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Um Verão ‘lovely’

Eu sei que não parece, mas estamos quase no Verão. Mentira! Pelo calendário, já é Verão! Se calhar quando esta crónica vos chegar, estarão a lê-la debaixo de um tórrido sol. Se for esse o caso, esqueçam tudo o que eu disse até agora, porque então é definitivamente Verão.

A chuva teima em não deixar vir o calor e o céu azul. As trovoadas, dizem que são normais, para a época. As famosas tempestades do tempo quente. Mas foram em demasia. Até o biquíni me diz que não é Verão, que afinal não comecei a dieta a tempo, e que, por isso, se adiarmos isto mais um mês, não há muito prejuízo.

Mas eu tenho saudades do Verão. Não de um Verão qualquer. Dos de antigamente. Agora o Verão é sinónimo de muita gente, de turistas. Agora há turistas. Antes também os devia haver, só que eu não reparava neles. Agora passamos muito tempo a dizer ‘welcome’ e ‘lovely’ para os transeuntes, que usam chapéus largos e fazem muitas perguntas. É bom. Deixam-nos vir! - Welcome! Lovely!

Só que não é destes Verões que eu sinto falta. Em boa verdade, há alguns anos que não tenho aproveitado o Verão, e só gosto dele porque usamos menos roupa, o que me poupa tempo na hora de sair de casa.

Tenho saudades é dos Verões na minha aldeia. Três meses inteirinhos de um bafo abrasador – como o ditado, ‘nove meses de Inverno e três de inferno’.

Era na minha aldeia que estavam a minha família e os meus amigos. Estavam ali perto, e passávamos os dias juntos. E as noites. Primeiro, quando éramos mais pequenos, com os nossos pais, que iam ao café aproveitar a fresca. E nós íamos brincar, sem nem sequer nos importarmos com as horas e sem ninguém ter que se preocupar onde estávamos. É que estávamos sempre perto e sempre bem. Se não estivéssemos, ouvia-se chorar, e algum dos amigos mais velozes ia dar o alerta. Mas isso só acontecia se houvesse ossos à mostra. Fora isso, nada doía na altura das tropelias. Uma vez torci um pé e ficou inchado, depois de me ter atirado de umas escadas. Acho que foi o máximo que me aconteceu.

Mais tarde, começámos a reunir o grupo de forma autónoma. Já éramos nós a marcar os horários de saída, e os pais de chegada. Já tínhamos telemóveis, e mandávamos ‘toques’ quando saíamos de casa. Não é que tivéssemos o futuro da Humanidade para discutir, nem que das nossas reuniões resultasse a paz mundial. Mas a verdade é que era algo essencial para aproveitar o Verão. Era essencial que estivéssemos juntos, a deitar conversa fora. E ficam muitas histórias engraçadas. Como quando, certa vez, que vimos um clarão azul atrás do cemitério da aldeia, numa noite em que falávamos de espíritos. Achámos que era algum desses espíritos mais afoito. Afinal, foi só um problema na central eléctrica. Apanhámos cá uma miúfa!

Isto era à noite. Também passávamos os dias juntos, a fazer actividades na aldeia. E, apesar de andarmos sempre como carrapatos, o tempo nunca parecia demasiado para estar com os amigos. E éramos mais amigos, porque quem estava no estrangeiro vinha passar uma larga temporada.

Quando chegava a festa da aldeia, ali a meados de Agosto, já a coisa estava a acabar. E aproveita-se ao máximo aqueles três dias de folia. Isto mantém-se. E passámos o ano todo a fazer planos para a festa do ano seguinte. Porque tão poucos dias nunca dão para completar os planos do ano anterior.

Se pudesse voltar atrás no tempo, queria só mais um Verão assim. Uma temporada verdadeiramente ‘lovely’.

Clube Atlético de Macedo de Cavaleiros regressa ao futebol sénior

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Ter, 03/07/2018 - 10:55


Seis anos depois, o Clube Atlético de Macedo de Cavaleiros vai voltar ao futebol sénior. É um regresso saudado de um dos históricos do futebol distrital. A notícia foi avançada ao Nordeste pelo presidente do clube, Luís Simão, e pelo vice-presidente, João Saraiva.

Santana

Andou por aí, antes compararam-no a inúmeras figuras bizarras, até ao vidente Zandinga, é um gozado gosto contemplar a sua foto de lenço na cabeça a imitar os piratas perna de pau, olho de vidro e cara de mau, divertimo-nos a vê-lo a estender os braços sobre os ombros das santanetes, neste tropel de lembranças, a atrapalharem-se umas sobre as outras, é o caso da pala, o seu período de empresário de comunicação social, de dirigente desportivo do Sporting, de voltas e reviravoltas, de avanços e de recuos, de amuos e gargalhadas sonoras. Enfim…cesso o aborrecimento das rememorações sobre Pedro Santana Lopes, o qual obrigou Jorge Sampaio a retirar-lhe o brinquedo da governação, dado o desgoverno a grassar a toda a hora e momento. As comparações são odiosas, por isso mesmo limito-me a vincar o recente vendaval a fazer voar cabelos e cabeleiras no Estádio José Alvalade.

Porque trago Santana à baila nesta altura? Porque concedeu uma entrevista que é a antítese da sua recente campanha destinada a convencer os militantes do PSD a entregar-lhe a presidência do Partido. Pois nessa entrevista esquece a paixão partidária, esquece tudo quanto disse acerca da sua fidelidade ao partido, renega a militância e bem pior, coloca em causa todos quantos de boa-fé, seduzidos ante os seus apelos, lhe deram gasalho e o voto.

O Senhor Lopes gastou o lápis registador dos compromissos, usou a borracha apagando as promessas de democrático acatamento dos resultados eleitorais, fosquinhou a lista do Conselho Nacional, logo a abandonou e anuncia a possibilidade de criar um novo partido. E os militantes seus fiadores por esse Portugal fora? Esses militantes sérios, honrados, prestigiados, sem mácula no seu histórico viver no PSD ficarão associados a esta personalidade inconstante, dona de um ego tão alto como os Himalaias, sem remorso e pena devido aos prejuízos causado a essas mulheres e homens.

Pessoalmente, não me causou surpresa esta atitude de Santana, pela palavra falada e escrita desde há exemplifico a sua anima volúvel, a sua moleza a cumprimentar as pessoas (por experiência própria), o seu constante cirandar rebuscado no desejo (conseguido) de ser uma prima-dona nas óperas bufas no teatro político.

Criar um Partido de âmbito nacional de maneira a conseguir um razoável grupo parlamentar obriga a esforços repassados de suor, alguns milhões de euros, primacialmente uma figura aglutinadora de milhares de militantes empenhados, dispostos a sacrifícios de todo o género. Ora, Santana escavacou o prestígio que ainda detinha, militantes crédulos e desprendidos de interesses desertaram, os Bancos estão a cortar créditos a partidos e apêndices putativos. Em face dos pressupostos acima referidos não acredito no êxito da empreitada santanista, pode tentar o populismo bacoco, rasteiro e o populismo envernizado tão do agrado das demagogas e demagagos a descansarem de nada terem realizado de qualidade nas pastelarias lisboetas e portuenses, só que a Dra. Cristas já assentou arraiais nessas paragens e nas feiras imitando o célebre Paulo dos bonés hoje convertido em estrénuo zig-zag lobista ou facilitador.

Todos apreciámos e acompanhámos a candidatura de Santana a líder do PSD, na contagem dos votos os resultados falam por si, no entanto, faça o leitor o exercício de pensar no que teria acontecido caso o homem do concerto para violino de Chopin tivesse ganho. Sim, se ele tem ganho?

Aqueles rapazes do grupo parlamentar teriam rejubilado, poucos apoiam Rui Rio, tais Boys dos lugares apetecíveis apesar de andarem de monco caído não perdem oportunidade para aprofundarem o fosso entre eles e o antigo autarca do Porto. Porquê? Porque se funcionar a boa lógica da confiança política vão todos dar uma volta ao bilhar grande antes de irem trabalhar. A vitória de Rio evitou a balcanização do Partido, evitou a possível implosão, deitemos a cabeça de fora de Portugal. Basta na Itália, na França, na Espanha e por aí fora.

Nós não ficamos incólumes aos ventos estrangeiros, chegam mais tarde produzindo os mesmos estragos. Pensem nisso, caríssimos leitores.

Vendavais - A incapacidade de meia dúzia e o desespero de milhões

Continuará ser uma eterna redundância dizer ou admitir que os portugueses são perpétuos sofredores na perseguição de objetivos que raramente atingem. Diremos o mesmo daqui a um século e os que vierem depois continuarão a dizer o mesmo. Penso que não é por burrice nossa ou desinteresse intelectual. É da própria natureza das pessoas. Somos assim.

A verdade é que quando conseguimos atingir objetivos concretos, tornamo-nos heróis e, se para os atingirmos sofremos como loucos, tanto melhor, pois o sofrimento valoriza substancialmente a vitória. É o caso do que aconteceu com a nossa seleção.

Perdemos ganhando! Claramente. Sofremos etapa após etapa, vitória após vitória, mas ultrapassámos a fase de grupos. Ganhámos e ultrapassámos essa dificuldade para chegarmos aos oitavos. Todos estavam esperançados em mais vitórias para conseguirmos chegar aos quartos. O Uruguai era uma seleção ao nosso alcance. Todos acreditaram nisso. Contudo já muitos sofriam por antecipação. Todos acreditavam que Ronaldo poderia resolver a questão. Puseram aos seus ombros um peso tão grande que quase não se conseguiu mexer em campo perante o muro defensivo do Uruguai.

A tarefa foi da seleção, mas o sofrimento foi de milhões. Portugal parou para ver o jogo. O Brasil parou com os olhos postos nos ecrãs de televisão. No Uruguai, a incerteza cruzava-se com a ansiedade e a esperança. Tudo e todos estavam em suspenso. Parecia que o mundo inteiro dependia do resultado de um só jogo. Até o governo português se mudou para a Rússia! Enquanto a Catarina Martins se insurgia contra a lei das rendas e dos despejos em Portugal, na Rússia apostava-se na vitória da seleção.

A par de tudo isto, em Portugal inteiro não se ouvia falar de política. Tudo se calou. A vitória da seleção resolveria todos os problemas certamente. A alegria colmataria os possíveis problemas que surgissem e faria esquecer todas as desavenças. Mas era necessária a vitória.

Não aconteceu. Ronaldo não resolveu, a seleção não venceu e a vitória resumiu-se ao desespero de milhões que ansiavam por ela. Não podemos dizer que sobreveio a desilusão. Não. Não tivemos sorte. A incapacidade de meia dúzia foi notável perante a eficiência de um só. Nada que não se desconfiasse.

Arredado do mundial, Portugal terá de continuar o seu caminho e agora torcer por quem julgar que merece. Mas quem? Afinal as grandes selecções foram afastadas. Alemanha, Espanha, Portugal, Argentina. Atípico, mas real. Até Madona sofreu com a derrota de Portugal. Seguiu o jogo, minuto a minuto, jogada a jogada na esperança de uma vitória do país que escolheu para viver. Desiludida, manifestou-o publicamente. Nada a fazer. Mesmo parcialmente descontente com o que ainda não conseguiu ter por cá, pelo menos tem a seu favor o facto de a Câmara Municipal de Lisboa lhe ter cedido terrenos para parqueamento das quinze viaturas que lhe pertencem, pela módica quantia de 720 euros por mês. Ou seja 2,78€ por cada viatura por dia. Barato, não? Pois também não é para qualquer um. É que estas mordomias só são para quem tem muito dinheiro!

Pois, mas voltemos à ansiedade dos portugueses. À conta do futebol, tudo passou para segundo plano. Não ouvimos falar os governantes em questões de política interna. Só futebol. A comunicação social só fala e transmite futebol. E agora que a seleção foi afastada, há que realçar o feito de ter chegado aos oitavos de final. Os heróis nacionais foram recebidos de braços abertos no aeroporto de Lisboa. Claro que sim. Mereceram mesmo perdendo. No ar ficou a mensagem de que a seleção continua a ser a melhor e que daqui a dois anos ainda temos algo a dizer. Quem dera!

No meio de toda a confusão até a greve dos professores passou ao lado. Mas só por dois dias, porque ela continua esta semana, mesmo com os serviços mínimos decretados ilegalmente pelo ministro. Ofuscado pela seleção, também ele se esqueceu das leis e começou a esgrimir decretos ilegais em vez da bandeira nacional. Coisas de quem está confuso!

Agora que o futebol ainda tem quinze dias para arregimentar algumas atenções internacionais, cá por dentro também mexe com os sentimentos de muitos e continua a ser manchete de jornais. É claro que o Sporting está na frente ao ter já novo treinador e um Conselho Diretivo a trabalhar para reintegrar jogadores que se “ausentaram”. A ver vamos! As eleições serão um desafio. Mas também aqui, um sportinguista ferrenho quer criar um novo partido político. Outro? Que desespero! Já não bastava o futebol? Francamente!

Falando de... António Dinis da Cruz e Silva em “A Cidade do Homem”, de Amadeu Lopes Sabino

É da cidade do homem, António Dinis da Cruz e Silva. Elvas onde foi juiz auditor na guarnição militar entre 1764 e 1775 que nos fala. Desentendimentos entre o bispo Lourenço Lencastre e o deão José Carlos Lara que o leva a recusar-se a apresentar o hissope ao bispo, o mesmo sucedendo ao deão que lhe sucedeu, seu sobrinho, Inácio Joaquim Alberto de Matos.

Frequentador dos serões familiares em casa de Francisco José da Silveira Falcato, magistrado como ele, ia ouvindo o que da querela se propalava na pacatez da cidade de Elvas e o que o deão narrava das suas desavenças com o bispo, da parcialidade do cabido que o condenara a uma coima.

Sofrendo de problemas oftalmológicos, António Dinis ia memorizando o que ouvia, ele que como poeta estivera na fundação da Arcádia Lusitana em 1756. A Cruz e Silva associaram-se outros, Correia Garção, Reis Quita, Francisco José freire, Manuel de Figueiredo. Outros se juntaram, como José Anastácio da Cunha, Filinto Elísio, Tomás António Gonzaga e Cáudio Manuel da Costa, além de Basílio da Gama, Santa Rita Durão e o satírico Nicolau Tolentino de Almeida.

Todos os aderentes se serviram de um nome arcádico, tendo António Dinis da Cruz e Silva, adoptado o de Elpino Nonacriense.

Utilizando como divisa a expressão latina Inutilia Truncat,não foi muito longa a vida da Academia, não indo além de 1777. Como indicia a expressão, o grande objectivo era banir da poesia o que fosse inútil, como as metáforas exorbitantes, as hipérboles, tentando imitar os clássicos, como Horácio, Píndaro, Teócrito, recusando o estilo gongórico e jesuítico, aproximando-se de Camões. Do talento de António Dinis sairão postumamente em 1801, em edição de Coimbra e em 1820, em Lisboa, as Odes Pindáricas onde elogia Vasco da Gama e Duarte Pacheco Pereira.

Dos serões em casa do magistrado Falcato, uma vez memorizados, versejava, ditando o que a sua verve produzia, limitando-se José Falcato a escrevê-los. Estava em embrião O Hissope, poema herói-cómico constituído por sete Cantos, que terão levado dezassete dias a ser compostos. Cantos de versos desiguais, de rima branca, cujos primeiros versos vale a pena conhecer:

Eu canto o bispo e a espantosa guerra/Que o hissope excitou na Igreja de Elvas.

Deste poema escreveu Gar-

rett em Bosquejo da história da poesia e língua portuguesa “O Hissope é o mais perfeito poema herói-cómico do seu género, que ainda se compôs em língua nenhuma: se no castigado da dicção o excede o Lutrin, no desenho da obra na regularidade do edifício, na imaginação, foi o discípulo de Boileau muito além do seu grande mestre”.

O Hissope foi publicado pela primeira vez em 1802, em Paris, com a designação de Londres, reimpresso em 1817 e em 1821, sempre em Paris, então com a designação verdadeira.

Em Portugal não era permitida a sua impressão porque o poema era proibido, contudo durante a curtíssima estada dos franceses em 1808, foi feita uma edição cujos exemplares foram de imediato recolhidos, assim que os franceses foram expulsos.

A Cidade do Homem, produto de um escritor que em Elvas nasceu em 1943 e é condenado em 1972 por crimes contra a segurança do Estado e despachado para Penamacor, local onde assentavam praça todos aqueles que haviam sido condenados, independentemente da sua habilitação escolar, Amadeu Lopes Sabino incorpora a Companhia Disciplinar como faxina na Secção de Justiça, mas, mas depois de um breve período de “empenho exclusivo na limpeza”, “desmerecedor de tocar em armas, mas merecedor de empunhar vassouras e esfregões” (P.525), quando o sabem licenciado em Direito, encarregam-no de despachar dezenas de processos esquecidos nas gavetas da Secção, muitos deles com prazos excedidos, o que permitiu a libertação de muitos militares.

Aprofundando o conhecimento da vida de Cruz e Silva que em Elvas foi juiz e julgou soldados que dos quartéis da cidade esmolavam e desertavam para as aldeias e para Espanha, por falta de meios do estado para custear as tropas, em 555 páginas é possível ler uma época em que o Marquês de Pombal dita leis em Portugal e a rainha D. Maria I é implacável na revolta em Vila Rica, no estado de Minas Gerais.

Terminada a sua missão em Elvas em 1775, Cruz e Silva é colocado como desembargador na Relação do Rio de Janeiro, onde acrescenta o Canto VIII ao Hissope, por despacho de 1776, voltando à Metrópole em 1789, ano da Revolução Francesa.

Se os ventos da Revolução chegam a toda a Europa, a exploração do ouro no Brasil está na origem de altercações em algumas regiões do Brasil para onde emigram muitos portugueses em busca de riqueza fácil e rápida.

Não era pacífico o clima no Brasil. A campanha do ouro era também uma oportunidade para o Rei aumentar os seus rendimentos. Empossado governador de Minas Gerais, em 1788, o Visconde de Barbacena impôs a entrega da derrama anual fixa de cem arrobas de ouro por habitante da província, castigando de forma severa os incumpridores.

Em 1790, Cruz e Silva é nomeado desembargador da Casa da Suplicação, o mais alto cargo legislativo. Nesse mesmo ano, alguns intelectuais, poetas eminentes, antigos colegas de Cruz e Silva na Universidade de Coimbra, participam na Conjura de Vila Rica, capital de Minas Gerais, visando a sua emancipação da mãe-pátria, influenciados pelos ideais de liberdade provenientes da Europa e que já tinham conduzido à independência os E.U.A. em 1776.

A Rainha D. Maria I convoca para o Rio de Janeiro uma comissão de magistrados, constituída por Sebastião Xavier de Vasconcelos Coutinho, António Gomes Ribeiro e António Dinis da Cruz e Silva.

A revolta, conhecida por Inconfidência Mineira, era liderada pelo alferes Joaquim José da Silva Xavier, alcunhado de Tiradentes, despeitado, pedreiro-livre de quatro costados que conspirava contra a Coroa, que arrancava dentes, curava os desgraçados, era um homem caridoso. Os desgraçados pagavam bem a caridade. Era cirurgião-dentista, para a época.

Julgado pelo tribunal de que Cruz e Silva fazia parte, o Tiradentes é condenando à morte por enforcamento, sofrendo o corpo, depois de morto, sevícias inimagináveis (p.494). Os outros cúmplices, alguns companheiros de letras de Cruz e Silva, acabaram por morrer no degredo.

António Dinis não assistiu à execução do Tiradentes, invocando doença, nesse dia foi visto de boa saúde no Rio de Janeiro, longe do local do “espectáculo”.

Em 1965, a ditadura militar promoveu o alferes a “Patrono Cívico da Nação Brasileira” e, no ano seguinte, impôs um modelo oficial para a reprodução de efígie do herói nacional: um santo laico, precocemente envelhecido, de cabelos compridos e o rosto talhado, evocação de um Cristo tropical.

Segundo o autor, Cruz e Silva, faleceu no Rio de Janeiro a 5 de Outubro de 1799, ocupando o lugar de chanceler da relação do Rio de Janeiro. Antes, em Janeiro do mesmo ano, acordara paralisado do lado esquerdo. O físico da Relação diagnosticou-lhe um estupor, receitando sangria e banhos de água fria.

Foi sepultado na Igreja dos Capuchinhos, demolida no início do século XX, quando o morro do Castelo foi arrasado, dos ossos não houve qualquer rasto.

Oswald de Andrade, escritor modernista brasileiro atribuiu-lhe uma adjectivação muito negativa. A execução do Tiradentes fez de António Dinis da Cruz e Silva uma figura negativa na História do Brasil, apesar de só lá ter vivido 23 anos.

Não sendo um romance histórico, segundo o autor, e omitindo a documentação e os arquivos consultados, há acontecimentos e datas que são indiscutíveis e que não pertencem ao domínio da ficção. Sabemos que António Dinis da Cruz e Silva existiu. Sabemos que viveu em Elvas, que frequentou a casa do Falcato. Que esteve no Brasil e que foi um dos “executores” do Tiradentes. Teve o talento necessário para reavivar o que efectivamente existiu através de uma linguagem tersa. Em quase seiscentas páginas fez-nos um retrato de um Portugal do século XVIII, que poucos conheciam. Lembrou-nos que o retrato do bispo Lourenço Lencastre se encontra exposto no Museu de Arte Sacra, em Elvas. Viajámos pelo Nada que é tudo, pessoano, de Mário de Sá-Carneiro avivou-nos a memória com um pouco mais de Sol, eu era brasa. Muitos outro autores foram chamados à colação. Silva Gaio, Rui Knopfli e tutti quanti.

Quão belo é espreguiçar-nos em páginas onde a cada momento damos conta de que a Literatura Portuguesa é tão rica! E como é bom ter como cicerone alguém que nos ajuda a conviver com a língua, que nos faz distinguir dos outros: a portuguesa língua, à maneira de António Ferreira.

 

Não foi adoptado

o Acordo Ortográfico em vigor.