Ter, 28/08/2007 - 10:50
Na chegada a esta pacata aldeia do Nordeste Transmontano ouvimos a buzina do padeiro, que leva as pessoas a saírem de casa para irem comprar o pão.
O quotidiano nesta localidade, que conta com cerca de 115 habitantes, é marcado pelo trabalho no campo e pelos jogos de cartas no café, durante as tardes quentes de Verão. Em Agosto, os emigrantes voltam à terra de onde partiram em busca de uma vida melhor, para matarem saudades junto de familiares e amigos. Nesta altura, o presidente da Junta de Freguesia de Calvelhe, Ernesto Gomes, garante que a população duplica e a aldeia ganha mais vida e alegria.
Quem resiste na aldeia mostra-se triste por Agosto estar a chegar ao fim, lamentando a partida dos jovens que vão animando os dias de Verão. “No final do mês já não se vê ninguém na rua. Antigamente havia muita gente, mas a maioria emigrou”, constata Abílio Brás, um dos habitantes.
Quem escolhe Calvelhe para passar férias realça a pacatez da aldeia e os bons momentos de convívio com os amigos e familiares, mas dizem que é complicado sobreviver numa terra onde a agricultura é a principal actividade.
“Primeiro é preciso ganhar dinheiro para montar um negócio quando voltar. Só assim é que é possível viver aqui”, diz Ricardo Costa, emigrante em França.
Conclusão da rede de saneamento é prioridade para o autarca de Calvelhe
As ruas estão arranjadas, mas a população lembra que espera, há anos, pelo saneamento que ainda não está a funcionar. “80 por cento da aldeia vai ligar agora os esgotos à rede de saneamento que já está concluída, mas ainda falta fazer o restante e algumas condutas de ligação”, salienta o autarca local.
Ernesto Gomes afirma que o saneamento da aldeia arrancou em 1997 e ainda não tem data de conclusão. “Espero que fique pronto o mais rápido possível. Esta é uma das prioridades da Junta”, acrescentou.
Após algumas obras de embelezamento na aldeia e a reconstrução da casa de uma família carenciada, que foi consumida pelas chamas, Ernesto Gomes afirma que o futuro passa pela construção de um parque de lazer e pelo arranjo de uma rua na zona da capela de S. Estêvão. A antiga escola primária, que encerrou no ano passado, também não foi esquecida pelo autarca, que garante estar a trabalhar para que o edifício seja transformado num espaço museológico.
As ruínas dos castelos dos Mouros e as fragas com características peculiares, entre as quais a denominada “Fraga do Palorco”, poderiam trazer mais visitantes a Calvelhe, caso estivessem integradas em roteiros turísticos. “A Rota do Azeite passa aqui ao lado, mas nós acabamos por ficar um pouco desviados de tudo”, lamenta o autarca.
A fazer renda ou a aproveitar a sombra das árvores, as habitantes mais antigas recordam, com saudade, os tempos em que a mocidade se reunia para fazer os jogos da “roda” e da “panela” e afirmam que gostavam de ver mais gente na aldeia.