Falta de reservas obriga Hotel São Lázaro a fechar em Dezembro

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Ter, 24/11/2020 - 11:29


A crise económica provocada pela pandemia está afectar até os hotéis de maior prestígio no distrito.

Um dos casos é o hotel São Lázaro, na cidade de Bragança. Tem mais de 270 quartos e informa que vai fechar nos meses de Dezembro e Janeiro. Manter o equipamento aberto sem reservas estará a causar prejuízos de 60 mil euros, enquanto fechado a perda rondará apenas os 10 mil euros. “Com a declaração do estado de emergência houve cancelamentos em massa, tive muitos dias com um, dois ou três quartos. As despesas são altas e tem sido um prejuízo muito grande, o que agravou com o mês de Dezembro, que não tenho reservas nenhumas”, contou o gerente. Em Dezembro, os jantares de Natal e o evento “Terra Natal e de Sonhos”, que atrai milhares de pessoas a Bragança, geravam grande parte da receita do hotel nesse mês. Com a pandemia e com o cancelamento de todas as iniciativas e também com o recolher obrigatório, Marcel Silveira disse não ter qualquer reserva. “Sem reservas não consigo manter o hotel, é uma estrutura bastante pesada. Nesta altura do ano é quando tenho gastos maiores, porque aquecer o hotel é muito mais difícil do que arrefecer”, referiu. Apesar das várias promoções para atrair clientes, as tentativas acabaram por falhar com a declaração do estado de emergência. No verão o hotel ainda conseguiu gerar alguma receita, mas rapidamente a situação se inverteu. Marcel Silveira apontou prejuízos de 700 mil euros, em relação ao ano anterior. “No ano passado facturei o ano todo um milhão e duzentos mil euros, este ano ainda não cheguei aos 500 mil”, afirmou. Nestas condições manter os postos de trabalho começa a ser difícil. Por enquanto ainda não despediu nenhum funcionário, mas todos os contratos a termo ficaram por renovar. Actualmente o hotel São Lázaro tem 26 funcionários efectivos. No ano passado, nesta altura, tinha cerca de 40. “Se continuar este decréscimo de reservas vou ter que começar a pensar em diminuir o pessoal”. Abrir o hotel no mês de Janeiro ainda é uma incerteza. Marcel Silveira considera que se a situação se mantiver só abrirá em Fevereiro, porque “compensa estar fechado”. Gerir o hotel nestas condições “não está fácil”. Mais uma vez, a falta de apoios é apontada como uma das causas de agravamento da situação. O responsável do hotel criticou a forma como os poucos apoios estão a ser atribuídos. “Eu vou fechar por causa de salvaguardar a integridade dos meus colaboradores, porque há perigo de eles deixarem de receber o salário e, por isso, eu vou proceder ao fecho do hotel para aceder ao apoio do governo, a Segurança Social paga o salário mínimo a cada colaborador meu, para eles não ficarem sem rendimento”, explicou. Mas Marcel Silveira disse não concordar com esta situação. “Eu acho mal, porque já que o governo vai dar este apoio porque não o dá para manter a empresa aberta? Porque é que para receber este apoio a 100% eu tenho que fechar?”, afirmou, acrescentando que com o hotel aberto conseguia ter “alguma facturação” que iria “gerar IVA” e “impostos”. O hotel São Lázaro está instalado, em Bragança, desde 2002. Recentemente os quartos foram remodelados e foi construída uma piscina e SPA. O investimento rondou os 5 milhões de euros. Ainda na cidade de Bragança, mas com menos dimensão, está o hotel Tulipa. Um negócio de família que já conta com 45 anos de actividade. Apesar de durante a semana ainda ter algumas reservas, ligadas a empresas, “não é cliente que dá lucro e ajuda a pagar as despesas”, devido aos preços serem mais reduzidos. Ao fim-de-semana a situação não melhora. “Neste momento eu não estou a trabalhar nem a 20%”, afirmou a proprietária. Elisabete Raimundo disse ter sorte por se tratar de um negócio de família, mas admitiu já estar preocupada por poder não chegar o dinheiro que tem de reserva. Ainda assim, fechar está fora de questão. “O Tulipa é mais um filho que o meu pai tem e deixou-mo com alguma segurança, não vou dar-lhe esse desgosto. Mas tenho a certeza de que muitos colegas meus estão a passar por isso”, disse. Em relação aos 5 funcionários efectivos que emprega, referiu que não terá intenção de despedir ninguém. “Eu vou fazer de tudo para manter os postos de trabalho, mas claro que às vezes me ponho a pensar onde é que posso poupar. Mas jamais me passou pela cabeça desistir deles, porque eles fazem parte da casa”, afirmou. No rés-do-chão há ainda um restaurante que tem outra gerência, mas que pertence ao hotel. “Isto é uma cadeia, eles não podem e acabam por não poder pagar a renda e depois eu também não recebo. Isto é um jogo vicioso”. Ainda assim, Elisabete Raimundo tem esperança de que tudo isto acabe rápido e que a situação das empresas melhore.

Jornalista: 
Ângela Pais