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Lagos do Sabor (Ilhas de Água e Bruma)

Um lago é uma ilha de água no meio de um território mais vasto. Quer uns quer outras são formações raras no Nordeste e as que existem não são espontâneas antes foram criadas por intervenção humana. Também aí reside parte da importância do conjunto de lagos (arquipélago lacustre?) recentemente apresentado em Lisboa no auditório do Padrão dos Descobrimentos. A qualidade do projeto, a importância de que se reveste para a região e, sobretudo, a sua localização, torna-me difícil uma análise isenta e desapaixonada. Refugio-me no facto de ser cronista e não jornalista para dizer claramente o que penso e, por respeito para com os meus leitores, faço primeiro, uma declaração de interesses:

Sou desde há muito um entusiasta da barragem do Baixo Sabor que proporcionou este fantástico projeto. Foi, aliás por causa dela e da sua defesa pública que comecei esta aventura de cronista há mais de uma dezena de anos. Tenho fortíssimos laços familiares e sentimentais a Mogadouro e sou natural de Moncorvo.

Precisamente, têm origem ou raízes em Moncorvo, as duas intervenções que realmente contam e são conterrâneos de Trindade Coelho os artistas que lhe deram brilho à cerimónia, com um belo apontamento musical.

Nuno Gonçalves, Presidente da Câmara de Moncorvo, fez um excelente discurso. Realista e pragmático sem deixar de ser sensível e visionário. Partindo do retrato natural e realista que o novo lençol de água desenhou nas nossas terras pintou, em Belém, um quadro atractivo e sedutor com determinação e esperança. Tudo depende agora da vontade pública para concretizar este excelente e necessário projecto de desenvolvimento e promoção. Esse foi o mote para a intervenção da Secretária de Estado, também ela com raízes em Moncorvo de onde é natural a sua mãe e que garantiu que o PNPOT já contempla investimento direto e indireto adequado, para esta região.

É-me muito difícil destacar algo mais de tudo o resto. Gente boa, afável e acolhedora, paisagens encantadoras, gastronomia preciosa e potencial de atração, há muito por todo esse Portugal e todos os dias chega a Lisboa, prometendo histórias de encantar, lugares de perder a respiração, petiscos de provar e chorar por mais e abraços fraternos de gente genuína e generosa em troca de atenção, promoção e investimento. Records do Guiness não me parece que sejam suficientemente mobilizadores e, mesmo que captem a atenção dos média, julgo ser efémera e sem grande potencialidade futura, a publicidade assim angariada. Tudo isso explica o relativo desinteresse da comunicação social lisboeta pelo evento.

Mesmo sendo verdade que há uma enorme carga simbólica no local onde feita a apresentação, se a mensagem não for percebida por aqueles a quem a queremos fazer chegar, que utilidade poderá ter? Mais valia tê-la feito no Douro. Dos que estiveram junto ao CCB, seriam pouquíssimos a faltar lá e, seguramente, muito mais se lhes juntariam. Não tenho dúvida que a reportagem da imprensa regional acabaria por ter mais eco. Nada impediria a oportuna visita do Presidente da AMBS aos estúdios da TVI e as declarações à TSF podiam ser prestadas no local.

De qualquer forma, este passo menos acertado não pode ser razão para esmorecimento! Pelo contrário!! Chegou o tempo de arregaçar as mangas, unir esforços, congregar vontades e concretizar um projeto de inquestionável valor, para a região, para o Baixo Sabor e, sobretudo, para Moncorvo onde foi idealizado e projectado pelo antigo Presidente da Câmara, Fernando Aires Ferreira.

 

Tutti-Frutti

Os principais órgãos de informação nacionais dedicaram amplos espaços noticiosos, como lhes compete e só lhes fica bem, a mais uma alargada intervenção conjunta do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sua subordinada, representada pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção.

Acção que envolveu mais de 200 elementos das entidades referidas, visou mais de setenta objectivos diferentes, entre autarquias e sedes de partidos e que surge na sequência de muitas outras rotuladas de “operações”, à boa maneira militar, o que sugere que Portugal está em guerra, ainda que do tipo civil, muito embora, até ver, se não faça uso de canhões e de carros de combate.

Operação a que quem de direito atribuiu o título particularmente sugestivo de “Tutti Frutti”, talvez por se tratar de muita fruta, duma muito suculenta salada de frutas, diria eu. Ainda que, até ver, não meta negócios de ananases e bananas, mas de deliciosos chicos espertos em apurada calda de crimes de financiamentos proibidos de partidos, adjudicações directas de serviços a empresas com interesses de machuchos políticos, tráfico de influências e bem remunerados cargos fictícios de assessoria.

Muita fruta bichada proveniente dos pomares propagandeados como biológicos dos dois maiores partidos da podre democracia portuguesa. E tudo muito bem untado e condimentado, claro está, com dinheiros dos contribuintes que é o melhor tempero para os cozinhados da corrupção.

De salientar que o Ministério Público quando vasculha as respectivas sedes indicia não só os partidos visados mas também os seus dirigentes, as autarquias e os autarcas, mesmo que não estejam directamente envolvidos, porque desleixam a honorabilidade das instituições de que são responsáveis. Tão ladrão é o que vai ao pomar como o que fica a espreitar, é o que o povo diz.

Ainda mais prejudicados ficarão a democracia e o Regime se não forem retiradas as devidas ilações políticas e criminais em tempo útil, se os processos se arrastarem indefinidamente com as useiras e vezeiras manobras dilatórias e branqueadoras, enquanto os eventuais culpados continuam a usufruir impunemente dos dinheiros e benefícios arrecadados ilicitamente, dando aso a que casos semelhantes proliferem como se de factos normais da democracia se tratasse.

Não foi, por certo, por acaso que esta notável operação da Polícia Judiciária foi desencadeada quando os portugueses vibravam com o campeonato do Mundo de Futebol e no palco do Rock in Rio se exibiam artistas de vulto, entre os quais os principais rostos do Regime, designadamente o Presidente da República, o Primeiro-ministro, o Presidente da Assembleia da República e outros destacados políticos que, por acaso, até se ufanam de serem de esquerda.

Mais “prafrentex” teria sido tão radicais artistas políticos entoarem a conhecida balada Tutti-Frutti imortalizada pelo eterno Elvis Presley, muito embora se tivessem cantado a Portuguesa a plenos pulmões até não seria demais uma vez que estava em curso uma muito relevante operação das patrióticas forças da lei.

Optaram por cantarolar, desajeitadamente, a conformista Minha Casinha, dos lendários Xutos & Pontapés, numa tentativa ridícula de disfarçar os vícios expostos do Regime e, à boa maneira de antigamente, iludir os portugueses com a alienante bondade de “morar, num modesto primeiro andar, a contar vindo do céu”.

É a triste realidade portuguesa. Enquanto a maioria salta, e dança, e ri, e quem não salta não é da malta, uns tantos, enchem os bolsos e vivem felizes para sempre, sem remorsos e sem vergonha.

Tudo a bem da Nação.

 

Este texto não se conforma com o novo

Acordo Ortográfico.