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NÓS, TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - João Rodrigues Espinosa (n. V. Real, 1553)

Nasceu em Vila Real por 1553, sendo filho de Manuel Dias Catela, (1) advogado e de Esmeralda Rodrigues, de S. João da Pesqueira. Em Vila Real terá feito os primeiros estudos, de modo que, aos 12 anos foi enviado para a cidade de Braga a aprender Latim. Seguiu depois para Salamanca a estudar artes e medicina. (2)
Concluída a formatura, residiu 3 ou 4 anos no reino de Leão, na localidade de Vila Franca. E terá exercido o cargo de “médico do partido” em uma vila da Galiza, onde terá sido contactado para casar com uma filha de Lopo Dias, de uma poderosa família cristã-nova do Porto, o que ele recusaria.
Viria casar no Porto, sim, com Branca Cardoso, filha de Manuel Fernandes Videira e Beatriz Cardosa (Baeça), sendo portanto, cunhado de António Videira e Afonso Cardoso. O casal começou por dividir a morada entre Vila Real e Fontelonga, terra de Ansiães, assentando finalmente no Porto. Aí o vamos encontrar, em agosto de 1614, assinando um contrato com 16 chefes de família que se comprometem a pagar mil réis cada ano e “ele se obriga a curar nossas casas, filhos e famílias e criados, de todas as enfermidades tocantes à medicina que sucederem em nossas casas…”
A medicina, porém, não era a sua exclusiva e principal atividade. Antes seria o comércio e a cobrança de impostos. Assim o vemos a arrematar a cobrança de rendas em terras de Ansiães e na aldeia de Fontelonga estaria pelo ano de 1592, data em que nasceu o filho mais velho, ali batizado com o nome de Manuel Dias. O crisma recebeu-o em Vila Real e, por 1612, já a família viveria no Porto.
Para além de rendeiro, o nosso médico era mercador, um mercador de grosso, que recebia fazendas do estrangeiro e para ali remetia açúcares que mandava comprar no Brasil. E assim, em fevereiro de 1613, mandou o seu filho mais velho, então de 21 anos, com um carregamento de fazendas e ordem para empregar o produto da venda na compra de caixas de açúcar.
Corria o ano de 1614 e andava o Manuel pela cidade de S. Salvador da Baía, com “o trato e maneio e negociação, assim de seu pai como de outras pessoas”, quando ali chegou o seu irmão Gonçalo, de uns 13 anos, para o ajudar no negócio e fazer o seu “estágio profissional”.
Em 1615, tendo os negócios arrumados, Manuel regressou ao Porto, deixando na Baía o irmão Gonçalo, em casa do seu amigo Simão Mendes, que tinha um armazém junto à praia, armazém que alugava aos mercadores para depósito e local de venda de caixas de açúcar, junto ao cais de embarque. Nesse armazém ficava muitas vezes o jovem Gonçalo. E desaparecendo duas caixas de açúcar, Simão culpou-o de ser conivente no roubo, não revelando o autor do furto. Ou seria o Simão que as fez desaparecer, culpando o miúdo e outros, para se desculpar perante os donos? A insinuação foi feita anos depois por Manuel Dias, acrescentando que Simão Mendes “era um velhaco que furtara dinheiro das caixas aos donos delas (…) costumado a vender as caixas que tem em seu poder por uns preços e dar a seus donos outros menos, dizendo que não vendera por mais”.
Facto é que o miúdo regressou ao Porto e à casa paterna logo no ano seguinte. E agora aproveitamos para dizer que o Dr. João Espinosa tinha mais 4 filhos e 2 filhas, todos solteiros. Um dos filhos, o António, era advogado e outro, o Diogo, andava a estudar medicina na universidade de Coimbra.
No mês de julho de 1617, Manuel e Gonçalo voltaram a embarcar para a Baía com nova remessa de fazendas e encomendas de açúcar. Meses depois, a cidade do Porto foi varrida por um vendaval de prisões lançado pela inquisição. E foram dezenas e dezenas de grandes mercadores, num verdadeiro arraso da burguesia Portuense.
E depois de ver prender umas 40 pessoas, muitas delas das suas relações sociais e comerciais, o Dr. João Rodrigues Espinosa meteu-se a caminho da Galiza, acompanhado do seu filho António, de “um seu negrinho e um almocreve castelhano”. No seu encalço seguiu um familiar do santo ofício, chamado Sebastião Pacheco, que acabou por alcançá-lo e prendê-lo à entrada de Baiona, uma localidade da Galiza. Levado para a cadeia da inquisição de Coimbra, (3) o médico diria que viajava para Santiago de Compostela. Certamente que os inquisidores não aceitavam a explicação, antes se convenciam de que ele ia fugido para não ser preso.
Mas isso pouco importava. Mais cedo ou mais tarde, ele acabaria por confessar. Importante era o sequestro dos bens, neles incluindo “mercadorias e encomendas para o Brasil e outras partes e eram de grandes quantias”.
E então foi dada ordem para o Fisco da cidade da Baía, sequestrar o dinheiro e mercadorias que estavam com seu filho Manuel, pois ele era filho-família e tudo pertencia a seu pai. Possivelmente haveria mercadorias contratadas e outras vendidas e por pagar e o processo de confisco não seria fácil…
Obviamente que Manuel andava revoltado e soltava alguns desabafos com pessoas amigas, e de confiança. Pensaria ele que o eram. Como um tal Domingos Fernandes, mestre do navio Nª Sª do Rosário, que antes o transportara e então acostou à Baía e lhe foi “dar os pêsames” pela prisão do pai. Manuel deixou então cair o seguinte comentário:
- Disse que muitos homens que saíam a queimar que morriam mártires, por quererem sustentar a sua honra e serem homens honrados e não quererem confessar e os que confessavam eram baixos e gente sem honra, e que por confessarem lhe perdoavam. (4)
Aconteceu então chegar à Baía o inquisidor Marcos Teixeira, em visitação. E perante ele logo apareceu o dito Domingos Fernandes a denunciar. E apareceram outros, nomeadamente um António Carvalho, natural de Vila Franca, junto a Bragança, feitor da alfândega de S. Salvador da Baía e um Manuel Fernandes que há 8 meses servia como criado a Manuel e Gonçalo Espinosa. E além daquele desabafo, outras afirmações lhe imputaram. Como esta:
- Disse que Sua Majestade devia ter alguma grande necessidade de dinheiro pois prendia todos os homens da nação.
E foi quanto bastou para o inquisidor Marcos Teixeira mandar prender Manuel Espinosa, em fevereiro de 1619. E o pior é que parece ter-se esquecido do prisioneiro, regressando ele ao Reino. E ao cabo de 2 anos, estando já em liberdade o seu pai e outros mercadores do Porto, o prisioneiro fez uma exposição para o conselho geral da inquisição, expondo o seu caso. E faltando a resposta, um ano depois, fez nova exposição. O conselho geral pediu explicações a Marcos Teixeira que disse lembrar-se de que, por culpas da visitação, por ser filho de outro prisioneiro e por “passar às partes do Brasil sem licença, o mandei pôr em custódia, por ele jurar não ter quem o fiasse, e como a custódia era larga, me pareceu que era de pouco prejuízo para o suplicante ficar nela…”
A cínica declaração de Marcos Teixeira tem data de 31.1.1622. E então, sim, começou a ser organizado o processo contra Manuel Dias Espinosa, que, em 30 abril seguinte, foi embarcado na Baía e em julho entregue na inquisição de Lisboa. Para além das culpas pessoais, os inquisidores acrescentaram uma outra:
- Além de que o réu é da cidade do Porto, terra tão infecionada e filho de João Rodrigues, que foi preso em Coimbra.
Foram mais 2 anos de calvário para Manuel Dias. Posto a tormento, ficou tão maltratado que tiveram de o curar. Saiu do auto da fé (de 5.5.1624) estropiado a ponto de nas escolas gerais ficar “enfermo de cama (…) e haver mister com brevidade de xaropes, purgas e suadouros que não pode tomar nestas escolas” – conforme relataram os médicos. Foi autorizado, por 2 meses, a ir para casa de uma pessoa amiga a curar-se. Ao fim daquele tempo e continuando enfermo, “os médicos lhe dizem que será bom ir convalescer a natureza”. Autorizaram-no a ir 4 meses para o Porto. Mas “trará sempre seu hábito penitencial”. E assim termina o seu processo, sem qualquer outro despacho.

Notas e Bibliografia:
1-Os outros filhos de Manuel e Esmeralda foram: Henrique Rodrigues Catela, casado e morador em Vila Real; Gonçalo da Mesquita, que foi casar e morar em Murça e Beatriz da Mesquita, casada em Vila Real com Gonçalo Lobo.
2-Nos livros de matrícula da universidade de Salamanca aparece um João Rodrigues de Vila Real, matriculado entre 1563 e 1569. Será o nosso biografado? Nesse caso terá nascido alguns anos antes da data referida, o que não será muito anormal.
3-ANTT, inq. Coimbra, pº 1328, de João Rodrigues Espinosa.
4-IDEM,inq. Lisboa, pº 3508, de Manuel Dias Espinosa.

SOLIDARIEDADE SEM PRESSUPOSTOS

Na sequência da minha crónica anterior “Pequeno demais para crescer, pobre demais para enriquecer” acabei por abordar este tema com pessoas amigas e conhecedoras do tema e que partilham total ou criticamente a minha tese. Curiosamente, o jornal Expresso de 11 de novembro deste ano dedicava um generoso espaço à batalha contra o cancro, dando especial destaque às contribuições lusitanas nesta áreao. Afirmava o articulista, a este respeito, que quem conseguir parar o cancro irá diretamente à Suécia buscar o Nobel. Sendo um sonho, se fosse um português a consegui-lo, nem seria inédito. Mas esse não é o meu ponto de partida. Aos que afirmam convictamente que Portugal é pequeno e pobre demais para se dedicar à investigação fundamental e que tentei refutar no meu último texto, nste jornal, não posso deixar de lhes colocar algumas questões. Admitamos o evidente: há países muito maiores, muito mais ricos, com muito mais recursos humanos e técnicos que nós para poderem desenvolver todas as investigações que antecedem as possíveis soluções para combater adequadamente as várias doenças e males dos tempos atuais. Nem vou realçar o facto de que se houver esse conhecimento, obviamente que será usado, se não exclusivamente, pelo menos preferencialmente e em primeira mão, por quem o detiver (e se não fazemos investigação fundamental e não tivermos acesso, por isso, à investigação aplicada, ficamos arredados de qualquer tipo de conhecimento efetivo e contemporâneo e, logo, excluídos do mundo desenvolvido). Vou limitar-me a colocar algumas questões simples para provar que o que não faz qualquer sentido é deixar de apostar na investigação fundamental.
Nada nos garante que não seja um investigador português a descobrir a cura para o cancro. Muitos dos que já se dedicam a esta atividade contam-se entre os melhores do mundo. Por que razão haveriam de parar os seus estudos e trabalhos? Só porque, se existir uma cura e estiver acessível, ela poderá ser encontrada por investigadores, nos próximos tempos? Mesmo que fosse no próximo ano? Ou mesmo no mês que vem? Ou sequer com um único dia de atraso? Porquê dispensar o talento do Miguel Godinho Ferreira ou da Raquel Oliveira, para citar apenas dois dos referenciados pelo jornal Expresso? Mesmo que o troféu vá na quase totalidade para uma qualquer equipa estrangeira com quem colaboram e partilham experiências e conhecimentos, a simples inclusão de um nome português na placa que celebrará esse feito, é de uma relevância enormíssima. Muito superior a qualquer festa de verão, ou de inverno, ou medieval, ou futurista, ou de todas elas juntas!
E porque não se há-de fazer uso do talento da Isabel Gordo, várias vezes reconhecido e premiado em instâncias europeias, para apressar a urgente e necessária resposta às bactérias multi-resistentes? Ninguém entenderia que o financiamento da sua atividade fosse diminuído para construir e inaugurar uma qualquer rotunda ou centro interpretativo. Até porque, no que diz respeito ao dinheiro europeu que é o que quase exclusivamente suporta os trabalhos do seu grupo, a sua consignação à ciência impede que seja aplicado em qualquer outra atividade.
Que moral temos nós, que reclamamos dos nossos parceiros europeus a natural solidariedade, para negarmos aos países africanos, muito mais pobres que nós, a contribuição genial da Maria Mota e do Miguel Soares para a possível erradicação da malária? É bom lembrar que estes investigadores estão devidamente “credenciados” e suportados não só por fundos públicos do Conselho Europeu, como igualmente de vários recursos privados destacando a conhecida Fundação Bill & Melinda Gates.
Para terminar e do conhecimento pessoal e direto que tenho, posso testemunhar que os cientistas referidos trouxeram diretamente para o nosso país, “apenas” para se dedicarem á investigação fundamental das áreas a que se dedicam, financiamentos estrangeiros de vários milhões de euros. Duvido que os que criticam, com tanta ligeireza, a opção por determinada linha científica de investigação, tenham currículo semelhante para ostentar.

 

E porque não mudar o Infarmed para Boticas?

Qualquer observador minimamente atento, ainda que se limitasse ao acompanhamento do processo através dos órgãos da comunicação social, desde logo ficava com a sensação de que ninguém acreditava, talvez nem mesmo os seus proponentes, no sucesso da candidatura da cidade do Porto à importante Agência Europeia do Medicamento que, já se sabe, deixará Londres em consequência do Brexit e será reinstalada em Amesterdão, na Holanda.
Ainda assim, este insucesso da "antiga, mui nobre, sempre leal e invicta cidade” não é dramático nem desonroso e muito menos deslustra o esforço empenhado do autarca Rui Moreira que ousou arrebatar a candidatura portuguesa à “mui nobre e sempre leal cidade de Lisboa" que já foi cabeça de um secular império colonial mas que agora pouco mais é que a capital do fado e, que tem em António Costa, seu filho extremoso, um hábil executante de um penoso fadário.
Como é óbvio, o processo rendeu pingues proventos eleitorais a Rui Moreia e não tantos a António Costa, pese embora o enorme sucesso deste nas últimas eleições autárquicas. Quanto ao futuro logo se verá quem mais fica a lucrar.
Surpresa grande, isso sim, que deixou muito boa gente boquiaberta porque ninguém estava a contar com tão estapafúrdia notícia, foi o anúncio da transferência do Infarmed, entidade que em Portugal representa a Agência Europeia do Medicamento, de Lisboa para o Porto, que assim ganha importante prémio de consolação.
A seguir a um doloroso período de tragédias e comédias o Governo parece agora apostado em divertir os portugueses com um novo ciclo de embaraçantes anedotas e chistes, tal a leveza, populismo e amadorismo com que a “geringonça” governa o país, trate-se do Orçamento de Estado ou, como é o caso, de transferir um organismo público complexo e volumoso como o Infarmed, da sua localização actual para outra a mais de 300Km e sem que se vislumbre o menor interesse nacional na operação.
Que ninguém se afoite, porém, porque, no dizer do primeiro-ministro tudo se resume a uma questão de descentralização, sendo que descentralizar, para o insigne governante, significa apenas desconcentrar, isto é, reduzir o país a Lisboa e ao Porto, tornando Portugal bipolar, portanto.
Só que bipolar já Portugal o é há muito tempo dado que alterna entre estados depressivos e estados de excitação eufórica por obra dos seus inefáveis governantes.
Mas se a ideia for mesmo de descentralização então porque não mudar o Infarmed para Boticas que, além do mais, tem nome afim com o negócio dos remédios? E a sede do governo para Mirandela, por exemplo, cidade em que o PS acaba de alcançar uma vitória estrondosa, não menos sonante que a alcançada no Porto pelo independente Rui Moreira?
E, já agora, porque não há-de a presidência da República instalar-se no Castelo de Monforte que está devoluto, e já foi sede do heroico concelho de Monforte de Rio Livre, para lá de que possui melhores ares e águas que a capital do reino republicano que mantém a corte em Lisboa?
Ora, aqui está uma causa bem interessante e digna para os políticos transmontanos embandeirarem. Sobretudo os nossos mal-amados deputados que, quando no poder, se limitam a tecer loas ao governo e, se na oposição, só de vez em quando fazem umas perguntas de chacha aos ministros que, porque são pessoas educadas e politicamente correctas, sempre respondem, mal seria que o não fizessem, com palavras de circunstância que, para bom entendedor, equivalem a mandar os perguntadores abaixo de Braga.
Falando mais claro: à badamerda, com vossa licença, que é o que todos os governantes por norma fazem aos transmontanos e seus afins. Melhor seria que pura e simplesmente os ignorassem.

Entre dizer ou não, prefira ficar calado

Falar bem, no sentido de elogiar desmesuradamente, é coisa que não fazemos com frequência. Diz-se uma vez, e pronto. Está dito. Lembre-se quando for preciso. Acho que nem quando estamos a tentar conquistar alguém:"És tão bonita!", "Sou? Sou nada", "És, pois", "Eu não acho", "Pronto, acredita se quiseres".
Agora, falar mal são outros quinhentos! Quando o assunto é "falar mal" nasce logo ali uma árvore de folha persistente, que vai ramificando e crescendo.
Há aquela máxima que afirma que não importa que se fale bem ou mal. O que interessa é que falem. Deduzo que porque significa que não passamos despercebidos ou que não nos esqueceram.
Ora, pior do que o que se diz é o que não se diz. Verdade! Aquilo que fica no meio caminho entre o cérebro, onde são processadas as ideias, e o aparelho fonético, mas acaba remoído no suco gástrico do estômago. Nenhum pensamento sobrevive àquele ambiente hostil, e é mais do que certo que vão todos acabar por morrer nesta batalha, que, aparentemente, tem recurso a armas químicas. É daqui que vêm as dores de barriga, não é das porcarias açucaras que comemos nem das bebidas com gás. Isso não faz mal nenhum comparado com o resto.
E este resto tem repercussões nocivas na convivência social. Faz tão mal ao ponto de criar uma espécie de síndrome de Tourette, só que sem nenhuma explicação clínica ou tão-pouco lógica. Refiro-me àquelas pessoas que, sem que nada o faça antever, nos dirigem comentários mais ou menos insultuosos, que nos querem semear dúvida tal é o tom de ironia, que nem temos oportunidade de saborear. Isto porque, enquanto falam, continuam a caminhar, como se nada fosse com elas, e mastigam as palavras o mais que podem, quais ventríloquos maldicentes. Assim não percebemos se nos disseram "lindas botas" a gozar, se disseram "linhas tortas" aleatoriamente ou "malditas portas" por causa de algum "puxe" ou "empurre" mais traiçoeiro.
O problema é que não temos a oportunidade de nos defender. De responder à altura, ou pelo menos dizer alguma coisa. Quando processamos o que aconteceu, já o autor do comentário desapareceu na rua, Não seríamos capazes de o identificar nas autoridades, nem sequer numa mesa de café. Ficamos a olhar para o vazio, e a magicar respostas inteligentes e do mesmo nível,que nunca teremos oportunidade de usar.
Por vezes nem há palavras envolvidas. Só olhares e sorrisos enviesados que não entendemos. No outro dia, saí de casa de manhã para comprar pão. No caminho, muitos foram os que me olharam dessa forma. Pensei ter algo de diferente nesse dia. Olhei por mim abaixo, não fosse ter eu levado, por lapso, o pijama vestido. Não vi nada de especial. A senhora da padaria olhou para mim da mesma maneira. Mas que raio! Por fim, enquanto me dava os trocos, declarou: "A menina já reparou que tem a camisola vestida ao contrário?". Corei. Afinal não estava extraordinariamente bonita aos primeiros raios de sol. Com uma visão mais atenta lá vi a enorme etiqueta branca, que nunca tiro para saber a que temperatura tenho de lavar a roupa, a baloiçar do lado esquerdo. Não arranjei uma justificação plausível. Só consegui balbuciar: "Olhe, pois tenho!".
Aposto que a senhora da padaria não sofre do estômago.

Comichão e coceira

Meus caros, como têm passado? Espero que essa saúde esteja de ferro. Não vos vou perguntar por magustos porque de castanhas é melhor nem falar este ano. Quer dizer, haver há. Há sempre, de uma maneira ou de outra. Mas este ano não foi nada amigo dos soutos. Por falar em tempo, parece que por aí, embora já tenham caído umas geadas, as temperaturas andam bem amenas. Eu que estou no tropical ando a pingar do nariz há mais de uma semana e vocês aí no temperado-continental em mangas de camisa a desfrutar dos 20 graus ao sol. Nem com músicas e berloques de Natal São Pedro se deixa intimidar. Já vos disse, não duvidem das suas capacidades. Antigamente falar do tempo servia para preencher aqueles silêncios chatos, desemperrar conversas, agora é a conversa toda. Está trocado. O pessoal no elevador “bom dia, esta austeridade no sector privado até entra nos ossos”, “nem diga nada, e diz que para a semana os professores vão voltar a fazer greve a partir de quarta”. “Isto anda tudo mudado, vizinho”. Quando há tempo para se trocar três dedos de conversa, aí sim se fala do tempo, das previsões, das sequelas mais ou menos trágicas, de Setembros e Outubros passados com chuva e frio de rachar ou então com um calor ainda mais desgraçado. Algures entre o isto já não é o que era e o afinal sempre foi assim. Na verdade, os desbloqueadores de conversa estão para ficar. O que antes era acessório agora é o assunto todo, à imagem das comidas que irritam só de olhar, das cervejas caseiras e dos próprios chefes de cozinha. É porque alguém decidiu jantar rodeado de pedras-mármore, porque fulano tomou a liberdade de fazer ninguém sabe bem o quê, mas que é no mínimo revoltante ou porque escreveu uma palavrinha meio desviada sem sequer se dar conta em algum sítio de pouca monta. Esses são os assuntos. Isso é que é matéria para desfiar em conversa séria, fiada e duradoura. Não é somenos, não é o repetitivo chichi-cocó de criança a aprender a falar. É tema nacional e fracturante. É este o epidémcio caminho do vírus da discussão estéril, do debate fugaz cujo Menino Jesus teria confessado não ter interesse absolutamente nenhum, do dedo em riste à procura de bagatelas e insignificâncias para apontar. Vamos Rocinante que aqueles moinhos estão a pedi-las, os bandidos! Não tenho dúvidas de que foi assim que a humanidade avançou ao longo dos tempos. Lembro-me por exemplo de que há uns anos o Bill Clinton se fartou de piadas da sala oval e mandou um par de aviões bombardear o Kosovo para ver se se falava noutra coisa. Agora não seria necessário gastar tanto em gasolina. Podia simplesmente dizer que determinado membro da oposição usou a palavra “mariquinhas” num jantar em que estiveram juntos e que segundo consta nem sequer estavam a falar dos fados da Amália. Ou, inclusive, que tinha visto um dos seus delatores a puxar os bigodes de um gato com particular malícia quando andavam juntos na escola primária. Até porque os políticos, batidos nestas coisas da opinião púbica, prontamente entraram nesta onda do “eh, ele deu um pum” para tornar a política ainda mais apelativa e tragável. Todas estas indignações ejacolectivas e neo-conservadoras surgem e alimentam-se não poucas vezes de quem se considera com a mente muito aberta. Uma abertura que, no entanto, é pouco mais que uma ténue frincha de uma janela encravada virada para as traseiras de algum beco escuro e imundo como os daqueles filmes americanos que dão a partir da uma da manhã. O vírus neo-conservador da mesquinhez pura e enervante no tempo da pós-comunicação global e webcetera está para durar e manifesta-se sempre neste bullying da demagogiazinha socialmente correcta onde o único lado em que se pode alinhar é o da carneirada junto ao brutamontes acéfalo que arrasa e esbofeteia impediosamente todo aquele que não estiver precavido nem souber  jogar este jogo dos tempinhos modernos. A forma mais eficaz de o combater parece-me que seria chamar aquele castigador da parvoíce dos Gato Fedorento que não deixava passar estas situações incólumes e entrava em cena sem dizer palavra para descarregar uma rajada da sua pistola-metralhadora em cima de todo e qualquer oficial da palermice. -“Castigador da parvoíce! Tu aqui? [Acompanhado de uma alegria surpreendido-aparvalhada], logo de seguida rajada em cima e assunto encerrado. Creio que a pistola era nitidamente de plástico, antes que alguém à falta de desbloqueador mais sumarento se ponha com ideias. Seria uma limpeza épica e o ar tornar-se-ia muito mais leve e respirável.

Como conservar os alimentos de forma segura

O frio ajuda a conservar os alimentos frescos e a retardar o aparecimento e desenvolvimento da maioria dos microrganismos nocivos. No entanto, é importante higienizar adequadamente os frigoríficos/câmaras frigoríficas com produtos destinados a esse fim.
Também deve ter atenção ao espaço que ocupa no seu frigorífico, que não deve ultrapassar os dois terços. Quando o equipamento está cheio, até ao ponto de não existir mais espaço entre os diferentes alimentos, o ar não consegue circular e a distribuição da temperatura ficará afetada.

Conservação dos alimentos no frigorífico

Em Fátima no encerramento do centenário

Ter, 28/11/2017 - 10:47


Olá familiazinha!
Já tivemos a visita da tão desejada chuvinha, mas ficamos “inhaugados”, mas mesmo assim foi melhor que coisa nenhuma e esperemos que este Inverno, que já não está muito longe, a chuva marque presença assiduamente, para as nascentes rebentarem e encherem os rios e as barragens.
Estou contente porque a nossa família nunca cresceu tanto como nestes últimos dias. Já vamos com 47 novos membros, só este mês, mas estamos de luto porque nunca tinha acontecido que, no espaço de quatro dias, três figuras marcantes da família nos tivessem deixado. O primeiro foi o nosso tio José Rocha, de Peredo (Macedo de Cavaleiros), que estava em França e padecia de um cancro no pâncreas que o vitimou no espaço de três meses. Muitas vezes nos cantou o fado de Coimbra, de que tanto gostava, nunca esquecendo as saudações para todos os seus amigos e emigrantes que o ouviam na França. Faleceu também a tia Deolinda, de Sendas (Bragança), com a curiosidade de nos ter falado e cantado, no programa, dois dias antes da sua morte. E por último, o nosso tio Manuel Amado, de Pinelo (Vimioso), que vivia em Bragança e quando se preparava para ir ao velório da sua irmã, foi atropelado em frente a sua casa, no Campo Redondo, onde também tinha uma padaria. Que todos eles sejam recebidos por tantos anjos como vezes falaram e conviveram connosco. Os sentimentos às famílias enlutadas e paz às suas almas.
Como também festejamos a vida, na última semana estiveram de parabéns o tio Ângelo, de Rendufe (Lamego), que fez 68 anos, o tio Filipe, de Argemil (Chaves), emigrado na França, que chegou aos 43 anos e a nossa tia Luz Celeste, de Castelo (Alfândega da Fé), também emigrada na França, que completou 54 anos. Parabéns a todos e que para o ano os possamos festejar outra vez.
Quem está a recuperar e já em casa, depois de uma delicada operação ao coração, é o nosso presidente do amor e da amizade, o tio Fernandinho Moita, do Felgar (Torre de Moncorvo), a quem já estamos com vontade de ouvir a sua célebre expressão:
“— És tão linda, oh minha aldeia!”.
Esta semana deixo-vos com um cheirinho da nossa XVII peregrinação a Fátima.