Campanha da azeitona já arrancou com expectativa de boa quantidade e aumento da qualidade

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Ter, 09/11/2021 - 10:18


Os dias ainda são calmos nos lagares de azeite da região que já abriram, mas as oliveiras começam a perder o fruto que segue para a transformação

Nas últimas duas semanas, o lagar da Casa Aragão, em Alfândega da Fé, já está a laborar. Nesta altura, além de estarem a fazer azeite da produção própria, recebem já azeitona de alguns agricultores da região. O empresário Artur Aragão explica que tal acontece também por uma questão de necessidade. “No interior do país temos falta de pessoal e temos de aproveitar a mão-de-obra que anda na agricultura aqui para o lagar, nós apanhamos a nossa azeitona, para depois transformar a azeitona dos outros agricultores”, referiu. A produção da empresa ronda as 200 toneladas de azeitona, provenientes dos cerca de 50 hectares de olival, sendo que outros 40 a começar a produzir e este ano plantaram mais 41 hectares. Mas a principal razão para o calendário se ter vindo a adiantar é por uma questão de qualidade. “O azeite mais verde é mais rico em polifenóis, é um azeite com qualidade superior, é mais frutado, mais amargo, mais picante. São essas características que dão o valor e uma mais-valia ao azeite transmontano, é isso que nós tentamos, valorizar o azeite de Trás-os-Montes”, sublinha. Também o lagar Milénium já começou a campanha, no caso no dia 2 de Novembro. “O ano passado começámos dia 21 de Outubro, ainda foi mais cedo, este ano entendemos que a azeitona não estava ainda madura o suficiente e abrimos um pouco mais tarde”, refere Victor Lopes um dos gerentes da empresa, que funciona há 20 anos em Mirandela. Esta é já a norma no lagar e muitos produtores seguem a tendência. “Temos clientes que querem um azeite muito verde, frutado, mais intenso, isso só se consegue com a azeitona mais verde, quando está madura não se tem esse azeite, só muito cedo é que se consegue ter esse tipo de azeites, normalmente para concurso”, refere. O responsável pelo lagar acredita que tem havido os últimos anos uma mudança de paradigma nos azeites de Trás-os-Montes e os agricultores têm sido incentivados a começar a apanha mais cedo. Mas nem todos os olivicultores optam por antecipar a apanha, já que acreditam que têm menos rendimento, ou seja, que a mesma quantidade de azeitonas dá origem a menos “ouro líquido”. “Apanhando a azeitona mais verde, com mais humidade, o rendimento é inferior. Mas o azeite é mais valorizado, de melhor qualidade do que o corrente que há igual em qualquer lado, sendo mais diferenciado. Com mais qualidade tem mais procura para embaladores que querem este tipo de azeite gourmet, normalmente pago mais caro e é mais valorizado”, sublinha. Uma garrafa com azeite normal chega ao mercado com entre 3,5 a 4 euros, já o gourmet pode chegar a ser vendida a 10 ou 12 euros. No lagar da Casa Aragão, dos cerca de 2 mil fornecedores de azeitona de Alfândega da Fé e concelhos limítrofes, como Vila Flor, Torre de Moncorvo, Mogadouro, Freixo de Espada à Cinta e Macedo de Cavaleiros, alguns já começam também a apanhar mais cedo a azeitona. Apesar de muitos produtores ainda considerarem que retiram maior rendimento mais à frente, Artur Aragão acredita que não rende menos apanhar cedo. “Não é verdade, é uma falsa questão. Em primeiro lugar agora apanham a azeitona toda, depois cai uma parte, depois se houver uma diferença de 2 a 3% de rendimento, não é que tenha menos azeite, a azeitona é que pesa mais agora do que daqui a 15 ou 20 dias, depois das geadas, que vai perder água”, afirma. Os agricultores com que trabalha, começam já mudar de ideias e a entregar a azeitona mais cedo, porque “o preço também é diferente”. “Um azeite biológico de grande qualidade que vai ser bem pago ou azeite biológico com certificação para o Japão ou Brasil, em que o azeite é mais bem pago, tem de ser azeite de qualidade. Por exemplo, um azeite virgem extra biológico poderá ser pago a 3,6 ou 3,70 euros, se for biológico virgem vem para os 3 euros. É perigoso o agricultor não estar atento a isto”, frisa. Um dos produtores que este ano já começou a apanha da azeitona é Octávio Frutuoso, de Nabo, Vila Flor. Já começou a entregar azeitona no lagar de Alfândega. “Apanho sempre assim a azeitona mais cedo, porque é de melhor qualidade o azeite, dá mais rendimento”, explica o produtor que tem 11 hectares e que vende o azeite à Casa Aragão. “O que tentamos é esticar um pouco a campanha, tentar que não se avolume tudo na mesma altura, porque vamos ter uma qualidade melhor”, afirma Artur Aragão. “Isso é reconhecido não só pelos consumidores como também pelos embaladores, que além de precisarem deste azeite para fazer lotes e melhorar outros azeites, precisam dele para colocar no mercado como azeite premium e gourmet”, acrescenta o empresário, destacando que essa opção tem sido a razão pela qual a empresa no último ano conseguiu cerca de 20 prémios. Outro argumento é que nesta altura a azeitona está toda nas oliveiras, daqui a um mês 20 a 40% pode ter caído. “Agora toda a azeitona vai dar azeite, daqui a um mês ou mês e meio a azeitona que está no chão não dá azeite, ninguém apanha a azeitona do chão. Na prática, do mesmo olival, dependendo das variedades, se não foi apanhada agora vai dar muito mesmo azeite, porque não é apanhada tanta azeitona do mesmo olival. Enquanto que agora pode apanhar 10 mil quilos, na altura do Natal em vez de termos rendimento a 12% teremos, porventura, a 20%, porque a outra metade já está no chão”, explica Victor Lopes.

Produção média

Até este fim-de-semana já tinham sido transformadas 200 toneladas no lagar da Casa Aragão. O ano passado chegaram às 7 mil toneladas no final de campanha, produziram 1,35 milhões de litros de azeite. “Acho que este ano vamos andar muito perto disso, até porque temos bastantes clientes novos, demonstrações de interesse em vir transformar o azeite aqui. Até porque valorizamos muito o azeite de Denominação de Origem Protegida (DOP) e o biológico, pagamos um pouco melhor para o agricultor não abandonar a agricultura, porque sem ele não produzimos”, afirma Artur Aragão. Já no que diz respeito à qualidade, no Azeite DOP Trás-os-Montes perspectiva- -se um bom ano. A empresa de Victor Lopes, que recebe azeitona de 500 a 600 produtores do concelho de Mirandela e limítrofes, transformou 4,2 milhões de quilos de azeitona e produziu cerca de 600 mil litros na última campanha, naquele que foi considerado o melhor ano de sempre dos azeites Milénium. Apesar de ainda não avançar com prognósticos sobre a campanha deste ano, o empresário diz que “a ideia é que haverá bastante azeitona este ano”, próximo do que aconteceu em 2020. Já quanto à qualidade não tem dúvidas; “é muito bom o azeite, melhor que o ano passado”.

Mosca da azeitona preocupa

“Lá mais para a frente tenho dúvidas que a qualidade não venha a baixar, porque há bastante ataque de mosca e gafa nas azeitonas, e isso leva a que ela oxide com mais rapidez”, alerta, no entanto, Artur Aragão. “Estes têm sido dias primaveris, durante o dia está calor e sol, a mosca desenvolve-se com mais facilidade do que se já tivesse vindo mais frio. Se as pessoas a mantiverem na árvore muito tempo ou se a tiverem nos reboques, vai oxidar com maior rapidez”, refere, sublinhando que para ultrapassar o problema, a azeitona este ano tem de ser apanhada e transformada o mais rapidamente possível “para mantermos a qualidade”. Também “por isso é que eu apelo a que as pessoas apanhem mais cedo”, refere.

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro