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Ter, 20/03/2018 - 15:35


A TáBô Pacar Team vai apresentar-se no Campeonato De Portugal de Trial 4x4, que arranca já no domingo em Valongo, com muitas novidades. Desde logo o regresso do navegador Pedro Nascimento e o jipe que é novo para fazer frente às seis provas do nacional.

Falando de …. Van Gogh

Voltar atrás faz parte do nosso existir, tentando, ao mesmo tempo, resistir à força destruidora que todos os dias nos avassala. Vamos preenchendo a existência, tentando concretizar objectivos que outros já ambicionaram. Conquistar e vencer, criando modelos, indo além dos arquétipos, é programa de vida para muitos de nós.
Ultrapassar, tentando a inovação, não claudicando, recusando o estar esgotado, continuando sempre, sublimando defeitos, experienciando o vivido, filtrando obstáculos, afastando-nos de males que tentam enfrentar-nos, faz parte do nosso existir.
A vida nem sempre é fácil. Difícil se torna à medida que caminhamos. Para alguns a meta é já ali. Enfeudados a grupos onde o nepotismo campeia, para esses o ruído não existe. Alcandoram-se a lugares cimeiros, conquistando troféus, são os sequazes do princípio de Peter.
É assim desde há muito. Em tempos de monarquia, o título e a ociosidade era privilégio herdado. A sinecura pertencia ao currículo. Muitos anos volvidos, as práticas não estão distantes. Televisão, rádio e jornais mostram-nos à saciedade.
A democracia concede-nos o direito de falar e de escolher. Dá-nos acesso à liberdade. O diálogo faz parte da comunidade. A palavra pertence-nos, a menos que apareça algum Ayatola a cercear-nos o que o pensamento dita. Torquemadas de tempos modernos a patinhar no lamaçal construído por si próprios, ainda existem. Brandindo o chicote que arvoram, ameaçam quanto podem, diante da intolerância de punho fechado. A irracionalidade no seu melhor à janela dos nossos olhos, para quem goste e se deleite. Afinal talibans de barbas por crescer há-os por cá.
No meio deste desvario, ainda existe quem não peca a esperança e que encontre sempre uma nesga aberta a uma hipótese para a compensação dos seus projectos. Há a capacidade de ser sempre melhor. De avançar sem desvario. Conquistar espaço e dar azo a que sonhos façam parte da auréola de cada um. Os nossos amigos ainda existem. São eles que estando connosco salvaguardam a condenação à esterilidade e ao tédio a que estamos sujeitos, aos atropelos que nos fustigam e à astúcia dos que nos esmagam.
E há a arte. O belo que nos compensa e inebria. Os homens e as mulheres que trouxeram o mundo para junto de nós, confortando-nos no sonho e no prazer da vida. Ficaram perto de nós, mesmo tendo-se afastado. Aconchegaram a nossa existência, tornando o universo mais unido, unilingue na sua pluralidade, não interessando países ou nacionalidades. Globalizaram o espaço para nos fazerem mais humanos e mais pessoas. Foi assim e continua a ser.
De entre os que à arte deram o melhor do seu talento, como se dessa arte fizessem parte, predestinados para um mundo melhor, cabe-nos citar Vincent Van Gogh que na imortalidade escreveu o que de mais notável existe na pintura recente. Holandês, de pátria, nasceu em Zundert, a 23 de Março de 1853, filho primogénito de uma família que gerou mais cinco filhos, cujo progenitor era pastor protestante, profissão que ainda tentou sem sucesso. E sem sucesso é, praticamente, toda a sua existência. Incapaz de constituir família, incapaz de custear a própria existência, vivendo quase sempre do auxílio que lhe prestava seu irmão Theo (Theodorus), quatro anos mais novo, mesmo incapaz de manter contactos sociais. Como pintor encontrou um meio de se opor à misantropia que o dominava. A arte era para ele uma forma de equilibrar a sua existência, onde não faltaram tentativas falhadas de suicídio, que o conduziram à morte a 29 de Julho de 1890, com 37 anos, em Auvers-sur-Oise, aldeia situada a cerca de 34 quilómetros a norte de Paris, quando o relógio acusava 1h e 30m da madrugada. Através de um revólver, conseguido por meios ainda hoje não esclarecidos, dispara contra si próprio em pleno peito.
De vida difícil e saúde periclitante, depois de passar por Inglaterra e Bélgica, Van Gogh, em 1886, decide-se pela França, habitando com o irmão. Renegando o Protestantismo que havia professado, blasfemando em relação aos valores do Cristianismo, em Paris frequenta o Moulin Rouge, cabaret predilecto do seu amigo Toulouse-Lautrec, onde renegavam o Cristianismo. Face ao himeneu do irmão, parte para o sul de França. Arles, na Provença é a localidade escolhida, onde produzirá em quantidade grande parte da sua obra. Não existe ninguém para criticar a sua pintura e aí aperfeiçoa a sua técnica pictórica. A solidão domina-o. A Casa Amarela que imortalizará através da pintura, será o local onde residirá, depois de tornar um espaço inabitável numa habitação relativamente acolhedora. Insistindo no convite a Gauguin, finalmente a 20 de Outubro de 1888, acompanha-o na sua estada em Arles; para o efeito abandonaria a mulher e os cinco filhos legítimos. Quando vende algum quadro, nunca se lembra de enviar qualquer importância à família. Van Gogh passa fome e vive na maior austeridade com a escassa mesada que Theo lhe proporciona.
Gauguin, de ascendência peruana, chegou a ser condenado judicialmente por defender os direitos dos indígenas explorados pelos colonos franceses. A amizade entre Van Gogh e Gauguin vai-se deteriorando. A 23 de Dezembro de 1888, Vincent corta a orelha direita e dá-a embrulha em papel de jornal a Raquel, prostituta preferida num bordel de Arles. Era noite de Natal de 1888. Gauguin parte para Paris, alegando que Vincent o tinha querido matar com uma lâmina de barba. Vincent é atacado por epilepsia. A morte é a única solução para os seus males físicos e psíquicos. Chega a ingerir o conteúdo dos tubos de tinta de óleo e a beber essência de terebentina e as cores que ele tanto amava. Lavagens ao estômago, alimentação a horas e repouso forçado no hospital psiquiátrico onde o internaram trazem-lhe de volta à vida. São desta época o auto-retrato onde se apresenta com a orelha direita envolta em pano branco. O quadro Ísis é executado em Maio de 1889, dentro do seu quarto do hospício psiquiátrico. Em Junho de 1889 pinta a “Nuit étoilée avec cyprès”, hoje exposta no Museum of Art, de New York, em que antecipa o Expressionismo e o Abstraccionismo.
Em 1890 expõe na galeria Les Vingt, em Bruxelas, recebendo uma crítica elogiosa no Mercure de France, mudando-se posteriormente para Auvers-sur-Oise, onde findará os seus dias, sendo aí sepultado a 30 de Julho. Após a morte de Vincent Van Gogh, Theo desejava dar a conhecer a obra do irmão, o que não levou a cabo por ter morrido de sífilis, meio ano mais tarde, tendo sido trasladado em 1914 para Auvers, onde ficou enterrado junto do irmão.
A mulher, Jo van Gogh-Bouger e o filho Vincent Willem, herdeiros da obra, administraram-na segundo os desejos de Theo, vendendo uma parte da colecção e o resto emprestaram-na para exposições, tendo publicado as cartas de Theo a Vincent, que fazem parte de um conjunto de 820 chegadas ate nós, documentando o percurso artístico, as suas motivações e lutas pessoais.
Depois da morte da mãe, Vincent Willem passou a cuidar da colecção, tendo criado em 1962 a Fundação Vincent Van Gogh que pôs as obras à disposição do Estado Holandês, sob a forma de empréstimo permanente. O Museu Van Gogh, abriu as portas em 1973, mostrando-se a construção de quatro andares exígua, devido à afluência crescente de visitantes.
O Museu van Gogh gere a colecção da Fundação Vincent Van Gogh: as obras de Vincent, as suas cartas e cadernos de esboços, correspondência familiar, colecção de arte de Theo, objectos na posse da família, tais como umas caixas de laca com modelos de lã que Van Gogh usava para as suas combinações de cores.
Só depois da sua morte, lhe foi tributado o reconhecimento que não lhe tinha sido outorgado ao longo dos tempos. Vincent, o mal-amado, tornou-se herói, à medida que a sua arte se estabelece e se afirma no universo pictural. Com uma conduta depressiva, por vezes irascível, a que se juntava um percurso sentimental de insucesso, é a pintura o seu modo de se afirmar perante a sociedade e a sua tentativa de equilíbrio.
De fracasso é a sua primeira exposição apresentada em Paris no restaurante Du Chalet, no Boulevard de Clichy, em 1887, com Toulouse - Lautrec, Bernard e Louis Augustin. Nada foi vendido, sendo a apresentação acompanhada de grandes discussões, conduzindo à troca das obras entre si. Cézanne observava que as pinturas de Van Gogh eram Obras de um louco.
Desistindo das várias actividades por que passara, encontra a sua vocação aos 27 anos. A pintura fascina-o. Vai aperfeiçoando as suas figuras, tanto no volume como nas posições. Procura apoio nos livros e noutros meios auxiliares. Instalado em Haia, gostava de retratar os habitantes, como os habitantes de um lar de idosos com os seus característicos casacos negros e chapéus altos. A vida dos camponeses foi o seu tema principal, numa +época de industrialização e urbanização crescentes, enaltecendo a vida honesta e simples dos trabalhadores rurais. Uma vida ligada à natureza com os seus ciclos de semear e colher de vida e de morte.
Andava pelos campos, desenhando e pintando os tecelões e camponeses, para além de paisagens e motivos do seu ambiente mais próximo, tais como o jardim da casa paroquial e a igreja antiga com o pequeno cemitério ao lado.
Vivendo de modo precário e cheio de dificuldades, propõe a Theo entregar-lhe quadros a troco da mesada que lhe enviava. São deste período 100 cabeças do povo, afirmando que não são retratos mas tipos de pessoas que labutam no campo desde há séculos. Segundo o irmão, era difícil vender as suas telas predominantemente sombrias, em Paris, numa época em que o impressionismo com as suas cores frescas e claras estavam a conquistar terreno. Nesta linha, aparecem “Os comedores de batatas” e muitos dos quadros retratando a sua vida familiar com mulheres com quem conviveu.
Em Paris, onde viveu quase dois anos, pintou muitas naturezas mortas com flores, mas também um par de sapatos gastos. Gostava de objectos pelos quais tinha passado a vida. Utilizava cores novas e mais vivas e sobretudo tons mais claros. Pintava muitos auto-retratos. Registava a vida citadina parisiense, pintando cafés, lugares de diversão e jardins. À procura do seu estilo próprio, experimentava técnicas de pintura, com cor, com o traço de pincel, linhas e planos. Trocava obras com outros artistas e exibia quadros.
Na Provença, encontrou a luz clara e o sossego que procurava, que comparava ao Japão devido à clareza da atmosfera e dos alegres efeitos da cor. Quando chegou a Arles, as amendoeiras começavam a florir por toda a parte, iniciando-se na pintura de pomares em flor e nas cenas das colheitas. Em 1888 pintou Barcos pescadores na praia de Les Saintes-Maries-de-la-Mer. A Casa Amarela decorou-a com quadros, entre os quais Os girassóis, de que tinha pintado cinco versões de tonalidades diferentes. Gauguin não lhe reconheceu o génio, embora Van Gogh apreciasse o quadro que foi vendido há uns anos por 25 milhões de dólares. Pintar à noite, ao ar livre, à luz artificial é um desejo supremo de Van Gogh. A noite é mais viva e mais rica em cores do que o dia. O seu ponto mais alto é a noite estrelada.
Um mês antes da sua morte, pintou “Campo de trigo com corvos”. Outras pinturas mais alegres terão surgido do labor do artista.
Deprimido, inseguro, receando sobrecarregar o irmão que o ajudava, ainda lhe resta tempo para ser triste ante a infelicidade que, dizia, ameaçava o irmão
Consta que em vida não vendeu mais do que um quadro. Adquiriu-o em Bruxelas, Ana Boch, irmã do poeta, Eugène Boch, por 400 francos. Chamava-se “A vinha vermelha”. Talvez não tenha sido o único, como frequentemente se afirma.
No quase anonimato partiu para se inscrever na imortalidade. Hoje, são muitos os que o desejam conhecer. E se personalidades como esta nos arrastam do quotidiano penoso e hostil para o mundo da tolerância e da vida positiva, não há como lê-los, vê-los e contemplá-los, para sermos mais perfeitos, melhores e mais solidários…

João Cabrita   

Não foi adoptado o Novo Acordo Ortográfico         

NÓS, TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - Bartolomeu Garcia (n. Lamego, 1608)

Bartolomeu Garcia nasceu em Lamego por 1608, filho de Diogo Garcia e Maria Gomes, que se dedicavam à criação de sirgo. Trata-se de uma família profundamente marcada pela perseguição inquisitorial: irmãos, pais, tios e primos, quantidade deles, foram ocupando celas da inquisição. Por se tratar de casos por nós tratados anteriormente, evocamos a prima paterna, Maria Lopes, casada em Sambade, com António Vaz de Leão e os filhos Rodrigo Vaz de Leão e Miguel Lopes.(1)
Por 1621 Bartolomeu ausentar-se-ia para Castela, com seu tio Pero Vaz, em cuja casa assistia, iniciando-se na vida de mercador. O mesmo caminho seguiram os irmãos, em 1626, quando a inquisição prendeu a sua mãe, no decurso de mais uma operação lançada na martirizada cidade de Lamego. E seria por essa altura que, em Chaves, arrumou o seu casamento com Filipa Alvarenga, como ele próprio contou mais tarde.
- Há 25 anos em Chaves, em casa de Tomás Pinto, seu sogro agora residente na Galiza, e com Beatriz Alvarenga sua mulher, já defunta e com a mulher dele confessante, Filipa Alvarenga, estando todos juntos perguntou-lhe sua sogra porque ia fugido para a Galiza e ele respondeu que ia fugido porque em Lamego prendiam as pessoas que criam na lei de Moisés.
Mas não se pense que ficou parado em Monforte. Pelo contrário, Bartolomeu percorreu então muitas terras de Espanha e muitas vezes voltaria a Portugal, em viagens de negócios. Foram assim, 17 anos de mercador ambulante.
Regressado a Portugal, assentou morada em Vilarelhos, uma terra do Vale da Vilariça, no concelho de Alfândega da Fé. Era já um mercador de grosso trato e cabedais avultados, pelo que iniciou uma nova etapa na sua vida – a de rendeiro.
De entre as rendas que trazia arrematadas, referência especial para as do arcebispo de Braga em terras de Provesende, por 350 mil réis / ano.
Também na mitra de Braga arrematara a renda da abadia de Sambade, devendo pagar 425 mil réis no primeiro ano, baixando depois para 350 000. Mas o dinheiro não era todo entregue na mitra. Assim, descontavam-se 60 000 réis que entregava ao padre encomendado da igreja; 7 ou 8 mil réis destinavam-se a pagar os ofícios da semana santa; 6 ou 7 mil iam para o padre franciscano de Mogadouro que a Sambade ia pregar os sermões da mesma semana; 3 500 gastavam-se com os padres que participavam na festa anual dedicada ao orago da mesma igreja e eram entregues ao mordomo e 8 mil réis eram para o padre coadjutor da mesma igreja. A este, era costume dar ainda o rendeiro em cada ano 22 alqueires de trigo, para sustento.
Outras rendas mais trazia Bartolomeu arrematadas como eram as terças arcebispais de Eucízia e Adeganha ou as sanjoaneiras de Benlhevai e Rio das Cabras. Mas também a do real d´água no termo de Alfandega da Fé que ele tomara, por 20 000 réis, da mão de Pero Marcos e Manuel da Costa,(2) que traziam arrematada “a renda do real d´água de toda a comarca de Torre de Moncorvo”.
A partir dessa altura, a morada de Bartolomeu Garcia dividia-se entre Vilarelhos, onde estava a mulher e tinha casas e terras e Provesende, onde armazenava o produto das rendas. E se em Vilarelhos tinha um feitor (Francisco Martins), para dirigir as atividades agrícolas e comerciais, a quem pagava 4 mil réis cada ano, em Provesende tinha uma criada, que trouxera da Vilariça contratada por outros 4 mil réis. Curioso que em Provesende tinha 4 porcos a criar e em Vilarelhos nada consta. E se a criada é que tratava e cuidava dos porcos, não sabemos quem cuidava de dezena e meia de cabeças de gado ovino e caprino que também possuía. E para as deslocações nenhum animal era mais precioso e frugal que a sua mula, que valeria acima de 25 mil réis. Tinha ainda uma burra de criação.
Porém, acima de tudo, era mercador, mercador de vinhos, sobretudo. Só no mês de dezembro de 1647, o último antes de ser preso, ele vendeu para o Porto umas 30 pipas de vinho, como ele próprio contou:
- Disse que, no Porto, no mês de dezembro passado, vendeu ele declarante 30 pipas de vinhos, os quais eram velhos e novos, que tinha da renda de Provesende, a várias pessoas taberneiras da dita cidade, de quem não sabe os nomes, em preço a pipa a 7, outras a 6 mil réis e outras 4 cada uma como podia, conforme o vinho era, em que montaram 140 mil réis…
Não sabemos quanto pagaria aos barqueiros pelo transporte, rio abaixo, e de “direitos que se pagam na casinha”, que aquelas pipas ficariam em 20 mil réis. O armazenamento do vinho seria o maior problema de Bartolomeu que, na casa que alugara, tinha apenas 5 tonéis, correspondendo a umas 12 ou 13 pipas, cada uma valendo 3 500 réis. E os cascos não eram dele, mas da mitra de Braga. De resto, os toneis, as pipas e as adegas eram emprestados. A título de exemplo, veja-se um pequeno excerto do seu inventário:
- Tem mais 4 toneis de vinho em Provesende, que serão 11 pipas e meia de vinho, pouco mais ou menos, na adega das filhas de Esperança Taveira e 3 cascos são das ditas moças e outro casco é do cego de S. Cristóvão, que lhe deram as ditas moças para recolher o vinho, de graça.
Ao tempo da sua prisão tinha uns 23 tonéis em adegas de 10 pessoas diferentes na povoação de Provesende. Calculou ele que seriam umas 60 pipas, que, somadas às 12 ou 13 que tinha em casa, contabilizamos em mais de 1820 almudes!
Mas ele não era apenas cobrador de décimas do vinho, mas também de outros produtos agrícolas da região. Assim, armazenados na “tulha da mitra arcebispal”, tinha uns 220 alqueires de trigo e 160 de centeio; 25 ou 3 alqueires de feijões; 5 ou 6 pedras de linho; 30 alqueires de azeitona que dariam 10 almudes de azeite (“e ficara outra muita por recolher”); 10 ou 12 arráteis de lã “tingida de azul e branca e preta”; umas 7 arrobas de figos secos; 14 alqueires de castanhas e umas 25 arrobas de sumagre. Nota interessante: também vendia calabres (cordas grossas e compridas usadas especialmente nos carros de bois para prender carradas de lenha, cereal …), calabres que ele mandava vir da feitoria de Torre de Moncorvo.
Nesta contabilidade não entra o azeite, o vinho e outros produtos que colhia nas suas propriedades de Vilarelhos, nem o centeio e trigo das rendas de Sambade, Adeganha e outras que atrás referimos.
E se em Provesende tinha apenas bens provenientes da cobrança das rendas, em Vilarelhos, Bartolomeu era dono dos seguintes bens de raiz: uma casa que valia 30 mil réis; um chão ao Pontão e outro nomeado de Santa Comba; um olival no sítio da Marzoenga e outro junto ao povo e uma vinha, em sítio não referido. Podemos, pois, apresentá-lo também como agricultor.
Desde o ano de 1626 que na inquisição de Coimbra Bartolomeu Garcia tinha processo aberto com registo de várias denúncias, nomeadamente de sua mãe, irmãos e outros familiares, presos ou apresentados no “tempo da graça” decretado por Filipe II, tempo em que, como se viu, ele se abalara para Espanha. Porém, ao início do mês de novembro de 1640, foi recebida em Coimbra uma carta da inquisição de Santiago da Galiza pedindo a prisão de vários cristãos-novos portugueses entre eles o nosso biografado e sua mulher. Vejamos um excerto da carta:
- En este santo ofício están botados a prisión (…) Bartolomeu Garcia, mercador, veciño de la dicha villa de Monforte de Lemos, alto de cuerpo, flaco, de rosto blanco, de poca barba, lampino, de edad de treinta e seis años e Filipa Alvarenga, su mujer, de hasta veinte y sete años…(3)
Foi efetivamente preso ao findar de 1647, pelo futuro comissário da inquisição António de Azevedo,(4) abade da igreja de Sambade, cujas rendas ele trazia arrematadas e ao qual pagava 60 000 réis de ordenado por ano, como atrás se viu. Bartolomeu foi entregue em Coimbra em 4 de janeiro seguinte e Filipa Alvarenga, sua mulher, seguiria o mesmo caminho, meio ano depois. Ambos saíram penitenciados no auto da fé de 10.7.1650.

Notas
1-ANDRADE e GUIMARÃES, Nós Trasmontanos…, Maria Henriques (n. Vila Flor, 1650), in: Jornal Nordeste nº 1113, de 13.3.218. 
2 - ANTT, inq. Coimbra, pº 9486, de Manuel da Costa, o qual era casado com Isabel da Costa, igualmente penitenciada. ANDRADE e GUIMARÃES, Nós Trasmontanos… jornal Nordeste nº 1057, de 14.2.2017
3 - ANTT, inq. Coimbra. Pº 0619, de Bartolomeu Garcia; pº 2907, de Filipa Alvarenga.
4 - António de Azevedo era natural de Paredes, S. João da Pesqueira, filho de Pedro Álvares da Veiga, familiar do s. ofício. Ao habilitar-se, em 1649, para comissário da inquisição escrevia:
- Diz o padre encomendado na igreja de S. Maria de S. Bade (…) que no lugar onde está por Abade encomendado há 18 anos, e nas mais vilas e lugares circunvizinhos tem feito muitas prisões e diligências do santo ofício, por muitos dos senhores inquisidores da inquisição de Coimbra, porquanto nas 6 ou 7 léguas circunvizinhas não há comissário do santo ofício (…) sendo muito necessário por haver por estas partes muita gente da nação… - Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, António, mç. 8, doc. 334.
 

A TORRE DE TATLIN

A que ficou conhecida como Torre de Tatlin não passou de um projeto do arquiteto e pintor russo Vladimir Tatlin. Nunca foi construída.  Era um monumento revolucionário em ambos os significados do termo, seja o real, seja o figurado. Por um lado era composto por elementos que rodavam sobre si mesmos em movimentos cíclicos de diferentes velocidades, que a seguir descreverei, e, por outro lado, pretendia celebrar a Revolução de Outubro de 1917 e as alterações sociais em curso, na terra dos sovietes. Deveria servir de sede à Terceira Internacional que, no entender dos intelectuais e revolucionários russos, haveria de estabelecer uma nova ordem em todo o mundo, a partir das margens do rio Neva em Petrogrado.
A projetada construção era constituída por uma dupla espiral metálica, antecipando a forma adotada pelo DNA de todos os seres vivos, recordando a escada espiralada do castelo Chambord, projetada por Leonardo da Vinci e assemelhando-se ao minarete da Grande Mesquita de Samarra que, por sua vez, se terá inspirado na bíblica Torre de Babel.
Segundo o projeto do seu autor, integrado no movimento construtivista (que viria a ser perseguido pela corrente do realismo socialista, imposta por Estaline), no interior da formação helicoidal seriam construídas quatro estruturas diferente, que rodariam, continuamente e a velocidades diferentes. A maior de todas, na base, um cubo, rodaria de forma a perfazer uma volta completa num ano. Logo a seguir, uma pirâmide, demoraria um mês a rodar sobre si própria. Um cilindro iria consumir um dia para fazer uma rotação. Mais rápida seria a esfera do topo cujo tempo de rotação era de apenas uma hora. Estes espaços cinéticos teriam funções diferentes sendo o primeiro dedicado às atividades legislativas, o segundo às executivas e o terceiro à informação. A última iria servir para albergar um ecrã de projeção de onde emergiriam a antena duma estação radiofónica. Elevadores elétricas estariam encarregados de ligar todos estes corpos e, também eles, com velocidades diferenciadas, asseguravam o funcionamento de todo o edifício e facilitavam as intercomunicações.

Há quem ainda veja no magnífico projeto uma alegoria ao grande relógio cósmico que replicava, nas suas diversas revoluções, os movimentos terrestres e a cadência dos signos do zodíaco. Outros relevam a harmonia dos movimentos de rotação dos sólidos interiores semelhante ao novo processo revolucionário em curso no reino dos antigos czares.

No seu livro “Reinventar a Democracia”, Manuel de Arriaga,  propõe uma outra analogia. O economista, gestor e professor na Universidade de Nova Iorque, aponta a edificação como um ícone figurativo da realidade política dos nossos tempos: o interesse público terá de identificar e incorporar o reconhecimento de que a realidade comporta em si diferentes ritmos e diferentes temporalidades. Tal como a movimentação dos elementos móveis está relacionada entre si igualmente o sucesso prático das decisões políticas passa pelo entendimento que os interesses a curto prazo têm de se encadear e basear nos de longo prazo. Ora o maior problema dos nossos políticos e decisores públicos passa, precisamente, pelo foco no imediato esquecendo as opções estruturais de visão mais alargada e de horizonte mais longíquo. Trepam até à esfera da Torre e, uma vez ali chegados, esquecem todo o resto do sistema preocupados em manterem a sua posição junto do centro emissor, independentemente da necessidade de conceber, produzir, aprimorar e operacionalizar as decisões e ações necessárias ao efetivo benefício público.
Esta atitude, embora errada, nem sequer nos é estranha. Afinal mais facilmente tentamos evitar um cumprimento de alguém constipado, com receio de contágio no imediato, do que deixamos de fumar, sabendo que os riscos de cancro de pulmão, a longo prazo, são reais e muito mais graves.

O Regime e seus acólitos

Mal comparadas Lisboa é Roma, não a Roma do império mas a Roma de Berlusconi, e São Bento o Vaticano. E, se assim for entendido, o presidente da república Marcelo será o papa Francisco português que, como é sabido, não é bem quisto por muitos cardeais da cúria republicana embora seja idolatrado pela maioria dos fiéis.
Ainda nesta alegoria, que não pretende ser uma parábola, os partidos pouco mais são que seitas, os líderes partidários bispos e os deputados seus acólitos, coadjuvados por legiões de anjinhos que prometem levar os portugueses para o céu dos pardais, voando graciosamente na atmosfera rarefeita do Regime, lado a lado com os milhafres da desigualdade e da corrupção.
Tudo terá mais sentido se olharmos o Regime sem dó nem piedade, preferencialmente a partir da província de Trás-os-Montes que os políticos persistem em considerar uma colónia pobre e longínqua, habitada por nativos rudes e ignorantes e que ainda não comungam plenamente da religião democrática esotérica de confissão lusitana.
Claro que os transmontanos descrentes duvidam da apregoada infalibilidade dos profetas Costa, Jerónimo e Catarina escaldados que estão com os demiurgos que os antecederam. Para eles Lisboa será mais parecida com Brasília e São Bento com o Olimpo da mitologia grega, morada celeste de deputados vitalícios e de outros que tais e onde muitos dos fiéis militantes partidários sonham, um dia, montar barraca para o resto da vida.
Crentes e não crentes num ponto parecem, todavia, estar de acordo: os deputados da nação, no actual quadro constitucional bem como os autarcas mais categorizados, não passam disso mesmo: de acólitos, que o mesmo é dizer, em linguagem mais terra a terra, de sacristães e sacristãs do Regime que lhes garante prebendas e sinecuras e apenas resmungam ou se revoltam contra os bispos quando sentem ameaçadas as suas mordomias.
Quando tal não acontece, porém, cumprem exemplarmente as tarefas que lhe estão acometidas: tocam o sino, recolhem as esmolas, acendem e apagam velas, servem a água e o vinho, tratam da palamenta e da ferramenta do ofício, batem com a mão no peito, a tudo dizem amém e sobem ao altar para as leituras litúrgicas.
Tanto assim é que apesar das muitas vozes de revolta, profanas e populares, que se fizeram ouvir recentemente, quando o cardeal primaz António Costa veio em visita pastoral à diocese de Bragança abençoar o TGV castelhano e amansar os transmontanos, nenhum acólito do Regime, deputado ou autarca melhor dizendo, ousou erguer-se em defesa da região.
Mais grave ainda: uma semana depois o mesmo cardeal primaz benzia a ferrovia Évora-Elvas que, pelos vistos, pretende ressuscitar o TGV de seu correligionário José Sócrates e que não será mais rentável nem terá maior impacto nacional e regional que uma eventual via Porto-Zamora, cruzando Trás-os-Montes de lés-a-lés.
Mais grave ainda: enquanto que no Alentejo o monumental empreendimento do Alqueva é uma positiva realidade, o velho sonho transmontano de ligar os rios Tuela e Rabaçal num sistema de rega que beneficie a vasta e fértil Terra Quente continua a ser uma quimera que esturrica os campos pelo Estio. Segundo o evangelho do governo da Geringonça meia dúzia de charcas bastarão para que as rãs continuem a coaxar a seu contento. A tudo isto os acólitos do Regime, deputados e autarcas melhor dizendo, dizem nada.
E depois queixam-se que os transmontanos não vão à missa.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

LATCHO RAT!

Quem entende não lê, quem lê não entenderá, ainda mais que o título da crónica não faz parte de qualquer idioma fixado ou organizado em termos gramaticais. Construída no transcorrer dos séculos, é de todo conveniente que continue secretamente guardada por aqueles que a criaram, quais guardiães de um tesouro a conferir-lhe identidade e, tantas vezes, a livrá-los de perigos maiores. Tranquilize-se a comunidade que eu também não sei falar tal língua nem ninguém me irá ensinar… ouvi, simplesmente.
Ouvi hoje, pela vez primeira, o conceito de “racismo institucional” – expressão para a qual, confesso, nunca tinha olhado até ao momento em que o Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE o usou para se referir ao modo como as escolas portuguesas se relacionam com os alunos de origem imigrante. E, se tal se pode aplicar a todos, em geral, é dada particular ênfase à situação dos afrodescendentes que entram no sistema escolar mais tarde, acumulam mais reprovações e são, maioritariamente, encaminhados para percursos, ditos, alternativos onde se incluem os cursos profissionais e as variantes que foram criadas na década passada. Esta tese é, segundo os autores, validada por outros estudos onde se evidencia que o racismo é uma componente com forte dimensão que obstaculiza a democratização do ensino.
Estudos são o que são e valem o que valem, mas é a única forma de aceder à realidade, refletir sobre ela e de a configurar de modo a que se torne perceptível à capacidade de entendimento do ser humano; na certeza, porém, de que nunca se abarcará a realidade toda e a sua complexidade. Por isso, para no estudo emergir tal constatação, foram esquecidas outras realidades similares e que, por certo, irão aparecer noutros projetos de investigação, embora possam vir a ser enquadrados na mesma realidade e debaixo do mesmo rótulo de “racismo institucional”. Sem grande margem de erro, somos levados a afirmar que qualquer minoria étnica está sujeita ao racismo e preconceito institucionais num país que, desde sempre, galgou fronteiras e foi acolhido na diáspora.
Assim, e extrapolando este estudo, levou-me a curiosidade a consultar o Estudo Nacional sobre as Comunidades Ciganas de 2014, coordenado pela doutora Manuela Mendes para o Observatório das Comunidades Ciganas, onde se constata que, desde 1990, existiram diversos projetos para que estas comunidades fossem integradas no sistema escolar, estabelecendo uma ruptura com o passado, de forma a aumentar a escolarização. Efetivamente, africanos, ciganos e outras minorias foram chamadas à escola e gastou-se dinheiro para a implementação de programas como o Projeto de Educação Intercultural ou Programa Interministerial de Promoção do Sucesso Escolar (PIPSE), onde os agentes se sentiam realizados porque foi possível oferecer um bolo de aniversário ao menino que nem nunca tinha comemorado o dia em que nasceu. E viram que isso era bom mas não chegou para a promoção social e cultural.
O reverso ou inverso, é no entanto, apresentado no mesmo estudo de 334 páginas, quando aborda a questão das condições habitacionais dos ciganos e, por extensão, de outros grupos social e institucionalmente marginalizados: é que a este esforço do poder central para integrar minorias na escola, não corresponderam as autarquias, nem a tutela no que diz respeito às políticas de realojamento local. Nesta área, continuam a ser discriminados, seja no sector privado do mercado de habitação, seja no acesso à habitação social com base no preconceito e no estereótipo culturalmente veiculados. Por isso, concelhos houve em que nada se fez a este nível e, naqueles em que se fizeram intervenções tais não passaram de ténues apontamentos ou de realojamentos que afastaram as comunidades do acesso ao mais elementar: transportes, saúde, higiene e educação.
Por isto, não será de estranhar que as crianças ciganas ou os jovens afro não se enquadrem na escola ou cheguem a ela com roupas imundas e a tresandar a suores, quando se vem da barraca para o templo da sabedoria. Também não é de estranhar que não tragam cadernos quando a água entrou pela lona e a barraca tem mais buracos que um queijo suíço. Poderemos estar a assistir a um tempo novo, em que as autarquias reinterpretem o conceito de “políticas de proximidade” e se debrucem sobre aquilo que até hoje não quiseram ver e até ocultarem em larga medida – não aconteça que ciganos e negros ganhem consciência de que são povo e reivindiquem o que é por direito de qualquer ser humano. A miséria humana não se compadece mais com ideologias, é hora de agir.

Cuide da sua saúde oral

No entanto, a cárie dentária é uma das doenças mais frequentes em todos os grupos etários, sendo, aliás, a doença crónica mais comum entre os 5 e os 17 anos de idade.
A dor associada à cárie dentária (uma doença cronicodegenerativa) resulta em absentismo escolar, diminuição do apetite, pode afetar a linguagem, o crescimento e o desenvolvimento da criança.

Serões nas aldeias... só recordações!

Ter, 20/03/2018 - 10:19


Olá familiazinha!
Ontem festejou-se o dia de S. José, o dia do pai. Escusado será dizer que tive muito miminho do meu João André e, para o meu pai, eu quero de coração
dar-lhe um abraço em sinal de gratidão. Aos filhos que já viram partir o seu pai para a eternidade, que eles descansem em paz e que os recordem com saudade.
Hoje entra a nossa prima... a vera, que reinará até dia 21 de Junho.
Na última semana festejaram connosco o seu aniversário a tia Lurdes (59), de Grijó (Bragança), emigrante na França; a Sabrine (23), de Grijó (Bragança); a tia Rosa (80), de Possacos (Valpaços); a tia Matilde (43), de Chavães (Tabuaço); o tio Cristophe (55), o suíço mais português da nossa família; a tia Ana Maria (54), de Caçarelhos (Vimioso) e por último o tio Brilhantino (93), de Saldanha (Mogadouro), que segundo nos disse a sua esposa, ainda cultiva os seus quintais e consegue fazer bem a vénia na igreja.
Hoje vamos recordar um pouco os serões de antigamente, à luz da candeia, inspirados no livro de Mónica Ferreira, filha do nosso tio Domingos Ferreira, de Genísio (Miranda do Douro), que traduziu a Bíblia para Mirandês. Este livro «Uma Noite de Serão à Luz da Candeia», contém histórias que se contavam nos longos serões à lareira, à luz da candeia, no tempo em que ainda não havia luz eléctrica.
Fica em baixo a apresentação deste livro pela mão da sua autora e também vos deixo um dos muitos contos que constam deste livro.