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Filme com máscaras e caretos de Pinela recebeu dois prémios no Festival de Cinema de Los Angeles

Ter, 31/08/2021 - 11:01


O filme, gravado o ano passado no Porto e em Braga, conta com a participação dos caretos e das máscaras de Pinela, no concelho de Bragança. Segundo António Paula, a história baseia-se numa reportagem feita por um jornalista a um padre, de Mogadouro, que esteve em África.

Defesa de Graça

Na altura em que escrevo esta crónica espera-se que se complete o ciclo vacinal, no que à primeira dose diz respeito, com a vacinação de mais de cem mil jovens, a maioria deles entre os 12 e os 18 anos. Esta faixa etária esteve fora dos planos de vacinação até há bem pouco tempo. E bem. Apesar de parecer a toda a gente que seria um passo lógico, necessário e indispensável para a tão ambicionada imunidade de grupo, apesar de, provavelmente, a cidadã Graça Freitas pensar como a maioria dos cidadãos, a Diretora Geral de Saúde esperou, como devia esperar, pela evidência científica necessária para validar a decisão que, podendo ter acontecido mais cedo, veio no tempo certo e adequado. Mas, nem mesmo assim se livrou de ser, mais uma vez, o bombo da festa da imprensa, dos “especialistas” e dos opinadores, a começar pelo próprio Presidente da República. Veio Sua Excelência lembrar que já tinha advogado a vantagem no uso de máscara facial, meses antes de ser tomada tal decisão. Esqueceu-se, convenientemente, de outras situações em que as suas capacidades preditivas, com base na sua inegável inteligência analítica e dedutiva, foram menos certeiras (quem não se lembra da “necessidade/conveniência” em salvar o Natal de 2020?), mas, mesmo que, até nessas alturas, tivesse acertado no alvo, continuava a faltar-lhe razão para reclamar qualquer clarividência nesta matéria. O tempo em que o rei alinhava a realidade com a sua visão, a lei com a sua palavra e a justiça com o seu julgamento, já ficou há muito, perdido na escuridão civilizacional da Idade Média. E, desse tempo, há vários relatos fidedignos e documentados de acertos providenciais no diagnóstico de doenças e de episódios em que mezinhas caseiras e de circunstância salvaram a vida a alguns dos seus autores por delas resultarem curas miraculosas de gente importante da sua época. Mas não há, porque seria impossível descrevê- -las a todas, relato das incontáveis vítimas dos pareceres “sábios” dos curandeiros da época e que, em muitos casos, “viam”, antes dos outros o que, estando à vista de todos, afinal era algo bem diferente e que só a ciência veio, mais tarde, revelar. O que ao comentador Marcelo Rebelo de Sousa poderia ser criticável, mesmo que aceitável, não é facilmente admissível no Presidente da República. Para além de que a intuição do seu ocupante, podendo ser útil em questões meramente políticas, é perigosa se extravasar as reais competências da instituição Presidência. Além de que não lhe fica nada bem ajudar ao foguetório mediático de bombardear a institucionalista (e bem) Diretora Geral de Saúde. Que tem estado bem, mesmo quando as suas ações não foram as mais adequadas, quando vistas à posteriori, mas que eram as necessárias na altura. E que por isso mesmo nos dão a confiança de acerto generalizado, de acordo com o que eram as certezas de então, ao contrário de quem anda ao sabor da opinião geral e generalizada tendo frequentemente de ziguezaguear para corrigir porque as decisões políticas foram, muitas vezes erradas ao passo que as técnicas, podendo ser, eventualmente, tardias, foram sempre na direção correta. O mal esteve quando a política se impôs à evidência. Recentemente ultrapassámos um milhão de infetados pelo Covid19. De todos os que vieram zurzir na Diretora Geral de Saúde quando foi anunciada esta possibilidade, obrigando-a a mascarar o seu parecer, devidamente fundado, como ficou demonstrado, nenhum, absolutamente nenhum veio a público retratar-se e muito menos pedir desculpa à cidadã Graça Freitas pelo que então dela disseram e pela afronta que lhe causaram. Marcelo condecorou, e bem, o vice-almirante Gouveia e Melo. Este no seu agradecimento não se esqueceu de referir que o seu trabalho se pautou sempre pela fidelidade ao determinado pelas autoridades de saúde. Ficava bem, ao Presidente da República, elogiar igualmente a DGS, na pessoa da sua competente e dedicada Diretora.

Tempo de choro e ranger de dentes

O advogado “Joe” Biden é, desde 20 de Janeiro de 2021, presidente dos Estados Unidos da América, a maior potência económica, tecnológica e militar da actualidade. Até ver. Coube-lhe a decisão final, e a correspondente supervisão, da retirada do Afeganistão das forças militares americanas e dos seus aliados, o que está a revelar- -se um fracasso monumental. É caso para se dizer que o homem mais poderoso da Terra se transfigura, neste caso, no calino cabo de esquadra da gíria militar. Não é, de facto, uma retirada bem planeada, ordeira e segura que está em desenvolvimento, mas uma verdadeira debandada militar, um estrondoso fracasso moral e um terrível drama social. Ainda que o processo tenha sido iniciado pelo polémico Bush, filho, e passado pelas mãos de Obama e Trump, a batata quente sobrou para Biden que, lamentavelmente, agora dá provas de não ter estatura para tão grandes desafios, como, de resto, já se suspeitava. Ninguém consegue compreender, por certo, como o exército nacional afegão, que arregimentava mais de 300  000 efectivos altamente bem armados, equipados e trainados, colapsou sem disparar um tiro que fosse, entregando armas e arsenais ao inimigo, de mão beijada. Houve, por certo, grandes e graves incompetências, para não dizer traições de quem, ao mais alto nível, dirigia politicamente o dito exército, o apoiava e comandava militarmente. Como também ninguém, em seu juízo perfeito, aceita pacificamente a tragédia que milhares de seres humanos estão presentemente a viver e o cruel retrocesso civilizacional que inevitavelmente se irá consumar com o assumir pleno do poder pelos talibãs, traduzido, sobretudo, no sacrifício cruel das mulheres. Sobreviva, ou não, o Afeganistão, como estado livre e independente, o mais provável é continuar a ser aquilo que sempre foi: um covil de sinistros terroristas. O pior de tudo, porém, é que Cabul não é assim tão distante de Paris, de Londres ou de Berlim quanto se possa pensar, o que não tranquiliza o mais humilde europeu que seja. Como Nova Iorque não estava assim tão distante de Cabul como se pensava antes de eclodir o trágico 11 de Setembro de 2001. Os satélites do Centro de Monitorização de Conflitos de Torrejón de Ardoz, uma agência da União Europeia (SatCen), poderão ser úteis para precaver conflitos domésticos, mas são incapazes de detectar talibãs e mujaedines equipados com cintos explosivos, no interior das grandes urbes europeias. Como de nada valerão os arsenais nucleares ingleses e franceses no combate urbano, político, religioso e social que os fundamentalistas islâmicos estão abertamente a promover e cuja arma mais cruel e sinistra é, sem dúvida, o êxodo forçado de milhares de infelizes das suas pátrias. Havemos de concluir que a grande crise da EU não é económica nem militar. É, acima de tudo, de liderança porque a generalidade dos seus políticos está atolada na mediocridade, pusilanimidade e corrupção. Lamentavelmente, a advertência que um notável grupo de generais franceses fez publicamente ao presidente Macron do risco de colapso da França às mãos de fanáticos islâmicos que atacam desapiedadamente a cultura e as tradições francesas e já impõem os seus mandamentos nos grandes subúrbios, desrespeitando a Constituição Francesa, terá caído em saco roto. O mesmo se aplica a todas as nações europeias que persistem em não separar claramente as louváveis ações humanitárias que são da sua cultura promover, das insensatas políticas de defesa e segurança nacionais. Acresce que políticos como Biden, ou Trump não são de fiar, para lá de que os americanos já não são o que eram. Ou o que foram na II Guerra Mundial, o período mais negro da história da Humanidade e da Europa muito em especial. No Afeganistão mais uma vez se confirma aquilo que sir Winston Churchill disse, um dia: “sempre se pode contar com os americanos para fazer a coisa certa – depois que tentaram todo o resto.” Só que a coisa certa para americanos como Biden, pode muito bem ser o sacrifício da Europa, abandonando os europeus com a mesma leveza com que agora abandonam os seus aliados afegãos. Entretanto a China do senhor Xi Jinping não deixará, por certo, de fornecer, na oportunidade, milhões de burcas às mulheres europeias submetidas à sharia entretanto decretada pelos novíssimos conquistadores sarracenos. E o astucioso senhor Putin não se coibirá de mobilizar o exército vermelho e ocupar toda a Europa, supostamente em defesa da cristandade, se acaso a guerra civil europeia deflagrar. É tempo de choro e ranger de dentes. Os europeus que se cuidem. 

“Quem és tu, ó Mascarado?“

Todos passamos tempos estranhos com isto das máscaras. Da novidade, veio a adaptação inevitável. Do desespero por encontrar qualquer uma, nem que fosse para trabalhos de serralharia e, de preferência, mantendo os dois rins, passando pelas de pano “que sempre seriam melhor do que nada”, aos especialistas em TNT (que antes era só AC/DC), às cirúrgicas e Ffp2 (isso soa nome de avião), até aos tutoriais para um simpático home made com resguardos de ensinar os cães a não fazer xixi pelos cantos da casa e meia dúzia de agrafos, qual MacGyver pandémico. Depois de tudo mais ou menos normalizado, começamos a ter as nossas preferências. As que encaixam melhor no nariz para não embaciar os óculos, as que não nos fazem sentir elfos, as que se mantêm efectivamente no sítio e, por fim, as que ficam melhor com a roupa que temos vestida. E passaram a fazer mesmo parte da indumentária, a ponto de nos sentirmos esquisitos sem ela. Como o slogan do Pessoa para a Coca-Cola. “Primeiro estranha-se... “. No início, pensava que o uso de máscaras nos dava um certo anonimato. “Ai, isto agora com as máscaras”, que, além de nos ensurdecer, nos poderia tornar também menos reconhecíveis. Isto a juntar a uns óculos escuros e a uma gabardina, poderíamos ser verdadeiros 007, agentes secretos prontos a não fazer nunca mais conversa de ocasião. Sonho pessoal. “Vi-te no outro dia”. “A sério? Isto agora com as máscaras... “. Remate perfeito. Acontece que agora já todos nos reconhecemos com máscara. E o mais certo é mesmo ter conhecido pessoas no entretanto (parece um paradoxo) que nunca vimos sem a dita. Por isso o mais difícil era mesmo reconhecer sem a máscara. Fizeram um estudo, se calhar também se cruzaram com ele, em que se chegou à conclusão que ficamos mais atraentes com máscara. Isto porque o cérebro preenche o que não se vê com características que agradam. No caso mais extremo, uma mulher foi considerada 70% mais bonita pelos participantes com máscara do que sem. Dá que pensar. Àquele flirt gostoso com alguém de máscara, quantas vezes se seguiu a conversa “agora vamos ver no - inserir nome da rede social - para ver o resto da cara”. Só para ter a certeza. Se pensarmos em exemplos semelhantes famosos, como o Clark Kent, o Zoro ou a Hannah Montana, chegaremos à conclusão que os pequenos pormenores talvez façam mesmo a diferença. E ficaremos confusos com assaltantes que usam meias de vidro cabeça abaixo ou passa-montanhas. Sem necessidade alguma, afinal. Ou isso ou a população tem só, no geral, um défice grave de atenção. O meu exemplo preferido é o Mascarado, do desenho animado Navegantes da Lua. Uns fantásticos óculos brancos design olho de gato, que não são para qualquer um. Além do toque fashion, ocultavam a identidade na perfeição. Não impediu que a Bunny se apaixonasse perdidamente pelo suposto estranho. Só que na verdade conhecia-o e nem se davam assim tão bem. Enfim, quem nunca? Lá mais para a frente, os óculos deixam de ter lentes que parecem espelhadas, passam a ser meias transparentes ou até inexistentes. Há alturas em que se fica na dúvida se é só uma máscara kinky, e afinal nem são óculos nenhuns. O que não muda nada em efeitos práticos. Bom, e sem outros pormenores a que se agarrar, há que fazer a conversa de ocasião possível: “Qual é o teu hobby, Mascarado? Diz-me. Tu gostas de...feijoada, por exemplo?” Em boa verdade, as Navegantes da Lua não usam máscara, só aquelas farpelas reduzidas e lycradas, com saias plissadas. E nem por isso são identificadas. Então se calhar vou aceitar que as máscaras não são o Manto da Invisibilidade, que pode antes ser obtido com um cocktail de adereços. Sejam quais forem os argumentos, neste novo mundo, que fica dentro do nosso planeta, na impossibilidade de castigar em nome da Lua e salvarmos o universo, presente e futuro, continuamos a ser, pelo menos, heróis à escala local se continuarmos a cumprir as regras. É só mais um bocadinho. Citando o Luna, “coitadinhos”. Mas lá terá que ser.