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Vendavais: Prendas de final de ano

Após a incomensurável labuta de todo um ano em que todos, ou quase, deram o seu melhor trabalho e talento como contribuição para melhorar este santo país, seria natural que tal esforço fosse prendado nesta época natalícia. Efetivamente, recebemos variadas prendas natalícias, muito embora com alguma antecipação o que desfaz o suspense da meia-noite que tanto agrada aos mais jovens.
O Pai Natal já não desce pela chaminé de saco às costas e muito menos vem transportado pelo trenó puxado pelas simpáticas renas desde o polo Norte, atravessando meio mundo num abrir e fechar de olhos. Não. Essa história pertence a outros anais da História onde as crianças se continuam a perder e a pertencer e, ainda bem que assim é, já que pelo menos para eles toda essa fantasia é uma realidade que vivem com alguma alegria e esperança.
Para os mais crescidos, que já ultrapassaram essas fantasias, ainda que não acreditem nelas, têm de as transmitir aos mais novos para que se eternize a tradição e toda a mística que envolve o Natal. Afinal de contas, o que custa passar de geração em geração essa inofensiva tradição? Nada. Fá-lo-emos com gosto certamente.
Mas deixando de parte essas crianças e toda a alegria que as envolve nesta época, viremo-nos para as prendas que todos gostaríamos, ou não, de receber. Falemos de coisas maiores. Portugal recebeu neste final de ano algumas prendas inesperadas, quer pelo seu valor, quer pelo seu significado. E se pensam que todas elas foram boas, desenganem-se. Não foram.
De facto, fomos abalados pelo que sucedeu numa instituição onde pautam crianças e que, infelizmente para a maior parte delas, o Natal nada significa ou se tem algum significado, é o que os adultos que com elas trabalham, tentam dar-lhe nesta época. Apanhados pelas desventuras da vida e do destino, elas tem doenças raras, aliás raríssimas e merecem que o melhor a que tem direito lhes seja dado com a alegria que eles podem entender e receber. Para isso, é necessário muito trabalho, dedicação, honestidade e dinheiro. Trabalho de quem com elas convive e delas trata e dinheiro de todos nós. O que se passou e tem sido ventilado nas duas últimas semanas sobre a Raríssimas e sua diretora, é demasiado grave para passar impune. Grave pela forma como foi gasto o dinheiro que tinha um só endereço no postal de Boas Festas, as crianças, grave pela desonestidade da sua diretora e grave porque a prenda não chegou ao destino. E, penso eu, mais grave ainda porque a senhora que supostamente gere a instituição, é além de desonesta e pretensiosa, tanto ou mais desnorteada e desconforme que os menos incapacitados que por ela são geridos. Pena é que se tenha rodeado de personalidades que lhe deram a carapaça que a tem protegido até agora. Estou certo que muitos deles contribuíram sem se darem conta do logro em que flutuava toda a embarcação solidária! Talvez fosse isso. Dou-lhes o benefício da dúvida. Vamos ver agora em que águas vai continuar a flutuar esta barcaça prestes a dar à costa. Esta prenda não mereciam certamente as crianças e os adultos que a ela recorreram e que dela esperam momentos de alegria, conforto e esperança. Pois então que dêem uma prenda mais valiosa a esta Raríssimas e que venha envolta num postal mais digno e honesto. Afinal estamos no Natal!
Mas também recebemos prendas mais agradáveis, felizmente. São resultado do trabalho e sacrifício de todos nós e por isso, uma parte das prendas cabem-nos por direito, ainda que não sejamos nós a desembrulhar o presente.
A algumas semanas, quando Mário Centeno resolveu candidatar-se para presidente do Eurogrupo, foi criticado por uns e agraciado por outros, sempre na dúvida da sua aceitação. Ganhou, para mal dos que estando contra a Europa e suas decisões, não achavam nada de substancial nessa eventual vitória. Para os outros, foi a aceitação de uma política económica visivelmente satisfatória e de um país que, aos poucos, se afirma na senda de um progresso económico e social, tão do agrado de todos e até mais dos que criticam a tal Europa de quem não querem receber encomendas. Enfim! Mas as prendas são para serem aceites, ainda que só o invólucro seja o mais apetecível.
Mais recentemente foi-nos enviada outra prenda de Natal. Esta bem mais cheirosa! Finalmente saímos do lixo onde estávamos há tantos anos! Realmente já tresandava este cheiro tão nauseabundo e que tão mal nos fazia sentir. Oito anos a navegar num mar de tão intenso fedor, não é agradável. Estava a tornar-se insuportável! Finalmente uma boa prenda de Natal! Agora, fora dessa lixeira toda, podemos finalmente respirar um pouco mais livremente e ter acesso a um ar menos poluído. O raio do rating finalmente acordou! Mas não embandeiremos em arco, pois as festas ainda não começaram!

Quando a neve era farinha

Não sei se é uma grande novidade, mas... o Natal está a chegar. Não é uma coisa destes dias, nem muito menos de Dezembro. Não. Em Agosto já eu comia chocolates alusivos à quadra, ainda que derretidos e com cor esquisita. Desconfio que pertenceram a Natais passados, e que ficaram esquecidos em stock. Ainda assim, quem consegue resistir a esta tentação? Esta época apela à gula e ao sentimento. Ter sentimentos, pelo menos a mim, dá-me fome. Por isso, é lógico que anda tudo ligado.
Depois, ainda em Outubro, começaram os anúncios. Promoções de todo o tipo, brinquedos com preço inflacionado e mensagens fofinhas começaram a saltar de todo o lado, principalmente da televisão.
Tenho a ideia de que antes isto só começava lá para meados de Novembro. Certamente a seguir ao Fiéis Defuntos. Quando eu era pequena, havia umas flores brancas no jardim de casa, muito cheirosas e farfalhudas, que abriam na altura dos Fiéis Defuntos. Era assim que eu sabia que era tempo de visitar o cemitério. Quando começavam as publicidades das bonequedas, estávamos próximos do Natal, ainda que eu não soubesse quão próximos.
Começava a cheirar a Natal quando se começava a desviar os sofás para colocar o pinheiro. Era natural (sei que agora não se pode) e colhido no monte ali ao lado. Não era preciso todo, só uma galinha bonita e com uma coroa, para enfeitar com uma estrela. No mesmo sítio encontrávamos musgo, bem verdinho e com volume. Forrávamos o chão com papel de jornal e alcatifas, para não estragar nada. O musgo passava a ser a Terra Santa, mais coisa menos coisa, e em cima desenhávamos caminhos de neve. Não sei se havia neve naquele lugar há mais de dois mil anos, mas em minha casa sempre houve. A neve não era neve, claro. Essa derrete, e não me lembro de passar um dia 25 com neve à porta. Por norma era farinha, que se roubava da cozinha. Farinha, por todo o lado, que dava um efeito nevado. Olhávamos para a obra prima – o presépio – com orgulho. Ficava com frio só de olhar. Os Reis Magos era mais pequeninos do que a Nossa Senhora, o São José e até do que o Menino Jesus. Não fazia mal, porque era uma questão de perspectiva. Eles vinham longe ainda, só chegavam dali a uns dias. Como toda a gente sabe, ao longe tudo parece pequenino. Tinha ainda um pastor, ovelhas e um castelo, que ficava igualmente enfarinhado. Desculpem. Nevados.
Não sei muito bem o que simboliza o Natal, às vezes. Para mim era a simplicidade de ter um pedaço de um pinheiro, com luzes, um amontoado de musgo com figurinhas castiças e farinha a fazer de neve. Não fazia mal não ser de compra, ou não ter um aspecto realista. Era a alegria de fazer isto com a família, de mobilizar todos os esforços para aqueles momentos. Embrulhar prendas às escondidas. Comer e rir. Jogar ao ‘par e pernão’ (que é uma espécie de jogo de apostas, dos que não faz mal, porque se ganham e perdem pinhões e nozes).
Agora já há, bem barata, neve em lata. Abana-se, e há neve por todo o lado. Branca e com textura. Tem que se ir retocando, porque como é a fazer de conta, vai perdendo características, até se resumir a um material borrachoso mirrado e meio amarelo. Isto não acontecia com a farinha. Essa era autêntica, nunca mudava. Ficava a fazer as vezes da neve até aos Reis. Mais tempo do que isso, se nós quiséssemos.
Não sei o que tem acontecido ao Natal, que já não me parece tão verdadeiro. Já não chega a farinha a fingir de neve, já se compra o presépio todo numa só peça, já não se reparam as luzes pisca-pisca fundidas com as suplentes que vêm na caixa, e tanto faz que haja cores iguais seguidas. Tanto faz porque o materialismo ganhou. Não há o decoro de celebrar as ocasiões devidamente, e pode ser Natal logo em Agosto.
Gostava que houvesse mais farinha a fazer de neve. A favor do que é simples. A favor do saber sorrir com tão pouco e mesmo assim não saber como se pode ser mais feliz.

Solidariedade aqueceu Trail Nocturno

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Ter, 19/12/2017 - 14:58


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