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Tio Aurélio, o último aprendiz do meu avô Rabel

Ter, 27/09/2016 - 10:14


Estamos a finalizar o mês de Setembro e como diz o povo “quem não tem vacas nem bois, tem de ser antes ou depois”. Por isso mesmo, já se estão a combinar as vindimas, porque para serem feitas à torna jeira (tu vais para mim, eu vou para ti) é preciso marcar as datas atempadamente. Diz-se que este ano não há muita uva, mas a qualidade é boa. Nas nossas terras a vindima ainda continua a ser uma das festas do lavrador.
Entretanto, neste número vou apresentar-vos o meu avô paterno, que era barbeiro e tinha a alcunha de Rabel.

NÓS TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - Gabriel (Salomon) Henriques Raba (1741-04-12 – 1820-06-08)

Só muito depois de Portugal, Espanha, Holanda e Inglaterra é que a França apostou no comércio marítimo e na construção de um império colonial. E nessa aposta os sefarditas desempenharam um papel de relevo, nomeadamente as comunidades de Ruão, Marselha e Bordéus. Nesta cidade, menção especial para a família Gradis, os maiores armadores de navios na França do seu tempo.
Verdadeiramente exemplar neste movimento de colonização e comércio d´além mar, foi também a família Raba. Mal chegados a Bordéus, dois dos irmãos, António (Moisés) e Gabriel (Salomon) embarcaram para as Antilhas, fixando-se na cidade de S. Domingos, no atual Haiti. A legislação vigente, conhecida por “código negro”, não permitia, no entanto, que os judeus pudessem estabelecer-se nem negociar nas colónias francesas, pelo que os irmãos Raba foram munidos de uma declaração passada por um frade capuchinho que afiançava serem eles bons católicos. (1)
Três anos depois foram juntar-se-lhe outros dois irmãos: Caetano, aliás, David, formado em medicina por Coimbra e Francisco, aliás, Benjamim, com a “Societé Raba Frères”  a expandir os seus negócios abrindo novas delegações em Cap Français e Port-au-France. Escusado será dizer que trabalhavam em rede, uma rede familiar de negócios que integrava a mãe e os 8 irmãos.
Usando uma imagem grosseira, diremos que a riqueza dos Raba corria do Caribe para Bordéus, feita de caixas de açúcar, fardos de tabaco, sacos de índigo, café e cacau, passando pelo tráfico negreiro e comércio da prata, obviamente com venda de produtos exportados de França como vinhos, tecidos e artigos industriais, para além do transporte marítimo em que também investiram. (2)
Na sua estadia em S. Domingos, Salomon ter-se-á relacionado com a família de Joséphine que, mais tarde, viria a ser imperatriz da França, casada com Napoleão Bonaparte. Estranha coincidência: fracassada a primeira invasão francesa, Napoleão ordenou uma segunda, comandada pelo general Soult, a qual deveria entrar em Portugal por Trás-os-Montes. Lógico seria que as tropas gaulesas, vindas por Zamora e chegadas à bacia da Sanábria entrassem por Bragança. Aí interviria Salomon, convidando Joséphine e Napoleão, que estavam em Bordéus, a instalar-se no palácio da família. E terá sido por interseção de Josephine que o imperador ordenou que as tropas de Soult entrassem em Portugal por Chaves, poupando a cidade de Bragança. Não temos confirmação documental desta afirmação que corre de há muito. Apenas a seguinte nota:
- Le samedi 9 Avril (…) Napoléon premier, accompagné par sa garde d´honeur à cheval, visita, là, le fameaux domaine de Raba. Joséphine ayant rejoint Napoléon à Bordeaux, voulut voir la sumptueuse residence de Raba. (3)
Quem melhor do que Salomon Henriques Raba poderia representar em Bordéus a diplomacia portuguesa? A sua nomeação de cônsul foi feita por carta de D. João VI, datada de 9.9.1802. Veja-se um relance:
- D. João … faço saber … que por convir ao real serviço e bem dos meus vassalos que na cidade de Bordeaux haja um cônsul da Nação Portuguesa que facilite o comércio e seja de inteligência e experiência de negócios que ajude o expediente deles … hei por bem nomeá-lo … e rogo à República Francesa e em nome dela ao seu primeiro Cônsul, o cidadão Bonaparte, grande e estimado amigo … o deixe gozar o dito ofício… (4)
Não cabe no âmbito deste artigo analisar a ação do cônsul Salomon Raba, certamente muito meritosa pois que o rei D. João VI o condecorou com as Ordens de Cristo e de Santiago. Diremos que, apesar de escorraçado da sua pátria, ele se revelou um grande patriota e um verdadeiro herói, digno de ombrear com o cônsul Aristides Sousa Mendes. Não seria por acaso que os Nazis roubaram todo o recheio do Palácio Raba e deportaram os membros da família para os campos de concentração de onde apenas regressaria um: André Raba. Da grandeza de alma e seu amor à terra de seus antepassados, melhor do que nós fala o seu testamento. Vejamos um excerto:
- Pode parecer um grande encargo o que vos peço, mas estou certo que vou ter a vossa aprovação quando lerdes todos os nomes daqueles que estão a partilhar a minha generosidade. Meus irmãos, cada um de vós é dono de considerável fortuna, a qual não devem procurar aumentar à custa do grande número dos nossos familiares pobres que vivem em indigência, particularmente depois da guerra em Portugal (…) Tendo a Divina Providência disposto da vida de meu irmão Jacob, de quem me tornei herdeiro de parte da sua fortuna, resolvi depois de madura reflexão e reiteradas cartas que recebi do nosso primo António José dos Santos e de outros parentes infortunados, assim como de muitos israelitas vítimas da revolução que nos escreveram e informaram sobre o prejuízo que as tropas francesas causaram na sua entrada em Portugal (… ) é meu desejo criar um fundo de 87 ou 88 000 francos (…) administrado pelo meu irmão(Benjamim), os seus filhos e assim sucessivamente os seus sucessores, de forma que o lucro líquido que resultar do investimento não terá outro destino senão ser remetido para Portugal (…) porque eles serão apenas depositários dos títulos e não os proprietários… (5)
Repare-se que não se trata de uma simples dádiva, antes da criação de um fundo que vai render juros e esses juros é que serão enviados para Bragança. Outros fundos foram criados e dirigidos a outros destinatários pro , de acordo com o testamento, no qual Salomon escreveu ainda:
- Determino de antemão aos meus herdeiros e sucessores que no prazo de 6 meses, depois da minha morte apliquem no livro da razão da nação, ou seja, na sedaca as receitas líquidas de toda a minha poupança em contas à ordem…
Interessante esta nota porque nos deixa perceber que a “sedaca” funcionava como uma verdadeira instituição bancária cuja rentabilidade e poupança resultava no apoio aos pobres da nação.
Interessante seria olhar para outros destinatários de legados de Salomon, como a escola, a sinagoga, os criados, os indigentes, “sejam católicos ou protestantes”… acrescentando:
- Deus recomenda que sejamos caridosos para qualquer ser humano em sofrimento.
O testamenteiro explica ainda por que prefere a compra de títulos e a criação de fundos de investimento com distribuição dos resultados:
- Isso parece-me a mim mais vantajoso para os pobres do que distribuir entre eles o capital que, de outra forma, seria gasto logo que eles o recebessem.
Patriota, generoso, amigo dos pobres, cidadão exemplar, Salomon foi interinamente substituído, em 1817, no cargo de cônsul, por seu sobrinho Joseph Henriques Raba, que desde há anos o vinha secretariando. E devendo-lhe o Estado Português os ordenados e gratificações de muitos anos, melhor forma de pagar não encontraria do que “sanear” o sobrinho depois da sua morte, atendendo à proposta do cônsul Aurélio Gracindo Tota, então nomeado, datada de 19.06.1822 na qual escrevia:
- (…) Acresce que este homem, bem como seu falecido tio, meu antecessor, foram sempre mal vistos das autoridades e principais pessoas do país, porque reinando aqui um extremo catolicismo, não puderam jamais sofrer que representasse pela nação portuguesa, que de todo o tempo professara a religião católica romana, um judeu que exercia publicamente o culto hebraico… (6)
Repare-se que nesta data já não existia a Inquisição em Portugal! A sua herança, contudo, permaneceu e mesmo hoje ela continua viva em muita gente e muitas instituições do Estado. Felizmente que a injustiça não foi consumada, antes o rei D. João VI “condecorou” Joseph Henriques Raba.

NOTAS e BIBLIOGRAFIA:

1-BERNARDINI, Paolo; FLERING, Norman – The Expansion of European to the West 1450-1800,Providence (RI), Berghan Books, pp 268-286, 2001.
2-CAVIGNAC, Jean – Dictionaire du Judaisme Bordelais aux XVIII et XIX Siécles.
3-ARCHIVES DE BIBLIOTHÈQUE DE BORDEAUX, p. 2879. Cit. CRAVO, António – No Caminho Judaico… p. 189.
4- IANTT, MNE, Liv. . 23, fls 125-126.
5- The National Archives Public Record Office  Will of Salomon Henriques Raba.
6-ANTT, MNE,  cx. 225, Consulado de Portugal em Bordéus 1803-1832. Amável informação da Drª Carla Vieira a quem agradecemos.

Por António Júlio Andrade / Maria Fernanda Guimarães

Basta

Estamos fartos do bombardeamento informativo com que os canais televisivos nos obsequiam nesta quadra do ano. À falta de conteúdos, as televisões dedicam horas a fio aos incêndios com uma metodologia exaustiva que faz lembrar (se não fosse dramático dava para rir) a Ronda pelos Estádios, um programa desportivo da Rádio. E fazem-no com um “voyarismo” doentio, expondo as vítimas a quente, em estado de choque, fora de si, enraivadas com tudo e mesmo assim não se eximem a questioná-los naquela circunstância penosa. Claro que só ouvem disparates que ninguém responde bem naquele estado de espirito. (ninguém é um Habsburgo na sentina) Para quê a pergunta então? É deste “sangue” que as televisões vivem e sentem-se bem. Mas não contentes com isto somam-lhe mesas redondas, debates, entrevistas, inquéritos, estatísticas etc. fazendo-nos sentir o martírio dos incêndios de forma redobrada.
Aqui há uns anos, que isto já vem de longe, por estudos e opiniões credenciadas, foi dado como assente que as imagens televisivas dos incêndios, enquanto espectáculo, trazem ao de cima a piromania que alguns de nós transportam. A outros, as mesmas imagens incentivam-nos na tentativa de conseguir uns momentos de glória (negra) e de reconhecimento público que alguns mentecaptos sempre ambicionam (fieis à velha máxima “o que interessa é que falem de nós, mesmo que falem bem”). Essas conclusões, constou, teriam levado a um acordo de cavalheiros, entre as televisões, no sentido de noticiarem os incêndios (serviço público) mas sem imagens, aceitando o caracter nefastamente indutor das mesmas. Como não vi alterações no figurino noticioso perguntei porquê. Disseram-me que esse acordo era mesmo SÓ para cavalheiros.
Mas isto não é mais que um epifenómeno dum flagelo que assola o País há 40 anos. Coincidindo com o 25 de Abril, não me parece, no entanto, haver qualquer ligação à data. Não obstante ter havido aproveitamento e os fascistas terem sido acusados de fazer política de terra queimada por terem perdido o poder. No ano seguinte foi a vez de acusarem os comunistas de incendiários como retaliação pelo 25 de Novembro. A seguir acusaram-se os madeireiros elegendo as madeiras queimadas, logo mais baratas, como móbil do crime. A não limpeza da mata surge, aos olhos de outros, como responsável por muitos incêndios pois o mato rasteiro, além de entrar em combustão com relativa facilidade, tem um potencial calórico altíssimo. Depois surgiu a acusação à forma precipitada como foram extintos os Guardas Florestais, talvez os únicos homens que sabiam lidar com o fogo na mata, com o consequente descontrole dos incêndios. Veio então a acusação aos pirómanos, aos sedentos de notoriedade, aos vingativos, aos retaliadores (veja-se o caso do individuo que ateou um fogo porque teve uma multa de trânsito).A constituição dessas “quintinhas” que são os coutos de caça e de pesca não são de todo alheias a este processo. O conflito de competências entre as várias estruturas envolvidas, que já levou, até, à troca de “galhardetes” entre altos responsáveis, não ajuda a que se encare o incêndio de uma forma assertiva. E no meio deste barulho todo ao fundo ouve-se um murmúrio, um sussurro acusatório envolvendo todos os que de alguma forma têm actividades directamente ligadas aos incêndios sejam eles bombeiros, pilotos e outros prestadores de serviços, os homens do aluguer e venda de aviões e outras máquinas e ferramentas etc.
Enquanto assistimos a este rol de acusações cruzadas, que não deixa ninguém inocente, o suspeito principal não é sequer mencionado. Sim, o principal suspeito é a mata nacional. Quando aquele a quem Pessoa chamou “o plantador de naus a haver” mandou semear o pinhal do Rei, no que foi precursor da florestação em Portugal, fez a coisa bem feita. O pinhal do Rei está implantado num espaço geográfico com clima de influência atlântica, isto é, temperaturas moderadas e humidade relativa do ar elevada. Quando se florestou o resto do País replicou-se este modelo para zonas de clima Mediterrânico ou de influência continental que são climas muito mais secos e muito mais quentes. Aí é que esteve a asneira. E não só técnica mas também sociológica, como acusou Aquilino. Mas não adiantamos nada em ampliar o rol das acusações. A floresta que temos é esta e temos que a tentar manter minimizando-lhe os danos. E como a coisa não está a correr bem há que repensar a estratégia seja no campo da prevenção, seja na detecção precoce, seja no ataque propriamente dito. No tocante à prevenção além das campanhas de sensibilização, com publicidades agressivas (tipo tabaco), um maior policiamento ou vigilância fazem falta. Não me repugnava nada ver o Exército não a fazer policiamento mas escolher como palco dos seus exercícios pontos sensíveis da Mata Nacional. A simples presença bastaria para inibir o crime de uns ou a negligência de outros. Também a desmatação tem de ser obrigatória em alguns espaços. O que aconteceu na Madeira não pode voltar a acontecer em lado nenhum. Os perímetros urbanos têm de estar perfeitamente desmatados. E já agora um lembrete. Na A1 durante vários Km(s) a mata de pinhal ou eucalipto chegam mesmo às pistas da autoestrada. Ora, quaisquer dois garotos do DAESH com uma caixa de fósforos podem imobilizar o País pelo bloqueamento da sua principal artéria. Isto é que é brincar com o fogo. E está assim à tantos anos…
Não acho no entanto que a limpeza da floresta seja a panaceia para o mal em questão. Não que não ajudasse mas além de não por a zero a probabilidade de ignição tem custos perfeitamente incomportáveis. Torna assim vantajoso assumir o risco.
Mas é a forma como se ataca o incêndio que me levanta mais dúvidas quanto à sua eficácia. Aliás os resultados estão à vista. E não há um repensar da estratégia, um avaliar dos resultados, um discutir dos métodos. Há, isso sim, um pedido constante de aumento de meios. E não é com injeções de capital que se resolve. Repare-se que este ano foi possivelmente o ano em que se gastou mais (não tenho qualquer número mas pelos meios materiais e humanos envolvidos deduzo isso) e no entanto também foi o ano em que ardeu mais (quase). Além disso todos temos presente incêndios autenticamente pavorosos como o de Atenas, o de Nice, aqui na Galiza, na Austrália e sobretudo, sobretudo na Califórnia. Ali, no País mais rico do Mundo, no País da técnica, no País que mais recursos materiais e humanos disponibiliza, os bombeiros deixam, durante vários dias, arder, além das matas, as mansões dos milionários homens de Hollywood, em Beverly Hills, por manifesta incapacidade. Perante isto, a lógica elementar diz-nos que, se os Americanos não conseguem, os Portugueses não conseguirão. Por isso entendo que a floresta não deve ser entendida como um todo mas antes uma série de cantões separados por aceiros bem dimensionados e transitáveis, orlados por uma banda de árvores de folha caduca em chão limpo onde o fogo amortece e se torna combatível. Se o fogo deflagrar, só se estiver no início (daí as virtudes da deteção precoce) é que será atacado. Caso contrário é aplicar a técnica Australiana. Deixá-lo arder. Mas deixá-lo arder dentro desse cantão é dizer que não pode de forma alguma sair de lá. A arder que arda só aquela parcela. Porque tentar apagar um incendio de grandes proporçõe é só para gastar dinheiro, arriscar vidas e destruir material.
P.S. Devia criar-se um prémio para contemplar quem descobrisse uma aplicação rentável para os produtos da desmatação. Se acontecesse a descoberta teríamos a matas limpas a custo zero ou até com ganhos. Era um dinheiro bem aplicado.

Por Manuel Vaz Pires

A Geringonça

Soltam lamúrias quais carpideiras a preço de saldo. Invocam o passado sem o terem sabido defender, na deles, a Geringonça é antinatural esquecendo os setecentos mil votos perdidos. E, a Geringonça vai rodopiando.
Fingem arrepelar cabelos existentes e os voados por mor os malefícios do Bloco de Esquerda e o Partido Comunista, no entanto, socialmente, tudo corre de forma a o girar da geringonça só sofrer atropelos vindos de Bruxelas. As émulas da Kiki (Espírito Santo) ainda tentaram ridículo bater de testo na caçarola. De óculos escuros Ray Ban só fim perceberem não chegarem a duas dúzias. Ponto final. Parágrafo.
Choram lágrimas ao modo dos crocodilos, acusam os socialistas de traidores ao velho esquema, nunca entenderam a canção – mudam-se os tempos, mudam-se as vontades –, a ignorância é atrevida, subestimaram a experiência dos comunistas, as alteridades partidárias ocorridas na Europa, para o bem, para o mal. Néscios, ficaram iracundos.
Rangem os dentes ao contemplarem o desembaraço de Marcelo no enfunar as velas da geringonça facilitando-lhe o deslizar, o Presidente vai ajustando contas antigas, vai traçando o caminho em função dos seus desejos, vai cumprindo o dito do poeta: o caminho faz-se caminhando, de modo a aumentar o seu poder de poder.
Os apaniguados de Passos enterram a cabeça na areia de forma a avestruzes ficarem invejosas, ao invés, os atingidos pela pressa demais do antigo primeiro-ministro (continua a colocar na lapela o signo a enunciar despeito) não esquecem o sofrido, não esquecem as desgraças no BES, não esquecem o truque eleiçoeiro do BANIF. Os áulicos de Passos pensam que o povo são os amáveis empregados do restaurante O Comilão. Podem ler a Time, não leem a imprensa regional.
Os choramingas apostrofam Costa, ele ri-se, negoceia, mete a mão de ferro em luva branca de pelica antes de socar os adversários internos, afastar os incómodos, colocando em prática o ouvido a Marcelo nas aulas na Faculdade de Direito, e a Jorge Sampaio, Vera Jardim, José Manuel Galvão Teles, Victor Wengorovius e César Oliveira, ao redor da mesa do Flórida, no edifício Franjinhas, onde eles almoçavam nos dias activos da semana.
A oposição passista é passadista, anémica, queixinhas, Passos Coelho reduz ao menos possível a ambição de reconciliar o eleitorado vagabundo (um milhão de votos) com o PSD, resgatar o passado, antes das atribulações resultantes do desvario ideológico de assessores tipo Maçães e Morgado.
O líder laranja devia pedir ao deputado Adão e Silva o favor de lhe explicar o jogo do Rapa, no intuito de embaraçar Costa e Centeno, de alegrar os militantes laranjinhas ao opor vigorosa e exaltante barreira às suas políticas. A pionça do Rapa impulsionada por Centeno faz perder, sempre, todos quantos ousam ganhar o salário mínimo praticado na Noruega, Holanda ou Alemanha. As quatro faces da pionça ostentam as letras: R de rapa, T de tira, D de deixa, Põe, de pôr.
O ministro Centeno interpreta as letras da seguinte forma: Rapa tudo quanto pode em impostos sobre quem gera riqueza e emprego, Tira quanto pode em impostos indirectos, Deixa o fisco vasculhar a tua conta bancária, Põe a classe média à míngua se quiser adquirir livros, ir ao cinema, ouvir música num concerto ou comprando discos, fruir o olhar visitando exposições, longe da tentação de sinalizar a aquisição de um quadro. Em suma: a aculturação dos públicos é cada vez mais cousa televisiva. Um desastre. Sim, o dinheiro tem de vir de algum lado, sabemos isso, mas tudo o que é demais é moléstia. E a classe média está à beira de ser garrotada.
Os querubins de Passos nunca pensaram na classe média, habituados às extravagâncias virtuais, eles só exultavam quando os chocalhos tecnológicos tocavam, tudo quanto cheirasse a cultura preferiam a inculta (Alain Bloom), tudo quanto fosse no sentido da discussão da essência da social-democracia motivava-lhe risadinhas disparatadas (ainda acudi ao convite de Jorge Moreira da Silva, após a sessão inicial desisti de imediato), só após serem apeados do poder Passos proclamou a sua paixão pelo cânone social-democrata.
A geringonça gira embalada pela maioria, não adianta continuar Passos a encharcar lenços, a teimar no Pin, a soletrar soluços, não adianta os militantes do PSD descarregarem a electricidade nervosa contra os socialistas, adianta isso sim, pensarem a estratégia de os confrontarem seriamente com o futuro. O nosso futuro. E, ao fazê-lo, sem serem atarantados equacionarem o presente do Partido. Passos passou, só que ainda não o percebeu. Ponto final. Parágrafo!

O pulo do gato

Minha gente, como têm passado? Bem, certamente. Espero que os cestos de uvas tenham rodado pesados pelas mãos de quem teve o saudável privilégio de os carregar, caíram umas águas e os ouriços despontam a bom ritmo. Bons prenúncios. A época de vindimar é sempre altura de fazer contas, neste novelo de ciclos em que se vai desenrolando a vida de cada um e de todos sem excepção. Poucas coisas há mais prazerosas do que colher os frutos. A alegria tão natural de alcançar o resultado final, intensificada pela noção de todo o árduo esforço por que se passou para tão revigorante fim, e isto aplica-se aos desafios por que passamos a todos os níveis. A importância das colheitas enquanto acto desde sempre inerente à condição humana constitui uma matéria presente em muitas vertentes, representações artísticas desde que o homem anda por cá, celebrações e festividades que cosem a matriz cultural de cada lugar ou por exemplo os infindáveis provérbios e parábolas que os homens souberam usar para se fazerem ouvir e perpetuar uma série infindável de úteis conselhos e saberes, e que vindos de há muito tempo se mantêm bem à tona da língua. Alguém escrevia há um par de dias que por mais que digamos em Janeiro que “ano novo, vida nova” e nos queiramos convencer de que uma nova fase recomeça, é em Setembro que verdadeiramente se entra em mais um ciclo, em mais uma temporada, depois das férias, depois do Verão, é o mês primeiro de mais uma etapa a enfrentar. Já não são propriamente as colheitas que durante toda a humanidade marcaram este virar do ano, mas uma série de outros factores que continuam a vincar essa mudança. Ainda a natureza, sempre a natureza, acima de tudo o mais. “São as águas de Setembro fechando o Verão”. Por isso, onde quer que vos encontreis, um bom recomeço e um bom novo despertar para mais uma temporada. Saúde!
Mas ainda não termino por aqui. Vou pegar na deixa adaptada de António Carlos Jobim e dar um pulo para o lado de lá do Oceano. Vou contar-vos uma história, partilhar algo convosco, afinal que piada tem andarmos por aqui se não partilharmos as coisas que vivemos e com as quais nos vamos cruzando. Há pouco tempo li um livro de um autor brasileiro que tenta explicar a origem de algumas palavras e expressões do português. As explicações dadas não são muito longas nem citam fontes, por isso nem sempre parecem muito fidedignas, mas é louvável a intenção do autor, escrita engraçada, boa leitura de Verão. O pulo do gato. Fábula originária de Minas Gerais, Sudeste brasileiro. Resumindo e por vezes citando: havia uma onça que vivia admirada com a agilidade do gato. Curiosa, resolveu pedir-lhe umas aulas. O gato aceitou ensiná-la. Um dia, achando que já havia aprendido tudo, a onça resolveu atacar e pegar o gato como refeição… mas o gato sumira. Dias depois, ao encontrá-lo, a onça perguntou: “pois é compadre, esse pulo você não me ensinou.” E o gato, muito astuto: “Pois é comadre, é ele que me mantém vivo!” Em jeito de moral da história depreende-se que nem sempre o chefe ensina tudo ao aprendiz, há que manter alguns segredos do ofício pois não se pode abrir o jogo completamente. Nem abrir o jogo todo nem abrir muito a guarda. Afinal quem nunca deu um pulo de gato? Ou quem nunca pulou que nem onça a pensar que o gato já não escapava? Outra leitura, a de que às vezes há coisas que convém manter meio encobertas, quanto menos pessoas souberem melhor. Lembro-me de uma praia sempre deserta onde só se chegava a muito custo, quase melhor por mar do que por terra, e que depois de ser capa de uma dessas revistas de viagens e coisas para fazer se inundou de gente e de lixo, segundo soube. Perdeu a piada para todos. São os pulos do gato. Coisas que acontecem aos vivos. Coisas que convém ficarem na manga. Coisas que se passam na língua portuguesa. É maravilhoso pertencer a uma mesma língua que nos pode contar histórias de vivências comuns, de gentes distantes que vivem lá longe onde o Outono começa em Março, e através da qual podemos trocar estas histórias que uns inventaram e outros não se lembraram de criar. Permuta e partilha de vivências e culturas como crianças a trocar autocolantes repetidos depois da escola. Lindo. (…) É uma ave no céu, é uma ave no chão, é um regato é uma fonte, é um pedaço de pão… São as águas de Março fechando o verão, é a promessa de vida no teu coração…pa padaba pa padaba pa…

Em nome da Transparência

Na política, a transparência é uma responsabilidade e uma obrigação de todos os eleitos. A boa gestão dos dinheiros públicos, a prossecução do interesse público e o respeito pelos impostos pagos por todos os cidadãos, muitos deles com muito esforço financeiro, mais do que conceitos, devem ser princípios inquestionáveis.
A utilização de dinheiros públicos na gestão autárquica é um tema que deve merecer relevância e muita reflexão por parte dos munícipes. Em Mirandela, o Senhor Presidente de Câmara anunciou e aprovou a aquisição das instalações do Instituto Piaget pelo valor de 1,4 milhões de euros. Este montante, a que ninguém consegue ser indiferente, pressupõe que ficou de fora o terreno, uma vez que reverteu a favor do Município. Situação que se veio juntar ao aumento da participação variável do IMI cobrado pelo Presidente da Câmara a todos os Mirandelenses, à situação financeira desastrosa, aos empréstimos contraídos no âmbito do Plano de Saneamento Financeiro, no valor de 7,4 milhões de euros, ao atraso prolongado e sistemático de pagamento de dívidas aos fornecedores, para além da suposta engenharia na emissão de faturas a pedido, em tempos diferentes do fornecimento. Demasiado em que refletir, de facto. É indispensável uma atitude negocial rigorosa e transparente dos investimentos com dinheiros públicos.
A imperiosa, e indiscutível, necessidade de acolher investimentos privados, é contrariada em Mirandela, pela incapacidade e fraca visão política do seu Presidente da Câmara para desencadear os mecanismos necessários à atração de empresas e investidores, sem perder de vista a prudência e acautelando sempre o cumprimento das contrapartidas negociadas, sobretudo quando se trata da cedência, por exemplo, de terrenos públicos a um investidor privado.
Na negociação do contrato com uma clinica privada, foi cedido o terreno, sem nunca terem sido construídas as contrapartidas para todos, Município e munícipes. Neste caso, tratava-se da beneficiação do parque de campismo de Mirandela, com a construção de 12 bungalows que nunca chegaram a ser erguidos, não podendo, por isso, ser disponibilizados para o nosso turismo, garantindo receitas pela sua ocupação ao próprio Município e consequentemente aos Mirandelenses. Há que referir também a ausência de soluções para a derrocada de terrenos de moradias junto ao LIDL, em Mirandela. Anos depois, com custos pessoais óbvios, mantém-se tudo igual. Somos afinal todos iguais no acesso à justiça, equidade e a alguns privilégios negociais?
Assistimos à mesma situação aquando aa contratualização da Estação Ferroviária de Mirandela às Infraestruturas de Portugal, em processo de alienação à empresa Comboios de Portugal. Deveria ter sido uma prioridade política do atual presidente, na mesma proporção em que constitui uma preocupação para os Mirandelenses, face ao avançado estado de degradação do imóvel.
Em Mirandela, ambicionamos a transparência processual, o acesso generalizado à informação, a divulgação da documentação negocial e avaliações independentes de imóveis, bem como a celeridade na análise de processos de licenciamento camarário, que se espera desprendida de interesses, e de investimentos que, apesar de menor valor, também criam postos de trabalho e merecem, como todos, o devido acolhimento e a mesma agilização. Na gestão interna, importa também meditar nas injustificadas decisões políticas de integração de trabalhadores municipais em funções nada apropriadas à respetiva formação e competências, equação que alastra ao acesso a lugares de chefia e de coordenação. Em nome do mérito que assiste aos trabalhadores da autarquia. Por respeito pela enorme capacidade de trabalho que já demonstraram ter, garante do funcionamento dos serviços municipais.

É também na ótica da responsabilização que a gestão pública tem que ser assumida. Sempre, sempre…em nome da transparência!
 

Deixem-nos ensinar em paz

Ter, 27/09/2016 - 09:42


Duas alunas de Bragança, irmãs gémeas, Inês e Rita Andrade Trovisco, atingiram a medalha de bronze nas Olimpíadas Ibero-Americanas de química, realizadas na semana passada, na Colômbia. Estudam agora na Universidade do Porto, depois de terem feito um percurso notável na Escola Secundária Emídio Garcia.

“Bragança Granfondo” e “Corrida das Cantarinhas” aguardam resultados do OP

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Qua, 21/09/2016 - 14:38


O Granfondo é uma prova aberta de cicloturismo/ciclismo e que consegue juntar mais de dois mil participantes, à semelhança do que acontece no Gerês Granfondo.
A ideia dos três clubes de ciclismo de Bragança é trazer para a capital de distrito uma competição igual.