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Taça Regional ACB de XCM arrancou em Mirandela

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Ter, 06/03/2018 - 14:59


A Associação de Ciclismo de Bragança (ACB) alterou o modelo competitivo da prova de BTT. O Open Regional de XCM deu lugar à Taça Regional ACB de XCM e as provas passam a ter dois percursos, um de distância curta (30 a 35 km) e outro de distância longa (50 a 55 km).

Município de Bragança distribui cerca de 135 mil euros pelas colectividades desportivas do concelho

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Ter, 06/03/2018 - 14:56


135.941 euros é o montante atribuído, este ano, pelo município de Bragança aos clubes e associações do concelho.
A verba destina-se a apoiar o desporto e a participação das entidades desportivas e atletas nas várias iniciativas realizadas ao longo do ano.

Pro memoria de Amadeu Ferreira, e do seu panegírico à Vida em Belheç/Velhice, de Fracisco Niebro

“A velhice não afasta necessariamente os homens da vida ativa porque há
uma atividade muito própria dos velhos: muitos continuam a servir
a pátria com a sua prudência e autoridade; outros entregam-se ao estudo
das letras e das ciências; alguns, ao cultivo das terras”.

 

(Cícero, De Senectute, sublinhado meu)

 

Manuel da Fonseca, num dos contos da obra O Fogo e as Cinzas, “O Largo”, escreveu: “o Largo era o centro do mundo”. Parece-me ser essa a intenção de Fracisco Niebro, no introito da obra, ao colocar o protagonista do relato, “um velho” - enfatizo a utilização do determinante indefinido -, sentado na ombreira da sua porta, isto é, na rua, que dá para um largo (p. 8) do qual faz o centro do “seu” mundo. O ancião assume na primeira pessoa o relato da vida, com laivos autobiográficos do autor. Embora o mundo, para ele, seja tão só a sua aldeia, “nos meus oitenta anos quase não saí daqui. O mundo é grande. (…) Por isso, o centro só pode ficar onde ponho a ponta da minha bengala” (p. 30). A mesma ideia é, de novo, reforçada na página 52, onde se lê: “passo os dias sentado no poial de pedra da rua: quem passa olha para mim”. Esta atitude reflexiva do velho, sobre as pessoas da sua aldeia, coloca o leitor, por sinédoque, perante o espetáculo do mundo e leva-o à autognose. A tarefa é árdua, mas ele não desiste de recordar/escrever para nos questionar, “desde que estou aqui sentado na rua já passaram mais de cem pessoas” (p. 98). 
Qual é, então, o propósito do velho/da obra? As intenções são várias. Em primeiro lugar, reiteramos a questionação do leitor para o levar à reflexão sobre a vida e a melhor forma de a “merecer”. Por isso, o autor nos faculta uma espécie de manual, isto é, uma carta de intenções que, segundo creio, constituiu a sua filosofia/ideias de vida, fixada na página 38, sempre atual e de muita utilidade para o cidadão hodierno.
A reflexão do velho, escrita com grandes dificuldades físicas, é feita em flashback, recordando as memórias do passado para chegar à desconfortável conclusão: “há coisas, por exemplo cantigas, em que já não caibo, mundos que parecem já nada querer ter a ver comigo” (p. 8). Estas palavras trazem à memória do leitor a réplica de Beresford a Principal Sousa, da obra Felizmente Há Luar! de Luís de Sttau Monteiro: “o velho está sempre a ceder perante o novo e o novo sempre a destruir o velho.”  Parece-me que é também para isto que a personagem/narrador/velho escreve, ou seja, para ser memória futura do povo e das tradições que enformaram a sua vida e que persistem em continuar, apesar da veracidade das palavras de Beresford.
Por conseguinte, o velho, ciente do inexorável curso de Apolo, decide perpetuar a sua memória através da escrita, “depois, veio-me a vontade de escrever”, que lemos na segunda página da obra (p. 8). Esta vontade, em meu juízo, traduz-se em dois propósitos: o primeiro, em não deixar morrer as tradições e a língua de um povo, pelas quais o autor se bateu, de forma abnegada, ao logo da sua vida; o segundo cumpre-se no legítimo e almejado desejo do homem, Amadeu Ferreira, em nos legar uma obra perene que jamais possa ser ignorada. Esta postura lembra o tópico da imortalidade que se adquire pelo valor da obra literária, imortalizado na ode XXX do livro terceiro de Horácio .
O ato de escrita aparece-nos, nesta obra, associado ao nutriente que prende o escritor à vida: “escrever é como um alimento que me vai mantendo vivo, tal como a bengala me permite manter-me de pé” (p. 56). Logo, a escrita, aliada à sabedoria da palavra, que é equiparada a diamante que brilha (p. 20), remete, em minha opinião, para a possibilidade de a literatura transformar o mundo real. Pois, como assevera Vítor Aguiar e Silva, na obra Teoria da Literatura, “o escritor, ao emitir o seu texto, não só transfigura o real nomeado ou aludido, mas reinventa e instaura o próprio real, o real absoluto, com a urdidura encantatória do seu discurso.”  Nesta postura do escritor fulge a figura de Prometeu que, lato sensu, simboliza a capacidade de a comunicação literária contribuir para transformar o real, o real antropológico e o real histórico-social. As palavras do autor de Velhice corroboram estes preceitos: “gostam de sentir que as histórias têm uma vida diferente, como os sonhos. As histórias ensinam a sonhar e falam de um mundo tão diferente que fazem nascer a vontade de mudar aquele em que vivemos” (p. 108). No entanto, esta força performativa da palavra pode ser ineficaz se o leitor se recusar a aceitá-la, como se depreende das palavras do autor: “pensamos que já sabemos tanto que nunca somos capazes de encontrar um espaço para aprender” (p. 64).
Na base destas preocupações patenteia-se a ideia angustiante do esquecimento que para o escritor se assemelha à morte: “estar só não é morrer, é não nascer. Uma pessoa morre quando já ninguém olha para ela” (p. 32) . Creio não restarem dúvidas aos leitores mais assíduos da obra de Amadeu Ferreira que a sua luta, ou melhor, a sua escrita, foi sempre esta pugna hercúlea contra o esquecimento, que, não raras vezes, dói mais do que o próprio óbito. É por esta ordem de razões que se aceita que toda a vasta produção literária de Amadeu Ferreira, e esta em particular, foi animada pelo anelo de se “libertar da lei morte”.
Outro grande filão do livro cumpre-se no título desta crítica, isto é, o elogio da existência, sempre associado à ousadia e à vontade de querer vencer e antecipar o futuro, pois “apenas é nosso o que fazemos porque o queremos” (p. 50). Este encómio à vida está patente nas palavras do autor: “quando olho para trás e vejo o que ficou, sorrio. Houvesse quem fora capaz de sorrir e olhar para a frente… Nada há tão difícil como isso. Olhar para diante mete medo. E com medo ninguém sorri com vontade. E quando ninguém sorri, as coisas e a vida ficam tão pesadas que custam a suportar” (p. 44, sublinhado meu). Mas por mais espinhosa que seja a nossa missão, em vez de desistir devemos recomeçar, uma vez que “quando se perde a vontade de começar, começamos a morrer” (p. 46). E Amadeu Ferreira foi um exemplo acabado desse recomeçar, porque a energia e a força telúrica, imortalizada por Torga, que sorvia das arribas do Douro, o impelia a “nunca contentar-se de contente”.
Todavia, uma certa desilusão atormenta o escritor, porque ninguém pensa nada, “para pensar, há que parar. (…) E como ninguém pensa, nada muda” (p. 28). Registe-se que o sofrimento está associado à lucidez e à inquietação das pessoas, pois “quem mais sabe mais sofre.” (Cf. Pessoa “se estou só, quero não estar”.) O ato de cogitar aumenta o conhecimento e, por conseguinte, o sofrimento: “até os velhos, porque pensam mais, morrem mais depressa” (p. 28). O idoso acaba por sucumbir ao afirmar: “por vezes sabe muito bem uma pessoa não se lembrar de nada e ficar encandeada com coisas tão pequeninas como florzinhas de telhado” (p. 126).
Ouso, pois, afirmar, sem ambages e dissídios, que Fracisco Niebro/Amadeu Ferreira se “libertou da lei da morte” e continuará perenemente, como lembra Horácio, a viver na vastíssima e riquíssima obra que nos legou. Pois ele, mais que outrem, teve a coragem de “não morrer”, como se infere das suas palavras: “apenas há um segredo para uma pessoa não morrer: agarrar-se a uma ideia com tanta força que não mais se desprenda” (p. 34). Creio não andar longe da verdade ao afirmar que “a ideia” a que Amadeu Ferreira se agarrou foi a difusão e a ratificação da Língua Mirandesa.
Termino, apelando à leitura da obra deste ilustre Transmontano/Mirandês na qual são audíveis os ecos de uma luta contínua contra a resignação, o determinismo e o fatalismo, instigando-nos a assumir uma atitude de trabalho abnegado, norteado pelos valores e pela ética, alicerces de qualquer sociedade.

1 - O diálogo Cato Maior ou De Senectute de Cícero é, segundo Gérard Genette, Palimpsestes, o hipertexto de Belheç /Velhice de Fracisco Niebro.
2 - MONTEIRO, Luís de Sttau, 1999. Felizmente Há Luar!. Porto: Areal Editores. P. 54.
3 - O poeta latino Horácio, nesta ode, fala da importância da obra literária que resistirá, como nenhuma outra, às intempéries naturais e, consecutivamente, ao esquecimento.
4 - AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel, 1988. Teoria da Literatura. 8.ª ed. Coimbra: Almedina. P. 334.
5 - Leia-se o poema de Fernando Pessoa, que aqui reproduzo, por me parecer que encerra a mesma filosofia de vida que Fracisco Niebro/Amadeu Ferreira defende nesta obra: “A morte é a curva da estrada, / Morrer é só não ser visto. / Se escuto, eu te oiço a passada / Existir como eu existo. // A terra é feita de céu. / A mentira não tem ninho. / Nunca ninguém se perdeu. / Tudo é verdade e caminho” (sublinhado meu). Fernando Pessoa, Poesias, 15.ª ed. Lisboa, Ática, 1995, p. 142.

Opinar na desportiva

Bons dias minha gente. Ainda neva por aí? Muy belas fotografias se tiraram. Bem, hoje vou falar de futebol. Não há como driblar este tema, por isso vou apresentar-vos um pequeno rodízio do que realmente importa saber, no caso de viverem em alguma gruta ou caverna alienada da realidade e por algum acaso inenarrável terem encontrado esta folha de jornal. Para começar estamos em 2018 e há um senhor que se chama Bruno de Carvalho (BdC) e que é como um pai bêbado para os sportinguistas. Não é que seja mau pai mas quando faz aqueles números de se pôr a dançar de gatas nas festas populares ou de subir ao palco e começar a tirar a roupa é particularmente desconfortável. A chamada vergonha alheira. Aliás, proponho que se faça ao BdC o mesmo que se fez com o BES. Dividi-lo em duas partes. O BdC bom e o BdC mau. O Sporting fica com a parte boa que controla as contas, aposta nas modalidades, faz boas vendas e puxa pela moral dos adeptos, e vende a parte má. A de adolescente que vive dentro do Facebook, rodeada de posters do Justin Bieber e de boiões de base para esconder as borbulhas; a de pai que diz coisas embaraçosas quando bebe dois copos; ou a de indivíduo indignado que não deixa nenhum contribuinte deste país sem levar a devida resposta. De modo que a parte má nem é para vender mas para dar. Com um cartãozinho a dizer “Obrigadinho chefe, ps: manter offline”. Além disso, temos hoje também aqueles senhores que dão pelo nome de comentadores porque como o próprio nome indica comentam as dores, exaltam as dores, agitam as dores e invariavelmente provocam fortes dores de cabeça aos que conseguem ter coragem para espectar as dores deles. Depois temos o VAR, que tem nome de robô de cozinha mas é apenas o vídeo-árbitro, que por sua vez soa a equipamento electrónico dos anos 90 mas são só uns senhores que estão a ver o jogo num café chamado “cidade do futebol” porque não querem gastar dinheiro com a SPORT TV em casa. A diferença dos senhores que estão nesse café é que além de poderem pedir minis e tremoços e de vez em quando um pica-pau ou uns caracóis, ainda têm um telefone que podem usar para dar opiniões directamente ao árbitro. Algo que eu considero bastante injusto e até decepcionante para todos os outros senhores que estão a ver o jogo nos outros cafés e lhes é vedada a possibilidade de entrar em diálogo directo com o árbitro. Inclusive para aqueles que vão sempre ao café ver os jogos mas nunca consomem absolutamente nada. A questão aqui é muito simples. Quando toda a gente pensava que o “vídeo-árbitro kills the maior parte da polémica no futebol português” eis senão quando os vídeoclipes do vídeo-árbitro trouxeram ainda mais sublevação. O que demonstra por um lado que a polémica é o nosso desporto nacional, ainda com mais adeptos do que o futebol, e por outro que o português vai chorar de qualquer das formas porque a mãe-natureza, mãe galinha, mãe-de-santo, o criou assim mesmo. Depois temos o caso dos emails que no fundo é uma reedição de uma série italiana que dava nos anos 80/90 que era O Polvo (azul). Com a única diferença de que agora excluíram as cenas em que juízes e demais cidadãos exemplares eram mormente perfurados por um milhão de balas de pistola-metralhadora vindas algures de uma janela entreaberta de um Fiat. Verdade que se perde bastante em celeridade na forma de julgar cidadãos infractores, mas ganha-se em delicadeza e em simpatia que são coisas que ficam sempre bem ao século vinte e um. Quanto aos Fiats não há nada a fazer, resta dar os parabéns por terem conseguido chegar ao século vinte e um, embora carreguem sempre o fardo dos anos 80 e dos mafiosos nas séries policiais. E provavelmente a mesmíssima qualidade. Do futebol propriamente dito, não há muito mais a dizer. No fundo, continua a ser uma correria atrás de uma bola, todos muito suados e irrequietos, a acotovelarem-se pontinho a pontinho e a sonharem com um lugar ao sol. Como sempre, no final de contas apenas um poderá fecundar. Enquanto isso apesar da reconhecida qualidade dos nossos árbitros, jogadores e treinadores, alguma comunicação social, juntamente com dirigentes, e opinadores vão continuar a ser bastante diligentes no que toca a manter a latrina devidamente conspurcada e nauseabunda. E é isto. O que se passa nas quatro linhas é como a pedra na sopa da pedra. Só serve para iludir os tolos e para fazer render o peixe até ao limite do fora de jogo. Um abraço na desportiva!

Uma democracia de moscas e de mel

Contrariamente ao que muitas vezes ouço dizer, nós portugueses somos um povo dócil, ordeiro, trabalhador, inteligente, solidário, destemido e universalista.
Há milhares de provas e exemplos em todos os domínios de actividade a confirmar que assim é. E não só em Portugal! Por esse mundo fora, o que é mais relevante. É certo que os portugueses também têm alguns defeitos mas que não são para aqui chamados.
Já o mito de que portugueses são iguaizinhos aos lusitanos do tempo de Viriato, que não mais se livraram da má fama que lhes terá sido lançada pelo romano Galba, no longínquo século III antes de Cristo, quando escreveu «Há, na parte mais ocidental da Ibéria, um povo muito estranho: não se governa nem se deixa governar!», não passa disso mesmo, duma grande estória.
Talvez o maior defeito dos portugueses de hoje, que não é bem defeito mas feitio, seja mesmo deixarem-se governar com leviana credulidade, que é como quem diz intrujar, explorar, manipular, contrariamente aos lusitanos daquele tempo, com os quais temos pouco ou mesmo nada a ver.
Então nós, os transmontanos, valha-nos Deus! Somos mais crédulos que São Tomás que acreditou que um boi poderia voar. Agora até já nos comprazemos com o TGV espanhol que o primeiro-ministro António Costa nos veio impingir e que passa a voar a dezenas de quilómetros de Bragança.
Eu teria perguntado, se me tivessem dado voz para tanto: e porque não um TGV do Porto a Zamora, passando por Vila Real, Mirandela e Bragança, senhor primeiro-ministro?
Também são por demais conhecidas as desgraças em que os portugueses se deixaram envolver, sem tugir nem mugir, ao longo da sua História gloriosa, não se contestando, como é óbvio, a epopeia a que generosamente aderiram de corpo e alma.
Mais frescas estão, ainda assim, as vergonhas e misérias dos quarenta anos da República Democrática de Portugal provocadas por governos que, verdade seja dita, apenas representavam a vontade de uma minoria de eleitores já que a maioria sistematicamente se refugia na abstenção.
A classe política de topo, que apenas é portuguesa no cartão de cidadão e no idioma em que se expressa, mas que em boa verdade pertence a outra nação e vive num país exterior, desde o primeiro dia de democracia que dela se aproveita para habilmente explorar, iludir, espoliar, massacrar os portugueses. Sobretudo os que resistem nos intestinos da pátria a que os políticos do país exterior chamam interior.
Senão, atente-se nas vezes em que os Estado português foi levado à ruína, na Justiça que marca passo, na desigualdade social que prevalece, nas assimetrias regionais, no rosário interminável de escândalos e assaltos ao erário público, para não citar outros exemplos.
Podemos concluir, portanto, que a classe política portuguesa de topo essa sim é a herdeira natural dessa histórica virtude dos lusitanos de que falava o romano Galba: governam mal, não deixam ninguém governar, mas sabem muito bem governar-se e andam sempre zangados uns com os outros. Assim como as comadres e os compadres da Geringonça que, apesar de tudo, lá vão baptizando os filhos, atirando os foguetes e apanhando as canas. Os meus sinceros agradecimentos.
Outro exemplo elucidativo é o que presentemente se passa no PSD no qual ferve o ódio e a afronta. PSD que já foi comparado a um saco de gatos e que corre o risco de que alguém lhe ate a boca, com consequências imprevisíveis para a democracia.
No fundo é o que se passa em todos os partidos e entre todos eles entre si. Que não se riam os socialistas, os bloquistas, os comunistas ou os centristas porque, lá diz o ditado: gaba-te cesto roto que logo vais à vindima.
Outro mito perigoso que se instalou no bom censo comum é que só as moscas mudam. Puro engano. É verdade que o Regime político que tantas moscas atrai permanece inalterável desde há décadas, mas é igualmente verdade que as moscas, sobretudo as varejeiras, também são sempre as mesmas. Mudam é de tacho.
E enquanto o Regime for o que é, um apetitoso prato de mel de que as moscas se alimentam e tanto gostam, nada vai mudar. Nem as moscas nem o mel.
Eu o garanto.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

 

O LEMA DO HOMEM ARANHA

O Homem Aranha apareceu, pela primeira vez na revista Amazing Fantasy publicada nos Estados Unidos a 15 de agosto de 1962. Logo no primeiro episódio enunciava o seu lema: “with great power there must also come great responsibility” (Com um grande poder vem também uma grande responsabilidade). Essa sua divisa levou-o a altos voos. Seguramente maiores que os proporcionados pelos tirantes que lhe saltavam dos punhos após um leve do dedo anelar. As correias elásticas e super-resistentes permitiram-lhe saltar entre o topo dos arranha-céus dos locais onde exercia a sua atividade em prol da justiça. A máxima que o lidera permitiu-lhe o reconhecimento público, o apreço dos leitores e a glorificação entre os míticos heróis da Marvel com consagração nos estúdios de Hollywood
Altos voos requerem altos compromissos. É natural. Foi assim com o Homem Aranha e nada de relevante, a este nível, mudou, mais de meio-século depois. Numa altura em que tanto se fala de ética seria bom olhar para este “exemplo” que vários gurus e manuais sobre moralidade referem e apontam como um pilar do ideário normativo de todos os que devem, pela sua atividade ou poder, reger a sua vida por principios de elevado valor deontológicos.

Qualquer um que se proponha governar, em nome da comunidade que pretende representar, direitos e recursos comuns tem de elevar a fasquia comportamental ao nível correspondente e mantê-la lá, de forma estável e não permitir a sua flutuação ao sabor das conveniências.
É conhecido e reconhecido (porque muitas vezes lembrado e repetido, tantas quantas as oportunas) o lema de que o que é feito ao nível local é melhor, mais eficaz e com menores custos. É esse o racional que está por trás da reclamada (e justa, diga-se) descentralização do poder público. É esse o preceito que suporta princípio da subsidiariedade que garante que só deve passar para um nível superior o que não puder ser feito bem a um inferior. Vem isto a propósito da recente determinação impositiva, como deve ser, de obrigar à limpeza das matas que circundam as povoações e que são, sem qualquer margem para dúvida, o melhor anel de defesa contra os terríveis fogos de verão, cada vez mais perigosos e fatais. Ora aí está uma atividade que facilmente se credita ao poder local, no balanço do deve e haver da subsidiariedade. E contudo assistimos, perplexos, a uma reação unânime de recusa dos autarcas para esta tarefa. Que não há tempo e que não têm meios. A perplexidade começa pela unanimidade. Haverá certamente casos mais difíceis e complexos. Mas não há a menor dúvida que os há simples e óbvios. Então porquê a recusa imediata e sindicalizada? É perfeitamente credível que os custos da operação sejam elevados. Cuidado portanto com o efeito bumerangue: todos estão lembrados de ouvir os eleitos municipais garantir que os empreendimentos, localmente são feitos melhor, mais rapidamente a a mais baixo preço. Portanto se os mesmos garantem que esta tarefa, se autárquica, é complexa, morosa e cara... imagine-se como será, feita centralmente! E contudo é algo que TEM DE SER FEITO!

É certo que o ministro ao recomendar o corte nas festas e romarias estava a ser demagógico e populista. Mas isso não se combate com mais do mesmo. Não basta “denunciar” o ministro. Não chega dizer que não existem meios. Se os programas das festas e das feiras da moda, continuarem sem qualquer corte significativo, desaparece toda a moralidade para acusar o ministro!

 

 

NÓS, TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - Guiomar Lopes (n. Rebordelo, 1652)

Filha de Tomé Lopes e Ângela Cardosa, Guiomar nasceu em Rebordelo, por 1652. Em pequena foi levada para Villamandos, Castela e contava uns 15 anos quando foi presa pela inquisição de Valhadolid, saindo penitenciada em cárcere e hábito perpétuo e sequestro de bens, em 31.10.1667.
Depois de libertada e cumprida a penitência de 2 anos, regressou a Portugal e foi para Lebução, onde casou com João Dias Pereira. (1) Em 1672 viviam em Soutelo Verde, Galiza, onde lhe terão nascido os filhos Manuel Dias Pereira e Isabel Pereira.
Regressaram a Portugal e foram instalar-se no Porto, onde residiram 5 anos. Ali nasceu o filho Pedro Dias Pereira.
A família rumou então para Castela e fixou-se em Benavente, ali explorando um estanco do tabaco, arrendado ao contratador Gabriel de Sola que tinha o monopólio da venda nos bispados de Salamanca, Cidade Rodrigo, Ávila e Zamora. Não sabemos se em tal arrendamento exerceu alguma influência a mulher de Gabriel Sola, (2) chamada Ana Maria de Vilhena, que fora companheira de Guiomar na cadeia de Valhadolid. Também não sabemos se ajudou alguma coisa o conhecimento que havia entre o marido de Guiomar e um Fernando da Fonseca que casou em Bragança com Jerónima Ledesma e em Castela trabalhava com Gabriel Sola.
Em Benavente viveram 24 anos e os contactos com os Sola e com Fernando da Fonseca eram algo regulares, assim como as conversas acerca da lei de Moisés. Duas cenas concretas foram depois recordadas pelo Fonseca. Uma aconteceu logo depois que ele saiu da cadeia da inquisição de Coimbra e foi para Castela, em 1689. De Portugal levava para Madrid um carregamento de açúcar e também uma escopeta comprada em Guimarães e, passando por Benavente, foi a casa de João Dias Pereira, vendendo-lhe a escopeta pelo preço de custo.
Tempos depois, estando em Rio Seco, foi mandado por Gabriel Sola a Benavente a comprar umas trutas, com que queria “regalar” alguém muito importante. E regressando com elas, o Sola perguntou-lhe quanto gastara de hospedagem para lhe pagar. Respondeu que não gastara coisa alguma porque comera e dormira em casa de Guiomar Lopes.
Por março/abril de 1691, Gabriel Sola com a mulher, cunhada, sobrinha e seus 5 filhos, passaram por Benavente a caminho de Bragança e João Pereira foi ter com eles à pousada, levando-lhe uns doces que Guiomar preparara especialmente, “dizendo que a mulher não podia vir vê-los por estar de visita a um convento de monjas”.
Em dezembro de 1697, Ana Vilhena e o marido foram novamente presos pela inquisição de Valhadolid e de seguida Fernando da Fonseca. Obviamente que todos acabaram por culpar João Dias Pereira, Guiomar Lopes e seus familiares, antes de serem sentenciados pela inquisição de Valhadolid. (3)
Entretanto os negócios de João e Guiomar tinham prosperado e exploravam não só a venda de tabaco em Benavente, mas também o estanco de Ocaña, na região de Madrid, o de Astorga e os da província de Salamanca, que tomaram depois que Gabriel Sola foi preso. Seria um investimento fantástico, cujo montante ignoramos. Apenas sabemos que o arrendamento do estanco de Ávila montou a 12 mil cruzados – 4 contos e 800 mil réis! Para além de Ávila, a rede incluía uns 19/20 estancos que traziam subarrendados.
Parece que a “estanqueira” Guiomar não viu com bons olhos este investimento do marido e terá mesmo tentado a anulação dos contratos, a crer no testemunho de Francisco Rodrigues Garcia que, por conta de Guiomar e João, estava explorando, como subarrendatário, o estanco de Ávila:
- E na ocasião, disse a mesma que mesmo que perdesse 30 mil reais, deixava com vontade o estanco por ter medo de ser presa pelo santo ofício (…) e somente falaram que Guiomar Lopes queria ir a Madrid para tratar (desfazer) o estanco de Salamanca que seu marido havia tomado.
Obviamente que na rede de negócios de João e Guiomar trabalhavam os filhos e os cônjuges destes, bem como outros familiares, nomeadamente o meio-irmão de Guiomar, Diogo Lopes Marques e um sobrinho de João, chamado Luís Lopes Penha.
Não durou muito a situação pois que, em maio de 1702, a inquisição de Valhadolid decretou a prisão de Guiomar Lopes, do marido e dos filhos Manuel Dias Pereira e Pedro Dias Pereira. Estes, porém, já não estavam em Castela. Pressentindo talvez que fossem presos, regressaram a Portugal, passando a fronteira em Saucelhe e dirigindo-se para Lebução onde estiveram pouco tempo, logo rumando a Lisboa, estabelecendo morada na Rua das Arcas. Prova daquele pressentimento, será uma contradita depois apresentada por Guiomar:
-Também é seu inimigo Francisco Pereira, estudante em Salamanca, porquanto vindo a ré para este reino e meter na casa do dito estudante dois sacos de patacas para lhos guardar, e depois indo busca-los, achou menos em cada um 150 patacas…
Chegados a Lisboa, o filho Manuel e a sua mulher, Isabel Maria, foram Torres Novas, a explorar o estanco de tabaco que a família arrendou. Pedro meteu-se a vender pelas ruas da capital produtos da loja de seus pais. E nesta havia mercadorias tão diversas como sedas, linhos, tafetás, retrós, potes de azeite, legumes, moios de trigo, sacos de arroz, barris de goma, de pimenta e manteiga, quintais de açúcares e de erva-doce… - conforme consta do inventário de seus bens.
Se pensaram estar protegidos, enganaram-se porque a inquisição de Valhadolid mandou para Lisboa o decreto de prisão de todos eles e os respetivos processos. Tal como enviou mais denúncias, entretanto feitas por outros parentes e amigos, nomeadamente o citado Luís Lopes Penha. Em consequência, em 29.11.1702, davam entrada nas cadeias da inquisição de Lisboa Guiomar Lopes, marido e filhos. (4)
Da vivência desta gente em Lisboa, temos testemunhos contrastantes. Um vizinho fala de Guiomar dizendo que “só sabe que a dita ré, pela má condição que tinha e seu marido e filhos, os mais dias estavam a gritar uns com os outros”. Diogo Lopes Marques, também vindo de Espanha e preso em Lisboa na mesma ocasião testemunhou que ela “tinha grande condição, trato e negócios, como foi em Benavente, que era estanqueira e dava as tendas em que vendiam os tabacos e por dar a uns e negar a outros, tinha grandes inimizades, principalmente com Luís Lopes Penha, meio sobrinho de seu marido, em razão de se tirar de sua companhia em que vivia e ir para casa de um homem a quem não sabe o nome, o qual lhe veio a tirar, por ordem d´el-rei, o contrato e administração dos tabacos”. Ela própria, falando de seus inimigos e denunciantes, diria:
- Também é seu inimigo João Lopes Pereira, seu marido, em razão do mau trato que lhe dava e andar em amizade ilícita com várias mulheres e se ausentou da companhia da ré, deixando-a destruída por várias vezes, como foi na cidade do Porto e em Benavente e sempre mostrou má vontade por as pessoas fiarem mais dela do que dele.
Facto é que as testemunhas chamadas a pronunciar-se sobre a sua condição religiosa, todas disseram que era boa cristã e dava muitas esmolas aos pobres. Embora reincidente na prática de judaísmo, foi mais afortunada que os amigos presos em Espanha e relaxados: acabou condenada em cárcere e hábito e 3 anos de degredo para o Brasil, no auto da fé de 12.9.1706. Antes, porém foi condenada a tormento, no qual recebeu 3 tratos expertos, de que precisou de tratamento médico proporcionado em casa de Manuel Tavares, familiar da inquisição, que assumiu a responsabilidade de fiador. De resto todos os familiares de Guiomar que estavam presos, saíram no auto da fé de 9.9.1603. Uma referência para o seu filho Pedro que, por ter denunciado a mãe, acabou por endoidecer, no cárcere da penitência.
Notas:
1-João Dias Pereira nasceu em Madrid, sendo filho de João Lopes Penha, de Mogadouro e da sua terceira mulher, Isabel Dias, nascida em Madrid, mas originária de Lebução.
2-Gabriel Sola e Ana Vilhena casaram na ocasião em que andavam com o sambenito no cárcere da penitência, do qual fugiram. Recapturados, foi-lhe acrescentada a pena em 2 anos mais e ele foi condenado ainda a 200 açoites pelas ruas da cidade.
3-ANTT, inq. Lisboa, pº 2380, de Guiomar Lopes: - D. Juan de la Puebla, notário do santo ofício da inquisição de Vallahdolid certifico que estando celebrando o auto particular da fé no convento de S. Paulo desta cidade em 10.3.1701, (…) saíram no dito auto em pessoa com insígnias de relaxados Gabriel de Sola, natural da Guarda, reino de Portugal, rendeiro geral dos estancos de tabaco dos bispados de Salamanca, Ciudad Rodrigo, Ávila e Zamora onde vendia e tinha os Milhones, de 56 anos; Ana Maria Conde, aliás de Vilhena, sua mulher, natural de Zamora, vizinha de Salamanca, de 56 anos: Fernando da Fonseca, natural de Sevilha, vizinho de Salamanca, tratante de açúcar e lenços, de 46 anos.   
4-ANTT, inq. Lisboa, pº 530, de João Lopes Dias; pº 150, de Manuel Dias Pereira; pº 4553, de Pedro Dias Pereira; pº 4697, de Isabel Maria, mulher de Manuel Dias Pereira.