Custos “insuportáveis” com combustíveis obrigam empresas a aumentar preços dos produtos

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Ter, 26/10/2021 - 13:16


O aumento constante dos combustíveis está a deixar as empresas dos mais variados sectores em sufoco, obrigando-as a arranjar estratégias para suportar os custos

Em Bragança, a transportadora MRW tem cinco viaturas que percorrem o distrito, numa média de 300 Kms diários. No final do mês a empresa gasta perto de 5 mil litros de combustível, que a preços “insuportáveis”, segundo o proprietário, levam a pensar em formas de reduzir os custos. “Os transportes, ao preço que o gasóleo está, têm que reduzir kms obrigatoriamente, porque está impensável fazer kms ao preço que está o gasóleo. É certo que temos um desconto das marcas, mas não nos podemos esquecer que pagamos 23% do IVA do gasóleo e desse valor total, só podemos declarar para despesas 50% dele”, afirmou Bruno Rodrigues. Mensalmente, já nota um aumento considerável na despesa, visto que são mais 800 euros, o que poderia equivaler a um salário de um trabalhador. Tendo em conta este cenário, Bruno Rodrigues começou por cobrar um imposto de combustível que há dois meses não cobrava, mas que é uma das formas de suportar os custos. A outra é reduzir os kms que são feitos diariamente e arranjar pontos de entrega, deixando de entregar as encomendas directamente ao cliente. O problema agrava-se quando esses produtos são essenciais para a saúde, como medicamentos, e quando são entregues muitas vezes nas aldeias mais afastadas da sede de concelho. “Quem é que vai sofrer com isto tudo? É o consumidor final. Temos vários produtos ligados à saúde e por norma são para zonas isoladas, onde não é qualquer comerciante que vai lá e quem faz esse tipo de serviço somos nós. Posso dizer-lhe que a nível de distrito temos centenas e centenas de envios de produtos para pessoas que têm problemas oncológicos e em zonas mais extremas do nosso distrito, aldeias que ficam mesmo muito muito longe da sede de concelho e nós fazíamos essa ligação e estamos a reduzir completamente isso”, explicou, salientando que o trabalho de proximidade que a transportadora faz, em levar os produtos do centro para o “interior do interior”, vai possivelmente acabar de vez. Nas empresas em que o carro ou as carrinhas de mercadorias são o principal motor para a economia andar, o impacto parece estar a ser brutal. Adelaide Duarte é taxista em Bragança e inevitavelmente também já se queixa do rumo das coisas. “A nós, motoristas, que andamos para trás e para a frente tem-nos afectado muito. Há cinco seis meses pagávamos um depósito de gasóleo por 70 euros e hoje o mesmo depósito custa 110 euros”, criticou. Apesar de os gastos estarem a ser cada vez maiores, a taxista não aumentou o preço que cobra as clientes, já que são estabelecidos por associações como a Antral- Associação Nacional dos Transportes Rodoviários em Automóveis Ligeiros. No final do mês, feitas as contas, Adelaide Duarte disse gastar mais de 200 euros. Por isso, prevê-se que em breve os taxistas também se venham a manifestar pela subida dos preços dos combustíveis. “Talvez possamos fazer algo para ver se eles [governantes] fazem alguma coisa, porque daqui a nada é melhor pararmos os carros e não haver carros a circular. Por parte da Antral estão a pensar fazer uma manifestação e eu vou aderir claro, porque nós mais do que ninguém somos lesados”, referiu. Nem as empresas de bens essenciais escapam ao que o país está atravessar. A padaria “Pão de Gimonde”, composta por uma equipa de 16 trabalhadores, distribui pão para todo o país e o transporte é essencial para fazer chegar o produto. Elizabete Ferreira é proprietária da padaria e também ela se queixa do impacto “brutal” que os preços dos combustíveis estão a provocar nas empresas e também no aumento dos produtos. “O impacto é em toda a cadeia de valores, porque nós produzimos o pão, mas antes vem a farinha. Os cereais nos últimos tempos aumentaram 41%. O transporte para vir a farinha aumenta, logo aumenta o preço da farinha”, referiu, acrescentando que a diminuição do consumo de pão é outro dos problemas, já que as pessoas têm optado por produtos mais processados. Neste caso dos combustíveis, ao contrário da transportadora MRW, deixar de fazer alguns percursos é impensável, já que não podem “discriminar” clientes. Por isso, a estratégia passa por ser outra. “Tudo o que podermos consumir de proximidade, nós vamos à proximidade para tentar reduzir os custos de transporte”, explicou. Mas mais do que isso, vão ter que subir o preço do pão. “Vamos ter que obrigatoriamente subir o preço dos nossos produtos senão vai ser difícil a sobrevivência da nossa empresa e de qualquer uma. O combustível está mais caro, mas se formos aqui ao lado é mais barato. Porquê? O que se está a passar?”, questionou. A empresária entende que o Governo deveria discriminar positivamente as empresas instaladas no Interior, já que têm gastos superiores. “Nós somos sempre prejudicados. Estamos no Interior e vamos para o Litoral, quem está em proximidade é muito mais fácil, os custos são muito menores. Nós vendemos para um mercado maior, onde há mais pessoas, mas estamos mais longe desse mercado, portanto temos mais custos e temos que vender ao mesmo preço que os outros. Como é que conseguimos equilibrar isto? Devia haver uma discriminação positiva para as empresas do Interior, que não há”, afirmou. Prevê-se que esta semana o preço do gasóleo aumente, passando a custar mais meio cêntimo por litro, já o preço da gasolina não deverá sofrer alterações.

Jornalista: 
Ângela Pais