra que o déspota tenha no seu programa. Isto se, entretanto, Putin sobreviver a Putin.

A lenda da vaca sagrada e do bezerro de oiro

Para uma maioria muito significativa de próceres políticos, com maior pendor à esquerda, a Constituição da República é uma vaca sagrada e o Regime político vigente, que à socapa enche os bolsos e garante tachos chorudos a gente afamada, é um bezerro de oiro. Duas instituições políticas sagradas em que é pecado tocar, nem que a vaca tussa. Ainda que o bezerro de oiro em apreço tenha pés de barro e produza dejectos democráticos tais como a lei Eleitoral, o Sistema de Justiça, a lei da Nacionalidade, a corrupção generalizada, o compadrio, o nepotismo e, acima de tudo, o endividamento público desregrado. Não se confunda, porém, sistema político com regime político. O sistema de democracia liberal e representativa, por exemplo, que se caracteriza, resumidamente, pelo voto livre, pela separação de poderes e representação política de todas as opiniões, para lá de garantir as liberdades e direitos fundamentais, consubstancia-se em regimes políticos distintos, podendo ser republicanos, presidencialistas ou nem tanto, ou mesmo monárquicos, com reis ou rainhas. Para os próceres políticos atrás citados, muito embora periodicamente se envolvam em competições de discursos eruditos sobre a matéria, o regime político vigente, repito, é único e intocável e quem se atrever a criticá-lo não é democrata, podendo mesmo ser considerado fascista ou pior que isso. Ainda que o PC e o BE que integram esse alargado grupo de fiéis do regime, adorem outros sinistros bezerros que de democracia e de democráticos nada têm, como sejam os venerados regimes políticos da Coreia do Norte, da Venezuela ou de Cuba, para não irmos mais além. E manda a verdade que se diga, também, que a generalidade dos regimes políticos europeus e partidos mais representativos, de que o PS português é paradigma, se converteram em verdadeiros pântanos ideológicos e éticos, em que chafurda a generalidade dos seus líderes. É neste cenário político institucional do mais alto nível que Portugal, apesar da nobreza do seu povo, da sua riqueza histórica e cultural, se afirma como um Estado pobre e marginal no contexto da União Europeia, dependente das ajudas comunitárias e com uma dívida pública explosiva, que o coloca à beira da banca rota sempre que uma crise internacional estala. Como se verificou com a crise da dívida soberana iniciada em 2008, mais recentemente com a crise pandémica e agora com a guerra que Vladimir Putin desencadeou na Ucrânia. Tudo isto passou indiferente à discussão inútil e inconsequente do Orçamento de Estado de 2022, que o PS desdenhou do alto da sua maioria absoluta parlamentar. Indiferença que já anteriormente se verificou na vigência da tristemente célebre Geringonça, uma vaquinha que o PS, o PC e o BE fizeram sem que se saiba bem porquê e para quê, mas que salvou António Costa do apagamento político e acabou por lhe dar de bandeja e mão beijada a presente maioria absoluta. É por demais óbvio que uma economia saudável é indispensável para o progresso e bem- -estar de uma Nação. E é por demais evidente que em tempo de vacas gordas não há governos maus e que os bons governos se veem em tempo de vacas magras. Por norma, para sanear os grandes males económicos os economistas apontam múltiplas medidas e soluções, qual delas a mais rebuscada, que os políticos recondicionam para que também sirvam da melhor forma os seus interesses pessoais e partidários. São mil estratagemas administrativos como o desdobramento dos escalões do IRS, os “autovoucher”, o congelamento de salários, os subsídios a granel, o salário mínimo, o rendimento social de inserção, as mexidas manhosas nos impostos, etc., etc, etc. Uma coisa é certa porém: com o regime político vigente a economia portuguesa jamais sairá da cepa torta, por mais mesinhas e estrangeirinhas, porcas e parafusos que os políticos atarraxem e desatarraxem. Mesmo que circunstancialmente cresça acima da média europeia quando pode, deve e é necessário que cresça acima do máximo europeu. Sem as indispensáveis reformas das leis fundamentais e do Estado, sem o combate eficaz à corrupção, o controle racional da despesa pública, o fim dos empregos políticos chorudamente remunerados, sem leis de trabalho que valorizem quem trabalha e promova a rentabilidade, jamais a economia portuguesa poderá garantir desafogo e bem-estar a todos os portugueses e suportar serviços públicos de qualidade. Mas quem irá fazer tais reformas, quando e como?! Serão aqueles para quem a Constituição é uma vaca sagrada e o Regime um bezerro de oiro? É aqui que a porca, a vaca e o bezerro torcem o rabo.

Não é António Costa que está refém. É Portugal que está refém de António Costa!

Lá no palácio de São Bento que, como se sabe, é sede da Assembleia da República e residência oficial do primeiro-ministro, paira uma assombração que muito mal tem vindo a causar à democracia e à nação portuguesas. Não se trata de nenhum espirito maligno do tempo da outra senhora, porque esses já não fazem mal a ninguém, muito embora continuem a ser esconjurados pelos acólitos da dita esquerda que não param de meter medo às criancinhas com histórias de capitalistas, fascistas, racistas, colonialistas e outros que tais. Trata-se mesmo de um espectro sinistro recente que tem impedido que o Portugal democrático cresça e apareça de uma vez por todas, que saia dos subúrbios da Europa e se coloque a par dos parceiros mais ricos e socialmente mais justos. É o espirito do político fujão que em passado recente assombrou os ex-primeiros ministros António Guterres e Durão Barroso e os ex-ministros Victor Constâncio e António Vitorino, de entre outros destacados políticos que tiveram habilidade e descaramento bastantes para bater a asa e voar para poleiros de maior destaque na ONU e na União, abandonando o país caído na desgraça, entregue à pardalada partidária. Políticos estes que, possuídos pelo tal espirito fujão, renunciaram aos cargos para que haviam sido eleitos e optaram por fugir logo que oportunidade favorável se lhes deparou, apesar de terem jurado solenemente servir o povo português com total entrega e devoção. Claro que este espirito maligno do político fujão só encontra ambiente propício nos estados subservientes de instituições transnacionais de maior gabarito e em que reinam regimes políticos de duvidosa democraticidade. Tudo leva a crer que foi este espírito maligno do político fujão que o Presidente da República quis esconjurar com uma reza de mau presságio na tomada de posse do novo governo, porque se lhe terá metido na cabeça, sabe-se lá que por artes ou manhas, que também o empossado primeiro-ministro António Costa, já estaria possuído, ou em vias disso. Verdade ou não, certo é que António Costa não tugiu nem mugiu e se limitou a dizer o que sempre disse em circunstâncias tais, sem tirar nem pôr. Que ninguém duvide, porém: se por acaso António Costa, contra todas as rezas e esconjuras de outrem e juras do próprio, vier a ser tomado pelo tal espirito do político fujão, não fugirá sem primeiro garantir que a sua trupe fica confortavelmente instalada nos cadeirões da administração pública central e local. Ainda que deixe Portugal mais pobre, injusto e marginal, que é o mais certo. Essa nem será, sequer, a sua preocupação maior e muito menos o Presidente da República se afoitará com tal. Em Belém reina um espirito palrador e espectaculoso, vagamente patriótico e nada reformista, pelo que se António Costa decidir abandonar o barco e fugir, seguindo as pisadas de Guterres e Barroso, não será Marcelo de Sousa, que o aturou, apoiou e com ele coabitou, enquanto lhe interessou assegurar a própria reeleição, quem o irá impedir. Fica-lhe bem dizer agora que António Costa está refém, tão- -somente. Trata-se de um bonita figura de retórica, nada mais. A seu tempo se verá, porém, que António Costa não está refém de nada nem de ninguém, muito menos do espirito tagarela de Belém. Só mesmo uma lei para tanto competente, se existisse, poderia obstar a que António Costa, ou qualquer outro político do mesmo calibre, se pudessem dar ao desfrute de abandonar o País a meio do mandato para deliberadamente assumirem cargos estrangeiros pessoalmente mais aliciantes. Não é António Costa que está refém. São os portugueses que vergonhosamente mantidos na cauda da pródiga mãe Europa pela mão dos políticos fujões e dos oligarcas político- -partidários, estão reféns, não da democracia, mas de um regime político corrupto avesso a reformas. Não é António Costa que está refém! É Portugal que está refém de António Costa!

O diabo existe. Chama-se Vladimir Putin!

Lembro-me bem de ter ouvido o santo Papa João Paulo II afirmar, perentoriamente, que o diabo existe. Acredito que sim e que, no presente, se chama Vladimir Putin, face ao inferno que instalou na martirizada Ucrânia. Diabo que também já deu pelos nomes de Hitler, Lenine, Stalin e demais encarnações que capitanearam os maiores genocídios que a História Universal regista. Todavia, enquanto crente, não compreendo porque Deus ainda não acabou com a raça. Mas desçamos à Terra, por agora. Guerras sempre as houve, o que levou o sociólogo francês Gaston Bouthoul, especialista do fenómeno bélico, a sentenciar qualquer coisa como “ foi a guerra que gerou a História”. O que não deixa de ter sentido, muito embora outros factos históricos relevantes, como o nascimento, vida e morte de Jesus Cristo, por exemplo, tenham escrito mais História do que todas as guerras. Certo é que o contendor que toma a iniciativa de atacar injustificadamente outro país, não pode ser olhado da mesma forma que o agredido que tem todo o direito de se defender. Do lado do atacado poderemos então entender que a guerra é justa, muito embora Santo Agostinho enumere outros critérios e não explicitamente este. Lamentável é concluir, isso sim, que apesar de tanta guerra e tanta História o ser humano pouco ou nada evoluiu no que toca aos seus instintos mais básicos, sobretudo no que à agressividade e à tentação totalitária diz respeito. Só assim se compreende que todas as guerras sejam iguais em desumanidade, destruição e desgraça mas muito diferentes no espaço e no tempo em que decorrem, nos meios e nos métodos que utilizam, nas causas e nas razões que as originam. Por outras palavras: a natureza humana não melhorou significativamente depois de milénios de conflitos como paradoxalmente o demonstra a continuada sofisticação e diversificação dos instrumentos e modalidades de guerra que, com as armas nucleares, químicas, biológicas e cibernéticas, ganharam abrangência e poder de destruição nunca vistos. E o mais que se verá! A guerra em curso na Ucrânia é mais uma trágica aprendizagem para todos os homens de boa-fé ou de boa vontade. Uma guerra que, por mais que custe a acreditar, se iniciou com a surpreendente e cruel agressão a um país independente, livre e democrático, a Ucrânia, perpetrada pelos exércitos de um tirano desapiedado. Os geopolitólogos tradicionalistas, particularmente aqueles que se assumem como neutrais em benefício do sinistro Putin, apenas referem causas clássicas de natureza geoestratégica para explicar e justificar tão descarada agressão. Invocam ameaças teóricas, disputas territoriais e de matérias- -primas essenciais, causas eminentemente materiais, portanto, ignorando factores imateriais decisivos como sejam a velha tentação totalitária ou a religião. Muito menos referem o nacionalismo, o patriotismo, a cultura e a ideologia que explicam muitos conflitos passados e recentes, bem como, no caso vertente, a inesperada e heroica reacção da nação agredida. A causa primeira de todas as guerras sempre foi e continua a ser a atávica tentação totalitária, que gerou impérios sacrificando nações, sendo que a religião não é menos relevante nesta matéria. Para o Islão, por exemplo, a guerra é um dever para com o ente divino, acima de todo e qualquer factor material e tanto assim é que reserva um paraíso aos seus guerreiros. E que dizer da ideologia marxista-leninista, outro exemplo, que motivou os maiores massacres da história contemporânea? O agressor Putin aponta como razões para mais esta sua iniciativa bélica a ameaça de que diz ser alvo por parte da NATO, para lá do falso argumento de que a Ucrânia, historicamente, é parte integrante da Rússia. Putin que habilmente e de má-fé, ousou submeter os países mais poderosos da Europa às suas potencialidades energéticas. Putin que comprou livremente armas e componentes estratégicos nos mercados europeus enquanto a Europa estupidamente se desarmava. Putin que guerreou barbaramente na Chechênia, na Geórgia e na Síria sem que ninguém do chamado Ocidente se lhe tenha interposto. Putin que, tanto quanto se sabe, detém paradoxalmente uma imensa fortuna pessoal em países europeus que agora considera hostis. São malignas, sem dúvida, as motivações que agora levaram Putin a massacrar desapiedadamente o povo ucraniano sendo por demais evidente que a invasão da Ucrânia tem uma só causa que é a falta de razão de Putin, a sua mais que provável insanidade mental, a sua sinistra obsessão de pretender reerguer o antigo império russo, alargando-o ao império soviético de má memória. Mas talvez a psiquiatria não explique tudo. Talvez tudo ficasse mais claro se exorcistas qualificados expulsassem os demónios que desde 1917 moram no Kremlin. PS.: Jamais a Humanidade correu tão graves perigos. Enquanto crente associo-me a todas as orações pela paz dirigidas, sobretudo, a Nossa Senhora de Fátima.