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Carolina dá voz a Amália

Ter, 30/05/2017 - 14:32


Olá familiazinha! Depois de um fim-de-semana com muitos eventos na nossa região e também duas grandes concentrações de pessoas, na festa de Nossa Sr.ª da Ribeira, em Quintanilha e o encerramento do mês de Maria, no Santuário dos Cerejais, em Alfândega da Fé, estamos a fechar o mês de Maio, o famoso mês das flores.
Na semana passada apresentámos aqui os escritórios da terra e foram muitos aqueles que nos falaram em directo dos seus escritórios. Uma dessas conversas foi com a tia Neves, de Nuzedo de Baixo, enquanto semeava os “mal unidos”, os “mal dispostos”, os “biciclistas” ou “chícharos”. Nunca me passou pela cabeça que o feijão frade tivesse tantos nomes!
Na segunda viagem que realizámos a Lisboa, fez parte do grupo a nossa tia He­lena, da Aveleda (Bragança), mãe da fadista Carolina, que veio almoçar connosco e, à noite, fomos nós a assistir ao musical “Amália”, onde ela brilhou com a sua voz.
Neste número vamos conhecer um pouco melhor a Carolina, publicando parte da sua biografia.
Na última semana tivemos três aniversariantes, a tia Helena, de Alfaião (Bragança) que fez um século de vida, a nossa menina especial Maria Helena, de Vilarandelo (Valpaços), que festejou os seus 47, o nosso patrocinador, Rui Santos, das Ópticas Transmontana, que fez 42 anos e o tio Manuel Teixeira, de Montesinho, que fez 72 anos. Para todos muita vida.

 

NÓS: TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - Francisco Rodrigues Trindade (n. c.1535)

Se bem que pertencendo à etnia hebreia, Francisco Rodrigues Trindade não seria judeu nem marrano. Antes deverá ser apresentado como um homem assumidamente cristão e denunciante de seus patrícios. Decidimos incluí-lo nesta séria de biografias, ao lado de sua irmã Catarina Rodrigues Trindade, esta sim presa por suas práticas de judaísmo, falecida nos cárceres da inquisição de Lisboa, aos 72 anos, como exemplo de percursos distintos e opostos, dentro do mesmo grupo familiar.

Entre os membros da primeira geração de cristãos-novos da vila de Miranda do Douro, contava-se uma Isabel Gonçalves, a qual casou com João da Trindade que alguns afirmam ser cristão-novo, mas todos dizem que viveu e morreu como cristão, sem qualquer indício em contrário. Um de seus filhos chamou-se António Rodrigues Trindade, que casou e viveu em Torre de Moncorvo com Ana Fernandes. (1) Ela foi queimada nas fogueiras da inquisição de Lisboa, lugar que compartilhou com os filhos. Ele faleceu e foi enterrado como bom e insuspeito cristão, pelo ano de 1601. Em casa a sua comida era mesmo cozinhada em panela apartada da mulher e dos filhos. Seria este seu comportamento cristão verdadeiramente autêntico? Ou seria ditado pela sua profissão de recebedor das sisas?

A filha Catarina, nascida por 1532 casou igualmente em Torre de Moncorvo com Fernão Álvares e tiveram larga e importante descendência, do ponto de vista social, com largo historial nos processos do santo ofício, nomeadamente a sua filha Maria Álvares e o neto António Pereira. (2)

Contaria Francisco uns 15 anos quando começou a servir o deão da sé de Miranda e comissário local da inquisição, Dr. Gil do Prado. E com ele foi de Miranda para Almeirim acompanhando o bispo da diocese, D. Toríbio Lopes, que estava doente e faleceu em 1553. Nessa fase da vida e durante a doença do bispo, o deão e o seu criado terão andado por Lisboa e nessa altura o nosso jovem conheceria o inquisidor Ambrósio Campelo.

Falecido Toríbio Lopes, o deão e o criado regressariam a Miranda. Chegados a Coimbra, Francisco pediu ao seu amo que lhe desse algum dinheiro e que o deixasse ali a estudar latim. Terminava assim uma ligação de 4 anos. Terminaria? Ou será que o Trindade foi instruído pelo Deão, fazendo trabalho de espia e denunciante?

Pela mesma altura faleceu a mãe de Francisco e o pai casou em segundas núpcias em Torre de Moncorvo com uma estalajadeira chamada Isabel Lopes,  (3) cristã-nova e judaizante.

Pouco se demoraria por Coimbra o nosso estudante de latim pois logo apareceu em Torre de Moncorvo a “passar férias”. Aí, morando na estalagem, a madrasta ter-se-á aberto com ele, fazendo-lhe muitas confidências sobre o Messias que em Roma estava prisioneiro mas logo haveria de soltar-se dos grilhões e dirigir a instauração do reino de Israel, o qual haveria de dominar sobre a terra. (4)

Demorou-se por Torre de Moncorvo uns 45 ou 50 dias e, em vez de retomar os estudos em Coimbra, rumou a Lisboa e foi empregar-se na casa de um Dr. Monção, prior da igreja da Madalena. E no dia 3 de janeiro de 1555, dirigiu-se à casa da inquisição, para denunciar de práticas de judaísmo contra a sua madrasta e outras pessoas. Vejam o registo do seu depoimento:

- No dia 3 de janeiro compareceu Francisco Rodrigues Trindade que denunciou Isabel Lopes, sua madrasta, da Torre de Moncorvo, por ter dito que Jesus Cristo não era filho de Deus e outras heresias, Gabriel Rodrigues, genro dela, por ter dito que tudo quanto o papa fazia era burla, a mulher deste Leonor Lopes e finalmente Diogo Mendes, tabelião de Miranda, todos cristãos-novos. (5)

Este registo dos cadernos do promotor é o resumo das declarações de Francisco Trindade continuadas por mais de uma sessão na casa do despacho, perante os inquisidores Pedro Álvares Paredes e Ambrósio Campelo, que ordenaram a prisão dos denunciados.

Obviamente que tais prisões provocaram em Torre de Moncorvo um forte impacto. E um parente de Isabel Lopes, Pero Henriques, solteiro, grande mercador e homem viajado por todo o reino e terras de Castela, meteu-se a caminho de Lisboa com o objetivo de tentar a libertação dos prisioneiros. Para isso teria de saber quem os acusara e os respetivos crimes. Depois, trataria de impedir que o(s) denunciante(s) ratificasse(m) as denúncias ou, no caso de o não conseguir, tratar de desacreditar o(s) seu(s) depoimento(s).

Na casa do Dr. Monção, Francisco não encontrou só emprego mas também o casamento com uma criada do mesmo, chamada Maria Barros. E como esta era pobre e as pagas do prior minguadas, Francisco ia fazendo uns serviços eventuais de escriturário e copista em cartórios de escrivães da alfândega de Lisboa assoberbados de trabalho.

Foi então que o caminho de Francisco se cruzou com Pedro Henriques o mercador da Torre de Moncorvo atrás citado. Apresentou-se este muito amigo, disposto a ajudá-lo a sair daquela vida de pobreza. Mostrou-lhe Francisco uma carta recebida de um tio muito rico que vivia em Cabo Verde em que o mandava ir para junto de si. Acrescentou que bem gostava de ir mas não tinha dinheiro para a viagem. Pero Henriques prontificou-se a pagar a viagem e logo foram comprar mantimentos e bilhete para embarcar.

Parecia tudo pronto, com o viajante instalado no barco prestes a zarpar, quando no cais apareceu o juiz ordinário, chamado pela mulher de Francisco Trindade, a impedir que este seguisse viagem. Tudo indica que o plano foi preparado entre Francisco e a mulher que, de seguida, se apresentaram na inquisição dizendo que Pedro Henriques o andava perseguindo e o queria forçosamente embarcar para Cabo Verde para não poder ratificar as denúncias que fizera contra a sua madrasta e os outros.

E com base nos depoimentos de Francisco e da mulher, Pedro Henriques daria entrada nos cárceres da inquisição de Lisboa. (6) De Francisco Rodrigues Trindade não mais ouvimos falar. Nem sequer é citado por sua irmã Catarina Rodrigues quando, na sessão de 19 de novembro de 1602 fala da sua genealogia. Sobre esta diremos que a alcunharam de “coisa rica” e morava na Rua do Espírito Santo quando foi presa em 26 de agosto de 1602, sendo já viúva e mãe de 6 filhos. Veio a falecer nas masmorras da inquisição em 9 de janeiro de 1604, ao fim de “muitos tempos que lhe dera paralisia e nunca mais se levantara nem se virava se não a viravam e muito mal podia comer por sua mão”.

Não se enganavam os inquisidores ao condená-la como judia. Com efeito, ela “não se soube benzer nem persignar”. Mas não se escusou a ditar para o processo uma oração judaica que ela rezava:

Oh! Alto Deus mais poderoso

A ti chamo, pecador.

Sempre manso e animoso

Adonay, meu criador.

 

 

NOTAS e BIBLIOGRAFIA:

1-ANTT, inq. Coimbra, pº 2398, de Ana Fernandes.

2-IDEM, pº 2359, de Catarina Rodrigues Trindade; pº 1096, de Maria Álvares; pº 8786, de António Pereira.

3- IDEM, inq. Lisboa  p.º 3123, de Isabel Lopes.

4-IDEM, inq. Lisboa, pº 3123, de Isabel Lopes. Veja-se um excerto das denúncias de Francisco Trindade: - Outra vez falando-lhe a dita sua madrasta, estando ambos sós, lhe disse que estava uma casa em Roma cerrada e que todos os papas que vinham lhe mandavam lançar uma fechadura e que dentro dela estava um homem cujo nome lhe não lembra (…) que era o messias e que tinha um grilhão nos pés e que estava um menino com uma serra serrando-lho. E que pronto os ferros fossem acabados de serrar, haviam os cristãos-novos de ser livres, e que se haviam de ir para a terra de onde primeiro vieram que era Jerusalém, e que lá haviam de ser grandes senhores e que lhe haviam de levar de cá para cavalos aos cristãos-velhos (…) E é mais lembrado que a dita sua madrasta lhe disse, estando ambos sós, que um papa mandara abrir aquela casa de Roma onde estava o messias e que mandara meter dentro um cristão e logo morrera, e que mandara meter um mouro e logo morrera; e que depois mandara meter um judeu, para ver o que lá ia e que este vivera.

5-BAIÃO, António – A Inquisição em Portugal e no Brasil (séc. XVI), in: Archivo Histórico Portuguez, vol. VII, p. 4.

6-ANTT, inq. Lisboa, pº 6771, de Pero Henriques.

Fogueiras de Palha

A vida é feita de ciclos. Apesar de normais e habituais, alguns resultam da própria natureza tal como os diários e anuais e outros são resultado de convenções como os semanais e os eleitorais. Dos naturais existe uma característica comum que passa pela existência de um período escuro, frio e dormente, alternando com um outro, claro, luminoso, quente e de maior atividade física e mental. Os convencionais não têm, pela sua própria génese, esta diferença intrínseca embora a própria praxe criadora lha associe e seja assimilada pelos interessados. Facilmente se liga o fim de semana ao período estival de férias e descanso e os restantes dias semanais ao cinzentismo do ciclo de trabalho. Igualmente é vulgar que o início de um novo ciclo eleitoral seja agregado ao dealbar de um novo dia, de um recomeçar, de um retomar o fôlego, tal como acontece diariamente.
Mas há diferenças, claro.
O ciclo diário não aparece com opções, pelo contrário, a regularidade traduz-se pela continuidade e repetição. Já com as eleições não é assim. Mesmo nos casos em que a manutenção do status quo se assegura como certa e consequente é preciso confirmá-la através do processo eleitoral. Ora isto comporta um risco que não é nunca desprezável, como ficou provado recentemente nas última eleições autárquicas distritais. Por isso começa a ser hábito que quem está nos comandos do poder local tente abrilhantar e reforçar o clarão da madrugada para que a atenção dos eleitores não se “distraia” com todos os que lhe disputam a primazia, para lhes conquistar o poder. Para isso começam já a surgir nas cumeadas pequenas fogueiras que pretendem indicar aos detentores do precioso voto, a direção que devem tomar e para onde os querem levar.
Há, sabemo-lo, artifícios luminosos para todos os gostos.
E, quase todos são usados. De forma genuína ou artificial, convictamente ou com segundas intenções, de forma genuína ou com a maior das falsidades. E assumem formas várias e diversas. No alto da montanha que marca a chegada do período de quatro anos estão já montadas as várias estruturas que suportam a encenação da praxe. Começam já a surgir na linha do horizonte os artefactos ígneos, sejam velhos archotes, novos focos de luz LED, tradicionais pirilampos, modernos lasers, passando por sofisticados videomapings, complexos fogos de artifício, simples labaredas, arrojadas línguas de fogo ou rudimentares fogueiras de lenha.
Muito se poderia dizer da natureza de cada uma destas formas de reforçar e aumentar a “claridade” que se pretende carrear para o momento de decisão e “iluminar” a escolha adequada aos anseios individuais e coletivos. Ficar-me-ei pela análise superficial, mas intuitiva, destas últimas pela sua simplicidade, objetividade e facilidade de execução.
Desde tempos imemoriais que o os homens acendem fogueiras para vencer as trevas, para se orientarem, para se defenderem mas, muito mais que isso, para confecionarem as suas refeições. Não é fácil caracterizá-las, remotamente. Vistas de longe, são, muitas vezes enganadoras.
Os fogachos com que alguns nos pretendem atrair, são feitos de palha, folhas secas e “fanenco”. São vistosos, vêem-se ao longe, atraem facilmente, mas têm fraca consistência e o poder luminoso é inversamente proporcional ao calorífico. À distância e na obscuridade levam a palma ao braseiro feito com lenha seca ou carvão. São seguramente mais luminosas e atrativas. Sendo embora vistosas n\ao ]e l]iquido que aguentem até ao momento da chegada. Aceso ou não, o borralho é fraco, não chegará sequer para encorrilhar a pele de uma posta de bacalhau, muito menos servirá para assar sardinhas e nem pensar em grelhar par de bogas ou barbos.