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Mirandela sai da Taça de cabeça erguida

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Ter, 23/10/2018 - 11:28


O Mirandela está afastado da Taça de Portugal, depois da derrota por 1-2, no domingo, frente ao Feirense, após prolongamento.

O confronto colocou frente a frente o emblema do Campeonato de Portugal e da 1ª Liga, mas as diferenças ficaram esbatidas dentro das quatro linhas.

Parece que...

Ouvir Bagão Félix dizer que o orçamento de 2019 não é eleitoralista soa a contranatura. Dada a reconhecida autoridade que lhe assiste, a família política a que pertence e a conjuntura nacional na qual são geradas as grandes opções do plano, eu, enquanto cidadão comum, pouco dado a contas e pouco dado a dogmas, devia abster-me de qualquer comentário. No entanto, esta “estranha tendência” de pensar nas coisas e de problematizar o que, por princípio, se aceita, não me larga desde a juventude. De facto, para além do gosto de ser livre, esta forma de estar nada mais me trouxe, sendo que por nada a trocaria. Honra, por isso, aos meus mestres que nunca me aprisionaram e me permitiram conservar esta essência.

Olhando para o orçamento, prevê-se um aumento generalizado das pensões que se situará entre os seis e os dez euros, para além do aumento regular o que irá abranger 5,1 milhões de pensionistas. A estas medidas associa-se um novo regime de reformas antecipadas por flexibilização, já reclamado há algum tempo, seja pela questão da equidade e justiça como defendem os partidos de esquerda, seja pela necessidade de renovação dos quadros como referem os da direita. O reforço da sustentabilidade da Segurança Social também é apontado como um desígnio para o próximo ano, diversificando as fontes de financiamento, sendo de destacar a consignação das receitas do IRC em um ponto percentual.

Numa outra área, o OE aponta para a redução de custos no financiamento das empresas e do próprio estado, reforçando o crescimento económico e a convergência com a zona euro, estando previstos incentivos à capitalização e ao reinvestimento dos lucros.

O aumento do abono de família e a gratuidade dos manuais, até ao décimo segundo ano, inscrevem-se nessa linha de um orçamento eleitoralista sem margem para dúvidas, pois não se pode descurar o peso que as despesas com a educação têm no bolso dos portugueses. Esta, a par de outras medidas, sobretudo a que enquadra o mínimo de existência permitindo que os salários até seiscentos e cinquenta e quatro euros mensais não paguem IRS, serão benefícios a considerar em ano de eleições e quando se sabe que salários baixos é o denominador comum no mercado de trabalho. Se a factura da luz baixar 5% - algo que depende do que o regulador decidir – o ano de 2019 augura algo de bom para as famílias portuguesas, parecendo que uma página irá virar-se de vez. Se a isto se acrescentar que o trabalho suplementar deixa de se juntar ao salário para o cálculo da retenção na fonte, pode dizer-se que, efetivamente, vai haver um aumento real de dinheiro no bolso dos portugueses.

Independentemente de com quem se negociou, este orçamento parece que também vai agradar à função pública com aumentos que podem variar entre os cinco e os trinta e cinco euros, para além do descongelamento das carreiras.

No sector da saúde, também irá haver um aumento de 5%, havendo mais investimento no Serviço Nacional de Saúde, para além do alargamento da rede de cuidados continuados e o reforço dos cuidados primários, para além do investimento em algumas unidades hospitalares, algo que se conjuga com a redução do déficit.

Ou seja, numa primeira leitura, este será o orçamento ideal. Contudo, algo menos evidente existe, já que a comissão europeia – mais atenta do que o comum dos mortais – alerta para o aumento da despesa pública primária em 3,4% e a existência de um esforço orçamental abaixo o que se recomenda. Se a isto se juntar o facto de o governo estar a contar com 150 milhões de dividendos da Caixa Geral de Depósitos que podem não chegar porque é necessária a autorização da comissão europeia e do banco central, pode estar à vista uma derrapagem que será ainda maior caso a conjuntura externa não seja favorável à economia nacional.

Na verdade, o orçamento pode não ser eleitoralista e ser, efetivamente, realista. Dentro do que é possível tenta agradar a todos, falta-lhe, no entanto, arrojo e visão a médio e longo prazo. Não vai permitir que continuemos descansados, pois as ameaças à estabilidade orçamental são mais que muitas e o dinheiro continuará a não sobrar porque nem tudo se controla e neste caso há muitas variáveis que nos escapam.

Vendavais - Os trambolhões do Orçamento

As conclusões a que alguns investigadores chegaram sobre o que se passou  quanto ao suposto roubo de armamento de Tancos, vem no seguimento das desconfianças que muitos de nós tínhamos sobre o caso. Tudo era demasiado estranho e sem sentido plausível.

O desvendar de uma série de situações incriminatórias ao mais alto nível, acabou por levar à demissão do Ministro da Defesa e para passar um pano sobre o pó que se estava a levantar em alguns ministérios, Costa resolveu, num golpe de mágica, fazer uma remodelação governamental. Deste modo desviou a atenção da comunicação social e dos portugueses para outro nível, deixando para trás não só o caso de Tancos, mas também a análise e discussão do Orçamento.

O país está a fervilhar. Há um descontrolo total. Uma série de greves com impacto nacional para além do desejável, limita muito o sentido de análise particular sobre determinados assuntos. Na verdade, não sabemos o que devemos discutir ou sobre o que devemos supostamente dar opinião, tal é a dispersão de assuntos graves em curso no país e sobre os quais não há soluções à vista. Desde a greve dos professores à greve dos enfermeiros, passando por muitas outras situações como a dos taxistas, e a dos médicos, tudo tem sido confusão.

O ministro das Finanças entregou no último minuto do tempo disponível, o Orçamento pronto para ser analisado e discutido. Foi um trabalho árduo, suponho, até porque era necessário encontrar pontos de convergência e acordo com os partidos de esquerda. Havia ameaças no ar e não eram veladas. Foi necessário ultrapassá-las.

Para amenizar a situação e acalmar os portugueses, o governo desvendou alguns pormenores do Orçamento como o aumento das pensões, aumento dos salários, descongelamento de escalões da função pública, a descida do IRC, os incentivos ao emprego no interior do país e até a aposta de uma Secretaria de Estado nova em Castelo Branco. Se as coisas fossem tão simples assim, tudo estaria muito melhor e o Orçamento seria um luxo para quem anda há tanto tempo a penar sob uma austeridade destroçadora. Mas não são.

Ninguém dá nada a ninguém sem querer algo em troca. Ora o governo não seria um mãos largas se não tivesse outros trunfos na manga. Para dar por um lado, tem de tirar por outro. Todos sabemos disso. E ele vai tirar e muito. Os supostos aumentos anunciados no Orçamento para 2019, não são reais, pois serão retirados através de impostos diretos e indirectos, como por exemplo o IRS e o IVA e o corte nas reformas antecipadas, para não falar de outras situações como o aumento do imposto sobre veículos ou mesmo os salários que ao passar de escalão passam a ser taxados por outro índice, ficando a receber menos do que antes. Enfim.

Se a comunicação social por vezes dá realce a certas notícias menos interessantes, desta vez tem primado pelos pormenores orçamentais desvendando alguns itens que nos fazem pensar mais pausadamente sobre isto tudo e mostrando o quanto este Orçamento pode ser altamente lesivo para os bolsos dos portugueses.

Por outro lado, as situações que têm vindo baralhar esta discussão têm servido de distracção pura e simples para que o pensamento e análise dos portugueses se disperse o mais possível. Todos sabemos que o Orçamento em ano de eleições tem muito de eleitoralista e este não foge à regra. Nada contra, porque qualquer outro partido que estivesse no governo faria o mesmo, mas não é necessário tomar os portugueses por lorpas. Divulga-se o “toma lá” para que todos fiquem contentes e não se refere o “dá cá”. Mas a cantiga não se altera!

A verdade é que o que aconteceu em Tancos foi demasiado grave e teve gente graúda envolvida. Todos soubera, todos sabiam, todos participavam, todos estavam em conluio e resta saber com que finalidade. É muito triste quando nem nos quadros superiores da defesa nacional se pode confiar. É uma vergonha terrível. Já não bastavam os casos de corrupção e roubo como o caso do Turismo do Norte onde os responsáveis máximos desviaram cerca de cinco milhões, como ainda ficamos a saber que os ministros também andam metidos em situações, no mínimo, altamente comprometedoras.

De qualquer modo e por mais voltas que dê a todo este emaranhado de situações, ficamos sempre com a sensação de que o Orçamento, mesmo aos trambolhões dentro da geringonça, acabará por ser aprovado, mesmo com os votos contra do PSD. E se Tancos acaba por ser esquecido mais tarde ou mais cedo, o Orçamento terá de vigorar durante o próximo ano e é com ele que teremos de viver. Resta saber quem vai ficar a ganhar alguma coisa com ele.

 

Concertinas

Três instrumentos musicais continuam a soar nos meus ouvidos, escutados entusiasticamente na minha meninice, que são a gaita-de-foles, a rabeca e a concertina. Cada qual na dupla actividade de frenético regozijo, ou de descaroçamento da vida afectiva a animar as trevas das noites longas e friorentas alumiadas por candeias e lamparinas, às vezes por fétido Petromax a adensar as sombras das pessoas alumiadas.

Os leitores de menos de cinquenta anos para seu bem não viveram em aldeias desprovidas de luz eléctrica, os de menos de quarenta anos regozijem-se porque não enterram os sapatos ou botas nos caminhos pródigos em lama, buracos e dejectos, as fontes de mergulho passaram à condição de património edificado abandonando a função de encherem os cântaros e cântaras das raparigas namoradeiras e sem namorados, dos meninos e das meninas cuja prioritária função após saírem da escola era irem à fonte.

Esses leitores e leitoras imaginem tal viver, dando consistência os relatos dos avós e pais não só acerca do monótono dia-a-dia, também dos dias nomeados de guarda das alfaias agrícolas e de outras obrigações. Trabalhava-se ver a ver, desde tenra idade, folgava-se pouco, no entanto, festa era festa.

Ora, em Lagarelhos naqueles roídos anos cinquenta, a gaita-de-foles acordava os dorminhocos como eu era. Estremunhado, num ápice lavava a cara ao modo dos gatos, agarrava um bocado de pão trigo (dia de festa), corria até ao terreiro onde os tocadores sopravam e expeliam sonoridades musicais, umas adstringentes como alguns vinhos, agudas, vibrantes, outras mais calmas ou domesticadas ao modo de tisanas a repelirem cavernosos catarros.

Sim, eu sei, os jovens de agora sabem os nomes técnicos do seu sistema de funcionamento, quais as notas musicais e possibilidades de o tocador fazer uma pausa e a gaita continuar a tocar. A Internet explica, eu gostava de ouvir a gaita-de-foles no terreiro. Já ouvi concertos de grande aparato de gaitas-de-foles na Escócia, na Galiza e noutros lados, só que a força do sopro dos gaiteiros no dia da festa em honra do Senhor porteiro do céu ficou a ecoar na minha memória colocando em segundo plano outras soltadas por esse Mundo fora.

A rabeca do sapateiro Izé (José) plangia latidos de cão sonolento pela noite fora irrompendo na casa (agora minha) através do telhado da cozinha a qual ao tempo não possuía forro. O vizinho Izé tocava mal, nas antípodas do rabequista bafejado pelo milagre de Santa Cecília, todavia adquiri uma rabeca num esconso tugúrio de Budapeste porque quando a vi apareceu-me a face tisnada, ossuda, a soltar palavras apimentadas escorridas num sorriso maroto do meu vizinho enquanto batia solas retiradas de uma selha cheia de água ou cozia tombas nas botas dos dias de feira entregues para ele consertar. Um dia deu-lhe na veneta rumar até Lisboa em busca de amor antigo, encontrou-o num instante, foram felizes, engendraram uma filha de olhos bonitos que encantaram um «capitão» de Abril. O Senhor Izé não era uma caricatura do Louco Rabequista, no entanto, quando li o relato de Fernando Pessoa, a rabeca que tantas vezes vi e ouvi na aldeia apareceu-me à frente dos olhos. Uma miragem sentimental. Forte, a exalar saudade.

A concertina rufava apelos nos caminhos escuros e lamacentos a anunciar baile, a prima Teresa vinda de S. Pedro Velho não bailava, porém sabia qual a palheira onde se realizava. A concertina anunciadora dava a volta ao povo, não tardavam a surgir as raparigas acompanhadas por sentinelas familiares dos dois sexos, os rapazes estavam de tocaia fora e dentro do espaço do baile, o homem da concertina recebia paparicos e pedidos para tocar a Linda Morena (lembro-me desta), além de outras a justificarem consentidos cravanços de unhas nas palmas das nãos das namoradas às esconsas. Os leitores de idade recordem e expliquem às netas de maneira a elas rirem sem maldade de tão (para elas) arcaicos comportamentos, as leitoras avós das aldeias digam-lhe quantas censuras e bofetadas levaram por a concertina as empurrar para a arca do peito dos pares. Os jornais regionais também devem educar para no futuro o passado não se perder. Lembro-o constantemente.

A concertina é parente pobre do acordeão, na Argentina, nas covas fundas da bela (já foi mais) Buenos Aires a concertina passa à condição de bandoneón concedendo verve maliciosa ao tango porteño, na Bragança de outras eras existiam exímias tanguistas, uma apanhadeira de malhas (já desapareceu essa função) e uma costureira dos Batoques. Mostravam a sua classe nos bailes plebeus da Associação. Lembram-se?

O falecido compositor e bandeónista Astor Piazzola propiciou intensos minutos de felicidade a quem o viu no Coliseu, um pouco por todo o lado assiste-se ao reaparecimento das concertinas, além de tal revivalismo alegrar os nossos ouvidos provoca agradável formigueiro nos pés. Bem bom!